quarta-feira, agosto 21, 2002

Porque é que veneramos mais a arte do que os homens? Será apenas impressão minha? Respeitaremos, de facto, mais a vida humana do que uma obra artística?

Pergunto-me o que teria acontecido se o General von Choltitz tivesse obedecido às ordens de Hitler e reduzido Paris a cinzas.

('Hitler contata o General Choltitz, ordenando que ele destrua as pontes sobre o Sena, para dificultar a invasão dos aliados, os quais, para acudir os guerrilheiros em perigo, apressavam a marcha sobre Paris. Choltitz, argumentando que a destruição das pontes deixaria os próprios alemães bloqueados na cidade, convence o Alto Comando Alemão a revogar a determinação.
E, depois, ignora outra ordem do ditador nazista para incendiar Paris, "transformando a cidade em um monte de ruínas". Choltitz informa Berlim que havia mandado colocar toneladas de explosivos em locais importantes como o Louvre, a Notre-Dame, os Inválidos e a Torre Eiffel. Mas não faz nada disso. Na realidade, o general alemão, que nunca fora adepto do nazismo, admirava a beleza da capital francesa e, num gesto de bravura, prefere correr o risco de incidir na ira do Fuhrer, a destruir Paris.')


(Ver também este link.)

Quase – quase – aposto que a demonização (esta palavra existe...?) dos alemães seria superior e ainda hoje presente. Tenho a certeza que os odiaríamos desmesuradamente (hoje!) por isso e não pelos milhões de vidas humanas que pereceram nos campos de extermínio.

Estou quase segura que a entrada em França de qualquer cidadão de nacionalidade alemã seria proibida. (Ok, estou no reino da fantasia, porém...)
Será que me engano ou o nosso ódio é maior quando alguém destrói uma obra de arte e não quando comete homicídio? Não sou exactamente imparcial na matéria, quiçá exagere, me engane.
Todavia, se estiver certa... porquê?

Porque o homem morre e a obra fica. Porque, de divino e imortal, o homem só tem a arte. Ele é imortal na medida em que a obra artística é rememorada pelas gerações vindouras. Logo, conclusão (bué facciosa): destruindo a arte destrói-se a parte humana que é divina. Cometo heresia acrescentando: ao aniquilar-se a Arte aniquila-se Deus. (O Deus que em nós se expressa artísticamente.)

(Ok, ok, estava a lavar a loiça quando estas ideias me ocorreram, façam o favor de dar o devido desconto.)

[Ouvindo (over and over again) ‘Left of Center’ de Suzane Veja.]
[Género do gato. Update: nada a acrescentar. Ainda em branco. É gato? É gata...? Gente não é certamente e a chuva não bate assim. Já tentei ver, mas ele/a não deixa...]

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