Quando escrevo não gosto de contar tudo. Irrita-me. Não quero dizer tudo. Que os leitores usem as célulazinhas cerebrais, é o meu lema. Não conto tudo, a história toda, o resto que os leitores adivinhem. Afinal a história também lhes pertence. Não digo como as coisas acabam porque reconheço ao leitor outra forma de acabá-las. Reconheço-lhe a liberdade de decidir. O livre arbítrio para ir por este ou aquele caminho ou simplesmente ficar parado e dizer: não, não vou por aí.
Não gosto de dar a papinha toda feita, já mastigada, a quem lê. Porra, que pensem! Há um déficit de reflexão neste país para o qual pretendo contribuir o menos possível.
(Ideia: será que o leitor sabe que é livre? De criar, recriar, co-criar, não criar, destruir o objecto lido? Será que ele sabe?)
Para dizer a verdade, enquanto primeira autora (ou leitora original...), reconheço a mim própria o direito de não conhecer tudo. De desconhecer porque a personagem se comporta desta ou doutra forma; de que o caminho que a narrativa toma me seja velado. Ok, concedo: bela desculpa para não ter as peças da história logicamente ordenadas! Sim, até pode ser isso... mas pode ser isso e outra coisa em simultâneo. Não tive vontade de me alongar em detalhes e/ou (apesar de autora) tais detalhes (cenários, pensamentos, descrição de características físicas, etc.) estavam-me ocultos. Escondiam-se de mim. “Anda jogar às escondidas! Conta até cem e depois vens à procura da gente!” “Não quero contar, quero esconder-me!” “Assim não brincas!” Conta-se muito rápido, depois vai-se à procura e... nada. Fugiram todos. Todos aqueles malditos 'detalhes' (mistérios).
Resumindo: não acho necessário dizer absolutamente tudo. Que o intuam, leitores, que o descodifiquem. Ou que, não o sabendo (seja lá o que for), a ele voltem, no silêncio da noite, às voltas na cama enquanto tentam adormecer.
Dizer tudo é, considero, partir do princípio que o leitor é imbecil e que o crânio tem a mera função de sustento capilar, além de servir para uso ocasional do chapéu (ou outros ornamentos).
Dizer tudo, acho, é acreditar que o ser humano leitor não tem qualidades, estrutura, para ser criatura livre e autónoma.
O livro que tudo diz não concorre para a nova criação de ideias, conceitos. Acaba por ser um livro fascista no qual a liberdade é domada pelo acto de a restringir ao leitor.
O livro que diz tudo, pormenorizadamente, é paternalista, trata o leitor como criança.
Portanto escondam... escondam muito. ;)
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