quinta-feira, março 31, 2005

quarta-feira, março 30, 2005

O desafio desta semana é criar uma personagem. Só isto.

Eu já criei a minha. E vocês?

===========

Urbano, o Peixe!

Urbano é um peixe carismático a quem os outros imitam cada vez que muda de escamas. Tem gosto: segue Valentino e Galiano. Ocasionalmente Alexander Mcqueen.
Quando usa a túnica são inevitáveis as vénias. É um bocadinho pedante. Em ocasiões exige que o tratem por Doutor porque tirou o curso na Faculdade de Direito e não é um qualquer. Tem também a vaidade de desdenhar companhias pouco próprias, com hábitos pouco próprios – como a incapacidade de distinguir entre o talher de carne e os pauzinhos.
Urbano tem a voz linda. Dá para notá-lo mesmo entre as bolhas. É o perfeito peixe gigolo, mas não o comparem ao Veríssimo porque nunca se abotoou com as pérolas das suas admiradoras. É peixe honesto, o Urbano. Um verdadeiro leão (de signo).
As namoradas acusam-no de enigmático por guardar raríssimos segredos.
É um tipo divertido, convidam-no para animar as festas.
Apesar das qualidades, esconde um lado neurótico e depressivo. Toma três a quatro xanax’s por semana – mas desconfia dos médicos por isso auto-medica-se.
Artigo interessantíssimo.

É pena não haver artigo idêntico que relate o caso português.
Ó Sardento, vais deixar que esta merda passe?! Vais assinar esta bosta de lei?!?
Estas coisas Ainda precisam da tua assinatura, ó será que me engano?!?!
Se assinares... eish, parabéns! Voltamos ao Portugal Salazarista-Salazarento! Grande Homem, sim senhor!

E depois piras-te para o exílio, né valente?

Tu não m'assines esta merda, pá.
Estes Biltres apanham-se com a maioria absoluta e aproveitam para nos foder.
DN

"O Governo vai criar uma base de dados genética de identificação civil que abrangerá toda a população portuguesa e que será utilizada na investigação criminal. Ou seja, actualmente cada cidadão tem a sua impressão digital num arquivo central, a partir daqui também o perfil genético será incluído numa base de dados, para ser comparado com amostras biológicas recolhidas nas cenas de crime."

0_0 ???????????


Mas estão a Falar ou vão Fazer mesmo?!?!?!?!?!?!?!?!?!?
Mas que merda é esta?!?!?!?!
E a privacidade às malvas?!?!?!?!?!
E se fossem mas é à... da mãe deles?!?!?!?!?
Cabrões. Filhos da mãe.
Que porra é esta.
Eu RECUSO-ME a fornecer o meu material genético!
E se esta merda for avante vou deixar de ser dadora de sangue.


Não se tem de mudar a Constituição para esta merda passar?!?!?!?!?!?!?!?!?

segunda-feira, março 28, 2005

Estás Coberto de Razão! Oiçam!

Continuam pessoas a morrer nas estradas, mas o dinheiro lá lhes vai pingando.

Pois é.
Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Álvaro de Campos.

domingo, março 27, 2005

E a SPA, como é que isso anda?
(Não, não me esqueci. Muito menos a Lola.)

Vai malta dentro, não vai? Como é que é?

Não pôr as palavras no caminho do ritmo.
Não pôr as palavras no caminho da história.
E não é que me esqueci do chá? 0_o
Faz de conta que ninguem me lê. Faz de conta. Tornemos ao velho método, o que me safa. Escrever sem pensar, pôr as mãos no teclado (hoje é o teclado e são as mãos, a caneta está na mesa, não quero gastar a tinta). Até me dou ao luxo supremo de voltar atrás e corrigir. No nanowrimo de Novembro farei as 50 mil palavras a computador ou à mão? Logo verei. Se for à mão não terei tempo de passar o livro a pc nesse mês. Não dormia. Andava feito zombie pela rua.

