sexta-feira, dezembro 29, 2006

Escrita automática - (exercício)



Tenho a seiva da vida em mim; um barulho de nada, um telefone desligado, tudo ao pé de nada.
Passamento astral, a teoria da vida; a seiva da vizinhança, vai haver fogo de artifício, o artifício da passagem anual. A vida aqui à espera. A máquina sem fios, as caixas de cartão e o lixo sem descanso - sem descanso, o lixo. Hoje foi tudo muito rápido. Acordei fora de mim, subi as escadas ao contrário, equilibrei-me precariamente em cima de um degrau que fazia de conta que era degrau. A tia pediu ao tio para não guiar: não tens carta. E hoje, depois de sair do sonho, compreendi.
Não compreendo nada.
Há um corpo que trespassa a vida em sentido contrário. A passo de luz. Na velocidade do tango. E as rosas talvez a esta hora já não cresçam.
Havia rosas no caminho para a escola, rosas diferentes, com textura e odor estranho. Rosas que se apanhavam como quem passa a mão pela relva alta.
Na escola zuniam os sinos - mentira. Mentira, há o toque do recreio. Os miúdos brincam com o toque de recreio. À bola, ao mata. Todos. Juntos. Dois, os líderes da turma, fazem a escolha. Tu para este lado, tu para aquele. Tu para este lado, tu para aquele.
Para este lado, para aquele.
Não me lembro de ter ficado para último.
Não me lembro de ter sido extraordinariamente infeliz.
Era ordinariamente infeliz. Mas o que é que os putos sabem da infelicidade?
Que conhecem eles da vida?
Hoje há um frio tremendo, as aves tremem, as abelhinhas espirram mel.
Nas flores.

29 Dez. '06

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