segunda-feira, setembro 30, 2002

Usem a raiva. Usem o ódio. A compaixão. A intolerância/tolerância. Façam uso dos vossos sentimentos. Verdadeiros. Entranhados. Não os mascarem. Não os ignorem. A verdadeira obra, o verdadeiro livro é-o mercê da veracidade.

«O Caso do Parquímetro», por exemplo. Não torneei nada, não tentei mascarar os meus sentimentos com palavras bonitas, eufemismos. (Morte aos eufemismos!)

De certeza que muitos se chocaram. Há palavras que eu nunca uso, sabem-no as pessoas com quem convivo. Não digo palavrões. É preciso estar Muito irritada.

Não pensem: isto vai parecer mal, é melhor substituir %&@£# por sacana ou outro vocábulo. Sigam os vossos instintos mais primários. São os certos. Não vão, ao escrever, pelo caminho da diplomacia, do meio termo, do bonito, do “giro”. “Fica mais bonito assim...”

A falsidade para com vós próprios não vos leva a lugar nenhum, só à íntima insatisfação em relação ao vosso trabalho.
Eu sei: a frio vão ler o que escreveram e sentir vergonha. Óptimo. Vão querer modificar/censurar tudo. Péssimo. Vá lá, respirem fundo – e não mexam! Quietiiinhos! Tira a mãozinha! Não risques essa palavra! (Logo depois seguem a eito a frase e o parágrafo...)
Vá. Mãozinhas quedas. Arrumem a caneta e o caderno e porta fora. Leiam o texto apenas quando a lembrança da vergonha vos faça sorrir.
“Os livros são objectos transcendentes”- Caetano Veloso in “Livros”.

Nós só em parte somos transcendentes.

domingo, setembro 29, 2002

Já me estou a passar com O Independente. Se não voltarem a pôr o site "no ar", tiro dali o link.
A novela que fizemos em conjunto, os outros e eu, parafraseando Unamuno.

"A minha novela!, a minha lenda! O Unamuno da minha lenda, da minha novela, aquele que fizemos juntos o meu eu amigo, o meu eu inimigo e os outros, os meus amigos e os meus inimigos, esse Unamuno dá-me vida e morte, cria-me e destrói-me, ampara-me e afoga-me. É a minha agonia. Serei como me crio ou como há quem me crie? E eis como estas linhas se convertem numa confissão frente ao meu eu desconhecido e incognoscível; desconhecido e incognoscível para mim próprio. Eis que faço a lenda em que hei-de sepultar-me. Mas voltemos ao assunto da minha novela.

Porque imaginei, há já alguns meses, fazer uma novela em que quisera pôr a mais íntima experiência do meu desterro, criar-me, eternizar-me a partir da condição de desterrado e de proscrito. E parece-me agora que a melhor maneira de fazer essa novela é contar como ela deve ser feita. É a novela da novela, a criação da criação. Ou Deus de Deus. Deus de Deo.
Teria de inventar primeiro uma personagem central que, naturalmente, seria eu próprio. (...) Chamar-lhe-ia U. Jugo de la Raza.”
Miguel de Unamuno, in Como se faz uma Novela, Grifo (Editores e Livreiros), pág. 63.

(Talvez o que adiante se segue não tenha muito a ver com o que acima transcrevi, mas aturem-me por favor., ok.)

O que importa, na demanda criativa, é o processo e não o resultado, porque é o processo que me mostra a mim próprio(a) o eu. É o processo que me revela. A mim e aos outros. Logo, o resultado não influi, não influencia, não tem nada a ver com essa intimamente pública revelação do eu ao eu e do eu aos outros, exteriores, alheios a mim.

(Nota: isto foi tirado/roubado/plagiado/mastigado e finalmente metamorfoseado da série “Northern Exposure”, cujos episódios vejo agora na reposição da Sic. A história de um médico que é despachado para os confins do Alasca, lembram-se? Bem, voltando atrás, parafraseei a ideia exposta pelo locutor de rádio, Chris. Aquele gajo supergiro, mas isso não interessa nada. Adiante.)

