segunda-feira, dezembro 22, 2003

Qual a pergunta que desejamos lhes fazer ?

"VOCÊS QUEREM QUE APAREÇAMOS ?"

A minha resposta é: SIM.
[Edit: mudou para N Ã o, P O R R A! E vão raptar a avózinha, pázinhos!]

O que acham, meu amigos? Qual é a vossa resposta?
(P.S.: Vá lá. Faz de conta que isto é verdade. Faz de conta que isto é Mesmo verdade. Porque pode ser mesmo verdade. Por isso respondam. Se for mesmo verdade talvez eles oiçam.)


[Back to HIATUS.]


[Update: vejam este artigo sobre o mesmo assunto (em inglês): Cosmic Spam]

quarta-feira, dezembro 17, 2003

ASSOCIAÇÃO DE PESQUISA OVNI
Caríssimo viajante do tempo: que tal marcarmos novo encontro?
Pode ser aqui em casa ou no café. Quando? Humm, dia 20, que tal?
A que horas? Escolhe tu.
Gostava imenso que fosses um descendente directo da minha família. Traz bolinhos. E os números do totoloto (joking).
Apareces, a malta conversa e tal. Era giro.
'Tá o encontro marcado?

segunda-feira, dezembro 15, 2003

Em relação às propinas: que tal processar o Estado Português por violação do Artigo 26 da Declaração Universal dos Direitos Humanos?

Artigo 26:
1º Toda a pessoa tem direito à educação. A educação deve ser gratuita, pelo menos a correspondente ao ensino elementar fundamental. O ensino elementar é obrigatório. O ensino técnico e profissional deve ser generalizado; o acesso aos estudos superiores deve estar aberto a todos, em plena igualdade, em função do seu mérito.
(...)

E onde falha a igualdade?, perguntam. Ora, nas propinas. Os pobres, esses sacanas, não têm bago para as pagarem. É descriminação económica. E quanto às bolsas... pois. Então não é. É mesmo. É a velha história do burro: quem não te conheça, que te compre.

É só uma ideia.
Pena de morte: mais outro apedeite.


Não me calo com isto, não é?
Quem defende a pena de morte não compreende que a defende também para si e para os seus? Não está a defendê-la única ou primeiramente para os outros, mas para si e para o cônjuge e os filhos e os pais e os amigos e os irmãos. Se a pena de morte é para ti aceitável, então estás a dizer-me que em caso de tu seres condenado, a aceitas também. E em caso dos teus filhos serem condenados, a aceitas também. E em caso dos teus pais serem condenados, a aceitas também.
Não duvido que exista malta por aí que responda sim sem hesitação.
O que me espanta formidavelmente.
Há gente que aceita que outros têm direito de tirar a sua vida. Há gente que aceita que outros, validados, têm direito de tirar a vida da sua mulher ou esposo e dos seus filhos. Há gente que aceita que o Estado tem o direito (ou deveria ter o direito) de executar os seus pais. Com eles a assistir, aposto.
Há gente que aceita que a sua própria vida vale tão pouco. Vale nada. Que a vida dos seus filhos vale tão pouco – vale nada; que a vida dos seus familiares vale nada.
Se dão tão escasso valor à vida de quem (alegadamente) amam – que tipo de valor darão à vida humana de estranhos?
Lobos. Somos lobos.

A relembrar:

Declaração Universal dos Direitos Humanos


Artigo 3:
Todo o indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.

domingo, dezembro 14, 2003

'Tou parva: não é que o encontraram?

Agora só faltam as armas de mass destruction.

Vá lá, já não falta tudo.

quarta-feira, dezembro 10, 2003

Tosse. Garganta dói. Não muito.
Cabeça dói. Um pouco tonta. Um pouco quente.
O corpo dói-me, mas pouco também.
Frio. Arrepios.

Acho que a gata também está com gripe.

/a ouvir Sandro G - Eu não vou chorar (ou Rabo de peixe?).
Bonita. E o sotaque dá-lhe um toque especial.

domingo, dezembro 07, 2003

(Perfeito retrato de Portugal.)


POEMA TEMPERAMENTAL

Ó caralho! Ó caralho!
Quem abateu estas aves?
Quem é que sabe? quem é
que inventou a pasmaceira?
Que puta de bebedeira
é esta que em nós se vem
já desde o ventre da mãe
e que tem a nossa idade?
Ó caralho! Ó caralho!
Isto de a gente sorrir
com os dentes cariados
esta coisa de gritar
sem ter nada na goela
faz-nos abrir a janela.
Faz doer a solidão.
Faz das tripas coração.
Ó caralho! Ó caralho!
Porque não vem o diabo
dizer que somos um povo
de heróicos analfabetos?
Na cama fazemos netos
porque os filhos não são nossos
são produtos do acaso
desde o sangue até aos ossos.
Ó caralho! Ó caralho!
Um homem mede-se aos palmos
se não há outra medida
e põe-se o dedo na ferida
se o dedo lá for preciso.
Não temos que ter juízo
o que é urgente é ser louco
quer se seja muito ou pouco.
Ó caralho! Ó caralho!
Porque é que os poemas dizem
o que os poetas não querem?
Porque é que as palavras ferem
como facas aguçadas
cravadas por toda a parte?
Porque é que se diz que a arte
é para certas camadas?
Ó caralho! Ó caralho!
Estes fatos por medida
que vestimos ao domingo
tiram-nos dias de vida
fazem guardar-nos segredos
e tornam-nos tão cruéis
que para comprar anéis
vendemos os próprios dedos.
Ó caralho! Ó caralho!
Falta mudar tanta coisa.
Falta mudar isto tudo!
Ser-se cego surdo e mudo
entre gente sem cabeça
não é desgraça completa.
É como ser-se poeta
sem que a poesia aconteça.
Ó caralho! Ó caralho!
Nunca ninguém diz o nome
do silêncio que nos mata
e andamos mortos de fome
(mesmo os que trazem gravata)
com um nó junto à garganta.
O mal é que a gente canta
quando nos põem a pata.
Ó caralho! Ó caralho!
O melhor era fingir
que não é nada connosco.
O melhor era dizer
que nunca mais há remédio
para a sífilis. Para o tédio.
Para o ócio e a pobreza.
Era melhor. Concerteza.
Ó caralho! Ó caralho!
Tudo são contas antigas.
Tudo são palavras velhas.
Faz-se um telhado sem telhas
para que chova lá dentro
e afogam-se os moribundos
dentro do guarda-vestidos
entre vaias e gemidos.
Ó caralho! Ó caralho!
Há gente que não faz nada
nem sequer coçar as pernas.
Há gente que não se importa
de viver feita aos bocados
com uma alma tão morta
que os mortos berram à porta
dos vivos que estão calados.
Ó caralho! Ó caralho!
Já é tempo de aprender
quanto custa a vida inteira
a comer e a beber
e a viver dessa maneira.
Já é tempo de dizer
que a fome tem outro nome.
Que viver já é ter fome.
Ó caralho! Ó caralho!

Ó caralho!

Joaquim Pessoa
Tenho uma vontade enorme de escrever.
Mas sobre o quê?
É como ter vontade de resolver problemas matemáticos e não haver enigmas à mão.

Não sei se me explico.

Escrever sobre, sobre, sobre!
O Estado da Nação. O estado dos políticos!
(PQP)
Sendo mais explícita: PQ'OsP.
Cada vez que leio o correio da manhã apetece-me emigrar para Marte.
Ou Espanha, que é mais perto.
Aborto é crime. Atão não.
Se o meu útero é teu, sacana de legislador, quer dizer que a tua próstata é minha?
Quer dizer que os teus tintins são meus?
Porra, há Igualdade ou não?! Ou há justiça ou comem todos.
Mulher: a puta, a santa, a que leva menos money para casa por ser mulher.
Mulher, a que merece menos, a que vale menos. A que faz tudo no lar. Trabalha, educa/limpa/trata os filhos, limpa a casa.
E o homem vai para o café desanuviar. Com os amigos. Com os camaradas, colegas, gajos.
Filho da puta do árbitro, o Mantorras/Pinto/Figo/PQP é que é, aquilo é que é jogar.
Às vezes tenho nojo de ser portuguesa. Onde é que anda a justiça social, económica? Fugiu para um paraíso fiscal? Uma offshore (ou lá como se escreve). Não percebo os cabrões dos políticos. Eles não compreendem, não interiorizaram ainda que, façam o que fizerem, são Sempre vistos pela populaça como Filhos da Puta? Ainda não perceberam isto? Porque raio não fazem então o certo, o correcto, o Ético? Porquê? Há países em que fazer o correcto é, tipo, uma obsessão nacional.
Aqui é passar a perna ao próximo e não ser caçado...

Opinião pessoal: devíamos ter continuado espanhóis. Ai devíamos. Olhem para eles e olhem para nós.
Olhem Para Eles E Olhem Para... nós.

What. Ever.


/Lola out

sábado, novembro 29, 2003

Meu caro senhor (digo. Me), não façamos um bicho de sete-cabeças da vida!
Os políticos são uns filhosdaputa (assim mesmo, tudo pegadinho), o que é que importa?
Morres da cura, mais vale ficar com a doença - o que é. Que. Importa?
Somos campeões das Certidões! O que é que importa?
Gostamos tanto de Certificados! E depois?

(Song while I write: into my armas, Deine Lakaien.)

Meu caro senhor, não faça da vida uma série de obstáculos a ultrapassar.
Admire as Certidões!
E os Certificados!
Chame filhosdaputa aos políticos com um brilhozinho de admiração nos olhos!
Eles gostam. Faça-lhes festinhas mas de longe, hã, de longe... As hienas riem, riem, mas arrancam-te os dedos num piscar de olhos.

Admiremos a vida, meu caro senhor, admiremos o dia que passa!


(Song: come back, my dream, into my armas, into my arms.)

Into My Arms.
Into My Arms.
O gin tónico.

Leiam tudo, mais especificamente a parte sobre a saúde e os hospitais.

E torçam para não ficarem doentes.

terça-feira, novembro 25, 2003

"O acto sexual é para ter filhos!" - João Morgado.

Resposta da Natália Correia:


Já que o coito - diz Morgado -
tem como fim cristalino,
preciso e imaculado
fazer menina ou menino;
e cada vez que o varão
sexual petisco manduca,
temos na procriação
prova de que houve truca-truca.
Sendo pai só de um rebento,
lógica é a conclusão
de que o viril instrumento
só usou - parca ração! -
uma vez. E se a função
faz o orgão - diz o ditado -
consumada essa excepção,
ficou capado o Morgado.

