segunda-feira, abril 30, 2012

Lisboa Singular: capa (1ª tentativa)

Possível capa. É um livro infanto-juvenil que escrevi penso que ainda nos anos 90 do século passado.

Ainda o estou a formatar, entretanto vou brincando novamente com as capas!


O que é que acham? Eu acho que está giro.

AMÉLIA E BRUNA: Análise de Máximas de Grice (Semiótica)





1. Amélia: Limpaste os vidros?
2. Bruna: Estava escuro.
3. Amélia: Estava escuro como ontem ao meio-dia?
4. Bruna: Vai encher-te de pulgas.
5. Amélia: Está bem. Hás-de cá vir pedir batatinhas.

* * *

Amélia inicia o diálogo, a comunicação, com o pedido de uma informação. Trata-se de um acto linguístico directo, já que foi colocada uma questão de modo frontal.
A primeira condição de que devemos estar cientes é a da vontade de comunicar entre as participantes, i. e., o Princípio da Cooperação no âmbito da comunicação que, em termos gerais, significa, que há entre as partes vontade de comunicar. Aliás, esta vontade pode em princípio ser cumprida porque tanto uma como a outra se exprimem numa língua natural ou comum. Ou seja, partilham um código idêntico de linguagem pré-estabelecido.
Portanto, recapitulando:
1) Há a vontade e o desejo de comunicar;
2) Há o conhecimento de um código comunicativo comum;
3) Não há impedimento nem físico nem mental que impossibilite o normal desenrolar da comunicação.