“Quando o leitor chegar ao fim desta dolorosa história, morrerá comigo” (Unamuno, Como se faz uma Novela, pág. 65)
“Mas o pobre Jugo de la Raza não podia viver sem o livro (...); a sua verdadeira realidade estava já definitiva e irrevogavelmente unida à da personagem da novela.” (pág.66)


Então a quem interessa, em última análise, o resultado do processo, i.e., a obra final? Se não ao autor (uma vez que o processo da criação é o fim último, o fim que se busca), a quem? Ao leitor. Pois que a partir dela pode iniciar o seu próprio processo interior, a sua metamorfose íntima. Ou intensificar. Ou finalizar.

A minha liberdade, que intimamente expresso e construo, exprimo e edifico (muito me agradam os sinónimos!), servirá para dar uso à liberdade de outrém. Porra, isto não é melhor do que ser um ditadorzeco de 5ª categoria?!
(Não respondam. É retórica.)

Não sei se consegui expor, de forma clara e com princípio, meio e fim, algumas ideias que andam por aqui a redopiar. Fica a tentativa.
E uma ideia. E se nós (eu e praí mais dois ou três leitores assíduos do blog – e ‘tou a ser optimista) usássemos a personagem que Unamuno inventou - Jugo de la Raza – para construir uma história (ou desenvolver a que Unamuno iniciou nesta obra), uma narrativa...? Nós, em conjunto. Tipo, transmitiam ideias que eu escreveria. E eu depois contaria todo o processo de criação da história. Bom, deixo a proposta...

sábado, setembro 28, 2002

[Género do gato. Update: é gata mesmo. Ai que porra... :( ]

:: Diferenças entre Escritor e Autor ::
- (Ou Escritor Vs Autor) –

Escritor fica. Autor morre.
Escritor é lembrado. Autor é esquecido.

Durante a vida jamais um Escritor o saberá que o é. A única certeza que tem é a de ser um Autor (como milhões de outros).
Autor, muitas vezes, coitado, arroga-se o título de Escritor. Mas, não obstante a petulância, pode estar certo...
A longo prazo (tipo, o fim do Universo...) todos acabamos em cinzas. Todos somos esquecidos...

Escritor não ganha um chavo durante a vida com a sua obra e aufere milhões (sejamos optimistas) após a morte... aos editores. E demais intermediários.
Autor ganha que se farta, balúrdios.

Escritor é pobre e menosprezado. E vem em dois formatos (mais ou menos portáteis): o juízo dos outros incomoda-o; o juízo dos outros não o aquece nem o arrefece (tem um mecanismo que mantém a temperatura interna constante).

Autor não é pobre. Pode ser rico. Não é menosprezado – é invejado. Gasta recursos (que podia usar na escrita) a tentar modificar o (a seu ver) erróneo julgamento dos contemporâneos. Não digo iguais porque o Autor recua um passo ante o termo, ambivalente.

Escritor tem um emprego e quando lhe perguntam o que faz, ele diz o nome do ofício que lhe paga as contas e não do que lhe alimenta a alma. “Sou canalizador. Funcionário Público. Taxista. Professor. Polícia.”
Autor também tem emprego (embora ele prefira o vocábulo ‘trabalho’,tentando dizê-lo como se fosse uma coisa suja), porém apresenta-se como Escritor.

(Nota – ou aviso à navegação - : quem o é não o divulga. Nem a si mesmo. Trata-se de um ofício secreto. Escondido, até, dos deuses.)

Escritor sente o livro. Pare-o. (O Livro é Parido.)
Autor pensa o livro. Fá-lo. (É construído. Nasce de um ser estéril, sem útero.)

Ao Escritor importa somente a Arte. Não o perturbam futuros dividendos, dinheiro que fará à custa dela. (Como um chulo...)
O Autor é vice-versa. A Arte vem, enfim, vem depois... (se é que vem...)

Escritor parece que sabe tudo sem nunca ter aprendido nada.
Autor tem infinita necessidade de conhecimento, pois a sabedoria nele inata é nula.