1982
Coisas do silva.
Pena de morte: apdaite.

Vi os testemunhos de duas juradas que decidiram
dar a pena de morte ao John Allen Muhammad, um dos (alegados - palavrinha tão bonita: a-le-ga-dos)
snipers de Washington. Uma, ‘tadita, estava em lágrimas porque por causa da decisão
os filhos nunca mais iam poder ver o pai. E ela sabe o que isso significa porque
ela própria tem filhos.
Pergunto: ah sim? Ai ela sabe? Se soubesse tinha dito Não. Porque este tipo de
saber tem-se no coração. Sinto um nojo por esta malta de Apurada Sensibilidade e
Consciência e Cumpridora e Boa Cidadã. Imagino-me no corpo dos réus, a gritar para
os que acabaram de decretar a minha morte: Filhos da Puta! Assassinos de Merda!
Virei Do Inferno Todas As Noites Para Vos Atormentar O Sono Até Ao Fim
Dos Vossos Dias!
Se aquela cabra loirinha, de lindos olhos azuis, soubesse mesmo o que era tirar o
pai aos filhos não teria decidido pela pena de morte. Penso nestas coisas
e sinto uma raiva a crescer dentro de mim. E imagino: um dia os filhos deste homem
que certamente morrerá (os EUA são tão competentes, não há recurso
que safe os gajos, ao contrário de um país que a gente cá sabe) vão bater-lhe à porta e,
suponho, dizer-lhe algo deste género:
- Olá, eu tenho 15 anos (ou 20 ou 30) e decidi este ano visitar os assassinos do meu
pai. Queira fazer o favor (o obséquio) de chamar os seus filhos. Olá. Olha para a
senhora tua mãe e lembra-te, ao almoço e jantar, que de facto é uma assassina
e me tirou o pai. Podia ter escolhido outro castigo, outra punição, mas a pena
escolhida castigou-me a mim e aos meus filhos que nunca conhecerão o avô.
Castigou todas as pessoas que eu conheci e conhecerei na vida porque, embora
não pareça, há uma parte de mim que falta, parte que o meu pai me teria dado
se não tivesse sido morto por, entre outros, a tua mãe. Sigo na vida com uma fenda, uma falha cá dentro e essa falha afecta outros, percebes, meu lindo? Lembra-te: quando
a tua mãe te afagar, recorda que são os braços de uma assassina que te abraçam
ou as mãos de um carrasco que te limpam as lágrimas. Sim? Obrigado por este
momento. Adeus, vou visitar os restantes jurados.
Era o que eu faria. Quero pensá-lo, pelo menos. Quero pensar que ao fim de anos
e anos e anos de sofrimento convocaria recursos dentro de mim e iria visitar Todos
os que tivessem contribuído para a morte do meu pai (salvo seja): jurados, juízes, acusadores, governadores ou presidentes que não tivessem usado a possibilidade
que tinham de salvar a vida de um ser humano.
Aliás, será que os filhos crescidos, órfãos feitos pelo Estado, não fazem estas visitas?
Será que os jurados, juízes, etc., não têm insónias uma vez por outra a pensar nestas
crianças que talvez um dia lhes venham bater à porta pedir explicações?
Era lindo, não era? Eu acho que sim. Toc-Toc. Quem é? Bom-dia, não me conhece, mas há 20 anos atrás a senhora decidiu matar a minha mãe. Quero informá-la das consequências do seu acto.





Pena de morte. Pensamentos dispersos. Ou: contributos para (parece mais intelectual).

- Ao matar um ser humano para castigá-lo pela morte de outro entra-se em paradoxo. A razão perde a lógica. O justiceiro torna-se assassino.
- Ao matar uma pessoa corta-se qualquer possibilidade da mesma evoluir, perceber os seus erros. Essa pessoa não poderá mais contribuir para os outros.
- Mata-se para castigá-la e, empiricamente, evitar que ela volte a magoar, a causar mal a outros seres humanos. Pergunto: como o faria se já está presa?
- Essa pessoa tem família. Muitas vezes filhos. Não se mata apenas o assassino: mata-se o pai desses filhos, o marido, o amigo. É justo castigar os filhos pelo mal dos pais? O teu pai era tão mau (para os outros, não para ti) que to vou tirar. Não me interessa se precisas dele ou não para te transformares num cidadão pleno (em qualquer área da tua vida, incluindo a emocional).
- Quem o mata julga-se Deus. Não é. Não existe ninguém à face desta miserável/maravilhosa terra que seja superior a outra criatura humana. Ninguém, seja lá a razão que tiver, tem o direito de tirar uma vida humana.
- Quem o fizer irá, acredito, inevitavelmente, encontrar a pessoa que condenou à morte. E terá de enfrentar a vergonha. E, espero, será obrigado a sentir todo o mal que provocou. Nisso consiste o inferno (suponho, presumo, desconfio): experimentar na pele toda a minúscula dor que fizemos sentir aos outros.
- A única coisa que me causa grande orgulho em ser portuguesa é não termos pena de morte. Acho que o restabelecimento da mesma seria o único motivo que me faria publicamente manifestar-me.
- Matar é errado. Honestamente pensava que todos o sabiam.
- Em posição de poder, se me apresentassem mil Hitlers, com contagem de cadáveres proporcional - quero pensar que seguiria os meus princípios. Quero pensar que teria essa coragem. Quero pensar que seria incapaz de me afundar no ódio, na raiva, na vontade vingativa.
- Às vezes tenho a impressão que, a ser possível, aqueles que condenam outros seres humanos à morte, matá-los-iam um milhão de vezes. Over and over again. Tenho a impressão que se pudessem dar essa dor aos condenados - mil vezes matar-te e ressuscitar-te para te matar de novo - não hesitariam.

(Work in progress.)

Acabei de encontrar um nome fabuloso para usar numa personagem:
Phineas!
Tenho sempre problemas com os nomes das personagens. Um invulgar que quase usei foi este: Hirondina.

sexta-feira, novembro 21, 2003

Ayira?
Fartei-me de rir com isto! Roubei daqui. (Data: 17 de Outubro)

Mê nome é Maria Anacleta da Assunção. Tênho 79 anos. Moro no monte das Alpoêderas, perto de uma aldeia perto de Pias, aqui no Alêntejo. Vi no sê blogui que estava gozando com a tercêra idade, pois fique sabendo vocemecê que nós ainda semos muito utiles á socidade! Eu cá sempre tive uma vida de miséria na agricultura, toda a vida trabalhando e acartando verduras e ovos e lête pra cima e pra baixo que era uma cansera! Agora com a interneti deixê-me disso proque comecê uma mercêria onelaine e que é assim: agora vendo os mês ovos, mês ovos salvo sêja que sã das pintadinhas, e o mê lête pela interneti, ou seja, o lête da minha vaca. Gosto muito do telêtrabalho e enquanto os meus dedos têclarem cá hê-de continuar ca graça de deus. Também tenho um cólecentere que é assim: a ti Chica do poço mora muito longe e tá sempre pedindo ovos e lête prós moços, pois agora ela telefona e mando lá o meu neto mais novo levar as incomendas. A interneti também dá para a gente se distrair, olhi, já conheci o Manel da póvoa que é muito bom moço e é viúvo sem filhos... e também tenho um blogui que é o Setagenário. Quando chegar aos 80 estou pensando mudar-lhe o nome para Otógenário. Nã posso escrever muito por causa da escorose mas lá se vai teclando... Isto da interneti foi uma grande idêa... Minha mãe tem 97 anos mas inda está muito boa de cabeça e tamém trabalha no telêtrabalho fazendo porogamação de páiginas de interneti, dêtadinha na cama, côtadinha, mas inda dá rendimento prá casa. Por isso o senhor na goze ca tercêra idade que nós semos alfabetos mas inda estemos muito bem de cabeça.
Stuck at nanoland >:(

quarta-feira, novembro 19, 2003

Bolsas de Criação Literária

Quando é que esta porra abre? Alguém sabe?
Writing is so difficult that I often feel that writers, having had their hell on earth, will escape all punishment hereafter.
- Jessamyn West

terça-feira, novembro 18, 2003

Só acabo o nanonovel à paulada.
Está tão, mas tão mau, lol...
Já meteu: fantasmas; uma senhora adormecida no hospital por quem o Rui se apaixona (o irmão sacana da Geninha, a suposta protagonista, mas que desde o início me dá nervos); Piedade, a mãe de Geninha, José e Rui, que escondeu a gravidez de Rui (fruto do adultério), o deu para adopção e mais tarde convenceu o marido a adoptá-lo (e ainda por cima é o filho preferido dele); Orlando, um gigolo que roubou dinheiro a uma colega da Geninha e que lhe custou o emprego (mas hoje eu vou fazê-lo sofrer, hehehehe); Diana, a "amiga" vigarista, que teve um caso com o José, já estava este casado e à espera do primeiro filho. Há mais. Já deito o livro pelos olhos. Só me apetece esganar a protagonista cada vez que pego nela. Não me parece que este livro vá ter o final estabelecido - e eles viveram felizes para sempre. Fim. Logo se vê.
Na manhã em que me levantei para
começar este livro tossi. Algo estava a
sair-me da garganta, a estrangular-me.
Rasguei o cordão que o retinha e arran-
quei-o. Voltei para a cama e disse:
Acabo de cuspir o coração.

Existe um instrumento chamado
quena que é feito de ossos humanos.
Tem origem no culto que um índio
dedicou à sua amante. Quando ela
morreu ele fez dos seus ossos uma
flauta. A quena tem um som mais
penetrante, mais persistente do que a
flauta vulgar.

Aqueles que escrevem sabem o pro-
cesso. Pensei nisto enquanto cuspia o
coração.

Só que eu não estou à espera da
morte do meu amor.


Anaïs Nin
A Casa do Incesto
assírio e alvim
1984

Roubei.

sábado, novembro 15, 2003

Bom, abaixo está um trecho do que ando a escrever durante o nanowrimo. É capaz de ter uns errozitos. Seja como for é para reescrever mais tarde.



- Porra, pá, o que é que te custa?! – vociferou Rui.
- O meu estômago. O meu almoço, o meu jantar. O tipo dá-me náuseas.
- Olha quem fala.
- Estúpido!
- Estúpida!
- CALOU! – gritou Piedade. – Já estou por aqui de vos ouvir, por aqui! Rui: deixa a Geninha em paz, se ela não quer ir é porque não quer, não insistas! Eugénia: não respondas ao teu irmão. Quantas vezes é que eu te disse?! Se ele começa tu não tens de continuar... mania... vocês cansam-me, chiça. Cansam-me os dois. Fazem-me mais velha do que aquilo que eu sou.
Deu um suspiro grande, como um balão a esvaziar-se, e sentou-se. Rui não conseguiu conter a raiva.
- Pois, a senhora toma sempre o lado dela! Sempre do lado dela! É a filha preferida, toda a gente sabe isso.
CHAP. Piedade pregou estalo valente e sonoro na face de Rui que se quedou estupefacto. Era a primeira vez que a mãe lhe batia. Entredentes Piedade disse-lhe, lágrimas de fúria e mágoa ameaçando brotar:
- Nunca mais digas uma barbaridade dessas. Só Deus sabe os sacrifícios que fiz por ti – afastou-se e fechou-se no quarto.
- Vês o que tu fizeste – murmurou Geninha.
- Eu?! – gritou ele. – Sou sempre eu. Vou mas é dar uma volta – agarrou no casaco e saiu, batendo estrondosamente a porta.
Piedade saltou com o barulho. Os ombros estremeceram. As lágrimas rolavam em silêncio face abaixo.
- Mãe?
Nenhuma resposta.
- Mãe, posso entrar?
- Deixa-me. Tu deixa-me. Deixem-me os dois!
“Vou ter de ir à merda da concentração de Ferraris. Cabrão do Rui. Estou deserta para ter casa minha e não ter de lhe aturar as merdas do costume.”

domingo, novembro 09, 2003

Papagaio morto

(Traduzido – ok, estraçalhado - daqui: http://bau2.uibk.ac.at/sg/python/ Scripts/TheDeadParrotSketch )
[Update: não encontro o link directo. Apenas este.]

Cliente entra em loja de animais.

