segunda-feira, julho 29, 2002

www.pessoasdesaparecidas.com

Vi a url no ‘Notícias Magazine’, tentei abrir, mas não consegui. Existirá sequer? O que me leva a:
O que é invisível não existe? O que não é visto não existe, não tem substância para os olhos e a mente dos outros?, é-lhes insubstancial?

(Reparem na virgulazinha logo depois do ponto de interrogação. Gosto tanto de juntá-los... ou, ao invés, o ponto de exclamação. É giro. É ‘cool’, porreiro, ‘à maneira’ – para usar uma expressão desactualizada. E sim, já vi outros autores fazerem o mesmo. Ó meus sacanas!, eu sei do que falo... hehe, não se ofendam – ó meus adoráveis, windos sacanas lol – Ponto e vírgula, fechar parêntesis.)

[Ao princípio tinha por hábito reparar no uso da pontuação gráfica, na disposição do texto, na frequência ou inexistência – Saramago, homem, exageras, pá, camarada! – de parágrafos. Vi que nem todos coincidiam. Tipo, se bem me lembro... o Milan Kundera (houve uma época em que comprei sucessivamente os livros deste gajo...), numa cadeia de perguntas, nunca punha o termo a seguir ao ponto de exclamação capitalizado. Eu esprico: “O quê? quem? porquê?...” Topam? Achei giro. Mais tarde vi que não era idiossincrasia do cavalheiro, outros autores faziam o mesmo. Mas, sei lá, não pôr letra grande depois de um ponto gráfico... isso não combinava comigo nem com o ensino gramatical que gramei na primária. Parecia-me errado. Lol! O tempo que se leva a aprender a desaprender tudo, santo deus... Bom, um dia vi em determinado livro outra forma de pontuar uma enfiada de questões. A vírgula vinha logo a seguir ao ponto de interrogação. Isto sim! Disto gosto!, pensei eu cá com os meus botões, hehehe... E tanto parlapiê para dizer que sim senhor, há regras, porém várias, imensas. Existem as da gramática, dama fina e nunca descomposta, com solução – por mais entediante – para tudo. E existem as regras de autores e/ou escritores que acabam por serem impostas ou generalizadas mercê do seu talento e, quiçá, divulgação... Não sou perita nisto. (Meus lindos sacaninhas, posso desdizer-me as vezes que bem entender, ok?) Só falo das dúvidas que tive/tenho/terei e como as resolvi. As minhas resoluções podem não ser necessariamente as suas/vossas. (Agora perdi-me: falava para ‘você’ ou ‘vós’?) Mas talvez sabendo o que fiz façam o exacto oposto (e isso é bom) ou, quiçá, a mesmíssima coisa (aspas idem). Repito: Não-Há-Regras! a primeira coisa a fazer nestas andanças é aprender as regras/praticá-las/apanhar-lhes raiva/ir à vacina/ficar livre delas/inventar as suas/praticá-las/apanhar-lhes raiva/ir à vacina/ter saudades das primeiras regras (ó menarcas da minha mocidade!)/etc. e tal.

Entendeu? Ou quer um retrato?
É bom sabermos bem aquilo que planeamos demolir/desmistificar/reconstruir.
Com caraças, perdi-me. Falava doutro assunto.]

Pessoasdesaparecidas.com
Uma pessoa desaparecida é um ser inexistente? Vi no site da polícia judiciária fotos de indivíduos desaparecidos.
O termo ‘desaparecido’ quase que diz, nos presta toda a informação. É meio termo entre ‘vivo’ e ‘morto’. Está desaparecido, logo, não é uma coisa nem outra. A ignorância, o não-saber, é o género de coisa que nos lixa a mioleira, provoca ansiedade que se fixa à pele, ao espírito da pessoa, misturando-se, juntando-se – dir-se-ia – ao seu DNA. Arrebenta-nos a alma este ‘não saber’, ‘não ver’, ‘não saber quando o saberá ou se um dia o saberá’.

