sábado, novembro 29, 2003

Meu caro senhor (digo. Me), não façamos um bicho de sete-cabeças da vida!
Os políticos são uns filhosdaputa (assim mesmo, tudo pegadinho), o que é que importa?
Morres da cura, mais vale ficar com a doença - o que é. Que. Importa?
Somos campeões das Certidões! O que é que importa?
Gostamos tanto de Certificados! E depois?

(Song while I write: into my armas, Deine Lakaien.)

Meu caro senhor, não faça da vida uma série de obstáculos a ultrapassar.
Admire as Certidões!
E os Certificados!
Chame filhosdaputa aos políticos com um brilhozinho de admiração nos olhos!
Eles gostam. Faça-lhes festinhas mas de longe, hã, de longe... As hienas riem, riem, mas arrancam-te os dedos num piscar de olhos.

Admiremos a vida, meu caro senhor, admiremos o dia que passa!


(Song: come back, my dream, into my armas, into my arms.)

Into My Arms.
Into My Arms.
O gin tónico.

Leiam tudo, mais especificamente a parte sobre a saúde e os hospitais.

E torçam para não ficarem doentes.

terça-feira, novembro 25, 2003

"O acto sexual é para ter filhos!" - João Morgado.

Resposta da Natália Correia:


Já que o coito - diz Morgado -
tem como fim cristalino,
preciso e imaculado
fazer menina ou menino;
e cada vez que o varão
sexual petisco manduca,
temos na procriação
prova de que houve truca-truca.
Sendo pai só de um rebento,
lógica é a conclusão
de que o viril instrumento
só usou - parca ração! -
uma vez. E se a função
faz o orgão - diz o ditado -
consumada essa excepção,
ficou capado o Morgado.

1982
Coisas do silva.
Pena de morte: apdaite.

Vi os testemunhos de duas juradas que decidiram
dar a pena de morte ao John Allen Muhammad, um dos (alegados - palavrinha tão bonita: a-le-ga-dos)
snipers de Washington. Uma, ‘tadita, estava em lágrimas porque por causa da decisão
os filhos nunca mais iam poder ver o pai. E ela sabe o que isso significa porque
ela própria tem filhos.
Pergunto: ah sim? Ai ela sabe? Se soubesse tinha dito Não. Porque este tipo de
saber tem-se no coração. Sinto um nojo por esta malta de Apurada Sensibilidade e
Consciência e Cumpridora e Boa Cidadã. Imagino-me no corpo dos réus, a gritar para
os que acabaram de decretar a minha morte: Filhos da Puta! Assassinos de Merda!
Virei Do Inferno Todas As Noites Para Vos Atormentar O Sono Até Ao Fim
Dos Vossos Dias!
Se aquela cabra loirinha, de lindos olhos azuis, soubesse mesmo o que era tirar o
pai aos filhos não teria decidido pela pena de morte. Penso nestas coisas
e sinto uma raiva a crescer dentro de mim. E imagino: um dia os filhos deste homem
que certamente morrerá (os EUA são tão competentes, não há recurso
que safe os gajos, ao contrário de um país que a gente cá sabe) vão bater-lhe à porta e,
suponho, dizer-lhe algo deste género:
- Olá, eu tenho 15 anos (ou 20 ou 30) e decidi este ano visitar os assassinos do meu
pai. Queira fazer o favor (o obséquio) de chamar os seus filhos. Olá. Olha para a
senhora tua mãe e lembra-te, ao almoço e jantar, que de facto é uma assassina
e me tirou o pai. Podia ter escolhido outro castigo, outra punição, mas a pena
escolhida castigou-me a mim e aos meus filhos que nunca conhecerão o avô.
Castigou todas as pessoas que eu conheci e conhecerei na vida porque, embora
não pareça, há uma parte de mim que falta, parte que o meu pai me teria dado
se não tivesse sido morto por, entre outros, a tua mãe. Sigo na vida com uma fenda, uma falha cá dentro e essa falha afecta outros, percebes, meu lindo? Lembra-te: quando
a tua mãe te afagar, recorda que são os braços de uma assassina que te abraçam
ou as mãos de um carrasco que te limpam as lágrimas. Sim? Obrigado por este
momento. Adeus, vou visitar os restantes jurados.
Era o que eu faria. Quero pensá-lo, pelo menos. Quero pensar que ao fim de anos
e anos e anos de sofrimento convocaria recursos dentro de mim e iria visitar Todos
os que tivessem contribuído para a morte do meu pai (salvo seja): jurados, juízes, acusadores, governadores ou presidentes que não tivessem usado a possibilidade
que tinham de salvar a vida de um ser humano.
Aliás, será que os filhos crescidos, órfãos feitos pelo Estado, não fazem estas visitas?
Será que os jurados, juízes, etc., não têm insónias uma vez por outra a pensar nestas
crianças que talvez um dia lhes venham bater à porta pedir explicações?
Era lindo, não era? Eu acho que sim. Toc-Toc. Quem é? Bom-dia, não me conhece, mas há 20 anos atrás a senhora decidiu matar a minha mãe. Quero informá-la das consequências do seu acto.