Cliente: Olá, menina?
Dono: O que quer dizer com “menina”?
C: (pausa) Desculpe, estou constipado. Quero fazer uma queixa!
D: Vamos fechar para o almoço.
C: Isso não interessa, meu rapaz. Quero queixar-me deste papagaio que comprei nem há meia hora nesta mesma boutique!
D: Ah, o Azul Norueguês. Que é que há de errado com o bicho?
C: Eu já lhe digo o que é que há de errado, meu rapaz! Ele ‘tá morto! É o que há de errado com o bicho!
D: Não, não. Não – ele ‘tá a descansar…
C: Ó camarada, eu conheço um papagaio morto quando lhe ponho os olhos em cima, e estou agora a olhar para um
D: Ná, ná, ele não ‘tá morto! ‘Tá a descansar! Lindo passaroco, o Azul Norueguês, hem? Linda plumagem!
C: A plumagem não é práqui chamada! Ele está morto que nem uma pedra!
D: Não-não-não! ‘Tá a descansar!
C: Ok, então se ele está a descansar, eu já o acordo!

(Grita pá gaiola)
Olá, senhor papagaio Polly! Tenho uma deliciosa posta de peixe para ti se mostrares… (o dono bate na gaiola)
D: Viu! Mexeu-se!
C: Mexeu uma porra! Foi você a bater na gaiola!
D: Não bati nada!
C: Bateu sim!
D: (aos gritos e a bater na gaiola sem parar): OLÁ POLLY! Teste, teste, teste! É o teu alarme das nove horas!

(Saca o papagaio da gaiola e martela-lhe a cabeça contra o balcão. Lança-o para o ar e fica parado a vê-lo espatifar-se no chão.

C: Ora a isto é o que eu chamo um papagaio bem morto!
D: Nãããão… ‘tá atordoado.
C: ATORDOADO?!
D: Claro! Vossemecê atordoou-o mal ele acordou! Os Azuis Noruegueses ficam azoados com facilidade.
C: Hum… olhe lá, olhe lá, ó camarada, já me estou a passar com isto. Aquele papagaio está mais do que defunto e quando eu o comprei nem há meia hora atrás o senhor garantiu-me que a sua total ausência de movimentos era devida ao facto de estar cansado e totalmente exausto após um prolongado grito.
D: Hum… ele, errr, provavelmente tem saudades dos fiordes.
C: SAUDADES DOS FIORDES?!?!?! Mas que raio de conversa é essa?! Olhe lá, porque é que ele caiu de costas, duro que nem uma tábua, mal cheguei a casa?
D: O Azul Norueguês prefere manter-se deitado de costas. Pássaro fabuloso, lorde, não acha? Linda plumagem!
C: Olhe, eu tomei a liberdade de examinar aquele papagaio quando cheguei a casa e descobri que estava sentado no poleiro unicamente porque o tinham PREGADO lá.

(pausa.)

D: Bem, claro que estava lá pregado! Se não tivesse pregado aquele pássaro, ele tinha afocinhado até às barras, tinha-as separado com o bico e VUUM! Fiiuiiuiiuii!
C: “VUUM”?!? Ó amigo, este pássaro não ia VUUM nem que o atravessasse com um milhão de volts! Ele está morto, diabo!
D: Não, não. Ele está melancólico!
C: Ele não está melancólico! Ele passou desta para melhor! Este papagaio não é mais! Ele deixou de ser! Ele expirou e foi ter com o criador! É um cadáver! Despojado da vida, descansa em paz! Se não o tivesse pregado ao poleiro ele já estava no jardim das tabuletas! Os seus processos metabólicos passaram à história! Ele vestiu um colete de madeira! Bateu as botas! Libertou-se das vestes mortais, baixou a cortina e juntou-se ao maldito coro invisível!! ESTE É UM EX-PAPAGAIO!

(pausa)

D: Bem, então é melhor substituí-lo.
(dá uma espreitadela rápida por detrás do balcão)
D: Desculpe, senhor, dei uma olhadela nas traseiras da loja e, hum, esgotaram-se-nos os papagaios.
C: Estou a ver. Estou a ver, apanho a ideia.
D: (pausa) Tenho uma lesma.

(pausa)

C: (doce como o mel) E, diga-me, fala?
D: Neeeem por isso.
C: NÃO CHEGA A SER UMA SUBSTITUIÇÃO, POIS NÃO?!?!?!
D: Olhe, se for à loja de animais do meu irmão em Bolton, ele substitui-lhe o papagaio.
C: Bolton, hem? Muito bem.

O cliente sai.
O cliente entra na mesma loja. O dono põe um bigode falso.

C: Isto é Bolton, não é?
D: (com o bigode falso) Não, é Ipswitch.
C: (olhando para a câmara) Topem-me a qualidade do inter-cidades!

O cliente vai para a estação de comboio.
Dirige-se a um homem atrás de uma secretária que diz “Queixas”.

C: Desejo fazer uma queixa, pessoa dos caminhos-de-ferro britânicos.
Funcionário: EU NÃO SOU OBRIGADO A TER ESTE TRABALHO, PERCEBE!
C: Desculpe..?
F: Sou um cirurgião cerebral qualificado! Eu só tenho este emprego porque gosto de ser o meu próprio chefe!
C: Peço desculpa, mas isso é irrelevante, não é?
F: Sim, mas não é fácil encher estes ficheiros python até às 150 linhas, sabe.
C: Desejo fazer uma queixa. Entrei no comboio para Bolton e achei-me depositado aqui em Ipswitch.
F: Não, aqui é Bolton.
C: (para a câmara) O irmão do dono da loja de animais estava a mentir!
F: Não pode culpar os caminhos-de-ferro britânicos por isso.
C: Nesse caso voltarei à loja de animais!

Ele volta.

C: Afinal de contas isto sempre É Bolton.
D: (ainda mantendo o bigode falso) Sim?
C: O senhor disse-me que era Ipswitch!
D:… era um trocadilho.
C: (pausa) UM TROCADILHO?!?
D: Não, não… não é um trocadilho… como é que se chama aquela coisa que dá para ler da mesma maneira de trás para a frente?
C: (Longa pausa) Um políndromo…?
D: Sim! Isso mesmo!
C: Não é um políndromo! O políndromo de “Bolton” seria “Notlob”!! Não resulta!!
D: Bem, que quer?
C: Não estou preparado para continuar a minha linha de inquérito uma vez que penso que isto está a tornar-se demasiado ridículo!

Sargento-Major: Concordo, concordo, muito ridículo, demasiado ridículo… (segura o braço do cliente) Vá lá, agora tem de fazer outro sketch! Vá lá… (sai pela parte esquerda do cenário, seguido pelo realizador e o operador de câmara, deixando o dono sozinho no cenário)

D: (para a audiência) Bom! Eu nem sequer queria fazer isto. Eu queria ser…

UM LENHADOR!

(ele tira a bata branca e revela por debaixo uma camisa axadrezada e suspensórios)

Flutuando ao longo dos poderosos rios da Colômbia Britânica!
Com a minha namorada ao meu lado! Etc…
(Continua em O Lenhador Python)

[Originalmente publicado no Eternos.org]

sexta-feira, novembro 07, 2003

Nove mil palavras so far.
Not bad. Mas hoje custou-me, porra. E acho que vou ter de abandonar o plot original. Ou pelo menos a parte em que a Geninha "se passa" e desata a matar os pretendentes. Não funciona. Com ela não. É muito atadinha. Não tem pinta de homicida, o que me lixa magnificamente o andamento da narrativa :[

Estão inscritos 10 portugueses no nanowrimo.
Ora adivinhem lá quantos espanhóis há inscritos.
20.


Filhos da mãe, é de propósito. Ai, de certeza.

quinta-feira, novembro 06, 2003

Escrever ou não escrever: qual é a porra da questão?
Já devo ter cerca de 7 mil palavras (7k - hurra, hurra, hurra!), não sei o número exacto porque escrevo à mão. Hoje para cumprir a quota faltam-me duas folhas A4, logo, 4 páginas A4. Demoro cerca de uma hora, se não parar.
Adoro cadernos espiralados com folhas quadriculadas. Sigo as carreirinhas como as formiguinhas. E quando deixo de controlar as linhas que já fiz, falta muito, epá, etc. e tal, quando apenas sigo a história ou a personagem ou a mão que escreve - ena, faço aquilo num instante. Fica uma merda, mas isso agora não vem ao caso.
Tenho, depois, de abrir conversações comigo própria para me convencer a reescrever a história. O que hoje é porcaria, amanhã pode ser obra-prima!
E valer-me o Nobel!
Ah-ah-ah. Quem se rir apanha nos dentes. Ena tanta palavrinha que aqui pintei...
Altura de regressar à Geninha (aquela estúpida) e ao Orlando (canalha).
Como é que se escreve quando não se gosta das personagens que se inventou?
Resposta: uma linha de cada vez.
http://fp.uni.edu/yates/Research%20Methods/LaMott.htm

quarta-feira, novembro 05, 2003


Poema de um amigo :)



Fazer o quê, quando tudo é consequência
vinda de mim?
Espero, e perco.
Avanço, e erro.
Falo, afasto.
Escrevo, e sinto
um calor grande demais para ficar.
O Sol, porém é grande
e cabe na pupila.
Olho, e cego...


Sete-sóis

terça-feira, novembro 04, 2003

http://www.diariodigital.pt/ediario/eDolphin/
Trecho de "Geração X", de Douglas Coupland, págs. 67-68.


«E entao tive uma reacção descontrolada. Subiu-me o sangue à cabeça, o meu coração começou a bater; desatei a suar e as palavras do poeta Rilke vieram-me ao espírito - a ideia dele de que todos nascemos com uma carta escrita dentro de nós e só se formos sinceros para connosco poderemos lê-la antes de morrermos. O sangue a ferver nos meus ouvidos disse-me que o Sr. Takamichi tinha de algum modo confundido a fotografia da Monroe que guardava no cofre com a carta dentro dele e que eu também estava em risco de cometer o mesmo erro.

(...)

«Dois dias mais tarde estava de volta ao Oregon, de volta ao Novo Mundo, respirando ares menos povoados, mas soube logo que ainda tinha muita história para viver. Que queria menos da vida. Menos do passado.
«Por isso vim para cá, para respirar pó e caminhar com os cães, para olhar para uma pedra ou um cacto e pensar que sou a primeira pessoa a ver essa pedra ou esse cacto. E tentar ler a carta que tenho dentro de mim.»


Achei esta passagem bonita. Principalmente a parte sobre a "carta escrita dentro de nós" e sobre o querer "menos da vida".

Confissão: hoje ainda não escrevi nada. Oh, shame.

sexta-feira, outubro 31, 2003

Bem , meus windos sacaninhas, a partir de amanhã e durante um mês este blog vai estar mais ou menos parado. Motivo: the Insanity!

Inté ;)

quinta-feira, outubro 30, 2003

Despudoradamente roubado daqui. (Façam scroll para baixo.)