Digamos que senti esta reflexão, embora só agora a traduza em palavras, enquanto ia clicando nos vários retratos.
Sabem, sabe (você/vós?, ai a porra, há que decidir-me!), os que escrevem, os escribas, os escritores (pronto, rendo-me) são vampiros. Alimentam-se das histórias, melhor, das pessoas que as geram, e que os rodeiam, desconhecidas ou íntimas, tanto lhes faz. (Pus aqui vírgulas em demasia...) O escritor não tem escrúpulos. Pode sentir vergonha e achar-se incapaz de tocar naquela história dolorosa, porém, lá no fundo da mente, ele arquitecta enredos e cenários, veste/despe/rearranja personagens. Bem lá no fundinho da mente... inda que não se atreva a pegar na caneta/teclado. Está sempre à espreita, atento a indícios.

Sabem a anedota... um tipo pergunta a um escritor o que ele faz e o escritor responde:
« D’après vous… ! »
(O senhor primeiro...!, este d’aprés vous mata-me...)
{Dúvida: aqui é vous ou vouz?}
Ok, ok, não tem lá muita piada e ouvi em francês e o meu francês já nem é sofrível, por isso dêem desconto.
O escritor é o “d’aprés vous”. Diga o cavalheiro primeiro a sua profissão. Os escritores são vampiros, para o bem e para o mal.
(Já perdi o fio à meada de novo, chiça!)

Ah! As pessoas de-que-não-se-sabe. Eu clicava, clicava e já ia congeminando, de forma abstracta, possíveis fins, destinos... cenários verosímeis não, porém o inverosímil achega-se incrivelmente à verdade. (Já vos/te disse para não usarem advérbios? Sim? Adverbs are evil! Por favor, ignorem/ignore o dito: usem/use advérbios, mas não à minha frente! E pontos de exclamação em demasia. Proibidos. Absolutamente proibidos. Sarna. Odeio. Detesto. Adiante.)

Aquele rapaz, uma muda de roupa, se calhar era porque... a mulher, foi morta de certeza porque... tão novinho, meu Deus, autista? Coitado, provavelmente... ou daí talvez não... amnésia? Hum, dava enredo à moda da Agatha Cristhie.
E sem a ponta de remorsos, percebem? Nem uma pontinha...
Perversa. (*suspiro*)

À laia de resumo: os ‘desaparecidos’ dos outros são os nossos ‘aparecidos’/’iluminados’.
Viventes. Vivos. Cá. Sem angústia. Sem ansiedade.
Ainda não terminei Unamuno. O homem não está a falar exactamente sobre o que no título se enuncia. Mas enfim, são prerrogativas.
Quero muito, muito, muito, muito, muito pôr o link do ‘desaparecidas.com’ ali ao lado. Se acaso o site existir. Se não, ver se desencanto alternativas.
(Eu devia masera ‘tar a marrar História de Portugal... vontaaaade... bendito blog, hehehe...)

Fui.
/away keyboard missing

sexta-feira, julho 26, 2002

Sonho acalentado: aprender a escrever bem.

Com o tempo e a prática a escrita vai aprimorando, noto. Mas vejo que todos os livros que eu não li durante a infância e adolescência (porque não havia cascalho para os comprar e porque nem a uma biblioteca itinerante – e muito menos fixa – tive acesso), todos esses livros que desconheço, que habitam na minha actual ignorância – me fazem falta. Não apenas ao nível da escrita, mas a outros níveis: emocional, intelectual, social. Às vezes tenho a sensação que só comecei a aprender a deslindar o mundo (i.e., as pessoas), a percebê-lo, quando comecei a ler livros. E só leio de forma regular desde cerca os vinte anos.

Não sou, hélas!, do género de pessoas intuitivo, que lança um olhar a um grupo de indivíduos e sabe logo o DNA de cada um. Não sou assim, dependo do olhar dos outros para entender o que se apresenta ante o meu. Logo, considero uma violência que uma das portas do conhecimento me tivesse sido negada durante tanto tempo. O meu ser ressentiu-se. Não sei se dá para “remediar” até ao fim da vida.

Assim, o sonho que tenho é aprender a escrever como deve ser. Aprender a construir histórias decentes.
Acho que este ainda é o meu sonho... (é que às vezes perdemos os sonhos de vista...)

