Joana encontrou-se com o Eu de criança, o eu antigo. Um encontro estranho. Quando escreveu a carta e a emparedou na parede da casa, carta a um futuro e distante viajante do tempo, a marcar um encontro futuro; quando a escreveu, dizíamos, não estava à espera que o viajante do futuro fosse ela própria no passado.
Debaixo da oliveira. As oliveiras duram séculos. Talvez exista ainda no teu tempo, se o resto da paisagem mudar. Debaixo da oliveira às três da tarde, do dia sete de Agosto de dois mil e...
- Tu? disse Joana. Mas... não percebo.
A miúda olhou para ela e trepou à árvore.
- Desce daí. Ainda te magoas.
A miúda ignorou-a.
- Desce! Ai...
Lembrou-se que tinha uma pastilha de morango no bolso.
- Se desceres dou-te uma pastilha.
Joana-miúda olhou-a desconfiada, mas desceu e aceitou a oferta.
- Olha lá, como vieste cá parar? pergunta Joana-adulta agachando-se. A miúda encolheu os ombros.
- Não és muito faladora.
Ela voltou a encolher os ombros, menos apreensiva, já à vontade com a estranha.
- Não encontraste nenhuma carta?
Ela abanou a cabeça.
- Nada? Tens certeza?
Ela indicou que sim, tinha.
Joana adulta emudeceu. Ficou parada a observar o eu antigo, o eu criança que trepava às árvores e comia doces. Depois a catraia voltou a subir a oliveira e desapareceu.
Joana regressou a casa, escavacou a parede e queimou a carta. No seu lugar pôs um embrulho cheio de pastilhas e doces hermeticamente fechado.
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