quinta-feira, setembro 11, 2003

Pena de morte. Pensamentos dispersos. Ou: contributos para (parece mais intelectual).

- Ao matar um ser humano para castigá-lo pela morte de outro entra-se em paradoxo. A razão perde a lógica. O justiceiro torna-se assassino.
- Ao matar uma pessoa corta-se qualquer possibilidade da mesma evoluir, perceber os seus erros. Essa pessoa não poderá mais contribuir para os outros.
- Mata-se para castigá-la e, empiricamente, evitar que ela volte a magoar, a causar mal a outros seres humanos. Pergunto: como o faria se já está presa?
- Essa pessoa tem família. Muitas vezes filhos. Não se mata apenas o assassino: mata-se o pai desses filhos, o marido, o amigo. É justo castigar os filhos pelo mal dos pais? O teu pai era tão mau (para os outros, não para ti) que to vou tirar. Não me interessa se precisas dele ou não para te transformares num cidadão pleno (em qualquer área da tua vida, incluindo a emocional).
- Quem o mata julga-se Deus. Não é. Não existe ninguém à face desta miserável/maravilhosa terra que seja superior a outra criatura humana. Ninguém, seja lá a razão que tiver, tem o direito de tirar uma vida humana.
- Quem o fizer irá, acredito, inevitavelmente, encontrar a pessoa que condenou à morte. E terá de enfrentar a vergonha. E, espero, será obrigado a sentir todo o mal que provocou. Nisso consiste o inferno (suponho, presumo, desconfio): experimentar na pele toda a minúscula dor que fizemos sentir aos outros.
- A única coisa que me causa grande orgulho em ser portuguesa é não termos pena de morte. Acho que o restabelecimento da mesma seria o único motivo que me faria publicamente manifestar-me.
- Matar é errado. Honestamente pensava que todos o sabiam.
- Em posição de poder, se me apresentassem mil Hitlers, com contagem de cadáveres proporcional - quero pensar que seguiria os meus princípios. Quero pensar que teria essa coragem. Quero pensar que seria incapaz de me afundar no ódio, na raiva, na vontade vingativa.
- Às vezes tenho a impressão que, a ser possível, aqueles que condenam outros seres humanos à morte, matá-los-iam um milhão de vezes. Over and over again. Tenho a impressão que se pudessem dar essa dor aos condenados - mil vezes matar-te e ressuscitar-te para te matar de novo - não hesitariam.

(Work in progress.)

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