Ai, pronto. O blog virou “my dear diary”! :-p
Vou mas é ler Miguel de Unamuno, ‘Como se faz uma novela’ (editora Grifo).

quinta-feira, julho 25, 2002

Estou a passar-me... acrescentei outra mariquice ao blog, de caminho vou lixando a template lol. Mas não resisto...!
"As seis supremas leis para quem quer escrever:
1 - Leia.
2 - Leia.
3 - Leia.
4 - Escreva.
5 - Escreva.
6 - Escreva."


"Basta sentar na frente do computador, ligar o Palm ou pegar a caneta, e o texto flui. Conclusão: não adianta só ficar esperando um momento místico de elevação quando ocorreria aquele insight único sobre a alma humana. Não espero mais pela visita da Musa Inspiradora que vai me ajudar a produzir o perfeito e completo conceito sobre o amor, o sentido da vida ou o propósito da morte em um parágrafo maravilhoso."

"Escritor não é quem publica, é quem escreve."

Roubei daqui.

quarta-feira, julho 24, 2002



Quem você é no sistema solar?
por Testelândia

Sim, ok, prontos... também gosto destes testes... ;^p
:: Conselhos para quem quer escrever ::

Leia. Leia. Leia. Escreva. Escreva. Escreva. Leia. Escreva. Escreva. Leia. Faça amor. Faça empadão no forno. Faça amizades. Faça amores. Perfeitos. Escreva. Leia. Rasgue livros. Coma livros. Escreva. Escreva. Faça caldeirada (uma camada de batatas, outra de cebolas, outra de peixe, pimentos, tomate, repita). Faça um disparate. Roube as histórias da família e amigos, descaradamente. (“Como tiveste a coragem de contar o que eu te disse só a ti em confidência?!”) Leia. Leia. Leia. Escreva. Perca amigos. Ganhe úlceras. Dê-lhe nomes, como Josefina. Escreva. Perca amizades. Faça amor. Escreva. Ganhe solidão. Ganhe o martírio da escrita. Leia. Leia. Leia. Faça pudim de ovos. Torta de laranja. Um bolo de anos. E leia e escreva e leia. Minta. Verseje. Narre. Relate. Fabule. Invente. Enamore-se. Fall out of love (cair fora de amor… expressão singela). Não escreva de pijama. Roube um cego. Engane um sério. Leia Henry Miller (mas pare antes de enjoar). Escreva de pijama. Um dia ainda hei-de escrever nua. Agora escrevo de pé. Leia. Leia. Escreva. Escreva. Start a fire. Start a game. Ponha fim à conversa para ir escrever. Faça mousse. Engorde. Devore livros. Mande à merda os que consideram, têm por ab-so-lu-to que escrever não é trabalho nem emprego, “é hobbie de fim-de-semana de quem não tem nada para fazer”. E leia. LEIA. L E I A! Mas escreva. Escreva mais, escreva menos, escreva acima de tudo. Ao fim de tudo. Até ao Entrudo... escreva, narre, relate, chicoteie, minta. Omita, misture, retire, embrulhe. A estória. Às fatias. (Escreva de bermudas às bolinhas amarelas.) E escreva. Faça chá de cidreira. Chateie-se, aborreça-se, enerve-se. EU ESTOU A ESCREVER!, grite ao energúmeno que lhe pede “5 minutinhos do seu tempo”. Tal gentinha não percebe que cinco minutos perdidos de escrita são cinco séculos ganhos no inferno. Mas mesmo que lá vá parar, lembre-se: escreva. Livros é que lá hão de haver com fartura.

P.S.: Ignore tudo acima, excepto Escrever.
P.S2: Coma farturas. Nhamm!


segunda-feira, julho 22, 2002

Como dar um comprimido ao gato
É morrer a rir...
Coloquei o motor de busca Altavista ali ao lado. O blog já 'tá a ficar mais çiiruuuu...! (O gato, pelos vistos, também quer escrever, saltou para cima da secretária...). Agora está atrás da cadeira, a ronronar. Graxista...
Ayira pôs um link do meu blog no seu. Que querida! Nem a conheço! O meu primeiro link, sniff... ;)

domingo, julho 21, 2002

Já pus o gato a dormir. Engraçou com a caixa de cartão dos correios. Prefere sempre aquilo que menos se espera. Tipo: brinca com uma folha de papel e ignora felinamente algo que comprei de propósito para o cavalheiro...
Continuando.
Como trabalhar o tema. Pois... errr... bela pergunta! Isto não avança, lol.