Nós, os pouco felizes

Nós, os seres humanos que vivemos em casas ou apartamentos, e não em acampamentos nem nos viadutos, nem nas favelas ou nos hospícios, nós que vivemos em residências de cujas janelas podemos ver a cidade em seus ofícios e vícios, ou as paisagens do campo e suas luzes, nós que sabemos cantar em prosa e verso, que podemos andar, sorrir, comer, temos a indústria e o comércio, e conta nos bancos, universitários, que nunca fomos à guerra ou despejámos mísseis, nós que podemos ver o mar, as ilhas, as aves, as montanhas, o céu belíssimo, as nuvens pretas, as estrelas, a amplidão do mundo, que temos mapas e a astronomia, médicos e anestesia, hospitais e poesia, que podemos viajar, olhar vitrines e comprar, nós, ai, nós, que sabemos ler e lemos livros, temos fogões em nossas casas, temos camas, temos sexo e desejo, temos o beijo, nós que ouvimos música no rádio ou em discos, que temos filhos com todos os dentes, escola, agasalho e nem vivemos em Cuba, nós que não somos curdos, nem etíopes nem angolanos, que temos florestas imensas, rios, terras, temos seca e temos chuva, temos quadros e gravuras, o luar do sertão e as araras, que choramos no cinema, que temos alma e lágrimas, mil caras, uma só, dedos sensíveis e crenças, amores secretos, jornalistas altruístas, padres guerrilheiros, músicos ardentes, escritores, sindicalistas, líderes sem-terra à vista, violeiros repentistas, loucuras, alvará de soltura, uma terra com palmeiras onde canta o sabiá, que temos carro ou sapato sem furo, temos o passado e o futuro, nós que assinamos revistas e jornais, temos casa de campo, mesmo que seja de um amigo onde há cavalos e pirilampos, nós que jantamos à luz de velas, tomamos vinho e meio embriagados lemos poemas para os passarinhos, ou para as belas mulheres, ou para o ser que amamos, e amamos vários, nós que somo amados, que vamos à praia ou não vamos mas esperamos a praia vir a nós, que vestimos roupas e usamos um antigo anel de família que ainda não foi roubado, e que talvez nunca seja, que tomamos cerveja, que temos a confissão e o perdão, que acordamos tarde e não andamos de trem, que temos salário, ou renda fixa, emprego, família, paixão, nós que temos corpo e estamos vivos, temos amigos, temos trabalho, fazemos exercícios, somos hedonistas, artistas, poucos, nós que fazemos cinema, que sentimos o perfume e temos sonhos, que adoramos ouvir estórias contadas por qualquer estranho, que dançamos alegres com as crianças, que gostamos de lareira e frio, sorvete e calor, o limpo e o macio, que sonhamos navegar tornando o mundo pequeno, que usamos biquínis e tangas, desfilamos nossos seios nus nas escolas de samba, que não somos da ralé nem da choldra, nem da rafaméia nem do lúmpem nem da miséria, que especulamos e ganhamos mas também perdemos, nós que temos raízes, directrizes, teatro, damas atrizes, jogadores, senadores, ai de nós, perdoai-nos, somos os pouco felizes.

Ana Miranda

(Acho que é esta senhora.)
Depois da Noite.
Porra, Até Que Enfim!

terça-feira, outubro 28, 2003

"It is too often forgotten that just as a bad man is nevertheless a man, so a bad poet is nevertheless a poet." (G. K. Chesterton)

Também acho.
Que mania esta de pensar que um escritor tem de ser um bom escritor Sempre; ou um filho tem de ser um bom filho Sempre; ou um homem tem de ser um bom homem Sempre.
Nem Deus pediu isso de nós. Não aceitar menos do que a perfeição é a melhor receita para o falhanço.
Um exemplo: o nanowrimo. Aceito que passarei os próximos 30 dias a escrever porcaria sem ponta por onde se lhe pegue. E as restantes 18 mil pessoas que se inscreveram também o aceitam. Algo que é mau, mas existe, pode ser melhorado. Algo que é bom e perfeito, mas não existe... enfim.
Parece-me que o materialismo já afectou tudo. Temos de ser perfeitos sempre! Bons em tudo! Um poeta não tem o direito de ser um mau poeta! Que se fuzilem todos os maus escritores! Isto é a mesma coisa que dizer a uma criança com asma: tu não sabes respirar bem. Estás a gastar ar que outros usariam de forma mais eficiente e competente.
Só aceitamos os perfeitos agora?
Só aceitamos os bons?
Notícia de última hora: para ser bom é Necessário ser mau primeiro!
Um bom poeta tem de ser um mau poeta. Sem ser mau, jamais será bom.
Nós evoluímos a vida inteira. Olhemos para o nosso corpo. Está a envelhecer ou a evoluir? Está a modificar-se, a transformar-se. Um corpo de 90 anos é mau, comparando-o com um corpo de 16 anos?
Só porque alguém leu um mau escritor quando este tinha 23 anos, quererá dizer que o escritor permaneceu mau? Ou será que evoluiu, se transformou?
Não me venham dizer que não tenho direito aos meus erros. Como é que se aprende se não se erra?
Digam a uma criança que ela não pode errar. Nunca. Vai crescer saudável, não vai...?

Bom, o nanowrimo está à porta. Tenho um "plot", sei o início e até já sei o fim! O meio é que me lixa.

sábado, outubro 25, 2003

Façam o favor de clicar.
Soubéssemos ao menos a matéria
de que é feito o que em nós não é matéria.

David Mourão-Ferreira in Obra Poética, 1948-1988
A CIGARRA E A FORMIGA

Dona Formiga
Pertence à classe das senhoras sérias,
Tem cuidado da casa e do alimento;
Não fala muito, muito pouco briga,
Tudo o que faz é com discernimento
E, enfim, não gosta de passar misérias.

Além de tudo, é de ambições modestas,
Todo o seu bem, no seu labor converte
E faz da vida ideias esquisitas...
Não faz visitas
E não se diverte...
Nunca se viu, Dona Formiga, em festas.

De tanto se ocupar da vida e do futuro
E tornar o labor mais sério e duro,
Chega a ficar grotesca e cómica;
Pois, mesmo assim, nos amplos e massudos
Livros morais, de exemplos e de estudos,
Com que, da infância, o estímulo se apura,
Ela figura
Como um sólido exemplo de económica.

Trabalha muito no pesado Estio,
Porque receia
Que o Inverno venha achá-la desprovida.
Por isso, quando chega o Frio
E cessa a lida,
Já ela está com a dispensa cheia.

Dona Cigarra - esta, coitada!
Não vale nada
Entre as pessoas sérias!
É a pobre infeliz que dá lições de canto
E que o Verão inunda
Da sua Alma de estroina e vagabunda...
Entretanto,
Dona Cigarra, eu sei, passa misérias.

É da boémia a mais perfeita imagem,
Adora a luz e mora na folhagem...
E tal a vida é e tal a aceita,
Sempre de sonhos e ilusões repleta...
Dona Cigarra até parece feita
Da própria massa de que é feito o Poeta!

Passa o Verão... E o véu do Estio,
O tempo, sobre o Céu e a Terra corre;
Torna-se a Vida mais penosa e séria...
Dona Cigarra não resiste ao frio
E, coitadinha, morre
E morre, quase sempre, na miséria.

Contam, que um dia,
Morta, do Sol, a límpida alegria,
Sem luz para cantar,
Como fizera no Verão inteiro,
Fora à Formiga, em prantos, implorar
Um pedaço de pão do seu celeiro...

Como a Formiga, então lhe perguntasse
Onde se achava
E o que fizera na estação passada,
Honestamente, disse que cantava...
Pois a malvada,
Sem dó da mísera mendiga,
Quase morta de fome e já sem voz,
Numa ironia desumana e atroz,
Mandou que ela dançasse...

Por isso, é que eu não gosto da Formiga.

Mário Pederneiras in
Ao Léu do Sonho e à Mercê da Vida, 1912

sexta-feira, outubro 24, 2003

Não me posso esquecer:

- a validade da escrita está na escrita;
- qual é o objectivo da escrita? A escrita ela-mesma.

Não se escreve com o objectivo de. O objectivo reside no próprio acto de escrever. O acto é o fim em si mesmo.

Às vezes esqueço-me disto e sofro.

terça-feira, outubro 21, 2003

ARS GOSIFERUM


acordai vestal azul
banhai o rosto nas límpidas águas
desse danado sono de paul
aos algares de minhas fráguas

despe tuas singelas vestes -
seios duros em agua perfumada -
teu manto de estrelas e ciprestes
oh! boca de beijos eivada

quando sob a torturada pele descai
o amador seus amores
da vestal soerguida sai
pranto e clamores, pranto e clamores...



Daren, Cadavre Exquis Rococó
23.05.77

[Feito no #poesia. Não pedi autorização aos autores para o colocar aqui. Ops. Sorry. Mas não está giro? Eu acho que está :^) ]

segunda-feira, outubro 20, 2003

sábado, outubro 18, 2003

Mudei de template. Again.
Esta já consigo ver bem no Opera. No Netscape é que não sei.

quinta-feira, outubro 16, 2003

O Senhor Doutor Juiz Carlos Rodrigues Almeida foi, num destes dias, a Coimbra criticar “o excesso de prisão preventiva”.
Realmente, um juiz às direitas, sim senhor, ‘tou parva, ele critica o abuso de prisão preventiva! Este senhor sabe do que fala porque em onze acórdãos referentes a recursos de prisão preventiva, em nove ele fez o favor de manter os “clientes” no chilindró.
Ou seja, falou contra si próprio. Flagelou-se em público. Deve ter sido algo do estilo:
- Não obstante as minhas acções, mantenho os meus princípios!
(Ovação em pé do público delirante, tapete vermelho estendido, florzinhas. Condecorem-me este gajo Já!)
Mas é bonito, na minha opinião, ver pessoas que mantêm Princípios (apesar de não os aplicarem na realidade, quiçá por medo que os profanem com suor e sofrimento humanos, ainda se amarrotam, as contas na lavandaria andam pela hora da morte e o Omo Lava Mais Branco não dá para tudo); tal como é bonito ver que ainda existe malta que conserva a expressão Palavra de Honra no vocabulário e exime-se, quiçá por idênticos motivos, de aplicá-la no dia a dia.
Isto transporta-me a uma recordação de infância. Aos seis anos eu tinha o Vestido Mais Bonito do Mundo: cor-de-rosa (a minha cor favorita), às florzinhas. Vesti-o uma vez em casa e nunca saí com ele porque a minha mãe insistia em guardá-lo para uma qualquer (remota, hipotética) Ocasião Especial. Eu esperei. Esperei. Nunca houve festa nenhuma, visita alguma que justificasse eu usar o vestido cor-de-rosa. Cresci. Deixou de me servir. Foi um desgosto enorme.
Tal como este vestido lindo há Princípios que certas pessoas teimam em manter privados, para uso doméstico (usados de forma abstracta num diálogo pós-refeição, o cafezinho acompanhando a conversa certamente inteligentíssima); ou, pior, usarem-nos apenas em Ocasiões Especiais e em benefício de Pessoas Especiais.
Tipo o Paulo Pedroso.
Este Senhor Doutor Iluminadíssimo Juiz Desembargador, por exemplo, decidiu que os seus impolutos, elevados e nobres Princípios não poderiam ser aplicados a nove estafermos que, certamente, não eram assim tão especiais e estar agora a gastar Princípios Importantes com gentinha deste calibre não se justificava.
Paulo Pedroso, que teve a distinta pouca-vergonha de voltar a ocupar o lugar no Parlamento, estando-se a lixar para as graves acusações de que é alvo (suspeito que a Dualidade de Princípios – ou a Dualidade do seu emprego – é doença de que também padece), é na opinião do Excelentíssimo Juiz Desembargador Carlos Rodrigues Almeida uma pessoa merecedora e a quem vale a pena demonstrar a aplicabilidade no concreto dos seus níveos Princípios.
(Esta entrada ainda me vale um processo. Adiante.)
Em duas queixas graves – suspeitas de abuso sexual e (referente a outro caso) um suspeito de tentativa de homicídio, ameaças, danos e injúrias (coisa pouca) – ele decidiu pelo fim da prisão preventiva.
Em nove outros casos (atente-se na discrepância de números) decidiu manter uma medida que é contrária, nas suas palavras, “à dignidade da pessoa humana”.
Eu acrescento: depende da pessoa e depende do Omo.
Entre os nove casos há malta que continuou a ver o sol aos quadradinhos por:
- ter uma espingarda de canos serrados roubada;
- ter sido apanhada com trinta e seis doses de embalagens de heroína - uma toxicodependente Sem antecedentes criminais - (Trinta e seis? Epá, isso fornece Lisboa em peso durante um ano! Fez muito bem!);
- ter sido caçado (um tipo SEM antecedentes criminais) com duas embalagens de heroína.
Duas! DUAS.
É de meter pelos olhos adentro que este fulano pertence à Máfia italiana! Duas embalagens?! Sem Antecedentes Criminais?!? Enjaulem-me o gajo!
Não é bonito ver um Pobre Ser Humano (só por acaso juiz) ser obrigado a pesar os seus Princípios? A aplicá-los com tal lei e parcimónia salomónicas? Não é lindo? Eu acho tão bonito ver a justiça em acção. E quando estiver na prisão por ter visto, ao longe, a miragem de uma planta cannabis, vou continuar a admirar a beleza da justiça lusitana.
Pergunto-me se algum dia chegará à nossa justiça o tal do 25 de Abril... parece-me que ainda não chegou lá. Parece-me que a justiça cá do burgo persiste em funcionar nos moldes da Outra Senhora. É interessante ver que representantes da dita escolhem libertar (e duvido que este seja o caso único), entre o mal menor e o Mal Maior, o Mal Maior.
O que chateia imensa gente na actuação do juiz Rui Teixeira é aquela mania que ele tem de tratar toda a gente como IGUAL. A igualdade de tratamento aborrece os tipos do Omo Lava Mais Branco. Era giro se tal comportamento se espalhasse e infectasse todos os níveis da justiça portuguesa.
Era giro ver chegar a Democracia verdadeira (e não a abstracta, que se discute em congressos) à nossa justiça.
Sabem o que é que eu gostava também?
Gostava que três vezes por ano os juízes fossem Obrigados a visitar as prisões. Visitas pedagógicas, chamemos-lhes.
Vendo a actual situação de seres humanos (e não a abstracta, distante, evocada com ligeireza após o jantar) talvez fossem impregnados de compaixão. Sem compaixão não há justiça possível. Compaixão para os pobres e não apenas para os ricos.
Uma colega de uma amiga minha por volta dos quinze anos chagava a paciência aos pais todos os dias. Queria uma mota. Aos dezasseis anos, por lei, já a podia ter. Os pais levaram-na a um hospital onde ia parar a malta nova depois de ter acidentes de mota. Viu jovens paralisados, viu jovens em estado deplorável. Ali, ao vivo, a cores e em estéreo. Deixou de pedir a mota aos pais. Remédio santo.
Pedagógico, viram?
Não limitemos tal pedagogia aos jovens imaturos – alarguemo-la também aos nossos juízes.

