quinta-feira, agosto 25, 2005
quarta-feira, agosto 24, 2005
segunda-feira, agosto 22, 2005
domingo, agosto 21, 2005
Lindo!
======
Epígono de mim, cá vou compondo,
De memória, um antigo desencanto:
Sem estrondo,
Nem pranto.
Quanto baste pra encher um volume pequeno
De que os amigos dirão bem e os inimigos mal.
Insensível às flores e ao veneno,
Vou em busca de alguém que é meu igual.
Alguém que não conheço nem conhece
A minha posição poética e política;
E a quem não aquece nem arrefece
A crítica.
Alguém que há-de dizer, ao ler-me
(Escrevo para mim. A ele é que me entrego.):
--Voa tão alto, este verme!
Vê tão longe, este cego!
(António Manuel Couto Viana, in Sou Quem Fui - Antologia Poética )
[Fonte: Por dois canudos.]
======
Epígono de mim, cá vou compondo,
De memória, um antigo desencanto:
Sem estrondo,
Nem pranto.
Quanto baste pra encher um volume pequeno
De que os amigos dirão bem e os inimigos mal.
Insensível às flores e ao veneno,
Vou em busca de alguém que é meu igual.
Alguém que não conheço nem conhece
A minha posição poética e política;
E a quem não aquece nem arrefece
A crítica.
Alguém que há-de dizer, ao ler-me
(Escrevo para mim. A ele é que me entrego.):
--Voa tão alto, este verme!
Vê tão longe, este cego!
(António Manuel Couto Viana, in Sou Quem Fui - Antologia Poética )
[Fonte: Por dois canudos.]
sexta-feira, agosto 19, 2005
Quero uma paisagem fria e gélida ao meu redor. Quero uma árvore dobrada sob o peso da neve. Quero neve, neve. Quero vê-la. Que se foda o Verão. Já estou mais do que farta de tanto calor. Quero um casaco quente e fofo e morno. Quero chuva. Quero inundações na minha rua, quero ir de barco para o trabalho. Quero remar. Quero um frio intenso que me congele e comprar mais edredões para me aquecer. Quero dar uma carga de porrada ao São Pedro, sacaninha de merda, já chega, basta. Basta de tanto sol. Quero mudar-me para a Noruega durante um ano. Quero patinar na minha rua num lago gelado. Ir de patins às compras. Quero espirrar, espirrar e ter constipações e apanhar uma pneumonia. Eu nunca apanhei pneumonias e nunca parti nada. Só as unhas, só o coração. Quero sentir aquele frio de agulhas que nos pica o nariz antes de nevar.
Quero caminhar por uma alameda de pinheiros altos cobertos de neve a sério.
Quero cair a fazer ski e partir qualquer coisa.
Quero ter um gorro e motivo para usá-lo.
Quero caminhar por uma alameda de pinheiros altos cobertos de neve a sério.
Quero cair a fazer ski e partir qualquer coisa.
Quero ter um gorro e motivo para usá-lo.
terça-feira, agosto 16, 2005
"Transcrevo do Expresso de ontem: «Uma recensão [...] da escritora Marianne Wiggins ao mais recente livro de John Irving, Until I Find You, publicada no Washington Post há mais de um mês, foi 'desautorizada' pelo jornal, após queixa do autor. É que aos críticos daquele diário estão vedadas recensões de obras escritas por amigos ou conhecidos. [...] Em consequência, Irving e Wiggins conheciam-se. Pelo facto, o periódico norte-americano pediu desculpas.» Nós por cá não somos, nem podíamos ser, tão esquisitos. Ficava toda a gente desempregada, porque toda a gente conhece toda a gente, e aqueles que não conhecem não são recenseáveis nem escrevem nos jornais. Assunto arrumado. É verdade que podíamos ser um pouco menos promíscuos. O Expresso, que não se coíbe de publicar extensas recensões (laudatórias) aos romances do seu director, e tem mesmo três ou quatro colaboradores permanentes que só escrevem sobre os livros e plaquettes uns dos outros, é o epítome do nepotismo «crítico». Escrevendo depreciativamente sobre o livro de um amigo (Irving) do seu ex-marido (Salman Rushdie), Marianne Wiggins rompeu a deadline do conflito de interesses. Se tivesse elogiado era o mesmo. Os protocolos são para cumprir. Sobre a questão, assalta-me uma dúvida: quem terá sido o patusco que inseriu a notícia na p. 35 do caderno Actual, à laia de ilustração da tese contrária aos hábitos da casa...?"