Além de tudo isto existe também o contexto comum a ambas as falantes.
Portanto, que género de mensagem estão ambas a tentar transmitir à outra?
Como dizia aquele cavalheiro que nunca foi apanhado na Inglaterra:
- Vamos por partes.
Bruna que, já anteriormente determinado, respeita o Princípio da Cooperação no âmbito comunicativo e partilha um código comum e, para além disso, também um contexto referencial, responde à pergunta directa - não respondendo de todo. E no entanto a resposta apesar de não directa foi dada e compreendida por Amélia. De acordo com a questão, uma maneira adequada de Bruna retorquir seria:
- Sim.
Ou:
- Não.
Ou ainda:
- Não - seguida de uma explicação detalhada do motivo.
Não obstante, Bruna, deu-lhe na telha e não fez nada disso. Um extraterrestre, desconhecedor do nosso particular mecanismo comunicativo terreno, ao testemunhar esta interacção iria considerá-la desadequada, absurda e insana. Mas não o é. E porquê? Porque Amélia está segura de que Bruna está a cooperar na comunicação, logo, infere que esta informação (“estava escuro”) é relevante para a questão. O “não, não limpei” que, logicamente, devia ter sido dito antes do “estava escuro”, é adivinhado, está subentendido na troca comunicativa. Uma resposta completa seria:
- Não limpei por estar escuro e por isso era impossível ver as manchas.
Repetindo: parte da comunicação é adivinhada, inferida, deduzida. Quase de modo telepático, dir-se-ia. Bruna escolheu logo revelar porque motivo não tinha limpo os vidros. Está, então, a praticar dois actos ilocutórios: um em que afirma que o dia está escuro e outro em que diz que não limpou os vidros devido a tal facto. (O chamado dois em um.) Se pensarmos racionalmente é um desperdício de recursos delinear na fala,  exaustivamente, cada um destes actos linguísticos. Pura perda de tempo. Talvez até gravado na biologia humana, na sua génese evolutiva, esteja este salto inferencial que permite deduzir de algo que é dito algo totalmente oposto ou permite adivinhar que mais do que uma informação está a ser transmitida.
Continuemos a dissecação.
Relativamente à segunda intervenção (“Estava escuro”), cabe-nos questionar: foi quebrada alguma máxima conversacional de Grice?
(O Princípio da Cooperação conversacional pede, Exige, requere!, que haja uma contribuição para o diálogo.)
Ora bem. A Máxima da Quantidade (não dar nem mais nem menos informação da que foi requerida) foi quebrada?
Sim, porque para ter sido satisfeita bastaria um sim ou um não. Bruna forneceu informação que não pedida na altura.
E quanto à Máxima da Qualidade? (Diz apenas aquilo que sabes ser verdadeiro e de que tens provas.) Foi quebrada?
À primeira vista pode dizer-se que não, não o foi: estava efectivamente escuro. Porém, lendo a intervenção seguinte, pode ficar-se com dúvidas. Nela, Amélia coloca outra questão:
- Estava escuro como ontem ao meio-dia?
Desconhecendo o resto do texto pode elaborar-se uma série de deduções que confirmam a segunda intervenção, a de Bruna. Podemos supôr que o diálogo tem lugar num escuro dia de inverno, o céu está coberto de nuvens negras ameaçadoras, que escondem totalmente a luz brilhante do Sol, impossibilitando a visão efectiva de manchas nos vidros - e, é lógico, a sua limpeza. Pode-se, também inferir que Amélia está longe dos vidros e fechada entre quatro paredes, incapacitada de ver o exterior. Ou seja, supomos que é uma pergunta franca e sincera:
- Estava escuro como ontem ao meio-dia?
Todavia logo nos damos conta que se trata de Ironia quando vemos a quarta intervenção desta conversa. Nela Bruna profere algo que parece quebrar a Máxima da Relação e tem toda a aparência de uma ordem imediata:
- Vai encher-te de pulgas.
O tal extraterrestre, que não conhece as subtilezas da conversação humana, e talvez tenha aprendido tão-somente o básico, pode espantar-se e pensar que Bruna é a superior hierárquica e que aquela é uma ordem imperativa à qual deve obedecer de imediato e, logo, deixar de fazer perguntas parvas. O extraterrestre pode julgar que os superiores hierárquicos humanos (ou os indivíduos de maior estatuto social) têm uma estranha forma de se fazer obedecer: num momento são iguais e no instante seguinte estabelecem a inquestionável superioridade de estatuto por meio de uma ordem que parece vir a despropósito.