Detesto todos os livros que já escrevi - menos o último. O último é sempre o melhor. Depois escrevo outro e passo a detestar também o anterior. Parece-me que evoluo aos soluços, pouco a pouco. Coisas que não me escapam hoje passavam-me a mil à hora pela vista sem que as notasse. Excesso de que's, excesso de muita coisa. Reli alguns trechos de livros antigos e parece-me que as histórias não são más de todo, mas a escrita, santo Deus, tem de melhorar. Eu sei como fazê-lo: é dieta estrita de Camilo Castelo Branco e sobremesa de Eça de Queiroz. De vez em quando uma Agustina, mas não abusar.
Se não tivesse internet decerto escreveria melhor. Se deitasse a têvê janela fora decerto escreveria melhor.
Se a minha avó tivesse rodas era um autocarro.
Se a minha tia tivesse bigode era o meu tio.

Corrigo um livro que fiz há dois anos atrás, se não me engano.
Vontade... vou na página 149. São 211. O texto do o amor é um pombo a debicar milho amarelo vem daí.

E mais outro cheirinho.

"Na Fábrica (...) rodeada do metal frio e grave, compridas colunas erguendo-se ao alto, escadas que se perdem em escadas, vê nascer devagar, como se brotando do solo invisível, finos caules donde brotam flores de imensas cores. Um imenso silêncio a germinar. Vê tubos brancos e amarelos, florzinhas azuis minúsculas. Vê-as progredirem, transformarem-se em ramagem densa. Ao lado, em cima, por baixo, emaranhando-se nos cilindros, descobre gardénias de flores brancas, sente-lhes o perfume. Ao longe florescem em segundos pequeninas flores estreladas de cor azul e roxa..."

[Se os sacanas dos brasileiros baixassem mas é a merda da música.]
[Se me der na tola ainda ponho aqui uma ópera a altos berros.]
O amor é um estilete.
Fura.
É um pombo a debicar milho amarelo.
É um periquito azul a chilrear.
Dentro da gaiola.

O amor é uma jaula sem barras.
O amor faz-se. (Faz. Se.)
(Não te esqueças do chá, Dunya, não te esqueças do chá, não te esqueças do chá.)

Repito-me constantemente porque não raras vezes descobri a cafeteira sem água e com o saquinho de chá tostado.
Às vezes azul
Há uma festa de brasileiros aqui ao perto com muita bebida, muito berro, muita música e muito churrasco. O meu bairro está praticamente vazio. Foi tudo para a "terra".
Como será uma festa de ucranianos, I wonder. Suponho-os mais circunspectos.

quinta-feira, março 24, 2005

It takes an awful long time to not write a book.

— Douglas Adams
Quanto ao referendo, pergunto-me: porque é que usam o termo "Aborto" em vez da expressão "Interrupção Voluntária da Gravidez"...?



Espertinhos, os gajos.

quarta-feira, março 23, 2005

A periquita matou-me o periquito macho.
Grandessíssima cabra!
Partiu-lhe o bico e tudo, a cabrona.


O pá... deu-me cá uma vontade de lhe arrancar as penas.

O Branquinho era o meu preferido.


Vaca.

Matou um filho, matou o marido...
Não há cá segundas núpcias para ninguém.
Tabela de cores.

Código de cores.


Útil.


Como não encontrava uma template que me agradasse acabei por fazer umas modificações a esta.
Que imagem linda!!

Cliquem.

terça-feira, março 22, 2005

Flores caídas da ameixoeira da minha vizinha.
Quando der fruto também nos toca alguns a nós, nham ! :D

Image hosted by Photobucket.com

segunda-feira, março 21, 2005

Amanhã vou mandar o último livro que escrevi, "Senhor Bentley, o Enraba-Passarinhos", para a Editorial Caminho. Deixo o endereço caso os meus visitantes tenham também manuscritos a enviar.
Ah, o período de resposta é de seis (sim) meses.