in: http://daliteratura.blogspot.com/2005/08/conflito-de-interesses.html
in: http://daliteratura.blogspot.com/2005/08/conflito-de-interesses.html
domingo, agosto 14, 2005
AUTOBIOGRAFIA INCOMPLETA
Gosta de livros estranhos, esquisitos. Tem por hábito tomar banho. Tem [teve] um gato que não é [era] dela. Fala de si na terceira pessoa. Gosta da Britney Spears. Do Brad Pitt. Tem ódio mortal a Angeline Jolie por causa do Brad Pitt. Gosta do som e cheiro da chuva. Gosta do som e do cheiro do mar. Pode estar muito tempo, alheada, a olhar para o vazio, sem fazer nada. Não gosta que a chateiem. Detesta que apareçam sem avisar. Tem um grande sentido de justiça. É mais casmurra do que sei lá o quê. Já mencionei que adora o Brad Pitt? Devia ler mais. E escrever também.
Tem pretensões messiânicas. É morena. Tem a pele branca, mas na praia o sol tinge-a de vermelho. Tem dois pares de patins. Não tem certezas políticas, religiosas ou espirituais. Acredita no respeito por todos. Aprendeu na primeira classe que não se responde com “hã?”, mas “diga”. Detesta matemática. Abomina contas. Já apanhou duas multas. Já teve um Opel. Acha que a escola é uma perda de tempo. A escola a sério começa cá fora, considera. Gostava de ter aprendido latim em pequena por causa dos benefícios linguísticos. O seu português, hoje, seria superior. Gostava de ter tido lições de ballet e de piano. Gostava de ter tido o papagaio de cauda vermelha que viu uma vez, em criança. Gostava de ser mais alta. O seu ídolo de infância foi o George Michael, mas congratula-se, em adulta, por não ter sido o Michael Jackson. Basicamente o seu destino, aqui, na Terra, é o de Procurar. Agora o quê – não me perguntem. Eu sou apenas o narrador e estou quase a entrar de férias.
Acredita nas maldições do fogo eterno. Not. Crê-se iluminada, excepto quando a luz falha. Nunca gostou de bife de porco. Quer saber quando diabo o carro a ar comprimido será comercializado em Portugal. A cor favorita é o rosa. A sobremesa preferida é o pudim. Tem alergias. Ao pó, aos ácaros. Tem primos e primos. Tem questões consigo mesma. Nunca experimentou drogas, para sua grande pena, nem um reles charrozito. Não fuma (vide: alergias, em cima), bebe água. Costumava roubar fruta em criança por ser divertido. Gostava dos baloiços. Teve várias paixões. Teve alguns animais de estimação. Gosta de comprar cadernos A4 de folhas quadriculadas e canetas de ponta fina, cuja espessura seja preferencialmente a de 0.1. Aprecia muito a rotring xonox, mas acha-a demasiado cara, porra, vão roubar para a estrada. Sabe que não se pode ter conversas inteligentes com fanáticos, mas em ocasiões raras não se contem – e arrepende-se depois. Acreditou em Deus até aos onze anos. Hoje é agnóstica. Não crê em dogmas. Tem pena que não haja real igualdade entre os sexos. Profere sarcasticamente para si o dito: “O amor é lindo.” de cada vez que lê no jornal a notícia de mais um assassinato de outra mulher perpetuado pelo marido, ex-marido, companheiro, amante ou namorado ou ex-namorado. Só se sente bem com a verdade. Sente que biologicamente a natureza a impediu de aprender a mentir de modo diligente. O mundo é dos espertos, reconhece, com pena, mas depois é de quem?, pergunta-se. Gostava de ser bué rica. Gostava de ter lido muitos livros em pequena, mas não havia dinheiro para livros. se a tal história da reencarnação for séria, já decidiu: será homem na próxima vida. Todo bom, todo giro. Provavelmente gay. E astronauta, se poder ser. Gosta muito do cheiro do pão acabado de fazer. Odeia festas. Preza a liberdade. Não gosta que a obriguem a nada. No passado escreveu poemas. Não durou. Não percebe o porquê de estarmos aqui. Não podíamos aprender de outra maneira? Adivinha comportamentos, intui futuras situações, mais por obra e graça do bom-senso do que por habilidades psíquicas. Mantém para si as sentenças porque não quer arranjar problemas e o “Eu não disse? Eu não te disse?” possui o condão de irritar os outros. É Leão com ascendente em Escorpião e lua em Sagitário. Os escorpiões são muito vingativos. Não a lixem. Ela vai lembrar-se Sempre. Não perdoa – afasta-se. Exige respeito. Abomina secas. É impulsiva. Às vezes perde a paciência. Escreve melhor com raiva. Tem o secreto desejo de um dia ganhar o Nobel. Ou o Ignobel, tanto faz. O Óscar é que não. Tem pena de não ter lido a obra completa de Camilo Castelo Branco na infância. Acha o Brad Pitt uma brasa (o narrador abstém-se de comentar porque é macho, macho absoluto). Considera a lei do aborto em Portugal uma vergonha aviltante. Tem maior simpatia pelos comunas, mas depois lembra-se da Rússia, da Cortina de Ferro, da China e retém a respiração. Sente no mais íntimo de si que o Poder não vale nada, não adianta nada, o único uso que pode ter é o de ajudar o povo, missão eminentemente impossível porque todo o poder corrompe, logo a sua missão principal é por sua vez também corrompida. Às vezes pára para ver insectos no meio do caminho. Ou flores. Ou observar andorinhas.