Contudo, nós, humanos sabemos, pela quarta intervenção, que a pergunta de Amélia que a antecede, não foi inocente e de facto nem pergunta era, antes uma insinuação, uma frase carregada de ambiguidade e veneno. E uma acusação bem explícita, ainda que ambígua. Tratou-se de uma ironia linguística que carregava nela implicitamente a informação de que Amélia não acreditava no que Bruna lhe dizia e que na verdade não havia limpo os vidros por não o ter desejado fazer. Para Amélia não houve factor exterior a influenciar a decisão. O leitor (ou ouvinte hipotético, que porventura oiça este curto diálogo) infere que “ontem ao meio-dia” não houve eclipse solar e o céu esteve descoberto, sem nuvens e com uma visibilidade excepcional.
Portanto, quanto à terceira intervenção, todas as máximas de Grice foram respeitadas?
A Máxima da Quantidade não foi respeitada porque foi fornecida, mais uma vez, mais informação do que a que era necessária. (Era desnecessário relembrar, para a conversa actual, que ontem também esteve, e tomando a frase à letra, escuro.)
A Máxima da Qualidade foi, todavia, violada porque (e assumindo que Amélia não tem acesso ao exterior) ela afirma através da ironia algo de que não tem provas: que o dia lá fora está bonito e descoberto.
A Máxima da Relação (ser relevante) não foi infringida porque Amélia permanece dentro do assunto tratado.
E quanto à Máxima do Modo? Foi quebrada porque imbuída, a pergunta, de ambiguidade e insinuação - desta maneira Amélia absteve-se de ser directa e acusar Bruna com frontalidade.
Continuando. Analisemos agora a quarta intervenção, a de Bruna:
- Vai encher-te de pulgas.
Novamente, tomando esta ordem literalmente, pode-se elaborar uma série de suposições.
a) Bruna é a chefe de Amélia e trata-se de uma ordem directa (algo já descartado);
b) vendo que a) não é possível, tentemos encontrar um sentido implícito para esta ordem aparente. Amélia sabe que Bruna continua a cooperar no diálogo, portanto, que informação lhe está a querer passar com esta ordem aparente? Seguindo o raciocínio lógico, Amélia compreende que Bruna percebeu bem a ironia e o sarcasmo da sua questão (que não era de todo uma questão) e que lhe desagradou esse sarcasmo. Quer fazer-lhe passar a mensagem  tanto do seu desagrado como  do facto de que não apreciou ser chamada de mentirosa (pois o que Amélia afirma, dissimuladamente, dentro da pergunta que não é uma pergunta, é que Bruna mentiu e preferiu não limpar os vidros. Na acepção de Amélia não havia nenhum tipo de impedimento para cumprir esta função. Bruna revela o seu desprazer de modo nada subtil dando uma ordem aparente para se ir “encher de pulgas”. Na verdade este é um insulto grave já que a chama de cadela (ou pressupõe que o seja). Ou cabra (ambos os mamíferos possuem pêlo em abundância). Regressando ao hipotético extraterrestre, ele poderia, levando literalmente a frase, pressupôr outra possibilidade, aberrante, implausível para nós, mas quem sabe, não para ele:
A possibilidade de Amélia ter a capacidade de se transfigurar em cabra ou cadela e a frase ser, não um insulto, e sim antes um pedido para que a colega relaxasse regressando a uma forma animal mais contemplativa do mundo.
Porém, voltando a um contexto não tão fantasioso, e limitando-nos à realidade das coisas possíveis, reflectindo sobre a frase percebe-se ser a mesma um insulto. Se Bruna fosse a líder talvez quisesse com ele reassegurar a dominância do seu território emocional e impôr o seu poder, fazendo-se (na sua opinião) respeitar pela que é na realidade a sua subordinada. Mas, seguindo o raciocínio lógico, é provável que Bruna percepcione Amélia como uma pessoa venenosa e que foi esta que em primeiro lugar a insultou chamando-a de mentirosa (ainda que indirectamente). Portanto há a possibilidade de se tratar de um reafirmar de um território emocional e psicológico. Bruna torna claro: estas fronteiras estão bem definidas. Não voltes a pôr-lhe a pata em cima. Respeita-me. Com este insulto está a deixar claro que são colegas e iguais e que não a pode rebaixar de modo algum.