Pena de morte. Pensamentos dispersos. Ou: contributos para (parece mais intelectual).

- Ao matar um ser humano para castigá-lo pela morte de outro entra-se em paradoxo. A razão perde a lógica. O justiceiro torna-se assassino.
- Ao matar uma pessoa corta-se qualquer possibilidade da mesma evoluir, perceber os seus erros. Essa pessoa não poderá mais contribuir para os outros.
- Mata-se para castigá-la e, empiricamente, evitar que ela volte a magoar, a causar mal a outros seres humanos. Pergunto: como o faria se já está presa?
- Essa pessoa tem família. Muitas vezes filhos. Não se mata apenas o assassino: mata-se o pai desses filhos, o marido, o amigo. É justo castigar os filhos pelo mal dos pais? O teu pai era tão mau (para os outros, não para ti) que to vou tirar. Não me interessa se precisas dele ou não para te transformares num cidadão pleno (em qualquer área da tua vida, incluindo a emocional).
- Quem o mata julga-se Deus. Não é. Não existe ninguém à face desta miserável/maravilhosa terra que seja superior a outra criatura humana. Ninguém, seja lá a razão que tiver, tem o direito de tirar uma vida humana.
- Quem o fizer irá, acredito, inevitavelmente, encontrar a pessoa que condenou à morte. E terá de enfrentar a vergonha. E, espero, será obrigado a sentir todo o mal que provocou. Nisso consiste o inferno (suponho, presumo, desconfio): experimentar na pele toda a minúscula dor que fizemos sentir aos outros.
- A única coisa que me causa grande orgulho em ser portuguesa é não termos pena de morte. Acho que o restabelecimento da mesma seria o único motivo que me faria publicamente manifestar-me.
- Matar é errado. Honestamente pensava que todos o sabiam.
- Em posição de poder, se me apresentassem mil Hitlers, com contagem de cadáveres proporcional - quero pensar que seguiria os meus princípios. Quero pensar que teria essa coragem. Quero pensar que seria incapaz de me afundar no ódio, na raiva, na vontade vingativa.
- Às vezes tenho a impressão que, a ser possível, aqueles que condenam outros seres humanos à morte, matá-los-iam um milhão de vezes. Over and over again. Tenho a impressão que se pudessem dar essa dor aos condenados - mil vezes matar-te e ressuscitar-te para te matar de novo - não hesitariam.

(Work in progress.)

Acabei de encontrar um nome fabuloso para usar numa personagem:
Phineas!
Tenho sempre problemas com os nomes das personagens. Um invulgar que quase usei foi este: Hirondina.

sexta-feira, novembro 21, 2003

Ayira?
Fartei-me de rir com isto! Roubei daqui. (Data: 17 de Outubro)

