:: Esta é para ti Neblinazul ;) ::
Talvez através da mentira da arte (ou do embuste?) se possa ver melhor (descortinar, intuir) a verdade da vida. A arte ou o exercício artístico é insight (discernimento intuitivo). Just go with the flow. É deixarmo-nos transportar pelo rio sem tentar controlar o destino final, a direcção.
Suponho que a arte (ou o exercício dela ou a tentativa do seu exercício) engloba tudo – incluindo preconceitos. Agora que penso nisso... algo construído através do véu do preconceito talvez, ainda assim, seja arte. Os criadores/autores não conseguem ser totalmente isentos quando criam/escrevem/pintam/fotografam, etc. Não se pode extirpar o preconceito, as ideias preconcebidas, da arte porque, desconfio, estaríamos em simultâneo a extirpar a arte da arte. Há que aceitar tudo (presumo). Take me as I am or don’t take me. Quem é que me disse uma vez que Eça de Queiroz tratava as mulheres muito mal? (Lembrete: cortar no queijo.) E porém, Eça persiste em nós e nós persistimos em lê-lo. Criador não é santo embora por vezes tenha intuições iluminadas.
Para mim arte é também mentira pois é nela que inteiramente nos podemos expressar, sem medos (ou com receios atenuados) do julgamento social. Se tirar a parte negativa de mim, o que de mim fica? Como me posso expressar sem ela? Eu preciso do negativo, da mentira, do logro. Da fábula. Ou, quem sabe, necessito sublimá-los pelo exercício da escrita.
Ying and yang, um não existe sem o outro. A complementaridade dos opostos. Duas faces da mesma moeda (e não me lembro de mais clichés).
O exercício da arte engloba tudo, tudo aceita. Melhor: aceita-nos por completo. Não é admissível socialmente rapinar carteiras no Metro, mas podemos pintar um quadro irónico em que a simpatia do autor vai para o ladrão das carteiras. Ele por isso não é preso. (Não sei se me explico como deve ser.)
Quanto ao resto, quanto ao que vem depois. Depois da obra estar terminada e pronta a ser re-criada pelo observador; depois da obra já não ser nossa e estar disponível aos olhos e julgamento do mundo. Tudo isso, em sentido estrito, é ruído. Bom ou mau, não importa. Elogio ou censura, não interessa. O julgamento do mundo, dos nossos pares, é ruído. Cheguei a esta conclusão há já algum tempo, todavia não consigo consolidá-la no meu peito. Está-me presente no juízo, na cabeça, e muitas vezes tenho de parar (com as lamúrias e as queixas) e recordar-me disto. Tenho de centrar-me. Eu sei que o olhar exterior não é relevante. Aquele momento único – o da criação – já passou e nele não havia espaço para mais nada nem mais ninguém. Mas ainda não possuo a sabedoria para me livrar da avidez (o desejo da fama, da massa, all of that, hehehe...). Quiçá um dia lá chegue... talvez...
A abstracção total aos juízos que tecem sobre a nossa obra é, considero, algo, não digo essencial, mas conveniente à criação mais isenta e mais pura. Ao exercício artístico mais puro possível. Não são a honraria e os louvores (ou críticas) exteriores que nos fazem avançar. Não é isso (no, not that). Logo, não será isso que nos deve ocupar, tomar o nosso tempo, atenção e recursos emocionais.
Não possuo essa abstracção, embora a deseje. Porém ainda não a quero tanto como quero o ruído. Enfim, é a juventude... lol ;)
Portanto, que se lixem as redomas onde nos fecham e classificam; que se danem os exames preconceituosos com que nos julgam (ao observador também é necessária a tal abstracção, pois ele é co-criador da obra pelo simples acto de a observar). Somos superiores a isso. Temos de ser. Continuo a afirmar: não olhar para os lados. Just do your thing. O resto que se coza.
P.S. Sim, a nível intelectual, de raciocínio, parece simples, mas na prática a conversa é outra (infelizmente).
P.S2 Acho que o meu gato é uma gata (*sigh*). Burra, burra, burra que eu sou! Como é que não diferencio um gato de uma gata?! A confirmar-se o facto terei de arranjar um primeiro nome para o/a (?!?) Queiroz.
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