Bom, o tema.
Pessoalmente, não gosto de fazer sinopses, resumos demasiado elaborados, cheios de pormenores. Por experiência sei que são esses os livros que nunca irei escrever. Não consigo. Por outro lado, breves esquemas de uma história que há muito me ocupe o espírito são aqueles que conduzirão ao livro, à obra final. O máximo que faço é:

1º capítulo – o herói (a personagem principal) vai dar uma passeio e tem um acidente;
2º capítulo – ele sonha com uma mulher enquanto é transportado para o hospital;
3º capítulo – vê a fotografia dessa mulher na mesa do médico; etc...

Isso não significa que eu não saiba (ou não veja) o que acontece nesses capítulos de forma mais detalhada. Sei, tenho umas ideias, mas prefiro guardá-las até me sentar à secretária e escrever. Acontece-me muitas vezes essas ideias germinarem noutras e quando vou, enfim, trabalhar no capítulo, já sei mais do que semanas atrás.
Sou muito lenta, preciso de pensar as coisas com calma. Se faço tudo à pressa, sai porcaria.

...

Porque se escreve? Qual o motivo? Porque é necessário. Há uma necessidade absoluta de escrever que, entendo, não implica seguimento de nenhum género. Escrever é um fim em si mesmo.
Certa vez disseram-me que ser lido é a 2ª parte, o que vem depois do livro ser escrito e editado. Não sei se concordo muito com isto. Será que a necessidade de ser lido implica o imperativo da escrita? Não tenho bem opinião formada, mas, à primeira vista, parece-me que a resposta é não. Alguém eloquente, que frente a uma plateia faça maravilhas (e malabarismos) com a palavra, galvanizando multidões, pode publicar os seus discursos – e ser lido. Não vejo aqui a acção da escrita, o ‘empunhar da pena’, a palavra que passa directamente da mente para o pulso e o papel. Para mim (percebo-o agora, enquanto escrevo e medito em simultâneo) a palavra é silenciosa e audível mercê do seu mutismo. Uma vez li: o caminho é a Palavra. E logo acrescentei: escrita.

Para outros o caminho é a palavra dita. E para outros o caminho não é a palavra. Pode ser a imagem. E dentro da imagem pode ser, por exemplo, a fotografia.
Devia ter continuado a desenvolver o ‘tema’, mas não me apeteceu. À pouco lavava a loiça e ia pensando nestas coisas, assim, sem me forçar, divagando...
Bom, resumindo... importa seguir a voz da escrita e não pensar no resto, afastar do espírito eventuais consequências ou repercussões. Escreva apenas. O resto logo se vê.

...

(As reticências separam diferentes assuntos.)

Aplicar o que se aprendeu nos livros seguintes, sem ter a tentação de corrigir mil vezes os anteriores (os abençoados com o dom da preguiça sentem menos propensão a tais tentações, hehe...).
Ao escrever usar mais substantivos e verbos e menos adjectivos. (Aprendi com o José Cardoso Pires. Leiam! Escritor fa-bu-lo-so. Tenho a certeza que será um dos lembrados, um dos que ficam.)

Agora com licença, vou ver se o caldo verde está pronto.

quinta-feira, julho 18, 2002

:: Escrever sobre o quê? ::


Está um calor do caraças! Porra...! É nestas alturas que começo a sentir saudades da chuva. Isto do blog é giro, é um género de escape, de traição quase desculpável feita ao dever, à rotina obrigatória. Devia estar ocupada noutra coisa (no estudo *argh*) e não aqui.

Que se lixe. Chumbo.
Adiante. ‘Bora falar de coisas mais agradáveis.
(Brad Pitt! Brad Pitt! Brad Pitt!) Hehehe…

Não sigo, sistemática, uma fórmula. Ou melhor, não abordo de modo linear as diferentes fases da construção de uma narrativa ficcionada. Primeiro porque não sou capaz, segundo porque a própria estrutura do blog não o implica nem o obriga. Aliás, os blogs possibilitam-nos a chance de escrever uma obra sem o notarmos. Vamos devagarinho, capítulo a capítulo, “post” a “post” (esta palavra ainda há-de entrar no dicionário, devidamente aportuguesada, aposto).