Mê nome é Maria Anacleta da Assunção. Tênho 79 anos. Moro no monte das Alpoêderas, perto de uma aldeia perto de Pias, aqui no Alêntejo. Vi no sê blogui que estava gozando com a tercêra idade, pois fique sabendo vocemecê que nós ainda semos muito utiles á socidade! Eu cá sempre tive uma vida de miséria na agricultura, toda a vida trabalhando e acartando verduras e ovos e lête pra cima e pra baixo que era uma cansera! Agora com a interneti deixê-me disso proque comecê uma mercêria onelaine e que é assim: agora vendo os mês ovos, mês ovos salvo sêja que sã das pintadinhas, e o mê lête pela interneti, ou seja, o lête da minha vaca. Gosto muito do telêtrabalho e enquanto os meus dedos têclarem cá hê-de continuar ca graça de deus. Também tenho um cólecentere que é assim: a ti Chica do poço mora muito longe e tá sempre pedindo ovos e lête prós moços, pois agora ela telefona e mando lá o meu neto mais novo levar as incomendas. A interneti também dá para a gente se distrair, olhi, já conheci o Manel da póvoa que é muito bom moço e é viúvo sem filhos... e também tenho um blogui que é o Setagenário. Quando chegar aos 80 estou pensando mudar-lhe o nome para Otógenário. Nã posso escrever muito por causa da escorose mas lá se vai teclando... Isto da interneti foi uma grande idêa... Minha mãe tem 97 anos mas inda está muito boa de cabeça e tamém trabalha no telêtrabalho fazendo porogamação de páiginas de interneti, dêtadinha na cama, côtadinha, mas inda dá rendimento prá casa. Por isso o senhor na goze ca tercêra idade que nós semos alfabetos mas inda estemos muito bem de cabeça.
Stuck at nanoland >:(

quarta-feira, novembro 19, 2003

Bolsas de Criação Literária

Quando é que esta porra abre? Alguém sabe?
Writing is so difficult that I often feel that writers, having had their hell on earth, will escape all punishment hereafter.
- Jessamyn West

terça-feira, novembro 18, 2003

Só acabo o nanonovel à paulada.
Está tão, mas tão mau, lol...
Já meteu: fantasmas; uma senhora adormecida no hospital por quem o Rui se apaixona (o irmão sacana da Geninha, a suposta protagonista, mas que desde o início me dá nervos); Piedade, a mãe de Geninha, José e Rui, que escondeu a gravidez de Rui (fruto do adultério), o deu para adopção e mais tarde convenceu o marido a adoptá-lo (e ainda por cima é o filho preferido dele); Orlando, um gigolo que roubou dinheiro a uma colega da Geninha e que lhe custou o emprego (mas hoje eu vou fazê-lo sofrer, hehehehe); Diana, a "amiga" vigarista, que teve um caso com o José, já estava este casado e à espera do primeiro filho. Há mais. Já deito o livro pelos olhos. Só me apetece esganar a protagonista cada vez que pego nela. Não me parece que este livro vá ter o final estabelecido - e eles viveram felizes para sempre. Fim. Logo se vê.
Na manhã em que me levantei para
começar este livro tossi. Algo estava a
sair-me da garganta, a estrangular-me.
Rasguei o cordão que o retinha e arran-
quei-o. Voltei para a cama e disse:
Acabo de cuspir o coração.

Existe um instrumento chamado
quena que é feito de ossos humanos.
Tem origem no culto que um índio
dedicou à sua amante. Quando ela
morreu ele fez dos seus ossos uma
flauta. A quena tem um som mais
penetrante, mais persistente do que a
flauta vulgar.

Aqueles que escrevem sabem o pro-
cesso. Pensei nisto enquanto cuspia o
coração.

Só que eu não estou à espera da
morte do meu amor.


Anaïs Nin
A Casa do Incesto
assírio e alvim
1984

Roubei.

sábado, novembro 15, 2003

Bom, abaixo está um trecho do que ando a escrever durante o nanowrimo. É capaz de ter uns errozitos. Seja como for é para reescrever mais tarde.