Editorial Caminho
Ao c/ Dr.ª Isabel Garcês
Avenida Almirante Gago Coutinho
nº 121
1700-029 Lisboa

Qual a razão de título tão estrambólico? Bem, o tio do Senhor Bentley colocou-lhe esta alcunha era ele criança porque ele tinha uma pilinha muito pequenina. E mais não conto.
Mas o Senhor Bentley vingou-se, olá se vingou!

(Sim, é um livro estranho - e eu adoro-o.)

quarta-feira, março 16, 2005

Domain Name af.mil ? (Military)
IP Address 134.205.151.# (Various Registries)
Language Setting English
Operating System Microsoft WinXP
Browser Internet Explorer 6.0
Mozilla/4.0 (compatible; MSIE 6.0; Windows NT 5.1)
Time of Visit Mar 16 2005 8:29:18 pm
Last Page View Mar 16 2005 8:29:18 pm
Visit Length 0 seconds
Page Views 1
Referring URL http://images.google...logspot.com/2003_09_
Visit Entry Page http://escrita.blogs...escrita_archive.html
Visit Exit Page http://escrita.blogs...escrita_archive.html
Time Zone UTC-5:00
EST - Eastern Standard
EDT - Eastern Daylight Saving Time
Visitor's Time Mar 16 2005 3:29:18 pm


Alguém me explica porque é que estes senhores têm Tanto interesse
nesta imagem?



Pepe Le Pew é o nome de alguma operação ultra-secreta ou quê?
Capítulo 3º d'A Imortalidade

Mal saio do túnel tenho-a à minha espera.
- A chave! Trouxeste-a! – exclama, num misto de incrédula alegria.
- É mesmo esta?
- É! Dá-ma! – e projecta os braços por entre as barras, ávida. – Dá-ma!
Um desconforto interior suspende-me. Algo indefinido. Súbito recordo.
- Tu mentiste-me. Porquê?
Ela olha-me em desconcerto.
- Dá-ma! DÁ-MA! – puxa a barra com a mão direita enquanto projecta a esquerda na minha direcção, o rosto enraivecido. A fragilidade desapareceu. Eu recuo.
- Há uma saída. Ali, pelo túnel.
Não me responde. Ao invés recolhe lentamente o braço e dissimula a face nos cabelos, onde descubro, alarmada, um olho azul claríssimo e maldoso.
- Porque é que mentiste?
Eu já sei o motivo, mas escondo-o de mim própria. Ela sabia que eu estava a dois minutos da liberdade. Dois minutos, nada mais. A desculpa do terror não me convence. O medo, por mais ilógico, de ser abandonada e esquecida também não. Há qualquer coisa que ela oculta. Mentiu deliberadamente. Porquê?
- Não voltavas.
Mentira.
(cont.)
Gosto da canção "Used To Love U" de John Legend.
Gosto de: escrever a espaço simples, justificado, courier new, tamanho 11, fonte condensada.
Gosto de: passar manuscritos a limpo.

sábado, março 12, 2005

2º capítulo d'A Imortalidade

-2-

- Como é que saímos daqui? Como é que saímos daqui!
Sem me olhar diz:
-Não saímos. Sem a chave não saímos.
- Tem de haver outra maneira! Tem de haver.
Lentamente ergue-se. Vejo-lhe os olhos vermelhos inchados, sem lágrimas e o vestido não tão chique quanto havia pensado antes. O rápido olhar que lhe deitara fora mais influenciado pelo deslumbrante quadro que ela compunha do que pelo vestido ele próprio. Noto rasgos e sujidade que a cor disfarça. Pergunto porque está ali. Não me responde. Quem a prendeu e quem levou a chave – levanta os ombros, desinteressada. Arrasta os pés até ao fim da cela e escorrega parede abaixo. Não percebo a atitude. Também eu preciso de ajuda. Revelo o meu nome e o ter caído acidentalmente por um tubo abaixo. Também foi assim com ela, pergunto.
- Não me lembro – diz em idêntico tom desapegado.
A luminosidade é escassa. Do interior da prisão distingo-lhe o perfil e nada mais.
Caminho em direcção ao fundo, no sentido contrário ao sítio onde a chave era suposto estar. Há luz ao longo do corredor, até certo ponto. Este termina num buraco negro, uma boca lúgubre que me pode engolir. No ar sente-se o cheiro a diluído mofo e a ar fresco, o que me intriga. Se há ar fresco deve existir uma saída. Nem que seja uma conduta, mesmo estreita. Antes de entrar na cratera sombria (para onde fui a lentos passos felinos), apercebo-me que não há ruídos, excepto por uma espécie de fundo branco, cenário onde actua a minha respiração entrecortada.
E a dela?
(cont.)