Hoje vou falar sobre o tema. O autor (considero existir diferenças entre autor e escritor) decidiu escrever. E pergunta-se: sobre o quê? E depois de descoberto o tema, como trabalhá-lo? O tema é sempre um tema presente, uma história conhecida. É assaz difícil narrar a vivência quotidiana de um esquimó quando se é escandinavo; ou relatar o dia a dia de uma dona de casa com cinco filhos, um genro, uma sogra, um hamster e um canário quando nunca na vida se lavou um par de meias. O melhor é começar pelo que sabe, pelo que conhece, pelo que vê. Não acredite que a sua vida é corriqueira, aborrecida e que ao fim de dois parágrafos o leitor irá inevitavelmente cair no sono. Antes de tudo – valorize-se! O que para nós parece normal e sem mistério pode para outros ser a abertura a um mundo distinto. Vamos supor que, quem me lê agora (o anónimo do lado de lá do monitor), pertence à “corriqueira” classe média de um dado país ocidental e democrático.

Suponhamos também que possui carro ou tem a carta e só de vez em quando guia o automóvel do irmão (mas antes há que lhe descobrir o esconderijo da chave e depois fugir, pôr o carro a trabalhar e pirar-se antes que ele o fisgue). Vamos admitir que é maior, vacinado, teve sarampo na infância, partiu uma perna, os colegas escrevinharam coisas giras no gesso, você guardou-o durante uns tempos e agora não sabe por onde pára; frequentou a escola, estudou coisas horroroooosas (das quais não guarda na memória a vaga lembrança); fez amigos; não fez inimigos, mas houve malta que embirrou consigo e vice-versa; marrou que nem um possuído para conseguir entrar na universidade; teve aí o seu primeiro amor a sério (ou o segundo, ou o 19º).

Depois arranjou um emprego, uma casa, talvez o seu irmão um dia lhe tenha aparecido à porta a chorar baba e ranho porque apanhou em flagrante a legítima com o guarda nocturno. Talvez um dia tenha tido um acidente, grave o suficiente para o fazer reconsiderar a sua existência. (Ou não.) Sente-se confortável e desconfortável com esse conforto. Pensa: mas que porra de vida! O que é que eu posso tirar daqui!, dela, o que posso eu tirar de mim próprio que cative outros? Que desperte o interesse dos leitores? Bolas, o 007, esse sim, é que tinha uma vida do caraças! Com uma vida daquelas podia-se escrever três dezenas de livros! A minha é tão chata, tão normal, tão sem problemas nem tragédias (só aqueles probleminhas menores que irritam) que terei de ir lá fora buscar inspiração para uma história decente, pensa.

Mas pensa mal.

Acha que tem uma vida regular? Faz ideia, por esse mundo fora, de quantas pessoas tiveram acesso à escola, à vacinação? Quando era pequeno, teve de trabalhar para ajudar a família? Poliomielite, por exemplo, no seu meio tem quase o estatuto de lenda, mas noutros meios existe ainda.

A sua vida para um miúdo que viva no Ruanda não é normal. É paradisíaca. (Se miúdos do Ruanda terão algum dia acesso ao que você escreve é outro assunto e talvez um dia o trate aqui.)
O seu quotidiano, para uma mulher da Arábia Saudita ou do Afeganistão, tem laivos de fábula. Sabe como é o dia a dia de uma mulher árabe da Palestina? Acha que ela sabe como é o seu?

Nós não somos “normais”, “aborrecidos”, “corriqueiros”. Somos diferentes, multifacetados. E é a nossa diferença que devemos imprimir à obra que tencionamos escrever. A nossa diferença. Porque a nossa diferença conta.
A sério que conta, acredite.

Por hoje paro. Vou experimentar o método de não dizer tudo, largar o capítulo a meio e deixar o resto para o dia seguinte (ou semana, mês... isto é por fases, hehe...)
O webring 'Arredores' num funcemina :[ Chatice...