Está farta de mandar fazer as bainhas às calças. Não sabe croché. Nem malha. Não gosta de arrumar, passar a ferro, limpar vidros. Gosta de ver filmes de terror, mas dos bons. Sonha demais. Pensa demais. Tem demasiados signos no elemento de fogo. Falta-lhe o elemento terra. Tem uma natureza idealista. Mas depois a realidade impõe-se na sua visível crueza e ela suspira, encolhe os ombros e desce a cabeça. Não é romântica. Acha as cenas românticas uma parvoíce. De facto, irritam-na. É céptica e ingénua. À vez. Gostava de saber ler música. Não tem médico de família. Tirou a carta aos vinte e um anos. Não tem irmãos. Tem duas avós vivas. Uma toca bateria nos Xutos e Pontapés. Not. Acha os cuidados da saúde mental em Portugal uma farsa. Não tem grande pachorra para miúdos. Ok: nenhuma. Acha que ser mulher é o mesmo que ter um carro que tem de ir ao mecânico todas as semanas. Dá um trabalhão. Pergunta-se amiúde: como é possível existir tanta gente estúpida neste mundo? Pasma-se. Alegra-se. Alheia-se. Passeia-se. Gosta de passear em grandes espaços verdes, por debaixo da sombra das árvores que, juntas e paralelas, formam avenidas. Gosta de estar sozinha. Sabe ouvir. Às vezes chateia-a que a procurem só para isso. Nasceu em França. Tem familiares e amigos no estrangeiro. Visitou até à data Espanha, França e Suiça. Gosta de saber segredos e de ver os bastidores do que quer que seja. Gosta de conhecer aquilo que não é mostrado ao público. Gosta do fim-de-semana e preferia que durasse três dias. Não vê as novelas da TVI. Nem o Herman. Gostava só de comer comida orgânica. E de ter painéis solares em casa. E um reservatório para armazenar água da chuva. E de aprender a cultivar legumes. Quer ter best-sellers internacionais. Não aprecia gente ruidosa, mal-educada e preconceituosa. Acha a Sheryl Lee um espanto, linda. Gosta de filmes de vampiros. Não tem dvd e tem pena. Não tem telemóvel. Não usa saltos altos. Por causa das costas. E dos entorses. Acha o preço das casas em Portugal um roubo descarado feito às claras. Chega sempre a horas. Ou adiantada. Não gosta de futebol, mas é do Benfica. Adora música. É preguiçosa. Analisando a sua vida sob a perspectiva católica conclui-se que acabará, decerto, no inferno. Acredita nos seres humanos – nas suas falhas. Gostava de conhecer os Neandertais. Adora o Bugs Bunny. Gosta de filmes com legendas e de ouvir as vozes originais. Gosta de tomar banho e de água quente. Quase morreu quando nasceu, não respirava. Começou a falar aos quatro anos. Cortava o cabelo às Tuchas. Na infância gostava de filmes de detectives. Adorava Hitchcok. Não conta muito sobre ela. Esconde bastante. É desconfiada. E paranóica. Já teve mais medo do dentista. Gostava de saber voar. Gosta de ser muito bem tratada. E de estar confortável. Usa óculos. Acha o assassinato de homossexuais por serem homossexuais uma abominação. Acha igualmente abominante o encarceramento de crianças. Estranha as pessoas boas morrerem cedo demais. É egoísta. Dá sangue. Nunca partiu nenhum osso. Não estranha o estado do mundo – só a entristece. Tem um problema nos olhos de que nunca mais se vai livrar, disse o médico ao fim de meses de tratamento. Fixe, pensou ela com cinismo. Acha o sistema de justiça, político e de saúde em Portugal uma farsa. Perpetuada no tempo. Quem é que leu isto tudo até ao fim?