Concorram também ao desafio Narrativa de Ficção. Vá lá, 20 mil palavras não é assim tão difícil.

A mim só me falta um bocadiiiinho ;)

sexta-feira, março 11, 2005

quinta-feira, março 10, 2005

Eu Não Gosto


Eu não gosto de críticas. Eu não gosto de hipócritas. Eu não gosto de não saber dar a resposta. Não gosto que me lixem. Não gosto de secas. Não gosto de chantagem emocional. Não gosto que me obriguem a nada. Não gosto de limpar. Não gosto que me acabe a tinta da caneta preferida. Não gosto da televisão destes tempos. Não gosto de certezas espirituais. Não gosto de gente preconceituosa. Não gosto de vinho. Não gosto de mentir. Não gosto de cozido à portuguesa. Não gosto que me mintam. Não gosto de favas. Não gosto do frio. Não gosto de consensos. Não gosto que me digam: ‘tadinha. Não gosto de “palha”. Não gosto do feitio português. Não gosto de ir ao dentista. Não gosto de me perder quando não tenho tempo a perder. Não gosto de me atrasar. Não gosto de festas. Não gosto de lugares-comuns. Não gosto de histórias de amor que acabam sempre bem. Não gosto de filmes de terror que não assustam nem o Menino Jesus. Não gosto que me desrespeitem. Não gosto que me interrompam. Não gosto que não me deixem falar. Não gosto de música com o som baixo. Não gosto de putos. Não gosto de me explicar quinhentas vezes. Não gosto que seja necessário eu ter de dar explicações. Não gosto de estar ao pé de muita gente. Quando eu não gosto de alguém – é definitivo. Não gosto de dar os bons-dias. Não gosto de malcriados. Não gosto de muitas mariquices. Não gosto do castanho nem do verde. Não gosto de multas. Abomino parquímetros. Não gosto que me agarrem e me puxem. Não gosto que falem, falem, falem, falem. Não gosto de discursos. Não aprecio políticos. Não gosto de futebol (coisa mais chata). Não gosto de não ter cunhas decentes. Não gosto do cabelo curto. Não gosto de saias. Não gosto de saltos altos. Não gosto de não ter médico aqui ao pé. Não gosto de discotecas. Não gosto do preço do gasóleo. Não gosto de passar a ferro. Não gosto de ordens (prefiro sugestões). Não gosto dos U2 (nunca gostei). Não gosto de cadernos sem argolas. Não gosto de embirrações (embirro com isso). Não gosto do dinheirão que os dentistas levam. Não gosto quando não percebo. Não gostei de matemática. Não gosto de falcatruas. E não gosto que não chova.

Não sou complicada.

Leitura Partilhada

“-És então escritor?
- Sou.
- E poeta também, pelos vistos...
- Também.
- Um tipo formidável! Médico, escritor, poeta...vais longe!
- Hei-de ir até onde puder.
Tinha a impressão de que aquele cinismo me escorria pelo corpo como uma baba.( IV – p.107)"


(Miguel Torga)
Snow.

quarta-feira, março 09, 2005

Preciso do contacto (e-mail, se possível) destas três pessoas.
Alguém me poderia ajudar?

- Dr. José Correia Tavares
- Dr. Manuel Frias Martins
- Dr.ª Teolinda Gersão


Obrigada.

