quarta-feira, outubro 30, 2002

"Don't get it right, get it written." --James Thurber

Também abifado do forúm de nanowrimo.org.

(Ai meu Deus, espero não ter já ultrapassado o meu limite internacional... *rói-unhas*)
Netcabo is evil, i say, Evil!
(Um reles giga de tráfego internacional e 20 pó nacional, quando no nacional me fico sempre pelos 100 megas... peloamordedeus, grandessíssimos vigaristas, pá...)
Quando escrevo não gosto de contar tudo. Irrita-me. Não quero dizer tudo. Que os leitores usem as célulazinhas cerebrais, é o meu lema. Não conto tudo, a história toda, o resto que os leitores adivinhem. Afinal a história também lhes pertence. Não digo como as coisas acabam porque reconheço ao leitor outra forma de acabá-las. Reconheço-lhe a liberdade de decidir. O livre arbítrio para ir por este ou aquele caminho ou simplesmente ficar parado e dizer: não, não vou por aí.

Não gosto de dar a papinha toda feita, já mastigada, a quem lê. Porra, que pensem! Há um déficit de reflexão neste país para o qual pretendo contribuir o menos possível.
(Ideia: será que o leitor sabe que é livre? De criar, recriar, co-criar, não criar, destruir o objecto lido? Será que ele sabe?)

Para dizer a verdade, enquanto primeira autora (ou leitora original...), reconheço a mim própria o direito de não conhecer tudo. De desconhecer porque a personagem se comporta desta ou doutra forma; de que o caminho que a narrativa toma me seja velado. Ok, concedo: bela desculpa para não ter as peças da história logicamente ordenadas! Sim, até pode ser isso... mas pode ser isso e outra coisa em simultâneo. Não tive vontade de me alongar em detalhes e/ou (apesar de autora) tais detalhes (cenários, pensamentos, descrição de características físicas, etc.) estavam-me ocultos. Escondiam-se de mim. “Anda jogar às escondidas! Conta até cem e depois vens à procura da gente!” “Não quero contar, quero esconder-me!” “Assim não brincas!” Conta-se muito rápido, depois vai-se à procura e... nada. Fugiram todos. Todos aqueles malditos 'detalhes' (mistérios).

Resumindo: não acho necessário dizer absolutamente tudo. Que o intuam, leitores, que o descodifiquem. Ou que, não o sabendo (seja lá o que for), a ele voltem, no silêncio da noite, às voltas na cama enquanto tentam adormecer.

Dizer tudo é, considero, partir do princípio que o leitor é imbecil e que o crânio tem a mera função de sustento capilar, além de servir para uso ocasional do chapéu (ou outros ornamentos).

Dizer tudo, acho, é acreditar que o ser humano leitor não tem qualidades, estrutura, para ser criatura livre e autónoma.

O livro que tudo diz não concorre para a nova criação de ideias, conceitos. Acaba por ser um livro fascista no qual a liberdade é domada pelo acto de a restringir ao leitor.

O livro que diz tudo, pormenorizadamente, é paternalista, trata o leitor como criança.

Portanto escondam... escondam muito. ;)

quinta-feira, outubro 24, 2002

"If a thing is worth doing, it is worth doing badly." -- G.K. Chesterton

De todas as citações que já vi até hoje, esta tem de ser a minha preferida!
"And always remember: pillage *before* you burn!"

LOL

(Also stolen...)

(Too much - or to less? - cafein today...)
"Without music, life would be a mistake." - Nietzsche

Olhem que bonito. Tirei do forum do nanowrimo.org. Ontem fiquei até às 5h30 só a ler as mensagens. Ah, se ao menos existisse algo - minimamente - semelhante em português...