Gosta de livros estranhos, esquisitos. Tem por hábito tomar banho. Tem [teve] um gato que não é [era] dela. Fala de si na terceira pessoa. Gosta da Britney Spears. Do Brad Pitt. Tem ódio mortal a Angeline Jolie por causa do Brad Pitt. Gosta do som e cheiro da chuva. Gosta do som e do cheiro do mar. Pode estar muito tempo, alheada, a olhar para o vazio, sem fazer nada. Não gosta que a chateiem. Detesta que apareçam sem avisar. Tem um grande sentido de justiça. É mais casmurra do que sei lá o quê. Já mencionei que adora o Brad Pitt? Devia ler mais. E escrever também.
Tem pretensões messiânicas. É morena. Tem a pele branca, mas na praia o sol tinge-a de vermelho. Tem dois pares de patins. Não tem certezas políticas, religiosas ou espirituais. Acredita no respeito por todos. Aprendeu na primeira classe que não se responde com “hã?”, mas “diga”. Detesta matemática. Abomina contas. Já apanhou duas multas. Já teve um Opel. Acha que a escola é uma perda de tempo. A escola a sério começa cá fora, considera. Gostava de ter aprendido latim em pequena por causa dos benefícios linguísticos. O seu português, hoje, seria superior. Gostava de ter tido lições de ballet e de piano. Gostava de ter tido o papagaio de cauda vermelha que viu uma vez, em criança. Gostava de ser mais alta. O seu ídolo de infância foi o George Michael, mas congratula-se, em adulta, por não ter sido o Michael Jackson. Basicamente o seu destino, aqui, na Terra, é o de Procurar. Agora o quê – não me perguntem. Eu sou apenas o narrador e estou quase a entrar de férias.
Acredita nas maldições do fogo eterno. Not. Crê-se iluminada, excepto quando a luz falha. Nunca gostou de bife de porco. Quer saber quando diabo o carro a ar comprimido será comercializado em Portugal. A cor favorita é o rosa. A sobremesa preferida é o pudim. Tem alergias. Ao pó, aos ácaros. Tem primos e primos. Tem questões consigo mesma. Nunca experimentou drogas, para sua grande pena, nem um reles charrozito. Não fuma (vide: alergias, em cima), bebe água. Costumava roubar fruta em criança por ser divertido. Gostava dos baloiços. Teve várias paixões. Teve alguns animais de estimação. Gosta de comprar cadernos A4 de folhas quadriculadas e canetas de ponta fina, cuja espessura seja preferencialmente a de 0.1. Aprecia muito a rotring xonox, mas acha-a demasiado cara, porra, vão roubar para a estrada. Sabe que não se pode ter conversas inteligentes com fanáticos, mas em ocasiões raras não se contem – e arrepende-se depois. Acreditou em Deus até aos onze anos. Hoje é agnóstica. Não crê em dogmas. Tem pena que não haja real igualdade entre os sexos. Profere sarcasticamente para si o dito: “O amor é lindo.” de cada vez que lê no jornal a notícia de mais um assassinato de outra mulher perpetuado pelo marido, ex-marido, companheiro, amante ou namorado ou ex-namorado. Só se sente bem com a verdade. Sente que biologicamente a natureza a impediu de aprender a mentir de modo diligente. O mundo é dos espertos, reconhece, com pena, mas depois é de quem?, pergunta-se. Gostava de ser bué rica. Gostava de ter lido muitos livros em pequena, mas não havia dinheiro para livros. se a tal história da reencarnação for séria, já decidiu: será homem na próxima vida. Todo bom, todo giro. Provavelmente gay. E astronauta, se poder ser. Gosta muito do cheiro do pão acabado de fazer. Odeia festas. Preza a liberdade. Não gosta que a obriguem a nada. No passado escreveu poemas. Não durou. Não percebe o porquê de estarmos aqui. Não podíamos aprender de outra maneira? Adivinha comportamentos, intui futuras situações, mais por obra e graça do bom-senso do que por habilidades psíquicas. Mantém para si as sentenças porque não quer arranjar problemas e o “Eu não disse? Eu não te disse?” possui o condão de irritar os outros. É Leão com ascendente em Escorpião e lua em Sagitário. Os escorpiões são muito vingativos. Não a lixem. Ela vai lembrar-se Sempre. Não perdoa – afasta-se. Exige respeito. Abomina secas. É impulsiva. Às vezes perde a paciência. Escreve melhor com raiva. Tem o secreto desejo de um dia ganhar o Nobel. Ou o Ignobel, tanto faz. O Óscar é que não. Tem pena de não ter lido a obra completa de Camilo Castelo Branco na infância. Acha o Brad Pitt uma brasa (o narrador abstém-se de comentar porque é macho, macho absoluto). Considera a lei do aborto em Portugal uma vergonha aviltante. Tem maior simpatia pelos comunas, mas depois lembra-se da Rússia, da Cortina de Ferro, da China e retém a respiração. Sente no mais íntimo de si que o Poder não vale nada, não adianta nada, o único uso que pode ter é o de ajudar o povo, missão eminentemente impossível porque todo o poder corrompe, logo a sua missão principal é por sua vez também corrompida. Às vezes pára para ver insectos no meio do caminho. Ou flores. Ou observar andorinhas.