(Mandem as respostas para o e-mail.)

terça-feira, março 08, 2005

Dance the night away by karchan85
Name
What you Look like
The MusicJ-Rock
Quiz created with MemeGen!
Apenas um pouco tarde

Exacto.

"Vampiros

São como os vampiros, os escritores. Ao barro dos seus personagens juntam o sangue e as almas das pessoas que com eles se cruzam e o próprio sangue, a própria alma. Roubam e pilham indistintamente narizes, olhares, esta ou aquela calva, um tique nervoso. São como vampiros, como ladrões. Conheço até o caso de um escritor que furtou, de modo perfeitamente descarado, o cobertor de uma tia minha: um cobertor com tigres da Malásia estampados e que ela costuma estender ao sol quando o Inverno chega ao fim."

domingo, março 06, 2005

SemDestino

"Tu és dôtor de verdade

O empregado da limpeza andava a rondar muito o meu gabinete. Normalmente, quando tal acontecia, assim como o dizer muitas vezes bom dia, era prenúncio de que tarde ou cedo pediria alguma coisa. Assim foi, mais uma vez.

- Sim, diga.
- Dô...Dô...Dôtor e...e...e...eu pre...pre...preci...preci...precisava de fa...fa...fa...fa...falar com o o Dô...o Dô...o Dôtor. - dizia o Luís P. no meio de muitas caretas enquanto gaguejava e se sentava na cadeira à minha frente com a maior das naturalidades.
- Sim, sim. Então diga lá. - disse-lhe com ar sério, sabendo já o que iria dizer a seguir.(cont.)"
Este blog faz hoje três anos.

sábado, março 05, 2005

.:: Shadow ::.

Há muito tempo que não escrevo e cá por dentro isso dói-me. É uma dor estranha. Como um reservatório cheio, mas sem torneira. A criatividade, as histórias, a ânsia de escrever – não podem fluir. Penso em enredos, mas após breves linhas fico estéril.
O que se passa comigo?
Faz este Março um ano a última vez que escrevi um livro. Desde então produzo contos breves. E breves enredos. Não percebo. Ou talvez perceba. É o fora que me domina. O exterior – um novelo a esmagar-me. Tenho de me concentrar no interior. Olhar para dentro de mim. Seguir o meu caminho seguindo-me. Desdobrar-me e acossar o meu duplo, a minha sombra. As sombras sabem para onde vão. Não se enganam. Contornam esquinas como se fossem planícies.
Sinto-me bem depois de escrever. Um laço cheio de nós desenrolou-se e eu enfim respiro. Livremente. Até o reservatório encher de novo.
Vou ali, procurar-me na sombra.
Murcon

Blog do Júlio Machado Vaz.

terça-feira, março 01, 2005

EUA: Supremo considera inconstitucional pena de morte para menores de 18 anos




"Um acórdão do Supremo Tribunal dos Estados Unidos, aprovado hoje com cinco votos a favor e quatro contra, determina que a aplicação da pena de morte a pessoas que cometeram crimes antes dos 18 anos de idade é inconstitucional.

Esta é a segunda derrota judicial dos defensores da pena de morte nos Estados Unidos, depois de em 2002 ter sido proibida a condenação à morte de deficientes mentais. (...)"
Viagens Astrais.

Site interessante.

Quero aprender mais sobre este tema.
Modalidade:livre (prosa ou verso) - inspirada numa ilustração.

