domingo, julho 21, 2002

Já pus o gato a dormir. Engraçou com a caixa de cartão dos correios. Prefere sempre aquilo que menos se espera. Tipo: brinca com uma folha de papel e ignora felinamente algo que comprei de propósito para o cavalheiro...
Continuando.
Como trabalhar o tema. Pois... errr... bela pergunta! Isto não avança, lol.

Bom, o tema.
Pessoalmente, não gosto de fazer sinopses, resumos demasiado elaborados, cheios de pormenores. Por experiência sei que são esses os livros que nunca irei escrever. Não consigo. Por outro lado, breves esquemas de uma história que há muito me ocupe o espírito são aqueles que conduzirão ao livro, à obra final. O máximo que faço é:

1º capítulo – o herói (a personagem principal) vai dar uma passeio e tem um acidente;
2º capítulo – ele sonha com uma mulher enquanto é transportado para o hospital;
3º capítulo – vê a fotografia dessa mulher na mesa do médico; etc...

Isso não significa que eu não saiba (ou não veja) o que acontece nesses capítulos de forma mais detalhada. Sei, tenho umas ideias, mas prefiro guardá-las até me sentar à secretária e escrever. Acontece-me muitas vezes essas ideias germinarem noutras e quando vou, enfim, trabalhar no capítulo, já sei mais do que semanas atrás.
Sou muito lenta, preciso de pensar as coisas com calma. Se faço tudo à pressa, sai porcaria.

...

Porque se escreve? Qual o motivo? Porque é necessário. Há uma necessidade absoluta de escrever que, entendo, não implica seguimento de nenhum género. Escrever é um fim em si mesmo.
Certa vez disseram-me que ser lido é a 2ª parte, o que vem depois do livro ser escrito e editado. Não sei se concordo muito com isto. Será que a necessidade de ser lido implica o imperativo da escrita? Não tenho bem opinião formada, mas, à primeira vista, parece-me que a resposta é não. Alguém eloquente, que frente a uma plateia faça maravilhas (e malabarismos) com a palavra, galvanizando multidões, pode publicar os seus discursos – e ser lido. Não vejo aqui a acção da escrita, o ‘empunhar da pena’, a palavra que passa directamente da mente para o pulso e o papel. Para mim (percebo-o agora, enquanto escrevo e medito em simultâneo) a palavra é silenciosa e audível mercê do seu mutismo. Uma vez li: o caminho é a Palavra. E logo acrescentei: escrita.

Para outros o caminho é a palavra dita. E para outros o caminho não é a palavra. Pode ser a imagem. E dentro da imagem pode ser, por exemplo, a fotografia.
Devia ter continuado a desenvolver o ‘tema’, mas não me apeteceu. À pouco lavava a loiça e ia pensando nestas coisas, assim, sem me forçar, divagando...
Bom, resumindo... importa seguir a voz da escrita e não pensar no resto, afastar do espírito eventuais consequências ou repercussões. Escreva apenas. O resto logo se vê.

...

(As reticências separam diferentes assuntos.)

Aplicar o que se aprendeu nos livros seguintes, sem ter a tentação de corrigir mil vezes os anteriores (os abençoados com o dom da preguiça sentem menos propensão a tais tentações, hehe...).
Ao escrever usar mais substantivos e verbos e menos adjectivos. (Aprendi com o José Cardoso Pires. Leiam! Escritor fa-bu-lo-so. Tenho a certeza que será um dos lembrados, um dos que ficam.)

Agora com licença, vou ver se o caldo verde está pronto.

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