- Porra, pá, o que é que te custa?! – vociferou Rui.
- O meu estômago. O meu almoço, o meu jantar. O tipo dá-me náuseas.
- Olha quem fala.
- Estúpido!
- Estúpida!
- CALOU! – gritou Piedade. – Já estou por aqui de vos ouvir, por aqui! Rui: deixa a Geninha em paz, se ela não quer ir é porque não quer, não insistas! Eugénia: não respondas ao teu irmão. Quantas vezes é que eu te disse?! Se ele começa tu não tens de continuar... mania... vocês cansam-me, chiça. Cansam-me os dois. Fazem-me mais velha do que aquilo que eu sou.
Deu um suspiro grande, como um balão a esvaziar-se, e sentou-se. Rui não conseguiu conter a raiva.
- Pois, a senhora toma sempre o lado dela! Sempre do lado dela! É a filha preferida, toda a gente sabe isso.
CHAP. Piedade pregou estalo valente e sonoro na face de Rui que se quedou estupefacto. Era a primeira vez que a mãe lhe batia. Entredentes Piedade disse-lhe, lágrimas de fúria e mágoa ameaçando brotar:
- Nunca mais digas uma barbaridade dessas. Só Deus sabe os sacrifícios que fiz por ti – afastou-se e fechou-se no quarto.
- Vês o que tu fizeste – murmurou Geninha.
- Eu?! – gritou ele. – Sou sempre eu. Vou mas é dar uma volta – agarrou no casaco e saiu, batendo estrondosamente a porta.
Piedade saltou com o barulho. Os ombros estremeceram. As lágrimas rolavam em silêncio face abaixo.
- Mãe?
Nenhuma resposta.
- Mãe, posso entrar?
- Deixa-me. Tu deixa-me. Deixem-me os dois!
“Vou ter de ir à merda da concentração de Ferraris. Cabrão do Rui. Estou deserta para ter casa minha e não ter de lhe aturar as merdas do costume.”

domingo, novembro 09, 2003

Papagaio morto

(Traduzido – ok, estraçalhado - daqui: http://bau2.uibk.ac.at/sg/python/ Scripts/TheDeadParrotSketch )
[Update: não encontro o link directo. Apenas este.]

Cliente entra em loja de animais.

Cliente: Olá, menina?
Dono: O que quer dizer com “menina”?
C: (pausa) Desculpe, estou constipado. Quero fazer uma queixa!
D: Vamos fechar para o almoço.
C: Isso não interessa, meu rapaz. Quero queixar-me deste papagaio que comprei nem há meia hora nesta mesma boutique!
D: Ah, o Azul Norueguês. Que é que há de errado com o bicho?
C: Eu já lhe digo o que é que há de errado, meu rapaz! Ele ‘tá morto! É o que há de errado com o bicho!
D: Não, não. Não – ele ‘tá a descansar…
C: Ó camarada, eu conheço um papagaio morto quando lhe ponho os olhos em cima, e estou agora a olhar para um
D: Ná, ná, ele não ‘tá morto! ‘Tá a descansar! Lindo passaroco, o Azul Norueguês, hem? Linda plumagem!
C: A plumagem não é práqui chamada! Ele está morto que nem uma pedra!
D: Não-não-não! ‘Tá a descansar!
C: Ok, então se ele está a descansar, eu já o acordo!

(Grita pá gaiola)
Olá, senhor papagaio Polly! Tenho uma deliciosa posta de peixe para ti se mostrares… (o dono bate na gaiola)
D: Viu! Mexeu-se!
C: Mexeu uma porra! Foi você a bater na gaiola!
D: Não bati nada!
C: Bateu sim!
D: (aos gritos e a bater na gaiola sem parar): OLÁ POLLY! Teste, teste, teste! É o teu alarme das nove horas!

(Saca o papagaio da gaiola e martela-lhe a cabeça contra o balcão. Lança-o para o ar e fica parado a vê-lo espatifar-se no chão.

C: Ora a isto é o que eu chamo um papagaio bem morto!
D: Nãããão… ‘tá atordoado.
C: ATORDOADO?!
D: Claro! Vossemecê atordoou-o mal ele acordou! Os Azuis Noruegueses ficam azoados com facilidade.
C: Hum… olhe lá, olhe lá, ó camarada, já me estou a passar com isto. Aquele papagaio está mais do que defunto e quando eu o comprei nem há meia hora atrás o senhor garantiu-me que a sua total ausência de movimentos era devida ao facto de estar cansado e totalmente exausto após um prolongado grito.
D: Hum… ele, errr, provavelmente tem saudades dos fiordes.
C: SAUDADES DOS FIORDES?!?!?! Mas que raio de conversa é essa?! Olhe lá, porque é que ele caiu de costas, duro que nem uma tábua, mal cheguei a casa?
D: O Azul Norueguês prefere manter-se deitado de costas. Pássaro fabuloso, lorde, não acha? Linda plumagem!
C: Olhe, eu tomei a liberdade de examinar aquele papagaio quando cheguei a casa e descobri que estava sentado no poleiro unicamente porque o tinham PREGADO lá.