A Lua e a Menina

Eu não sou como as outras pessoas, consigo ver coisas que mais ninguém vê. “São sombras, a tua imaginação, imaginas as coisas. É sempre assim nessas idades” – é o que me dizem. Mas não é verdade. As sombras são monstros comandados pela bruxa da floresta. São monstros que se escondem na noite e morrem quando a luz bate neles.
A minha única aliada é a lua, lá em cima.
Não gosto de dormir sem luz. Quando a lua não brilha e eu não posso abrir as cortinas para que a luz inunde o meu quarto (porque ela também tem o direito de dormir, coitada, não pode estar sempre a tomar conta de mim, não é?) - eu acendo o candeeiro da mesa.
Mas quando adormeço coisas estranhas acontecem: o candeeiro apaga-se sem que ninguém toque nele e de repente o meu quarto transforma-se numa floresta. Com árvores enormes e cheias de galhos e ramos que se movem como se as árvores pudessem andar. Não podem, mas atrapalham-me. Baixam-se, põem os ramos à minha frente, assustam-me com as folhas. Prendem-me a roupa e os pés. Eu corro, corro, corro de volta à vila. Corro para longe da floresta. Às vezes por causa do medo e por ter acabado de acordar – as árvores apanham-me. E vão-me passando de ramo em ramo, umas para as outras. Querem ver se conseguem levar-me até à bruxa, mas nunca conseguiram até agora. Eu salto ou parto os galhos e bato nas árvores. Depois corro na outra direcção.
Chego à vila e quando vejo a luz sei que estou em segurança.
Ando devagar pela rua que não tem ninguém, nem vizinhas à janela para me perguntar onde eu estive, onde fui, de onde venho. Quando eu respondo nunca me ouvem, então para que serve responder? Vejo os gatos a dormirem em sítios altos e os cães a dormirem no chão. Caminho devagarinho porque já sei o que me espera.
Quando bato à porta da minha casa a minha mãe abre a porta de rompante e começa logo a ralhar. “E onde é que estiveste, e é sempre a mesma coisa, sai a meio da noite, não diz nada a ninguém, e se te acontece alguma coisa, e depois como é?!, e não me venhas cá com histórias de mais bruxa e nem meio bruxa, se queres brincar no monte brincas de dia!, de dia, ouves!, e vai já direitinha para a banheira limpares-te, toda suja, meu Deus. Toda encardida. Nem fechar as portas todas à chave resulta! Mas como é que tu abres as portas?! Um dia vais ter de me dizer! Abre as portas todas, a rapariga!”
E se eu esta noite ficasse cá fora? Com a minha amiga lua. Com ela. Durmo com ela esta noite. Não quero que me ralhem. Quero que acreditem em mim. A lua acredita. Esta noite durmo contigo, lua. A bruxa nunca me vai apanhar, nunca, nunca. Tu não deixas, não é? Contigo estou em segurança.
Durmo contigo esta noite, lua.
Modalidade: Livre. A minha participação segue abaixo.




O senhor Bê (bê-a-bá) apanhou uma pulga do chão e disse:
- Oh, os bebezinhos são cremosos, cremosos os bebezinhos. Passados pelo passevite ou pela máquina de sumos, hummm, delicioso. Derrama-se o resultado por cima de saladas ou bitoque. Ah - vale a pena estar vivo. Assim, sim.
O senhor Bê (de bê-a-bá, repito) roubou a cadeira motorizada de um tetraplégico, depositando-o esparramado no passeio numa posição esdrúxula (parecia dançar hip-hop. Hop-Hop!), colocou um cartaz com os dizeres: Arte. Favor Não Incomodar. (O gajo anda sempre preparado, nem lhe falta o dedal e as agulhas, vejam lá.) E arrancou. Teve o cuidado de deixar um fio de baba escorrer pelo canto dos lábios, jogar a pupila dos olhos para cima e balançar-se em gestos descoordenados para não destoar do assento.
Basicamente, é um pulha.
Depois foi o fartote: lançou-se contra todos os agentes da autoridade que viu, mesmo direitinho às canelas. Nenhum lhe passou multa nem lhe deu voz de prisão.
- Coitado - diziam, coxeando, alguns com as pernas rachadas iam ao pé coxinho para as urgências do Curry Cabral, - isto são vidas, são vidas.
A brincadeira acabou quando um bando de miúdos lhe gamou a cadeira.
- Caaaabrões! Filhos da puuuuuta! Ai, falta-me o ar. Gritar cansa. Nestas idades, nestas idades há que ter cuidado. Malaaaaaandros! Isto já não há o respeito que havia antigamente, nem pelos mais velhos. Francamente. É uma bandalheira. Sinceramente.