quarta-feira, novembro 30, 2005

[Da série: expressões de que eu gosto.]
Cabelinho assim à foda-se.
[Agrada-me. É gira.]

Era uma vez um país que, a não existir, teria de ser inventado. De facto foi-o por um gajo com o cabelinho assim à foda-se de nome Eça. A sério, o Eça inventou esta merda toda. E o bigodinho, fáxavor, bem bonito. O singelo bigodudo inventou um país onde a censura se faz pelo bolso, tendo-o largo, fundo e cheio a malta, inocente ou culpada, safa-se ao justo ou injusto castigo. O gajo do cabelinho assim à foda-se esmerou-se, concedamos. A censura pelo bolso limita o aparecimento de ovelhas negras e tresmalhadas, ou melhor, sejamos precisos, caneco, impede que tais ovinos fujam e formem um rebanho só seu e que esse, pouco a pouco, incorpore os mé-més do apático rebanho original. (Não sabemos se nos fazemos entender, esperamos que sim.)
No tal país inventado (cujo nome no momento nos escapa, ai, o queijinho, o queijinho) acordou certo dia um gajo morto. Não moribundo, não comatoso, mas morto, tão defunto, tão cadavericamente passado como um ovo cozido. Porém via e ouvia e sentia e movia-se ainda. Não entraremos em suposições cósmicas nem científicas. Estava morto, mas vivia e era tudo.
O chato, pensou o morto defunto caminhando vivo em direcção ao Chiado, lá em cima onde há pombos e turistas e igrejas, é que te amava antes de te conhecer e de cair morto e talvez seja isso que me impeça a morte plena porque te amo ainda, gosto de ti, gosto gosto muito de ti, nunca to disse, caminho, fétido, fedorento, malcheiroso porque me anima o corpo a missão incompleta do amor.

(O morto por esta altura do relato merecia nome, simplesmente não o descobrimos - o ficheiro foi mal arquivado. Agradecemos sugestões. Ele tem considerações que de facto a nada conduzem, que importa a razão porque, morto, caminha? Conjecturará mil hipóteses e, independentemente da sua justeza ou não, elas carecem de importância.)

Talvez também o seu caso esteja mal arquivado nos computadores do São Pedro que, é provável, usa o Windows; talvez deus e o demónio estejam a jogar aos dados, competindo pela sua alma e um jogo destes dura milénios, no mínimo; talvez esteja destinado a salvar o mundo antes que esta merda vá toda para o galheiro. São, no todo, considerações que não nos merecem atenção.

Vou ao médico, às urgências, terão sentença para o meu caso, pensou. Pois. Que vá, que vá às urgências do São José. O certo é encontrar um aumento nas taxas moderadoras que farão muitos utentes comer massa com massa durante uma semana. Ele não, é gajo de bom salário e tem economias.

(Talvez fosse castigo, praga, mau-olhado, mas não debateremos tais possibilidades. Ele que conjecture por aí à vontade.)

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