(Tenho ali um texto para pôr aqui, mas ainda não o passei a computador.)

terça-feira, outubro 22, 2002

"As vezes a ideia pode ser muito semelhante a tantas outras, mas o que difere é no toque pessoal do autor. Um mesmo enredo contado em mil diferentes maneiras, cada um com o seu grau de espectacularidade (existe?).
Ghostboy em 21/10/02 19:31"


Se existem diferentes formas de contar a mesma história? Claro. Há obras que narram a história (por exemplo) de uma família através dos diferentes olhares de cada um dos seus membros. (Pronto, lá tinha de vir a gata para o pé do pc...)
:)

segunda-feira, outubro 21, 2002

Vejam isto...

Obras em línguas estrangeiras are great. Estou tentada... e daí... humm, não sei. Mas acho que é uma terrific idea!

Leiam com atenção. Começa a 1 de Novembro e termina a 30 de Novembro.

"What is NaNoWriMo?
National Novel Writing Month is a fun, seat-of-your-pants approach to novel writing. Participants begin writing November 1. The goal is to write a 175-page (50,000-word) novel by midnight, November 30."


domingo, outubro 20, 2002

Duplo Espaço


O Sr. Bentley acredita que cada espaço contém em si outro espaço no qual o seu duplo habita, actua. Crê que os dois espaços se interceptam e contaminam. O Sr. Bentley tem um gato, porém cuida ser possível o duplo ter um cão – com idêntico nome. Se o Sr. Bentley urrasse: “Sam? Sam! Sacana, onde te meteste?!” e lhe aparecesse, cabisbaixo, de rabo entre pernas (jamais o orgulhoso felino se comportaria tão miseravelmente), o cão reconhecendo-o como dono, ele julgaria normal, comum. Estranharia, quiçá, que a tal realidade invisível (alternativa...) não tivesse tocado a sua antes. Para ele a troca é (seria) prova incontestável da ordem do Universo. Só um Universo trocado estaria composto.

O Sr. Bentley põe o totoloto todas as semanas. Tem uma chave que nunca modifica. Ele acredita na natureza sagrada dos números porque, de acordo com o colega de trabalho, há muito deixou de ter fé na natureza sagrada dos homens. Quando matou a mulher por ela se ter esquecido de pôr o totoloto na semana em que o primeiro prémio saiu à chave do Sr. Bentley, a descrença nos homens que o colega adivinhara apenas se confirmou. Melhor: materializou.

E contudo o Sr. Bentley supunha ser o duplo o verdadeiro assassino (não obstante a cristalizada lembrança das suas mãos fixas no pescoço da esposa). Devido à esdrúxula teoria de espaços no interior de espaços, não se surpreende ao ser preso e acusado do crime que, para si, foi de facto cometido pelo duplo invisível.
Só o colega fez a acertada ilação: a Sra. Bentley tinha posto o totoloto atempadamente. E guardara o recibo. A Sra. Bentley planeava safar-se com o dinheiro – e o amante.

- E a massa...?
- Alguém levantou o cheque.
- Mas quem?
O colega ergueu os ombros e fez uma festa a Sam.


[O outro conto que foi recusado. Hoje 'tou a litle bit depressed...]

sábado, outubro 19, 2002

Há quem os pare?


Qu’isto no parir não há ajuda que valhe ou deixe de valer. Salete, parturiente em final de estação, semeou descendência Lisboa abaixo, com a força de um tsunami japonês. Começou a desovar na Avenida da República, antes de conseguir entrar no Metro. Empurraram-na, aos gritos, para um táxi de cor creme e condutor moreno, o bigode russo devido ao tabaco. A mulher tentou refrear-se, mas o puto sai a mil à hora seguido de cinco dezenas de irmãos. O taxista pôs-se a milhas e a mulher seguiu parindo Avenida da Liberdade adiante, os filhos, que num alvoroço de membros, placenta e sangue iam aos atropelos derrubando viaturas, árvores, pessoas, cães vadios, pombos, gaivotas e semáforos.
No Rossio Salete arremeteu a deusa Eileithya, deidade maternal descida do Olimpo cujo frustrado propósito era prestar auxílio à puérpera. A parição extrema foi qual terramoto, derribando Lisboa até atingir o Carmo e a Trindade. Centenas de recém-nascidos submergiram a Brasileira e levaram de enxurrada o poeta Camões.
Na investida apocalíptica um transeunte, espavorido, pôs-se aos berros:
- Pare! Pare! Pare!
- Calem-me este gajo! – guinchou outro, devorado no aluvião de bebézinhos esperneantes, cobertos em placenta e sangue e a chorar como almas perdidas.
Salete, quando cai ao Tejo, aos revoluteios colina abaixo em imortal trabalho de parto, interroga-se como é que o cornudo do marido lhe fez um disparate destes.
Logo o marido.
Não podia ter sido antes o corno do amante?
(Já lá dizia o sábio da minha terra, copofone com as cotas em dia, depois de uma berzundela em cima: “No que toca a parir não há quem nos pare!”)