(pausa.)

D: Bem, claro que estava lá pregado! Se não tivesse pregado aquele pássaro, ele tinha afocinhado até às barras, tinha-as separado com o bico e VUUM! Fiiuiiuiiuii!
C: “VUUM”?!? Ó amigo, este pássaro não ia VUUM nem que o atravessasse com um milhão de volts! Ele está morto, diabo!
D: Não, não. Ele está melancólico!
C: Ele não está melancólico! Ele passou desta para melhor! Este papagaio não é mais! Ele deixou de ser! Ele expirou e foi ter com o criador! É um cadáver! Despojado da vida, descansa em paz! Se não o tivesse pregado ao poleiro ele já estava no jardim das tabuletas! Os seus processos metabólicos passaram à história! Ele vestiu um colete de madeira! Bateu as botas! Libertou-se das vestes mortais, baixou a cortina e juntou-se ao maldito coro invisível!! ESTE É UM EX-PAPAGAIO!

(pausa)

D: Bem, então é melhor substituí-lo.
(dá uma espreitadela rápida por detrás do balcão)
D: Desculpe, senhor, dei uma olhadela nas traseiras da loja e, hum, esgotaram-se-nos os papagaios.
C: Estou a ver. Estou a ver, apanho a ideia.
D: (pausa) Tenho uma lesma.

(pausa)

C: (doce como o mel) E, diga-me, fala?
D: Neeeem por isso.
C: NÃO CHEGA A SER UMA SUBSTITUIÇÃO, POIS NÃO?!?!?!
D: Olhe, se for à loja de animais do meu irmão em Bolton, ele substitui-lhe o papagaio.
C: Bolton, hem? Muito bem.

O cliente sai.
O cliente entra na mesma loja. O dono põe um bigode falso.

C: Isto é Bolton, não é?
D: (com o bigode falso) Não, é Ipswitch.
C: (olhando para a câmara) Topem-me a qualidade do inter-cidades!

O cliente vai para a estação de comboio.
Dirige-se a um homem atrás de uma secretária que diz “Queixas”.

C: Desejo fazer uma queixa, pessoa dos caminhos-de-ferro britânicos.
Funcionário: EU NÃO SOU OBRIGADO A TER ESTE TRABALHO, PERCEBE!
C: Desculpe..?
F: Sou um cirurgião cerebral qualificado! Eu só tenho este emprego porque gosto de ser o meu próprio chefe!
C: Peço desculpa, mas isso é irrelevante, não é?
F: Sim, mas não é fácil encher estes ficheiros python até às 150 linhas, sabe.
C: Desejo fazer uma queixa. Entrei no comboio para Bolton e achei-me depositado aqui em Ipswitch.
F: Não, aqui é Bolton.
C: (para a câmara) O irmão do dono da loja de animais estava a mentir!
F: Não pode culpar os caminhos-de-ferro britânicos por isso.
C: Nesse caso voltarei à loja de animais!

Ele volta.

C: Afinal de contas isto sempre É Bolton.
D: (ainda mantendo o bigode falso) Sim?
C: O senhor disse-me que era Ipswitch!
D:… era um trocadilho.
C: (pausa) UM TROCADILHO?!?
D: Não, não… não é um trocadilho… como é que se chama aquela coisa que dá para ler da mesma maneira de trás para a frente?
C: (Longa pausa) Um políndromo…?
D: Sim! Isso mesmo!
C: Não é um políndromo! O políndromo de “Bolton” seria “Notlob”!! Não resulta!!
D: Bem, que quer?
C: Não estou preparado para continuar a minha linha de inquérito uma vez que penso que isto está a tornar-se demasiado ridículo!

