sexta-feira, julho 09, 2010

Mitos e Verdades do Caminho Espiritual

Certo dia, séculos atrás, um grande mestre budista recolheu da rua um gato abandonado e passou a cuidar dele. Quando meditava, em sua cela, o monge amarrava respeitosamente o animal no pé da mesa, para que não o atrapalhasse. Passaram-se vários anos. O monge morreu e pouco depois o gato desapareceu do monastério. O sucessor do velho mestre − zeloso seguidor das suas técnicas de meditação − buscou então um gato e o amarrou ao pé da mesa durante as suas meditações. Com o tempo, a prática institucionalizou-se. Já muitos praticantes amarravam gatos a pés de mesas no momento da meditação. Surgiram polêmicas entre doutores sobre qual devia ser a cor do cordão que amarrava o gato. Novas seitas passaram a alegar que o gato deveria ser dessa ou daquela raça. Caso contrário, a meditação seria apócrifa e ineficaz. O dogma e o mito haviam transformado o meio em fim, a aparência em essência, e a circunstância externa em fato central.
O mesmo pode ocorrer – e ocorre freqüentemente – com as modernas técnicas de meditação e oração, o vegetarianismo, o respeito aos animais, e a atitude de valorizar pensamentos construtivos. Tudo pode ser visto com olhos supersticiosos e transformado em dogma, rotina e ritual.

A verdade, porém, é que não existe uma seqüência pré-concebida de passos a serem tomados no caminho do autoconhecimento.

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O caminho não está, pois, em linha reta. Não consiste em obediência. Cada caminhante deve ter em primeiro lugar sua meta clara, e então abrir caminho. O poeta espanhol Antônio Machado ensinou: “Caminante, no hay camino – el camino se hace al andar”. Não há um caminho único e igual para todos. Cada passo é sempre o primeiro passo, e define a substância dos passos seguintes. A condição mais importante da caminhada é que os passos sejam dados com integridade e por decisão própria.

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5)“O caminho espiritual é feito de fé e de crença”. Grave engano. A crença em algo que não podemos verificar por nós mesmos reduz a nossa capacidade de perceber a realidade e fecha nossa mente para o que é novo. Os caminhos que levam à paz interior são feitos de perguntas e de tentativas. A convicção é um péssimo critério para julgar a verdade.

Os autoritarismos bem intencionados, religiosos ou não, plantam falsas certezas e exigem “fé” e “confiança” de seus seguidores. [4] Os sistemas corretos de liderança, baseados na comunhão fraterna, fazem da transparência e da vigilância coletiva a sua característica central. A verdadeira fé e a verdadeira confiança surgem de dentro para fora. Elas não são resultado de propaganda ou de pregação, e não têm medo do exame crítico, mas, ao contrário, testam sua força enfrentando de boa vontade os desafios da vida.

Link: http://www.filosofiaesoterica.com/ler.php?id=665

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