[Um conto que foi recusado por uma revista. Publico-o aqui.]

sexta-feira, outubro 18, 2002

segunda-feira, outubro 14, 2002

Se os Canalhas não actualizarem tiro dali o link. Com muita pena minha, adoro aqueles gajos.



Vemos o gato especado a olhar para a janela ou para o ralo do esgoto à espera de caçar a mosca e pensamos, “não, não tem interesse nenhum. Ali não está o livro, ali não está nenhum livro.”
Vemos a vizinha, idêntica a milhares de vizinhas, a carregar o saco das compras, a queixar-se das dores nas costas, a alisar a permanente que fez no dia anterior. A falar sobre a gradação dos óculos e cogitamos, “não, aquilo não tem interesse nenhum”. E tornamos a caminhar, à coca de algo em Grande, um desembarque pirata, quiçá! (Sem nos determos na ideia de que o rio está a trinta quilómetros.) Vemos o vizinho que tem diabetes e que todos os dias cumprimentamos, vemos o cão dele, manco e cego de um olho, velho, tem mais de doze anos, diz o dono. Vêmo-lo e, presuntuosos, continuamos o caminho. “Dali não tiro nem um parágrafo.” E queremos sempre algo extraordinário. Queremos a Miss Marple, o Poirot, o Doutor Watson, aquele do elementar. Queremos marcianos a rondarem-nos a porta, com raios laser ameaçadores. Queremos o Tom Cruise a fazer de bom da fita (“Ah, sim, haverá uma fita. Hollywood não, mas um filme europeu. Intelectual.”). Queremos a Jenifer Lopez. E cenas de sexo a valer. À americana. E depois aparece o carteiro que te diz: “Não há nada hoje.” Para ti, é subentendido. Nem cartas de rejeição nem porra nenhuma. Mas esse Algo Extraordinário vem logo depois da esquina, está assente! Os livros não enganam e eles sempre te (vos, nos) prometeram magia.

Então... porque ela não acontece, porque não a descortinas? Porque és cego. Porque somos cegos. Para o velho com diabetes, para a vizinha com língua de trapo e que se queixa dos bicos de papagaio. Para o carteiro que, se pensarmos bem, tem milhares de histórias. O homem é uma enciclopédia ambulante de estórias humanas, reais, e não tão vulgares como supomos.

A magia vive no gato quieto, à espera da mosca. A magia do livro incógnito e extraordinário e grande já está em nós. É feita dos pequeninos milagres que escolhemos ignorar. A magia não está fora. Está, vive, respira cá dentro.

quinta-feira, outubro 10, 2002

quarta-feira, outubro 09, 2002

"SpamCop helps you punish spammers for sending you their junk mail. This service is free. Often, spammers lose their accounts and even get charged "cleanup fees" by their internet providers. In addition, reporting spam to SpamCop results in blacklisting the sites responsible for allowing it to be sent." Oh, sweet revenge... ;)

sexta-feira, outubro 04, 2002

Escrevam ;^p

(O segredo - the big secret - é a perseverança. Não é a Musa - aquela cabra - nem a inspiração. É mesmo o trabalho. É escrever, escrever, escrever e escrever. Escrever porcaria, merdinhas que não valem um corno, até que, ao fim de muito trabalho, lá se vê uma pérolazita. Esse é o grande - escondido - segredo. Agora há é que praticar.)