sábado, setembro 17, 2005

Este poema exemplifica o Inverso daquilo que eu sinto hoje :)
[Tenho de passar mais vezes pelo #poesia.]


Reservado ao Veneno


Hoje é um dia reservado ao veneno
e às pequeninas coisas
teias de aranha filigranas de cólera
restos de pulmão onde corre o marfim
é um dia perfeitamente para cães
alguém deu à manivela para nascer o sol
circular o mau hálito esta cinza nos olhos
alguém que não percebia nada de comércio
lançou no mercado esta ferrugem
hoje não é a mesma coisa
que um búzio para ouvir o coração
não é um dia no seu eixo
não é para pessoas
é um dia ao nível do verniz e dos punhais
e esta noite
uma cratera para boémios
não é uma pátria
não é esta noite que é uma pátria
é um dia a mais ou a menos na alma
como chumbo derretido na garganta
um peixe nos ouvidos
uma zona de lava
hoje é um dia de túneis e alçapões de luxo
com sirenes ao crepúsculo
a trezentos anos do amor a trezentos da morte
a outro dia como este do asfalto e do sangue
hoje não é um dia para fazer a barba
não é um dia para homens
não é para palavras



António José Forte



Hoje fui a uma exposição de gravuras, à Galeria Diferença ali ao Rato. Gostei muito.

E mais outro poema, porque este é tão bonito (e eu devia estar a fazer o jantar e a escrever e a pensar em arranjar novo emprego, mas não quero, sobretudo a última coisa).


Quando à noite desfolho e trinco as rosas
É como se prendesse entre meus dentes
Todo o luar das noites transparentes,
Todo o fulgor das tardes luminosas,
O vento bailador das Primaveras,
A doce amargura dos poentes,
E a exaltação de todas as esperas.


Sophia de Mello B. Andresen

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