E em Portugal está um calor do Caraças!!!!

quarta-feira, julho 17, 2002

São 2:29 da manhã em Portugal, algures nos arredores de Lisbon City! (hehe...). Não tenho sono, quer dizer, até tenho, mas... mas há alturas em que a gente não se sente lá muito confortável às escuras. Suponho que é aí que o Stephen King vai arranjar inspiração. Eu prefiro ir para a net gastar a minha quota de tráfego internacional ;P (1 giga, só?! Cá p'ra mim é uma roubalheira, mas enfim...)

terça-feira, julho 16, 2002

Google! DayPop! This is my blogchalk: Portuguese, Portugal, Lisboa, Lisbon City!, Dunyazade, escrever, escrita, como escrever, escritor, Female, 101-105!

segunda-feira, julho 15, 2002

Desculpas Esfarrapadas Para Não Escrever
(e possíveis soluções...)

O gato. O gato amantíssimo. Vicissitudes de possuir um gato (ou, em verdade, ser-se possuído por um). Ele quer brincar, comer, ir à rua, mordê-lo, arranhá-lo; espreita o que você lê (e morde o livro que, por acaso, nunca é seu e custa um balúrdio). Ele salta para cima do computador para bisbilhotar o que tecla (e estraga-lhe o trabalho todo e, de seguida, formata-lhe o disco rígido. E, claro, você não tem nada gravado. Tudo era essencial e tudo estava lá dentro).

Resultado: é impossível escrever. O acto de entreter um gato (por ele exigido) é incompatível com o acto da escrita.
Soluções possíveis: e que tal arranjar um cão? Ou outro gato para fazer companhia ao gato que arranjou para lhe fazer companhia a si. (Não, não, estou a brincar! Não vá já a correr para a União Zoófila, homem! Dois gatos em casa?! Vocemessê está doido... lol).

Na dúvida – compre um peixe.
Voltando atrás. O gato tem ciúmes da escrita, você terá de se esconder dele para poder alinhavar um ou outro parágrafo. Ou aproveita as sonecas felinas. Vá a correr para a secretária e escreva, mal lhe surpreenda um bocejo.

O quê? Bem, a pergunta é pertinente. E se, resolvido o problema do gato, não encontra nada para ser dito? E se a história, tão clara momentos atrás, é agora confusa, inexistente ou não tem a originalidade que há pouco lhe atribuíra?
Como resolver isto?

À maneira Zen. Aplique o método budista (ou taoísta). Não faça nada. Não faça porra nenhuma. A ponta de um corno. Junte-se ao gato e vá dormir.
Espere. Dê tempo ao tempo. A história, regra geral, vem ter consigo, por isso não a force. Sabe, ela também gosta de brincar. A história é como um gato que se esconde e pula sobre nós de surpresa.
Agora com licença, o raio do meu felídio está aqui a reivindicar atenção, pleno de exigências.
(Outras desculpas esfarrapadas serão colocadas – “postadas”? qual o termo correcto? – no blog, numa próxima oportunidade.)

segunda-feira, julho 08, 2002

sábado, julho 06, 2002

O que é mais importante, experiência ou imaginação? Dicas.

A imaginação sobrepõe-se à experiência, transformando-se ela mesma numa experiência maior, mais intensa e vívida. Se o reino do que pode ser conhecido através da prática e observação é limitado, o devaneio e a fantasia não conhecem nem toleram restrições. Se já alguma vez escutou que a escrita só é possível a quem já “viveu” muito, não acredite. Não vá em cantigas. É falso. É do caudal inesgotável e imperecível da fantasia que todas as obras de expressão artística (incluindo as de arte) se alimentam.

Apele à experiência e dela obterá, muitas vezes, ignorância. Dela costumo tirar os sentimentos, mas, para dizer a verdade, os sentimentos e as emoções, quando os invento não deixam de ter a mesma substância que aqueles que verdadeiramente senti. “O poeta é um fingidor, finge tão completamente, que chega a fingir que é dor, a dor que deveras sente”. Graças a Deus pela mentira, pelo engano, pelo fabular. Sem eles seria, creio, impossível a criação de qualquer obra de arte.