c) Contudo podemos, se quisermos, deduzir ainda outro insulto na quarta intervenção. Quando Bruna comanda: “Vai encher-te de pulgas.” pode estar a infligir uma ferroada dolorosa à colega. Quem sabe se nos balneários Bruna tenha visto Amélia vestir-se. E talvez tenha reparado numa (hipotética) profusão capilar que cobriria o inteiro corpo de Amélia. Pode ser que na altura tenha pensado: “Parece um urso.”, mas não o proferiu por que iria contra as elementares regras de boa educação e cortesia entre colegas; mas que, nesta ocasião, sentindo-se ela mesma primeira e vilmente insultada (não limpaste os vidros porque não quiseste. Estás a mentir. És uma mentirosa), resolveu revelar (mais ou menos indirectamente) aquilo que pensava: tens pêlos a mais, pá. Compra um cortador de relva.
Em relação à quinta e última intervenção, feita por Amélia. Quando ela afirma:
- Está bem.
Não está de facto a concordar literalmente com a ordem anterior. Logo, está a infringir a Máxima da Qualidade: afirma algo que sabe não ser verdade. Esta não é uma concordância. Não é uma cega aceitação da aparente ordem antes dada. Não deve o observador (ou ouvinte) casual deste diálogo presumir que Amélia prontamente anuiu em cumprir a ordenança de Bruna. É uma concordância irónica. É uma expressão que serve antes a função de terminar o pequeno diálogo. A frase seguinte:
- Hás-de cá vir pedir batatinhas.
Também não carrega nela o significado literal de que logo a seguir Bruna vai confeccionar um cozido à portuguesa. Não se deve inferir que Amélia conhece os ingredientes disponíveis na cozinha de Bruna onde esta cozinhará o hipotético cozido à portuguesa. E que sabe não ter as batatas indispensáveis. E que a recusa anterior em limpar os vidros conduzirá à consequência natural de uma recusa em emprestar as tais ditas batatas.
Um extraterrestre teria uma certa dificuldade em seguir o diálogo se desconhecesse toda esta rede de inferências que o entrelaça.
Se não estamos a falar de batatas, então estamos a falar do quê?
Novamente recorrendo a um raciocínio de tipo dedutivo, esta última mensagem transmite na verdade duas mensagens:
a) A conversa acabou.
b) Aviso de que no futuro não a ajudará.
Este aviso ou ameaça foi feito recorrendo a uma metáfora.
Talvez o diálogo fosse mais compreensível para o hipotético extraterrestre, observador e investigador da comunicação humana, se o mesmo tivesse sido feito em termos mais claros.
A: Limpaste os vidros?
B: Não limpei porque estava muito escuro na rua, impossibilitando-me de ver as manchas.
A: Não acredito no que me dizes. Aposto que estava claro o suficiente para os teres limpo e não limpaste porque não quiseste. Estás a mentir.
B: Não admito que me chames de mentirosa. Insultaste-me e com isso ultrapassaste uma clara fronteira que tu, enquanto colega e igual, não deves ultrapassar. Em recíproco vou fazer-te o mesmo para que fique bem claro que não o deves repetir. Cabeluda.
A: A conversa terminou. Deixo-te com o aviso de que no futuro não te ajudarei se acaso precisares de auxílio no trabalho.
(A sexta intervenção podia ser, por exemplo, um estalinho da boca.)
Eu pessoalmente prefiro o diálogo que inclui batatinhas.
Nesta intervenção final de Amélia, quantas máximas de Grice foram respeitadas ou violadas?
A máxima da quantidade foi violada porque Amélia não precisava de informar Bruna do que faria num hipotético futuro.
A máxima da qualidade foi quebrada tanto ao afirmar “Está bem”, quando claramente não estava, como ao dizer “Hás-de cá vir pedir batatinhas” uma vez que Amélia desconhece se no futuro Bruna lhe pedirá ajuda.
A máxima da relação tem a aparência de estar a ser quebrada, pois a frase parece vir do nada e não estar relacionada com o contexto, mas sabe-se que sim. Portanto esta máxima não é infringida.
A Máxima do Modo é também respeitada se recorrermos de novo a um raciocínio dedutivo. É um aviso claro, objectivo e breve. Apesar de, na aparência, ser obscuro. Porém sabemos que tanto Amélia como Bruna partilham um idêntico código linguístico e conhecem o significado desta expressão.
E pronto, quanto a análises, ficamos por aqui~.