quarta-feira, outubro 15, 2003

Muito bem, já estive no lançamento do livro Blogs, ali no Mercado da Ribeira (mesmo ao pé da estação de Metro Cais do Sodré), e já voltei.




Apareceu imensa gente :) Conheci o Fernando Esteves Pinto, não era nada o que eu estava à espera (aliás, acontece-me o mesmo com toda a gente). É simpático. Conversámos muito facilmente (encontrar pessoas assim é uma dádiva nestes dias). Conheci o Luís Ene e o Paulo Querido (de fugida) e... um senhor que estava com o Fernando com quem falei muito bem e de quem não recordo o nome. Desculpe, tenho uma atenção “limpa pára-brisas”: escapa-me tudo :-/ Mas lembro o nome do seu blog (ainda em construção): Egoexcêntrico (espero ter escrito bem).
Vi o Pedro Mexia.
Não vi o Pipi :(
Ó que mágoa tão grande. Ó desgraceira da minha vida. Ó Fado, ó Tempo!
Eu não vi o Pipi :’(
(Fico com este desgosto para o resto da minha vida. Sério.)
Ok, not really :P
O Fernando é que olhava para todos os lados perguntando-se onde estaria a Sandra ;)
Reparei que a audiência portuguesa é igual em toda a parte: apática (desculpem, não quero ofender ninguém, eu estava entre os espectadores e também fiquei muito caladinha). Já vi um auditório constituído por brasileiros e a diferença é abismal. Eles falam, perguntam, discordam. Participam. Não parece haver aquela divisão que nós cultivamos entre Público e Oradores. Fazem todos parte do mesmo grupo. É engraçado. Somos povos diferentes, não obstante falarmos a mesma língua.
Tive direito ao livro Blogs autografado por ambos os autores; o Fernando ofereceu-me o seu “Ensaio Entre Portas” e eu ofereci-me a mim própria “Monsieur Bovary” de Laura Grimaldi. (2,5 euros, Jesuuuuus!) Tive de me conter senão desatava a comprar livros a torto e a direito. Foi difícil!
E pronto :)

domingo, outubro 12, 2003

Outro site que oferece o print on demand (POD) de graça é Lulu.com.
Só que eu não me entendo com aquilo. Os uploads que fiz aparecem-me em branco.
Tentarei noutra altura.

sábado, outubro 11, 2003

Ok, acabei de publicar um livro!
Através do site CafePress.

Foi só para experimentar. Como a opção "Perfect Binding" ainda não está disponível fui obrigada a escolher outra: Wire-O (Wire bound like a notebook). Ver exemplo abaixo.



E como tem imensas páginas ficou caro para caraças (o meu "lucro" é menos de 20 cêntimos, lol.)

Escolhi o menor tamanho disponível.

Ah, o book. Chama-se "O Livro Último" e, errr, foi recusado imensas vezes por diversas editoras.

Se ainda assim houver alguém interessado em adquirir esta fantástica obra-prima (publicidade enganadora), não digam que não avisei!

Tentei antes outro site que também fornece o serviço de print-on-demand a quem quiser (sem cobrar por isso), mas atrapalhei-me na porcaria das instruções e desisti. Por enquanto.

Onde podem encontrar o livro? Na minha loja virtual :)

P.S. Agora a sério, inté me sinto mal se não repetir o aviso: pelo formato (argolinhas) e pelo preço (ouch!) não vale a pena comprar.

Agora o conteúdo é fabuloso, fabulástico, etc e tal e mais não sei o quê :P

Fumar mata.

Atenção: imagens fortes.

(Via RainStorm.)
Acrescentei um gatinho. Brinquem com ele :)

quinta-feira, outubro 09, 2003

O Omo lava mais branco.
...
Eu não te disse hoje de manhã?

Isto é tão bonito. A amizade é um valor que, que, que, é bonito, pronto!
É bonito ter amigos!
Amigos que sabem as coisas pela manhã.
Amigos madrugadores.
E informados. Assim, de antenas no ar, apanham tudo.
A amizade, a amizade, a amizade...
Tipo, tipo, a Amizade!
Não é...?
E depois os amigos terem Omo assim à mão, para puderem lavar, lavar... lavar, hã, o que for preciso!
Não é?
É bom ter amigos com Omo à mão para poder lavar a roupa.
Mas atenção, o Omo é só para os amigos! Não é para um bandalho qualquer a cumprir preventiva na choldra por crimes menores que, por acaso, até pode não ter cometido de todo. E depois sair e depois a modos que, a modos que (como é que eu digo isto...), a modos que o Estado se está a foder para o tal indivíduo depois de lhe ter fodido parte da vida e reputação. Isto o Omo lava mais branco não é para toda a gente, hã!
A Democracia é selectiva.
É reservada à elite (Democracia: reservado o direito de admissão), não é cá para sacaninhas de merda. Não é para os pobres.
A Democracia e Justiça pagam-se. O Omo está pela hora da morte.
Ah, tu não tens Omo, estafermo?
Vai lavar ao rio. Come e cala.
Vai lavar ao rio...
(Três corpetes, um avental, láláláá.)

Cidadão-sem-tostão, na Aldeia da Roupa Branca lavas na pedra da ribeira que te lixas.

/Lola out


[Esta tipa volta e meia apodera-se do meu teclado e depois aparece-me isto no blog. Ai aquela, aquela rapariga...!]

Há uma canção que não me sai da cabeça:

Pedofilia!
Feita à maneira!
É como o queijo
Numa ratoeira!

A letra era assim, não era? Ai esta memória...

quarta-feira, outubro 08, 2003

E não é que os gajos se vão safar?

Um já se safou...

Os outros deve faltar pouco...
Bem, mudei de template, um bocado contra-vontade (se não é assim que se escreve, que se lixe). Gostava tanto do homenzinho a... avoar!

Experimentei no Opera e vê-se bem, tal como no Explorer.

A cor dos links é um 'cadito garrida... tenho duas cores na mente que preferia antes, mas não as consigo encontrar nas tabelas.

O que acham da mudança? Gostam, detestam, querem um cházinho? (Joking.)
A sério: o que é que falta (se é que algo falta)?

terça-feira, outubro 07, 2003

Preciso de uma nova template que se consiga ver bem no Netscape e no Opera. E que seja gira.

Opiniões, dicas?
Vejo imagens horripilantes sobre a Chechénia. O jornalista fala melhor do que qualquer personagem que eu possa inventar. Ele é um poço de personagens: relembra as pessoas que fotografou, mortas ou mutiladas.
Uma personagem, poço de personagens.
Uma pessoa, verdadeira, real, concreta.
Enquanto penso na história que escrevo (será “plot driven” ou “character driven”?) descubro, com pena, não passar de uma estória. Banal. Desprovida de violência e horror, sem inimigos como os russos e os tchetchenos. Não tem aldeias arrasadas com seiscentos cadáveres.
Seiscentos.
Não sabia que as coisas estavam tão más. Os jornais poluem o tempo televisivo com as mesmas notícias de sempre e a merdinha da bola.
Fala-se no documentário na People and Arts de genocídio. De manipulação e desinformação, comuns na Rússia desde à décadas, agindo em conjunto com a guerra.
Sem imagens há notícias?
Há, mas nós não as vemos. O invisível, porque não visto, existe de facto?
Sim, mas nós não sabemos que existe.
A realidade precisa ser conhecida para existir totalmente (aos olhos humanos). É a velha história da árvore a cair na floresta. Se não estiver lá ninguém para ver será que caiu de facto?
De que maneira podem os jornalistas não se envolverem nas guerras, emocional e eticamente? A imparcialidade parece-me quase impossível ou até impraticável. Suponho que o seu aprendizado dura a vida inteira.
Os jornalistas, vejo, têm de entrar “ilegalmente” na Chechénia para poderem informar sem passar pelo crivo russo. Mas que merda de mundo é este? E a Convenção de Genebra, pá? Mil convenções não alteram a natureza humana, talvez só a desviem um bocadinho e por um período passageiro.
Assisto ao documentário e tento tirar dali algo que possa usar na escrita. A única coisa que posso tirar é o facto de que o sofrimento humano é omnipresente e inevitável. Qualquer livro, para ser credível, tem de o mostrar. Porém, eu fujo. Do sofrimento. Do mal. Da dor. Não gosto das coisas que doem. Todavia um livro tem de ser verdadeiro e conter dor. Dor humana.
E prazer. Como o pequeno prazer de beber água quando se tem sede ou dar um passeio no jardim quando o sol espreita entre as nuvens.
Desde que eu nasci quantas guerras houve na Europa?
Na Europa, meus lindos. No nosso continente. Quantas?
E eu aqui, absolutamente incólume. Nós aqui, incólumes. Níveos. Limpos. Puros. Cegos, cegos.
Uma jornalista afirma não acreditar mais que a informação possa mudar o mundo. Se os jornalistas perdem a (escassa) inocência e os ideais que ainda possuem quem nos vai abrir os olhos? Continuaremos cegos.
Outra jornalista revela que a maioria dos colegas querem primeiro a notícia e não se envolvem ou envolvem-se em último lugar. Primeiro está o trabalho, ser-se profissional.
“Todas as noites oiço os obuses a cair e isso vai durar”, diz a jornalista (Petra?), que não acredita que a imagem possa mudar o mundo. Sabe que era uma mentira que pregava a si própria quando andava de câmara na mão a filmar. A guerra.
Então o que pode ser feito se em última análise nem a imagem, nem o revelar das brutalidades nos comove mais?