E tantas, tantas diferenças há...
[Todavia não considerem que percebo alguma coisa disto!]
[Lá porque o escrevi, nãoo tornei vero.]

(Ah, quem me dera ser escritor(a)! Mesmo com letra pequena.)



quinta-feira, setembro 26, 2002

quarta-feira, setembro 25, 2002

Burrinha... só agora notei que o Ghostboy pôs um link do Escrita no blog dele... ai, esta falta de atenção.
Bom, obrigada e retribuo com outro para o teu blog ;)
[Que vergonha... ao que eu cheguei, reduzida ao uso do WordPad...

Eu Quero Masé O Winword!!!!!!!!!

Olha, por enquanto vai este..
(Raiva...)]

{A mensagem que se segue tem bolinha ao canto superior do monitor. Vá lá - visualizem.}

Filhos da puta.
Filhos da puta.
Filhos da puta.

Vou à biblioteca. Não pago parquímetro (mea culpa, admito. Mas, porra, estes cabrões comem tudo tudo, um dia tarifam-nos o ar). Meia hora lá dentro. Saio. Vejo o carro bloqueado. Pela primeira vez na vida. Aquela filha da puta da algema amarelo-canário, feita de propósito para as patas das viaturas. Vou a correr. Alcanço os funcionários (são dois, se fosse um apanhava porrada todos os dias) da Loures Parque. Ok, esperam dez minutos porque não tenho ali dinheiro (nem no multibanco. Exacto. Sou Pobre.) para que me desbloqueiem o carro e me deixem ir para casa (trinta euros, esse o custo de retirar a gigantesca, odiosa, algema amarelo-canário).

[Pausa.]

[Filhos da puta. Filhos Da Puta. FILHOS DA PUTA!!!]

[Fim de pausa.]

Além dos trinta euros (pagos por uma pessoa a quem telefonei, desesperada, pedindo auxílio), há ainda o custo de outros trinta, da multa ela mesma, que podem ser pagos (esmifrados, extorquidos) ou nos correios.
Ou no multibanco.

Esta merda de governo. Esta merda de país. Mas estes filhos da mãe, sacanas, biltres, crêem mesmo ser isto justo...? Não há lugares de estacionamento, Lisboa mais parece uma lata de sardinhas com tanto carro. Solução: parquímetros! Para onde vai o money dos ditos cujos?! Quem se abotoa com ele?!? Quem?! Para que é que serve?! O que é feito dele???

Ah - pagam funcionários. Para passar multas. Compram bloqueadores de carro. Pagam ao advogado da empresa. Pagam os carros da empresa. É um círculo vicioso. Quanto pagam de impostos estas estuporadas empresas, criadas para nos sugarem, esmifrarem até ao último cêntimo?

Fui à Biblioteca José Saramago. Que não tem parque próprio. Quem levar o automóvel tem de pagar parquímetro. A informação, a cultura, o conhecimento - pagam-se. Tudo se paga nesta merdinha de país. Pagam-se as merdinhas mais ridículas. Paga-se para ter acesso a coisas, ou benefícios, que - supostamente - são gratuitos. Doze contos à viola. Por meia hora de biblioteca. Porra, mais valia ter comprado uma enciclopédia.

Algures deve existir uma empresa privada que achará o preço baratíssimo e congeminará a aplicação de qualquer, pequeníssima, taxa.

FILHOS DE UMA VACA!

[Estou furiosa, triste, deprimida. Abismada. Portugal Não É Europa.]
[A gerência do blog tem um comunicado de última hora da autora piursa: não vou pedir desculpa pelo uso de linguagem escabrosa.]
[Cabrões. Cabrões. Cabrões. Cabrões. Cabrões. Cabrões.]
[Bis. Bis. Bis. Bis. Bis. Bis. Bis.]


P.S. O incidente ocorreu no início do mês de Setembro. Como estava privada do computador, só agora pude fazer o post.



segunda-feira, setembro 23, 2002

Bolasssssssss, 'tava a ver que nunca mais era Sábado, irraaaaaaaa! Já cá tenho o piruças em casa, ver se não se constipa outra vez senão ganha logo na lotaria um par de estalos...

Uff!