(17-22 Abril de 2012)

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Bibliografia:
LIMA, José Pinto de (2007), Pragmática Linguística, Lisboa, Caminho.





domingo, abril 29, 2012

AVENTURAS NA SEGURANÇA SOCIAL DO AREEIRO





19 de Abril de 2012

Ok, vamos ver quantas palavras escrevo até ser atendida. Isto, partindo do princípio que sou. Estou na Segurança Social do Areeiro, por acaso pertíssimo de um local onde já trabalhei. Estou aqui para requisitar o subsídio da segurança social a que talvez tenha direito. Isto eu só acredito quando as coisas estão feitas (and the check clears). Promessas e tal não me levam a lado nenhum. A propósito (ou fora dele), sabiam que um bilhete de ida e volta de Metro é agora 2,50€?! Mas que porra é esta? A sério, que merda é esta? É verdade, sim, isto enfurece-me. A bicha é longa. É a rua inteira, a partir do edifício da Segurança Social, e dobrou a esquina.
Eu fiquei na esquina e cheguei cá (pensando que era cedo) vinte minutos antes do local abrir à clientela. Entretanto a bicha já foi andando, mas não muito. A senhora à minha frente (a quem educadamente coloquei algumas questões) - e lá anda a fila de novo - disse que sim, as senhas podem acabar. Podemos estar já quase a entrar e, pronto, acabaram as senhas. (Ena qu’esta merda anda. Parou. E anda de novo! Nem sei as horas.) São 9h04.
Esta, na minha opinião, não é maneira de tratar um povo no seu país (ou em qualquer país). Faz frio e o céu tem nuvens escuras. Parece um dia de Inverno e estamos a meio de Abril. Dá a impressão que o céu chora por nós, Portugal e Portugueses, e está tão deprimido e triste como nós. Dói-me as costas. Não posso estar de pé muito tempo, começa a doer-me as costas.
Podia, quiçá, aproveitar estes belos momentos, forçadamente contemplativos, para aplicar a Semiótica que ando a estudar no meu curso da Universidade Aberta. Na fila há pessoas que falam e outras caladas. Eu sou das caladas. E escrevo. (Está frio e o reboque da polícia anda à caça.) Ah - ainda estou cá fora, na rua.
Regresse-se, por Jesus Bendito, à Semiótica. Ora bem. Apesar de não falarmos, podemos comunicar de outra maneira: pela comunicação não verbal (CNV). Esta (e a polícia já caçou um...) tem várias vertentes, ou, digamos, vários ramos de estudo. Um dos quais é a Proxémica (a maneira como nos movemos e posicionamos no espaço). Outra maneira de a definir: o estudo das distâncias que as pessoas mantêm entre si. Há uma distância pública e privada - e ambas podem mudar consoante os países e as culturas. Na fila reparo que, quanto mais para o início da mesma nos aproximamos (i. e., o nosso objectivo - que neste caso é entrar no edifício e depois ser atendido), menor é a distância que os indivíduos mantêm entre si. Quem me dera poder medir isto. Não tenho fita métrica, terá de ser a olhómetro. Julgo que para o fim da fila a distância deve rondar menos de um metro (à volta de oitenta centímetros) e agora deve ser cerca de sessenta centímetros - mas não tenho a certeza. (Reitere-se que não é uma medição científica.)
A bicha caminha. Já ‘tou quase nas escadas. Olarilas. Cá atrás há dois senhores que falam sobre terras, batatas e esparguete. Meteram conversa um com o outro e pronto. A maioria da malta na bicha está triste, resignada ao seu destino de ser tratada como gado que lenta, mas inexoravelmente, é dirigido ao matadouro. (E há um gajo que se meteu à frente e entrou. Olha o cabrão.)
As horas?
(Entrei no edifício!)
9h18.
Cerca de meia-hora a escrever. E cerca de quarenta minutos até entrar no prédio.
Leio que a tolerância é de três senhas. ‘Tá bem.
A conversa atrás de mim:
- Havia muitas formas de saber se se ia negociar ou não: se se levava o capote ao ombro, se levava o chapéu de lado... aquilo era um espectáculo!
(Mais semiótica!)
(Adenda a despropósito: eu tenho de aprender estenografia, que ao ritmo actual perco metade das conversas.)
O outro fala de água:
- Lá na minha zona mata-se por causa da água. É ouro aquilo, é ouro.
São os únicos senhores (com cerca de cinquenta e sessenta anos) a conversar. O resto ‘tá mudo.
- Por causa de uma levada...
Qu’é isto?!?
Somos autêntico gado na linha de processamento! De desmontagem! De desmembramento da nossa humanidade e dignidade.
Dói-me as costas, porra. Devia ter trazido uma cadeirinha desmontável. Mas depois havia de haver alguma velhinha, ‘tadinha, doentinha, “precisada”, e alguém haveria de falar por ela, ó menina, faz favor, pode emprestar a cadeira a esta senhora que, coitada, é DOENTE?
Puta da velha.
Nunca hei-de trazer cadeira. Nem banquinho. Nem o raio que o parta.
Meu deus, aqui há Triagem. Como nos hospitais.
- Olá, eu tenho lepra e venho pedir o subsídio de desemprego.
De repente em coro saúdam-me:
- OLÁÁÁÁ!
Creepy.
Agora os senhores falam de uma terra com o nome de Cabrão. Olha se eu morasse lá e o senhor da triagem me perguntasse:
- Morada?
E eu, logo:
- Cabrão.
Ahahaha. Ai que era giro.
(Lá em baixo já diviso o purgatório.)
Analisando-se isto do ponto de vista semiótico (responder “Cabrão” ao hipotético senhor da Triagem), poderia afirmar-se que não tinha eu violado a Máxima da Quantidade de Grice, uma vez que fornecia a informação pretendida e não mais que isso; também não violaria a Máxima da Qualidade, uma vez que não teria mentido. Teria sido relevante e breve, portanto não teria igualmente infringido a Máxima da Relevância (estar dentro do contexto) nem a do Modo (ser directa, objectiva e não ambígua). No entanto teria provavelmente passado duas mensagens (em vez de uma) ao meu interlocutor, e uma das quais tem nela implícita um insulto.
Elaborando. A primeira mensagem responde à pergunta:
- Cabrão - é o nome da vila.
E a segunda mensagem diz:
- Cabrão. Sacana. Filho da mãe - que é uma ofensa.
Estamos efectivamente a ser tratados como gado
E julgo que é propositado de maneira a evitarmos raciocínios. Que podem ser Reaccionários.
Mas... evitam-se inquietações?, pergunto. E evita-se, com esta fila labiríntica, o stress?
Já tenho senha.
A-53.
O quadro mostra que vai já na senha 12.
São 9h35.
Sentei-me. Ai as costas.
Quarenta à minha frente.
(Total: quatro folhas do meu bloquinho tamanho A6. Cerca de 1050 palavras.)