Está farta de mandar fazer as bainhas às calças. Não sabe croché. Nem malha. Não gosta de arrumar, passar a ferro, limpar vidros. Gosta de ver filmes de terror, mas dos bons. Sonha demais. Pensa demais. Tem demasiados signos no elemento de fogo. Falta-lhe o elemento terra. Tem uma natureza idealista. Mas depois a realidade impõe-se na sua visível crueza e ela suspira, encolhe os ombros e desce a cabeça. Não é romântica. Acha as cenas românticas uma parvoíce. De facto, irritam-na. É céptica e ingénua. À vez. Gostava de saber ler música. Não tem médico de família. Tirou a carta aos vinte e um anos. Não tem irmãos. Tem duas avós vivas. Uma toca bateria nos Xutos e Pontapés. Not. Acha os cuidados da saúde mental em Portugal uma farsa. Não tem grande pachorra para miúdos. Ok: nenhuma. Acha que ser mulher é o mesmo que ter um carro que tem de ir ao mecânico todas as semanas. Dá um trabalhão. Pergunta-se amiúde: como é possível existir tanta gente estúpida neste mundo? Pasma-se. Alegra-se. Alheia-se. Passeia-se. Gosta de passear em grandes espaços verdes, por debaixo da sombra das árvores que, juntas e paralelas, formam avenidas. Gosta de estar sozinha. Sabe ouvir. Às vezes chateia-a que a procurem só para isso. Nasceu em França. Tem familiares e amigos no estrangeiro. Visitou até à data Espanha, França e Suiça. Gosta de saber segredos e de ver os bastidores do que quer que seja. Gosta de conhecer aquilo que não é mostrado ao público. Gosta do fim-de-semana e preferia que durasse três dias. Não vê as novelas da TVI. Nem o Herman. Gostava só de comer comida orgânica. E de ter painéis solares em casa. E um reservatório para armazenar água da chuva. E de aprender a cultivar legumes. Quer ter best-sellers internacionais. Não aprecia gente ruidosa, mal-educada e preconceituosa. Acha a Sheryl Lee um espanto, linda. Gosta de filmes de vampiros. Não tem dvd e tem pena. Não tem telemóvel. Não usa saltos altos. Por causa das costas. E dos entorses. Acha o preço das casas em Portugal um roubo descarado feito às claras. Chega sempre a horas. Ou adiantada. Não gosta de futebol, mas é do Benfica. Adora música. É preguiçosa. Analisando a sua vida sob a perspectiva católica conclui-se que acabará, decerto, no inferno. Acredita nos seres humanos – nas suas falhas. Gostava de conhecer os Neandertais. Adora o Bugs Bunny. Gosta de filmes com legendas e de ouvir as vozes originais. Gosta de tomar banho e de água quente. Quase morreu quando nasceu, não respirava. Começou a falar aos quatro anos. Cortava o cabelo às Tuchas. Na infância gostava de filmes de detectives. Adorava Hitchcok. Não conta muito sobre ela. Esconde bastante. É desconfiada. E paranóica. Já teve mais medo do dentista. Gostava de saber voar. Gosta de ser muito bem tratada. E de estar confortável. Usa óculos. Acha o assassinato de homossexuais por serem homossexuais uma abominação. Acha igualmente abominante o encarceramento de crianças. Estranha as pessoas boas morrerem cedo demais. É egoísta. Dá sangue. Nunca partiu nenhum osso. Não estranha o estado do mundo – só a entristece. Tem um problema nos olhos de que nunca mais se vai livrar, disse o médico ao fim de meses de tratamento. Fixe, pensou ela com cinismo. Acha o sistema de justiça, político e de saúde em Portugal uma farsa. Perpetuada no tempo. Quem é que leu isto tudo até ao fim?
sábado, agosto 13, 2005
Frases com que devíamos brindar todos os dias certas pessoas:
- 'Tão, pá, Ainda Não Te Prenderam?!