Sargento-Major: Concordo, concordo, muito ridículo, demasiado ridículo… (segura o braço do cliente) Vá lá, agora tem de fazer outro sketch! Vá lá… (sai pela parte esquerda do cenário, seguido pelo realizador e o operador de câmara, deixando o dono sozinho no cenário)

D: (para a audiência) Bom! Eu nem sequer queria fazer isto. Eu queria ser…

UM LENHADOR!

(ele tira a bata branca e revela por debaixo uma camisa axadrezada e suspensórios)

Flutuando ao longo dos poderosos rios da Colômbia Britânica!
Com a minha namorada ao meu lado! Etc…
(Continua em O Lenhador Python)

[Originalmente publicado no Eternos.org]

sexta-feira, novembro 07, 2003

Nove mil palavras so far.
Not bad. Mas hoje custou-me, porra. E acho que vou ter de abandonar o plot original. Ou pelo menos a parte em que a Geninha "se passa" e desata a matar os pretendentes. Não funciona. Com ela não. É muito atadinha. Não tem pinta de homicida, o que me lixa magnificamente o andamento da narrativa :[

Estão inscritos 10 portugueses no nanowrimo.
Ora adivinhem lá quantos espanhóis há inscritos.
20.


Filhos da mãe, é de propósito. Ai, de certeza.

quinta-feira, novembro 06, 2003

Escrever ou não escrever: qual é a porra da questão?
Já devo ter cerca de 7 mil palavras (7k - hurra, hurra, hurra!), não sei o número exacto porque escrevo à mão. Hoje para cumprir a quota faltam-me duas folhas A4, logo, 4 páginas A4. Demoro cerca de uma hora, se não parar.
Adoro cadernos espiralados com folhas quadriculadas. Sigo as carreirinhas como as formiguinhas. E quando deixo de controlar as linhas que já fiz, falta muito, epá, etc. e tal, quando apenas sigo a história ou a personagem ou a mão que escreve - ena, faço aquilo num instante. Fica uma merda, mas isso agora não vem ao caso.
Tenho, depois, de abrir conversações comigo própria para me convencer a reescrever a história. O que hoje é porcaria, amanhã pode ser obra-prima!
E valer-me o Nobel!
Ah-ah-ah. Quem se rir apanha nos dentes. Ena tanta palavrinha que aqui pintei...
Altura de regressar à Geninha (aquela estúpida) e ao Orlando (canalha).
Como é que se escreve quando não se gosta das personagens que se inventou?
Resposta: uma linha de cada vez.
http://fp.uni.edu/yates/Research%20Methods/LaMott.htm

quarta-feira, novembro 05, 2003


Poema de um amigo :)



Fazer o quê, quando tudo é consequência
vinda de mim?
Espero, e perco.
Avanço, e erro.
Falo, afasto.
Escrevo, e sinto
um calor grande demais para ficar.
O Sol, porém é grande
e cabe na pupila.
Olho, e cego...


Sete-sóis

terça-feira, novembro 04, 2003

http://www.diariodigital.pt/ediario/eDolphin/
Trecho de "Geração X", de Douglas Coupland, págs. 67-68.


«E entao tive uma reacção descontrolada. Subiu-me o sangue à cabeça, o meu coração começou a bater; desatei a suar e as palavras do poeta Rilke vieram-me ao espírito - a ideia dele de que todos nascemos com uma carta escrita dentro de nós e só se formos sinceros para connosco poderemos lê-la antes de morrermos. O sangue a ferver nos meus ouvidos disse-me que o Sr. Takamichi tinha de algum modo confundido a fotografia da Monroe que guardava no cofre com a carta dentro dele e que eu também estava em risco de cometer o mesmo erro.

(...)

«Dois dias mais tarde estava de volta ao Oregon, de volta ao Novo Mundo, respirando ares menos povoados, mas soube logo que ainda tinha muita história para viver. Que queria menos da vida. Menos do passado.
«Por isso vim para cá, para respirar pó e caminhar com os cães, para olhar para uma pedra ou um cacto e pensar que sou a primeira pessoa a ver essa pedra ou esse cacto. E tentar ler a carta que tenho dentro de mim.»


Achei esta passagem bonita. Principalmente a parte sobre a "carta escrita dentro de nós" e sobre o querer "menos da vida".

Confissão: hoje ainda não escrevi nada. Oh, shame.