sábado, outubro 01, 2011

Bom-dia, poema

OS AMANTES DESENCONTRADOS

«Deste um nome de incêndio a certas palavras.
Contigo eu não pisava o chão, era a amada voadora.
Feriste, feriste-me sem remédio. Como esquecer
que minavas meus próprios alicerces?
Que abanavas paredes, soltavas telhas
por onde entrava a tua inquietação?
Foste dentro de mim uma Primavera
tempestuosa. Por isso me deixaste,
e os dias correm, sem fronteiras.»

Recordo-me bem, eu soube nesse domingo
que era como a água em Azenhas do Mar;
que rebento; e destruo; e não arranjo poiso.
E que toda esta bruteza é um ciclone
centrado, quem diria, a Noroeste dos Açores.

De mim deve sobrar-te a espuma
que trazem as marés vivas no equinócio.

De mim deve ficar um vento,
a fúria do vento no teu cabelo.»

Fernando Assis Pacheco
Cuidar dos Vivos
A Musa Irregular
Edições ASA
1997

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