Mas com um sorriso, sempre com sorriso.
Todos os dias.
Toda a gente.
Epá, se calhar devia fazer uma petição online.
Tortura psicológica porque castigo a sério nenhum deles o irá sofrer.
Hoje estou azeda. Tenho de pedir desculpa à alma. Ela quer serenidade e ausência de julgamento, mas
eu, pá, eu olho para o meu país e sinto-me incapaz de não sentir raiva e nojo.
Não é justo, penso, quando assisto ao desenrolar de certos acontecimentos.
E depois penso que a justiça, verdadeira, tem seguramente de existir.
Caso contrário a vida não serve para nada.
- 'Tão, pá, Ainda Não Te Prenderam?!
Mas com um sorriso, sempre com sorriso.
Todos os dias.
Toda a gente.
Epá, se calhar devia fazer uma petição online.
Tortura psicológica porque castigo a sério nenhum deles o irá sofrer.
Hoje estou azeda. Tenho de pedir desculpa à alma. Ela quer serenidade e ausência de julgamento, mas
eu, pá, eu olho para o meu país e sinto-me incapaz de não sentir raiva e nojo.
Não é justo, penso, quando assisto ao desenrolar de certos acontecimentos.
E depois penso que a justiça, verdadeira, tem seguramente de existir.
Caso contrário a vida não serve para nada.
E não é que este gajo rebenta com o blog logo agora que decidi linká-lo?
Grande sacana, >:(
Mas que mania esta de apagar o passado.
Grande sacana, >:(
Mas que mania esta de apagar o passado.
Penso
Penso no caso Casa Pia e que a nova ditadura se instala em Portugal e na Europa, brevemente, se não já hoje, seremos presa diária do terrorismo estatal; penso que é bom ter de novo um gato, mesmo que não seja meu e se esquive e não me deixe tocá-lo; penso que já estou farta do ioga e devia regressar aos pesos; penso que sete da manhã é muito cedo para me levantar e que as Sextas e os Sábados são dias óptimos porque não tenho esse problema.
Penso que certa pessoa já devia estar no olho da rua há muito tempo, ou preferencialmente no chilindró; penso que a falta de ética e a falta de verdade explicam o fraco progresso luso (verdade para fora: de nós para os outros; e verdade para dentro: de nós para nós); penso que se calhar o melhor é emigrar, este país daqui a escassos anos será um verdadeiro deserto, um mar de areia de norte a sul. Talvez a solução seja importar nórdicos, os seus valores e princípios morais.
Penso que devia estar a escrever outra coisa que não isto e que devia terminar “A Linha de Sombra” do J. Conrad. Escreve bem, o gajo. Escreves bem, pá!, grito eu para o navio.
Ah – tenho de ir verificar o chá.
Ando a ler também “O Homem que Amava Cerejeiras” de António de Cairu. Fabuloso. Transfusões de chá. Um tipo apaixonado por uma cadeira. Peixes de aquário que falam. Esquisito, como eu gosto. Adoro livros esquisitos. Escrevi um esquisito: “Senhor Bentley, o Enraba-Passarinhos”. (Relembro: sai no próximo ano.) Quero ver se consigo fazer mais livros estranhos. Talvez pôr nele um hipopótamo e levá-lo ao Tamisa. Ou Tejo, por ser mais perto. Num livro antigo inventei uma tartaruga voadora e noutro um dragão que falava à çopinha de maçça, pitosga e apaixonado pela Ponte Vasco da Gama.
Sim, gosto muito de livros esquisitos.
Penso no caso Casa Pia e que a nova ditadura se instala em Portugal e na Europa, brevemente, se não já hoje, seremos presa diária do terrorismo estatal; penso que é bom ter de novo um gato, mesmo que não seja meu e se esquive e não me deixe tocá-lo; penso que já estou farta do ioga e devia regressar aos pesos; penso que sete da manhã é muito cedo para me levantar e que as Sextas e os Sábados são dias óptimos porque não tenho esse problema.