Não sei.

[Vou pensar no meu personagem. Vou pensar neles. Descobrir quem é. Tentar conversar com ele, se me deixar. Não quero enrugar a alma e estilhaçar o coração. Vou falar com ele.]


Adenda: Candidato pró-Rússia 'vence na Chechênia' Uma farsa, parece-me.

Não percebi se a 2ª guerra chechena acabou ou não (acho que não). E não sei ainda se os jornalistas já podem ou não circular livremente dentro da Chechénia.



domingo, outubro 05, 2003

The George W. Bush Resume.

Boa leitura.
Coisas que eu gostava de saber para o meu nanonovel: como é que se lava dinheiro da droga? Em Portugal? Tem de ser em Portugal ou pode ser noutro sítio? Como é que se esconde os big bucks vindos do comércio de estupefacientes ilegais? Como é que as novas máfias do Leste estão a alterar toda esta dinâmica? Quem vende droga vende a crédito ou é rigorosamente dinheiro na mão? (Preciso de uma pessoa amiga na Pêjota para me inteirar de procedimentos e etc e tal.) E depois como é feita a distribuição? Quem põe a droga nas ruas? Qual é a rede? Quantas organizações actuam em Portugal? Há zonas delimitadas para cada uma ou é tudo ao molho e fé em Deus? Qual é o tipo de seguro (se é que o há) para um tipo que perca, digamos, o carregamento todo? São organizações, ok, mas até que ponto são organizadas? (Não falo de subsídio de desemprego, claro, mas de mecanismos de segurança. Quais serão?)

Também gostava de saber mais sobre máfias do Leste a fazerem pela vida em Portugal. Quem faz parte dos grupos? Antigos militares? São maioritariamente quê: russos, ucranianos, moldavos? Que línguas falam? Que hábitos têm (hábitos da população em geral)? Vieram para aqui e formaram-se cá por acaso ou afluíram dos países de origem especificamente para criarem grupos criminosos?

Já agora, será que a Yakuza alguma vez actuou cá no burgo? E as tríades chinesas? Há imensos emigrantes chineses, mas não há grupos criminosos para lhes fazer a vida negra?

(Isto vai assim um bocado mal amanhado... quem me souber elucidar, agradeço :)

Ah. Trabalhar num Banco... como é? Alguém sabe?

(Por agora é tudo. A história não arranca. Será uma dark comedy novel, whatever that is. Existirá algum dark comedy novelist português, I wonder? Ou mesmo brasileiro.)

sexta-feira, outubro 03, 2003

quinta-feira, outubro 02, 2003

Coisas que aprendi

Há várias formas de tomar haxixe, nem todas fumada. Pode fazer-se bolinhos ou pôr o produto no interior de uma garrafa com uma bebida alcoólica e agitá-la todos os dias. Ao fim de quinze dias deste exercício toma-se um gole e apanha-se valente mocada (disseram-me, não sei por experiência própria).

Na Suíça pode plantar-se cannabis em casa desde que seja para consumo próprio (mas aquilo não tem força nenhuma devido à escassez de sol).

Vendem-se almofadas cheiinhas com o mesmo produto – para dormir, pois claro. Faz bem à saúde. Ao fim de algum tempo, porém, tem de se comprar novas almofadas, gastam-se muito depressa (presumo).

As sicilianas fazem caras giríssimas quando contam histórias. Bom, a que eu conheci pelo menos. “Mais non! Mais non!”, dizia com uma cara incrivelmente cómica. Vive na parte francesa de Suíça.

Também na Suíça: quando um grupo quer ocupar uma casa desabitada vai à Câmara Municipal (acho) pedir as plantas da dita casa e saber a quem pertence. Os elementos são-lhes prontificados, sabendo quem os faculta muitíssimo bem o que pretendem fazer as pessoas que os pedem. Após a ocupação da casa a primeira coisa que fazem é avisar a polícia, nomeadamente, um ramo especial dentro da polícia que lida especificamente com estes casos. Depois pedem água e luz – que obtêm. Não são expulsos. É giro. Quem não tiver lugar para ficar pode tentar alojamento temporário nestas habitações.

Genebra é plana e quase não se vêem agentes da autoridade.

Os suíços são maluquinhos por esqui como nós somos maluquinhos por bola (excluindo esta que vos escreve).

Não vi neve, mas compenetrei-me de que de facto é gélida para caraças, porra.

Há máquinas que vendem livros no Chile, sabiam?

Chile, o do Pinochet.


É giro viajar. Aprende-se.


Today I'm...

Blank.

segunda-feira, setembro 29, 2003

Quais são os fundamentos da Comédia Negra, I wonder.
Tive, para aí, a quarta ideia para usar no nanowrimo deste ano.
Nunca fiz uma comédia negra... acho.
Bem, ladies and gentleman! Quem se atreve a participar comigo no nanowrimo deste ano!
As inscrições abrem a um de Outubro.

Circular data no calendário a vermelho.

"What: Writing one 50,000-word novel from scratch in a month's time.

Who: You! We can't do this unless we have some other people trying it as well. Let's write laughably awful yet lengthy prose together.

Why: The reasons are endless! To actively participate in one of our era's most enchanting art forms! To write without having to obsess over quality. To be able to make obscure references to passages from your novel at parties. To be able to mock real novelists who dawdle on and on, taking far longer than 30 days to produce their work.

When: Sign ups begin around October 1, 2003. Writing begins November 1. To be added to the official list of winners, the 50,000-word mark must be reached by November 30 at midnight. Once your novel has been verified by our web-based team of robotic word counters, the partying begins."


Não, não é preciso escrever em inglês. Até se pode escrever em esperanto, latim, klingon se nos der na telha. No ano passado escrevi em português. Nota: fui a única.

LIVRO SOBRE BLOGUES

Lançamento: Mercado da Ribeira
15 de Outubro, pelas 19 horas.
Lisboa


Favor passar a palavra :)

sexta-feira, setembro 26, 2003

O raio da netcabo só funciona como deve ser na minha zona a partir das 10 da noite. Não sei o que se passa.

quinta-feira, setembro 25, 2003

(O que faz falta é animar a malta, o que faz falta..)

É.

Recado: SPA, não me desiludas.
'Tou down, deprimida. Bolash...
Cá vai um poema para animar. (Ó, tão lindo. Ó.)

::.THE ROAD NOT TAKEN.::

Two roads diverged in a yellow wood,
And sorry I could not travel both
And be one traveler, long I stood
And looked down one as far as I could
To where it bent in the undergrowth;

Then took the other, as just as fair,
And having perhaps the better claim,
Because it was grassy and wanted wear;
Though as for that the passing there
Had worn them really about the same,

And both that morning equally lay
In leaves no step had trodden black.
Oh, I kept the first for another day!
Yet knowing how way leads on to way,
I doubted if I should ever come back.

I shall be telling this with a sigh
Somewhere ages and ages hence:
Two roads diverged in a wood and I -
I took the one less traveled by,
And that has made all the difference.

ROBERT FROST

terça-feira, setembro 23, 2003

PRESCRIÇÃO

Uma liberdade verdadeiramente livre
com flores de cerejeira na boca de pássaros
é algo que por cá pouco se serve
porque não existe um par de braços
suficientemente grande que a albergue.
Uma liberdade verdadeiramente livre
que nos livros não nasça
(pois seria começar o fruto não
pela semente, mas pela casca).
E já sabem da Justiça? Da Lei?
Da Verdade?
Neste país de merda tudo
prescreve - menos a saudade.
(Alto lá! Avisam-me que me podem
processar por dizer o que toda
a gente sabe.)
Da liberdade ninguém se livra!
(Pelo menos não da sonhada.)
Nestas leis celeradas que se descumprem
o nosso país se desfaz.
Um dia, aqui, quero ser livre de ser feliz.

2/2000

segunda-feira, setembro 22, 2003

Só agora vi os comentários no sistema Comentar.com.br.
Ghostboy: obrigada, mas já mudei de ideias. Eu tentei usar o javascript de imagens radom. Não funcionou. É melhor deixar a template quietinha, ainda me morde :P
Jacky: obrigada :)
Caríssimos cibernautas que tropeçam no meu blog procurando o Muito Mentiroso. Eu não tenho o link para a/s criatura/s. Aquilo é treta, é desinformação. Pessoas inteligentes não vão ler aquilo. Não vale a pena. Pessoas inteligentes, como os senhores que chegam ao Escrita pelo Google, fazem coisas inteligentes. E não é inteligente ler o MM.

E por aqui me fico.

P.S. Querem um conselho? visitem este blog antes: http://maisoumenosmentiroso.blogspot.com/

domingo, setembro 21, 2003

Tirei o sistema de comentários Comentar porque me parece que estava a atrasar a abertura da página.

sábado, setembro 20, 2003

Gostaria que aparecesse uma nova imagem ali ao lado cada vez que se entrasse na página. Como é que isso se faz, alguém sabe? Há algum programinha pequeno que faça isso e que eu possa incluir na template?
Yay! Consegui pôr os arquivos nesta página! Estão lá em baixo.
Abaixo fica um conto que já escrevi há uns anos. Não me consigo lembrar é se já o tinha colocado no blog...
Carga d'Ossos


Falar com bonecas de porcelana não é tão difícil como parece. As bonecas de porcelana são dóceis, mansas, não mordem nem arranham como feras enjauladas ou políticos catapultados do governo para a oposição. Elas têm olhos grandes e expressivos, pestanas encaracoladas e sobrancelhas finas, delineadas com cuidadoso rigor na testa de marfim rosado. Sorriem como Mona Lisa. São lindas, prestáveis e sabem contar histórias. Se Deus inventou o homem, segundo uma crença judaica, porque gostava de ouvir histórias, o homem inventou as bonecas de porcelana.
Tenho várias. Todas me distraem com gracejos, contos e máximas. A minha preferida, no entanto, é a de cabelos anelados de cor de avelã. A Suzy. Quando lhe tapo os olhos e depois retiro a mão, as lagoas negras do centro diminuem até se sintonizarem com a luz ambiente. Uma das histórias que me contou foi a de um rapaz, apaixonado por uma rapariguinha feia e magrela. Carga d’Ossos, chamavam-lhe. Ora era costume no local onde viviam comprar a noiva ao pai por um tanto número de vacas. A média andava nas três vacas, sendo as mais feias trocadas por uma e as top models do sítio atingiam o número astronómico de cinco vacas. Quando iam ao mercado as mulheres, vaidosamente, trocavam informação recíproca do número bovino que o pai recebera em troca da sua cedência.
«Três vacas», dizia uma. «Quatro vacas», adiantava outra. «Duas vacas», sussurrava alguém. Esta recebia logo olhares de desprezo das suas congéneres.
O rapaz apaixonado não queria que a sua Carga d’Ossos recebesse quotidianamente semelhante humilhação. Por isso trabalhou, poupou, mourejou e certo dia, num pôr-de-sol belíssimo em que o astro-rei dourava as núvens que o encobriam, coando-lhe os raios (Deus é um tremendo artista), pôs-se a caminho da casa da amada. O pai dela recebeu-o espantado. Atrás dele alinhavam-se sete reluzentes vacas. O rapaz pediu-lhe a filha em troca, pedido prontamente aceite pelo pai, apesar de no íntimo julgar que o rapaz não devia bater bem da bola. Afinal sempre pensara que, mesmo oferecendo as vacas que era suposto receber, jamais conseguiria encontrar um marido para a filha. Enganara-se, está visto. Carga d’Ossos não compreendeu o gesto, mas a incompreensão reforçou-lhe o sentimento de gratidão profunda que lhe brotava do peito, como uma flor que via pela primeira vez a cor do céu.
Casaram. Suzy disse-me que aquele obrigado imenso, puro, cristalino desabrochou noutra coisa, nalgo que vive e morre todos os dias, como o sol, que renasce depois da noite e hiberna no coração dos homens enquanto eles dormem. «Acho que vocês chamam a isso amor.»
Um ano depois Carga d’Ossos era considerada, por mérito próprio e não devido à oferta de sete vacas (apesar de sete vacas comprarem muito respeito), a mulher mais bela das que se iam abastecer ao mercado.
«Quem te contou essa história? Foi outra das bonecas de porcelana? A Donnyazade?», perguntei-lhe.
«Não. Li no Reader’s Digest.»


