sexta-feira, agosto 05, 2005

E Se...


E se o nosso amor fosse todo feito de nuvens, das brancas e impolutas, que se desfazem no céu pela acção do vento brando, que nos tocam o rosto sem as sentirmos e se dividem no vazio em pedaços ínfimos, invisíveis a olho nu?, pergunta ela.
Parvoíce, diz ele. É impossível que este amor não seja assim para sempre.
Não creio. Ainda ontem o teu olhar divagou quando estavas perto de mim, quando nunca divagara antes. E nem foi pousar numas pernas, belas, jovens, desconhecidas, mas no nada e depois deslizou para o horizonte. Creio que se deslocou para longe, para a última rocha à saída do porto, aquela que mata os navios, os arromba, que lhes estraçalha o casco, mesmo os duros e fortes. Mesmo os impenetráveis e invencíveis. Como o Titanic.
E se as flores como os lilases, continua ela, caíssem à nossa volta, não teriam perfume, não teriam cor, nem textura. O seu brilho esmaecido reflectiria o nosso. Eu lembro-me do tempo em que os teus olhos eram pérolas brancas a olhar para mim, diz ela. Pérolas líquidas como se o mar jorrasse sémen marítimo na minha pele branca. Mas o brilho dos teus olhos ofuscava-a, tinha uma brancura superior.

[Escrito ontem, no trabalho, num momento de pausa. É pena serem tão breves... :/ ]

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