Penso que certa pessoa já devia estar no olho da rua há muito tempo, ou preferencialmente no chilindró; penso que a falta de ética e a falta de verdade explicam o fraco progresso luso (verdade para fora: de nós para os outros; e verdade para dentro: de nós para nós); penso que se calhar o melhor é emigrar, este país daqui a escassos anos será um verdadeiro deserto, um mar de areia de norte a sul. Talvez a solução seja importar nórdicos, os seus valores e princípios morais.
Penso que devia estar a escrever outra coisa que não isto e que devia terminar “A Linha de Sombra” do J. Conrad. Escreve bem, o gajo. Escreves bem, pá!, grito eu para o navio.
Ah – tenho de ir verificar o chá.
Ando a ler também “O Homem que Amava Cerejeiras” de António de Cairu. Fabuloso. Transfusões de chá. Um tipo apaixonado por uma cadeira. Peixes de aquário que falam. Esquisito, como eu gosto. Adoro livros esquisitos. Escrevi um esquisito: “Senhor Bentley, o Enraba-Passarinhos”. (Relembro: sai no próximo ano.) Quero ver se consigo fazer mais livros estranhos. Talvez pôr nele um hipopótamo e levá-lo ao Tamisa. Ou Tejo, por ser mais perto. Num livro antigo inventei uma tartaruga voadora e noutro um dragão que falava à çopinha de maçça, pitosga e apaixonado pela Ponte Vasco da Gama.
Sim, gosto muito de livros esquisitos.
sexta-feira, agosto 12, 2005
Considerações sobre o caso que toda a gente conhece
Já percebi aquilo do HJ. Ele tem uma grande máquina atrás dele. Uma máquina mediática, com muito poder, nascida e criada no poder, por influentes forças políticas, com imensos laços aí por esse Portugal (e não só, presumo). Muita gente de rabo preso, isto na gíria brasileira. Se o HJ cai imagino que terá aversão a cair sozinho. Pode arrastar muita gente com ele para a lama e o opróbrio. Gente poderosa que conhece mais gente poderosa – e nenhum deles gosta da lama, é tudo gente muito limpinha, com fatos limpinhos, BMW’s limpinhos, contas bancárias limpinhas e imaculados princípios éticos (ok, esta última era a gozar). Por isso unem-se, formam uma grande barreira, e por meios mediáticos (já que não há verdadeira concorrência neste país, muito está nas mãos de poucos) laboram na colectiva lavagem cerebral a este povo luso saloio e acrítico.
Acertei?
Sentem-se como ovos em cima do muro, em frágil equilíbrio, portanto atapetam o solo em algodão fofo – não vá o diabo tecê-las e o juiz RT regressar.
Eu realmente devia deixar de ser tão cínica. Faz-me mal ao fígado.
Mas, por outro lado, a exposição anterior não explica a queda irremediável do CC, qual anjo caído do céu. Se safaram um, porque não dois? Safar no sentido de afastar o veemente opróbrio público. A “Máquina” podia apoiá-los a ambos. Porque apenas um continua a ser saloiamente bajulado?
Alguém me explica...?
Já percebi aquilo do HJ. Ele tem uma grande máquina atrás dele. Uma máquina mediática, com muito poder, nascida e criada no poder, por influentes forças políticas, com imensos laços aí por esse Portugal (e não só, presumo). Muita gente de rabo preso, isto na gíria brasileira. Se o HJ cai imagino que terá aversão a cair sozinho. Pode arrastar muita gente com ele para a lama e o opróbrio. Gente poderosa que conhece mais gente poderosa – e nenhum deles gosta da lama, é tudo gente muito limpinha, com fatos limpinhos, BMW’s limpinhos, contas bancárias limpinhas e imaculados princípios éticos (ok, esta última era a gozar). Por isso unem-se, formam uma grande barreira, e por meios mediáticos (já que não há verdadeira concorrência neste país, muito está nas mãos de poucos) laboram na colectiva lavagem cerebral a este povo luso saloio e acrítico.
Acertei?
Sentem-se como ovos em cima do muro, em frágil equilíbrio, portanto atapetam o solo em algodão fofo – não vá o diabo tecê-las e o juiz RT regressar.
Eu realmente devia deixar de ser tão cínica. Faz-me mal ao fígado.
