terça-feira, julho 10, 2012

A DÁDIVA DO SANGUE DEVE SER PAGA?


Dar sangue é dar vida. Na actual conjuntura, devido à redução de stock, é fundamental repensar o modelo das dádivas de sangue. Seria uma solução possível o eventual pagamento das mesmas aos dadores? E será isto moralmente aceitável? A própria palavra dádiva implica uma oferta, um donativo, um não-pagamento. E, no entanto, há que dar contrapartidas para atrair mais dadores frequentes de modo a impedir a redução crónica do stock de sangue nos hospitais.

Antes de mais considere-se o ponto de vista de potenciais dadores que não o são por falta de recursos económicos - pois até para dar sangue é preciso gastar dinheiro. Em quê? Em transportes públicos, por exemplo, para se deslocarem às unidades de recolha; ou mesmo em alimentação, privilegiando as carnes vermelhas de maneira a derrogar eventuais anemias. Assim, será realmente imoral pedir um pagamento por uma dádiva tendo em conta os gastos dos potenciais dadores?

Se em termos de saúde pública há quem considere pagar uma dádiva deste género imoral e inaceitável, em relação à economia já não se considera impensável oferecer contrapartidas financeiras e fiscais a empresas que se instalem no nosso país. Vendo a questão por outra perspectiva, não será antes mais obsceno que se percam vidas por falta de sangue nos hospitais? E não se deviam fazer todos os esforços para suprir tais necessidades médicas?

A continuar esta situação, este défice crónico, o mais provável é que o Estado Português adquira - e pague - o sangue no exterior. Portanto, de uma maneira ou de outra, Portugal terá sempre de despender dinheiro.

As antigas contrapartidas para dadores regulares eram a isenção total das taxas moderadoras. A isenção que restou é pálida para aquilo que havia (somente nos centros de saúde). Com o término de tal houve uma diminuição substancial de dadores benévolos de sangue. Ora uma maneira de voltar a chamá-los seria repor essas isenções e recompensas porque, de contrário, há o risco de perda de vidas.

Seja como for, de uma maneira ou de outra, o Estado acabará sempre por desembolsar dinheiro e esta seria uma forma de diminuir custos e resolver o problema.
Resumindo: regresse-se às anteriores condições as quais, muito provavelmente, acabarão por ser mais em conta e mais favoráveis que as outras alternativas.

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