***

10h39. Trinta gajos à minha frente. Vai na senha 23. À pouco andou para trás: da senha 20 para a 18.
‘Tá bem.
Montes de gente. ‘Tá calor. Malta saturada de esperar. Se calhar devia ter vindo para aqui cedo. Tipo, às sete da manhã. Ena, duas horas à seca na bicha. Ou lá fora ou cá dentro, esperar espera-se sempre. Já não sei o que é preferível. Fui lá fora à pouquinho. Reparei num cartaz de um partido ou sindicato em que se apelava à Morte tanto da tróica como do Governo. Isto não é bom.
Há malta com prioridade (whatever the fuck that means): grávidas, diabéticos e PessoasQueLevamMuletas. Epá, eu tenho canadianas em casa em casa! Nop - não tinha lata.
Voltando ao cartaz da Morte.
Isto das palavras às acções às vezes vai um passo - não me agrada aquilo. Não gosto de ditaduras, nem de esquerda nem de direita. É tudo igual. E se começo a ver mais cartazes como aquele de Apelações Directas à Morte... bom, começo seriamente a preocupar-me.
(Vamos lá a ver o número em que vai: 23! Ainda!)
São 10h47.

***

12h01. Senha 34. Estão 19 à minha frente.
Dói-me as costas.

***

Senha 43: 13h00. (Estou cá há mais de quatro horas. Faltam 9 senhas.)

Se continuam a ser dez senhas por hora devo ser atendida às 14h00.

13h30: senha 47.
Estou aqui quase há cinco horas.
Em quatro horas e meia andou 47 senhas!

***
Fui atendida depois. Levei dez minutos a tratar do meu assunto. Saí da Segurança Social eram 14h00.

Mãezinha.

/Dunya

(Cerca de 1320 palavras.)




































quarta-feira, abril 18, 2012

O Desempregado: esse Criminoso!


Ainda não sei se tenho ou não direito ao subsídio de desemprego (amanhã vou descobrir. Ó, a aventura adivinhada, digo mais: antecipada!), mas já me começam a tratar como criminosa. Apresentações períodicas de 2 em 2 semanas! E 4 provas - comprovativos - mensais em como ando em busca de trabalho! Olarilas! Qualquer dia é à Cacetada...!

Hoje:

1) Fui ao médico. Marcaram-me análises. E um electrocardiograma!
2) Fui ao Centro de Emprego
3) Fui pôr gasóleo
4) Fui fazer compras à mercearia cá da zona (legumes)
5) Fui marcar as análises

E agora cá estou...

terça-feira, abril 17, 2012

From tumblr

Fun fact: I knew this girl from camp who had a British accent but she wasn’t from England and then one day I went to her house and her parents didn’t have a British accent either so I asked her where she got it from because I was really confused and she told me her parents faked it until she was 7 because they wanted a child with a British accent

Link: http://trolllinginthedeep.tumblr.com/post/21048547361/fun-fact-i-knew-this-girl-from-camp-who-had-a

Os meus falariam com o sotaque do Drácula.

Oh yes. They would.

segunda-feira, abril 16, 2012

Rey Juan Carlos (Astrología)

A vosotros, españoles, que en mi blog buscáis una fecha de muerte para vuestro Rey.

En primer lugar:

-Que malos...

En según lugar:

-Astrológicamente hablando quizá alrededor del ano 2016...

(Pero no estoy segura...)