Mas, por outro lado, a exposição anterior não explica a queda irremediável do CC, qual anjo caído do céu. Se safaram um, porque não dois? Safar no sentido de afastar o veemente opróbrio público. A “Máquina” podia apoiá-los a ambos. Porque apenas um continua a ser saloiamente bajulado?
Alguém me explica...?
quinta-feira, agosto 11, 2005
Eu não percebo como é que o Herman José se tem safado do repúdio público generalizado.
Porquê?
E depois há estas merdas.
Raio de país.
==============
Bom, notícia pessoal.
Tenho um gato. É capaz de ser uma gata.
Quer dizer, não é bem meu (ou minha). Apareceu por cá com fome. Dou-lhe comida e abrigo à noite. Não se deixa tocar. Tem medo. Foge. Mas come a comida toda, o sacana.
Nem uma festinha lhe posso fazer.
Não acho o acordo lá muito justo >:(
Quer dizer, eu dou-lhe comida, água, um sítio para dormir e ele - não me dá nada.
Ai... *suspiro*
Porquê?
E depois há estas merdas.
Raio de país.
==============
Bom, notícia pessoal.
Tenho um gato. É capaz de ser uma gata.
Quer dizer, não é bem meu (ou minha). Apareceu por cá com fome. Dou-lhe comida e abrigo à noite. Não se deixa tocar. Tem medo. Foge. Mas come a comida toda, o sacana.
Nem uma festinha lhe posso fazer.
Não acho o acordo lá muito justo >:(
Quer dizer, eu dou-lhe comida, água, um sítio para dormir e ele - não me dá nada.
Ai... *suspiro*
quarta-feira, agosto 10, 2005
sexta-feira, agosto 05, 2005
E Se...
E se o nosso amor fosse todo feito de nuvens, das brancas e impolutas, que se desfazem no céu pela acção do vento brando, que nos tocam o rosto sem as sentirmos e se dividem no vazio em pedaços ínfimos, invisíveis a olho nu?, pergunta ela.
Parvoíce, diz ele. É impossível que este amor não seja assim para sempre.
Não creio. Ainda ontem o teu olhar divagou quando estavas perto de mim, quando nunca divagara antes. E nem foi pousar numas pernas, belas, jovens, desconhecidas, mas no nada e depois deslizou para o horizonte. Creio que se deslocou para longe, para a última rocha à saída do porto, aquela que mata os navios, os arromba, que lhes estraçalha o casco, mesmo os duros e fortes. Mesmo os impenetráveis e invencíveis. Como o Titanic.
E se as flores como os lilases, continua ela, caíssem à nossa volta, não teriam perfume, não teriam cor, nem textura. O seu brilho esmaecido reflectiria o nosso. Eu lembro-me do tempo em que os teus olhos eram pérolas brancas a olhar para mim, diz ela. Pérolas líquidas como se o mar jorrasse sémen marítimo na minha pele branca. Mas o brilho dos teus olhos ofuscava-a, tinha uma brancura superior.
[Escrito ontem, no trabalho, num momento de pausa. É pena serem tão breves... :/ ]
E se o nosso amor fosse todo feito de nuvens, das brancas e impolutas, que se desfazem no céu pela acção do vento brando, que nos tocam o rosto sem as sentirmos e se dividem no vazio em pedaços ínfimos, invisíveis a olho nu?, pergunta ela.
Parvoíce, diz ele. É impossível que este amor não seja assim para sempre.
Não creio. Ainda ontem o teu olhar divagou quando estavas perto de mim, quando nunca divagara antes. E nem foi pousar numas pernas, belas, jovens, desconhecidas, mas no nada e depois deslizou para o horizonte. Creio que se deslocou para longe, para a última rocha à saída do porto, aquela que mata os navios, os arromba, que lhes estraçalha o casco, mesmo os duros e fortes. Mesmo os impenetráveis e invencíveis. Como o Titanic.
E se as flores como os lilases, continua ela, caíssem à nossa volta, não teriam perfume, não teriam cor, nem textura. O seu brilho esmaecido reflectiria o nosso. Eu lembro-me do tempo em que os teus olhos eram pérolas brancas a olhar para mim, diz ela. Pérolas líquidas como se o mar jorrasse sémen marítimo na minha pele branca. Mas o brilho dos teus olhos ofuscava-a, tinha uma brancura superior.
[Escrito ontem, no trabalho, num momento de pausa. É pena serem tão breves... :/ ]
segunda-feira, agosto 01, 2005
Subscrever:
Mensagens (Atom)