Peso

Se o Tempo tem 'peso' então ele estaria presente na Realidade (e seria possível demonstrá-lo?). Ou: a Realidade é ela mais o peso do tempo.
(Nota: não percebo pevide de física, matemática, física quântica. Estou só a brincar, isto é, a pensar, a mente voa...)
A Realidade seria outra se não tivesse o 'peso' do Tempo? A Realidade que percebemos é ela mais o 'peso' do Tempo? O Tempo interaje materialmente com a Realidade? O Tempo não existe (penso). Existe a nossa necessidade (ou a necessidade da mente) de lidar com a Realidade - inventando o Tempo.

[Nevermind.]
[Bou dormire.]

quinta-feira, setembro 18, 2003

Hoje sonhei com o Abrupto.
....
Achei estranho. Fui ao blog. E encontrei esta entrada (tenho de transcrever parte porque o permalink não funciona. Há que republicar periodicamete o blog para que todos os links funcionem):

"A ARMA DA DESINFORMAÇÃO

Ao irem ao Muito Mentiroso (MM) procurar “informação” as pessoas caiem num logro. O MM não tem informação, tem desinformação, o que é uma coisa completamente diferente. Desinformação, uma arma muito usada pelos serviços secretos soviéticos que eram especialistas na matéria, e que polícias e agentes secretos conhecem bem, consiste numa mistura cuidadosamente doseada de factos verdadeiros e falsos, insinuações e meias-verdades com verdades inteiras, tendo como objectivo determinados resultados. (...) Quem pensa que consegue separar dali as verdades da ganga da mentira, é um ingénuo. (...) As pessoas tornam-se colaboradoras do autor (ou autores do Muito Mentiroso) porque inevitavelmente vão acabar por interiorizar o que lá está e lhes parece verdadeiro, ou porque o suspeitassem ou porque lhes parece plausível. E vão acabar por repeti-lo, infectando mais gente com boatos e calúnias, realizando o único objectivo do autor do MM que não é “informar” os portugueses de algo que lhes escondem, mas manipular a sua opinião a favor de uma tese sobre o processo da pedofilia. As pessoas tornam-se parte de uma arma e essa arma dispara."


Leiam. Interiorizem. Cada vez que sentirem vontade de ir ao Mentiroso, releiam-na.
Adoro estes desenhos animados :)

(Deixa ver se o hot-linking dá...)



Oh, l'amour.
(She is shy. Lol.)

Update: tive de alterar a imagem. Há mais abaixo.





Enneagramfree enneagram test



Quanto à SPA... espero para ver.

terça-feira, setembro 16, 2003

Mas quem é que são estes filhos da puta que mostram uma velha (idosa; elemento da 3ª idade; pessoa já de uma certa idade ou de idade avançada) na cama a ser vítima de alegados maus tratos e chamam a isso informação? Informação é ir às causas, seus cabrões, e não tratar consequências como a notícia em si. Informar não é apelar à puta da lágrima fácil, suas bestas. Informar não é tratar os telespectadores como crianças acéfalas. Nós pensamos. Nós temos cérebro e usamo-lo! Sim, é verdade. Ainda não nos desabituaram desse pérfido acto: reflectir. Porque raio mostra a (inserir a sua televisão aqui) pseudo-notícias destas? Por causa da merda das audiências. As audiências, canalhas a fingirem-se jornalistas, são o instrumento usado para atrair receitas publicitárias. Quanto mais audiências têm, mais dinheiro a estação ganha. Simples matemática, suas alimárias, nós ainda sabemos fazer contas. Era bom que não soubéssemos, não era? Não responderam, depois de despertar o animal cego do linchamento nos espectadores, a perguntas do género: porque é que ela está ali? Porque é que as autoridades não a tiraram dali? Será por não funcionarem? Meu Deus, será isso?! Porque é que um homem, que me pareceu mentalmente instável, é deixado a tomar conta da mãe idosa? E há mais perguntas. Imensas. Sobre a estrutura do país, por exemplo. Adiante. Tenho esta particularidade, sei lá, mania talvez; mas cultivo por sistema o hábito de não julgar ninguém. Considero não ter o direito de olhar para uma pessoa e, por pior que ela se apresente ou que os seus actos dêem a entender, julgá-la. Na minha mente prevalece sempre a ideia: deve haver uma razão para isto, eu é que não a conheço; ou: o que terá levado a isto? Qual será o passado desta pessoa, a sua história e experiências pessoais? Seus cabrões: informar não é mostrar imagens que apelam ao animal dentro de nós. Façam o vosso trabalho como deve ser. Ou regressem à escola para reaprender a fazê-lo. Não misturem alhos com bugalhos. E não se atrevam a dizer-me que Sentem, que é a Emoção que vos conduz, quando apenas o fazem por DINHEIRO.
Pulhas.


segunda-feira, setembro 15, 2003

Hoje já não escrevo. Que porra. Sabem aqueles dias em que vem uma chatice atrás da outra? Neste caso as chatices eram bípedes. Tive de aturar uma pessoa, que não vou nomear, mas que tem um apurado uso da chantagem emocional. Ora eu respondo a isto com irritação, impaciência, fúria amordaçada. Estive a aturar essa pessoa três horas. Depois mais tarde (soube) dirigiu as baterias lacrimais para outro alvo e eu senti-me ainda mais irritada.

É nesta altura que me aparece uma amiga em casa.

Sem telefonar primeiro.

Ora eu gosto que me avisem antes de cá virem. Manias minhas. Não a tratei lá muito bem. Bom, fui malcriada. Ela não está habituada a que eu o seja. Duvido que me apareça cá outra vez sem telefonar. Ou de todo.

Mas o que me aborrece nisto tudo é que não estou na disposição de escrever hoje. Comecei um livro novo no início do mês. Deliberei: todos os dias escreves, cumpres a quota. Pois. Acho que vou ter de pendurar um poster enorme à minha porta para que todos se compenetram de que estou a escrever: Favor Não Foder Juízo À Autora. A gerência agradece.

Raiva, pá... vou tomar um banho a ver se acalmo. Mas estou quase certa de que hoje não escreverei.

quinta-feira, setembro 11, 2003

Pena de morte. Pensamentos dispersos. Ou: contributos para (parece mais intelectual).

- Ao matar um ser humano para castigá-lo pela morte de outro entra-se em paradoxo. A razão perde a lógica. O justiceiro torna-se assassino.
- Ao matar uma pessoa corta-se qualquer possibilidade da mesma evoluir, perceber os seus erros. Essa pessoa não poderá mais contribuir para os outros.
- Mata-se para castigá-la e, empiricamente, evitar que ela volte a magoar, a causar mal a outros seres humanos. Pergunto: como o faria se já está presa?
- Essa pessoa tem família. Muitas vezes filhos. Não se mata apenas o assassino: mata-se o pai desses filhos, o marido, o amigo. É justo castigar os filhos pelo mal dos pais? O teu pai era tão mau (para os outros, não para ti) que to vou tirar. Não me interessa se precisas dele ou não para te transformares num cidadão pleno (em qualquer área da tua vida, incluindo a emocional).
- Quem o mata julga-se Deus. Não é. Não existe ninguém à face desta miserável/maravilhosa terra que seja superior a outra criatura humana. Ninguém, seja lá a razão que tiver, tem o direito de tirar uma vida humana.
- Quem o fizer irá, acredito, inevitavelmente, encontrar a pessoa que condenou à morte. E terá de enfrentar a vergonha. E, espero, será obrigado a sentir todo o mal que provocou. Nisso consiste o inferno (suponho, presumo, desconfio): experimentar na pele toda a minúscula dor que fizemos sentir aos outros.
- A única coisa que me causa grande orgulho em ser portuguesa é não termos pena de morte. Acho que o restabelecimento da mesma seria o único motivo que me faria publicamente manifestar-me.
- Matar é errado. Honestamente pensava que todos o sabiam.
- Em posição de poder, se me apresentassem mil Hitlers, com contagem de cadáveres proporcional - quero pensar que seguiria os meus princípios. Quero pensar que teria essa coragem. Quero pensar que seria incapaz de me afundar no ódio, na raiva, na vontade vingativa.
- Às vezes tenho a impressão que, a ser possível, aqueles que condenam outros seres humanos à morte, matá-los-iam um milhão de vezes. Over and over again. Tenho a impressão que se pudessem dar essa dor aos condenados - mil vezes matar-te e ressuscitar-te para te matar de novo - não hesitariam.

(Work in progress.)

Olha tanta coisinha nova que o blogger acrescentou :)
É pena a correção ortográfica ser apenas em inglês.

Gostava também que acrescentassem a possibilidade de fazer download do blog inteiro.
CURRICULUM VITAE

Desde criança fugir de casa era uma tentação. Mas dizia a
mim próprio que antes de aprender a utilizar um abre-latas,
ler um mapa e dar corda ao relógio não podia aventurar-me
sozinho a correr mundo.

Não fugi de casa. Não uso relógio. Já sei utilizar razoavelmente
um abre latas e não me oriento mal com a ajuda de um
mapa, mas nunca fugi de casa.

Não li os sacrossantos Pound e Eliot. Li o miúdo de Charleville
e esqueci a sua obra completa num beijo. Por isso, atrever-me-ia
um dia a dizer-te: não procures cúmplices. É melhor
acreditar num Deus barbudo do que divinizar manuais
de retórica. Mas nem nesse caso esperes salvação.
Não mendigues nunca.

Então Foge.

Jorge Riechman in Poesia Espanhola de Agora, vol. II
Relógio D'agua, edi. bilingue.

quarta-feira, setembro 10, 2003

Como rejeitar manuscritos: o método americano :P

It's funny.

Quer dizer, é e não é :P

(Gostava de saber o método tuga.)

terça-feira, setembro 09, 2003

A democracia (...?) americana é tão linda. Ver exemplo abaixo.



(Link)


Vejo os olhos do homem (que é lindo), mas não lhes percebo a cor.