(E agora em Português: nunca se deve "adivinhar" a hora da morte de ninguém, mesmo que a pessoa seja famosa. O que acabei de fazer não se deve fazer. E no entanto...! Eu não concordo muito com estas regras do "não se deve! É proibido! É errAAAAAAdooooo!". Aliás, acharia Preferível que Todos conhecêssemos a hora da nossa morte. E que isso não se escondesse.)

A sério. Seriam interessantes as conversas nas festas.

- Eu vou viver 40 anos.
- Que sorte - diria o interlocutor. - Eu vou ter de aguentar este fardo até aos 88 anos...
- Eu piro-me aos 25!

Não estou a brincar. Estou genuinamente a falar a sério. Acredito que conhecer o número de anos da nossa vida terrena seria algo extremamente positivo.

quinta-feira, abril 12, 2012

Writing Advice by C. S. Lewis


«What really matters is:–

1. Always try to use the language so as to make quite clear what you mean and make sure your sentence couldn't mean anything else.

2. Always prefer the plain direct word to the long, vague one. Don't implement promises, but keep them.

3. Never use abstract nouns when concrete ones will do. If you mean "More people died" don't say "Mortality rose."

4. In writing. Don't use adjectives which merely tell us how you want us to feel about the thing you are describing. I mean, instead of telling us a thing was "terrible," describe it so that we'll be terrified. Don't say it was "delightful"; make us say "delightful" when we've read the description. You see, all those words (horrifying, wonderful, hideous, exquisite) are only like saying to your readers, "Please will you do my job for me."

5. Don't use words too big for the subject. Don't say "infinitely" when you mean "very"; otherwise you'll have no word left when you want to talk about something really infinite.


C.S. Lewis»

Link: http://www.lettersofnote.com/2012/04/c-s-lewis-on-writing.html

Dentista

Fui ao dentista.

Sentei-me na cadeira e não estava nervosa. Mas depois de duas injecções para adormecer o dente e do barulho da broca - eu tremia por todos os cantos.

A dentista aconselhou-me dois implantes. Coisa que eu até quero, mas não há dinheiro.
São dois mil euros.

Disse logo que não podia.

Onde é que eu vou arranjar dois mil euros?

C*ralho, é bom que os meus ebooks comecem a vender!

/Dunya Desdentada e Pobre over and out :-|

terça-feira, abril 10, 2012

Silhouettes on the jetty


Silhouettes on the jetty, originally uploaded by adrians_art.

Cougar


Cougar, originally uploaded by istamm.

figura


figura , originally uploaded by fernanda garrido.

segunda-feira, abril 09, 2012

Eu Superior

Ando a comer coisas que não devo. Eu com o açúcar é como os alcoólicos e o vinho: não pode nem estar perto de mim. Ando a engordar e não quero. Ando a pensar num "truque" para regressar aos meus bons e velhos hábitos. Já pensei em tantos!, mas talvez este resulte: ter conversas (escritas) com o meu (hipotético) Eu Superior. Or a big giant nice cat. Ou os dois. Miau, miau.

E mais outra capa: À Procura de um Livro

Que aqui fica...


quinta-feira, abril 05, 2012

44 e 88

Olá Anjo-da-Guarda, guardião, ou, humm, whatever! Hoje, como ontem, fartei-me de ver os números 44 e 88. Tipo, man, nós inventámos uma coisa nova, super-gira. Chama-se: email. Manda um email. Sério. Eu preferia. Ou um sms. Jokitas repenicadas nas asas (tens não tens? Suponho que tenhas. É bom que tenhas! Não quero cá anjos de 2ª categoria...!)

*****

Eu se calhar devia escrever-te era uma Carta, n'era?
O chato é que não me ias responder.
E o pior de tudo é que sou Agnóstica (praticante, praticamente, absolutamente Praticante) - portanto nem sei se existes ou não. Mas deixando isso de parte.
Adiante.

Lembro-me que há uns anos só via 11:11 em todo o lado. Ou números que terminavam com 11.
Agora a moda é 44 ou, mais recentemente, 88.

Mas sinceramente, epá, volto a Rei-Te-Rar: manda-me um email, carago. É que eu não sou de contabilidades nem de números. Eu escolhi Letras, sabes.


Bom. É tudo. 'Tou p'a ver a tua resposta. (A quantidade de números que eu vou ver amanhã, inté parece que adivinho...)