(Link)

Tem queixas?
As coisas que a malta aprende! Até já sei dizer palavrões em latim!

Isto é útil para o próximo irrumator que me passe alguma multa...

Ora imaginem o diálogo:

- Fáxavor, os documentinhos.
Eu, um sorriso inocente estampado na cara, digo:
- Pudor tu. Aqui tem.
- O BI não está válido, vou ter de lhe passar uma multazinha.
- Spucatum tauri! Tu es stultior quam asinus!

Era giro.

(Via Eternos.)

domingo, setembro 07, 2003

Estou a divertir-me, senhores, a divertir-me!
Inventei uma personagem que vai além de mim própria e possui, intuo-o (espero-o, exijo-o!), a incapacitante capacidade de me surpreender! É um corno, cabrão de primeira, é mau como as cobras, faz chorar as pedras da calçada porque as arrebenta com as biqueiras dos sapatos. É uma personagem grande, espero, e poderá manter-me ocupada durante uns tempos. Não revelo o nome do gajo, tenho medo que mo roubem ou que ele fuja. Suspeito que inúmeras vezes escapou a autores incautos que deixaram a janela aberta.

Estava eu a escrever sobre cemitérios, vermes, muco e morte quando a cabra da gata me salta de rompão para o quarto, apoiando o peso na porta encostada! Assustou-me, filha da mãe. Pulei da cadeira.
- Porra!
Vinha a perseguir uma mosca.
A gaja limita-se a um olhar inocente, os olhos verdes transfigurados em dois enormes sóis negros.

VASCO GRAÇA MOURA
«Prestígio de Luís Rebelo é uma mais-valia»


Pres... (ai que me engasgo toda) PRESTÍGIO?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!
Mas este gajo 'tá a gozar ou quê??!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!

O meu dedo mindinho diz: mais outro...

Enfim :/
[/Lola out.]

sábado, setembro 06, 2003

Chiça, 'tava a ver que não, o Blogger anda com gripe ou que raio?!

Bom... estava a pensar mudar de template - again. Gosto desta, mas tenho vontade de alterar o layout. Vou esperar mais uns tempos e logo vejo se modifico ou não.

terça-feira, setembro 02, 2003

Andam com falta de ideias para escrever?
Olham, vazios, para a eterna folha em branco?

Não desesperam! chegou a Musa Instantânea!
My Bloginality is INTP!!!
Bem, meus lindos, como não tenho nada de original para vos dar, aqui fica um poema.


IN MEMORIAM

«Requiem aeternam dona eis,
Domine, et lux perpetua
luceat eis.»

Que a terra lhe seja pesada.
Que lhe apodreça o corpo e os olhos fiquem vivos,
Se lhe soltem os dentes e a fome fique intacta
E a alma, se a tiver, que lha fustigue o vento
E arrase com ela a memória gravada
Na lembrança demente dos que o choram.

Que a mulher que foi dele oiça o vento na noite,
Cheio de ossos e uivos
E garfos aguçados
E que reparta o medo com o primeiro intruso
E o vento se insinue pelas portas fechadas
E rasteje no quarto
E suba pela cama
E lhe entre no olhar como estiletes de aço,
Lhe penetre nos ouvidos como agulhas de som,
Lhe emaranhe os cabelos como um nó de soluços,
Lhe desfigure o rosto como um ácido em chama.

Que a mulher que foi dele oiça o vento na noite,
Que a mulher que foi dele oiça o vento na cama!

Que o nome que era o seu o persigam os ecos,
O gritem no deserto as gargantas com sede,
O murmurem no escuro os mendigos com frio,
O clamem na cidade as crianças com fome,
O soluce o amante de súbito impotente,
O maldigam no exílio as almas sem descanso.

Que o nome que era o seu seja a bandeira negra,
A pálpebra doente,
O vómito se sangue.

Que o gesto que era o seu o imitem as mães
Que se torcem de dor quando abortam nas trevas,
O desenhem a lume os braços amputados,
O perpetue o esgar dos jovens mutilados,
O dance o condenado que morre na fogueira.

Que o gesto que era o seu seja o punhal do louco,
A arma do ladrão.
A marca do vencido.

Que o sangue que era o seu o farejem os cães
Nas veias de seus filhos.
Que o sangue que era o seu se lhe veja nas mãos,
E lhe aperte os pulsos como algemas de lodo,
Lhes carregue o olhar como um sopro de infâmia,
Lhes assinale a testa como um escarro de fogo,
Lhes atormente os passos como um peso de lama.

Que o sangue que era o seu seja o rictus da tara,
A máscara de sal,
A vingança do pobre.
E que o Exterminador, no seu trono de enxofre,
O faça tilintar os guizos da tortura
Até que o mundo o esqueça
E mais ninguém o chore.

José Carlos Ary dos Santos


sábado, agosto 30, 2003

Acho o máximo (hilariante) como há malta que amua e deixa de escrever no blog ao fim de escassos quatro, cinco, seis meses. Deixam-se quebrar tão facilmente, deixam-se afectar pelo mundo à volta com uma facilidade...

Lembram-se quando éramos putos e dizíamos: já não brinco mais contigo!
Lol!

Quem é que vai deixar de respirar porque alguém lhe diz: respiras mal; não sabes respirar como deve ser; a tua respiração não tem qualidade; respiras por todo o lado, devias guardá-la para Momentos Importantes.

‘Tão-me a perceber...?
Há pouca escrita portanto aqui fica uma imagem.
Miau! Prrrr....

sexta-feira, agosto 29, 2003

Learning to write is like learning anything else and can be broken down into three general parts.

Here is a collection of advice that Nicholas [Sparks] has prepared for writers.


Porque é que eu nunca consigo encontrar estas coisas em português? Os estrangeiros, nomeadamente os americanos, olham para a escrita duma forma prática, abordam-na como abordariam qualquer outro aspecto da vida material.

E nós?
Esperamos pela puta da musa...
Achamos que a Arte não deve ser manchada pela vida, pela realidade!
A Arte é superior a tudo. Superior aos homens. Abordêmo-la, então, como se fosse uma Deusa!

A Arte é superior, mas é uma superioridade que se constrói a partir do banal.

terça-feira, agosto 26, 2003

Escrevi uma wishlist completamente marada e que permanecerá secreta, sigilosa, minha. A sério. Quem a lesse ia temer-me. Só um exemplozito: desejo que os editores se desunhem por mim.
Já disse que sou fútil. Talvez devesse desejar antes que os leitores se desunhassem por mim ou que a Imortalidade se desunhasse por mim ou ou ou. Ou sei lá. Sou cada vez mais materialista. Do tipo: o que importa é viver bem Agora. Nesta vida. Estar contente, satisfeito. Ralo-me lá que me leiam após e somente a minha morte! Estou-me a lixar para isso. Aliás, irrita! Cada vez me irrita mais! Juro, se isso me acontecer, e se eu puder - regresso. Como fantasma, espírito vingativo. Vou às fuças dos académicos que me "ensinem" nas aulas. Despenteio qualquer filho da mãe que faça uma tese sobre a minha obra. A meio da noite. Com o vento a uivar lá fora. E lixo os discos rígidos todos aos gajos. G'anda convencida que sou, né! Pensar que. No futuro. Distante, próximo, tanto faz. Pensar que no futuro serei lida. E estimada e respeitada (não eu, mas a obra) e essas merdas todas. Às vezes parece-me que Portugal faz de propósito. Deve haver uma lei secreta do género: todos os filhos dilectos da Pátria só serão reconhecidos quando a sua carne estiver apodrecida na terra e os ossos transformados em pó!

[Juro que não sou convencida.]

[Não muito...]


[Mood: a ver Marte, o Deus da Guerra! E. Planeta. Também conhecido por Ares.]



Já se aperceberam que esta é uma oportunidade ímpar? Nunca mais na nossa vida Marte andará tão perto da Terra. Porra, que pequenininhos somos.

domingo, agosto 24, 2003

Leiam isto.

Repito: L E I A M.

(My personal favourite.)

H: What do you recommend for writers who haven't yet gotten that first acceptance?


SLV: Rejection City. Man, do I know that town. (...) Listen, I know it's hard. Brother, do I know. There are three words that got me through it. Just three words, and you have to repeat them every time you get a rejection:

"HEY, YOUR LOSS!"


:DDDDDDD




A brincar com o photoshop...




(É pena as imagens aparecerem agora sempre baças, mas não sei alterar isso...)

sábado, agosto 23, 2003

Eu hoje estou completamente F*DIDA.
Estou com uma Raiva! RAIVA!
Eu vou-me chatear, eu sei que vou.


Merda para isto. F*da-se!




[Lola Enraged out]


Mas antes.
Características da minha pessoa:

Gente que me faz sentir ainda mais deprimida daquilo que eu sou é gente de quem me afasto.
Posso até nem dizer nada, nem adeus, nem até logo, não sou capaz. Mas piro-me. Sou incapaz muitas vezes de verbalizar um Não Definitivo e Irrevogável - apesar de senti-lo. Mas actuo consoante esse Não. Não digo o que sinto, as palavras ficam entaladas na garganta, a raiva volta-se para dentro de mim, mas afasto-me. Só consigo lidar com as coisas assim. Odeio chantagens emocionais, odeio que me tentem obrigar a fazer seja o que for que vá contra a minha vontade.

Hoje estou com raiva e triste ao mesmo tempo. Como é que me expressaria se não escrevesse? Isto ficava ainda mais dentro de mim, a consumir-me como ácido. Telefonei a uma amiga minha e desabafei. É bom ter amigas. Ok, Dunya, reespira, acalma-te. Calma.
Cool it...

quinta-feira, agosto 21, 2003

Seu Arcano Pessoal é:

18 - A LUA

Palavras-Chave: Imaginação e Melancolia



* Período de grande transformação pessoal aos 18 anos;
* Forte ligação com a mãe: medo dela ou grande vínculo emocional;
* Hiper-sensibilidade;
* Nostalgia;
* Medo das traições;
* Vença seus medos mais íntimos;
* Flutuações financeiras;
* Forte ligação com passado ou raízes;
* Não se deixe iludir com as impressões que a Vida lhe causa;
* Fantasia tudo;
* Maternalismo;
* Cuidado com a imaturidade;
* Não se disperse;
* Carência emocional acentuada;
* Astralismo (forte ligação com o mundo astral);
* Se protege demais;
* Trabalhe sua passividade;
* Interesse por crianças, social, cura e tudo relativo ao feminino;
* Evite grandes tumultos;
* Tristeza profunda sem explicação;
* Intuição;
* Falta, às vezes, o bom senso;
* Emotividade;
* Nada racional;
* Evite ser caseira demais;
* Influenciabilidade e susceptibilidade;
* Mudanças bruscas de humor;
* Insegurança;
* Hábitos arraigados;
* Não se intimide diante do desconhecido;
* Interesse por mistério;
* Perceptiva quanto ao ambiente;
* Cuide do aparelho reprodutor e seios, tendência a reter líquidos, cegueira noturna, sistema linfático, alergias, estômago...as doenças ficam ocultas, hem ?!;
* Cuidado com as manias;
* Atração pela água: mar ou natação;
* Depressões;
* Evite estar sozinho(a) em lugares ermos: risco de assalto ou roubo;
* Guarda demais as coisas;
* Zelo e cuidado;
* Distração;
* Manhas;
* Frustração quando não consegue fazer o que quer;
* Angústias;
* Precisa ter seu próprio canto;
* Sonhador(a);
* Fertilidade acentuada.