domingo, junho 08, 2003
:: A amizade é o amor que se escolhe ::
Qual é o valor da amizade? Porque é que escolhemos os amigos que escolhemos? Escolhemos de facto na amizade como não podemos escolher no amor? Existe lá coisa como “amizade à primeira vista”? Escolhemos os amigos por mera identificação de gostos e carácter? Gosto dele porque ele aprecia as mesmas coisas que eu? Podemos dar-nos ao luxo da racionalidade, da lógica, na escolha (a frio?) dos amigos?
Valorizo muito a lealdade. Tenho o defeito de exigir dos outros aquilo que dou, mesmo que os outros não o peçam. (Parto do pressuposto que a reciprocidade está implícita no contrato silencioso de estima mútua). Não traio – exijo idêntico tratamento. Ajudo – exijo ajuda quando for caso disso. Sou leal – exijo lealdade. É assim que eu sou – e dou imensas chances aos amigos quando estes não me tratam do mesmo modo, da maneira como eu os trato.
Claro que a paciência tem limites. E a minha estica-se, às vezes, anos a fio. Sou leal, repito.
Há pessoas, porém, que não toleram a falta irreparável. Não digo a primeira falta, falha, mas a falta irreparável. Tanto pode ser a primeira a ser cometida como a última após anos de amizade sólida. Há pessoas assim. E não as recrimino.
A falta irreparável pode ser mínima, não passar de um insulto pueril a olhos alheios, mas ser grave e inadmissível para quem a sofre na pele. O amigo tem a responsabilidade (assente no contrato silencioso da amizade) de conhecer quais são as faltas irreparáveis e jamais as cometer sob pena de perder o amigo. A falta irreparável pode ser feita por outros – mas jamais tolerada pelo amigo sincero.
Os amigos são para as ocasiões. Os amigos têm de estar ao nosso lado. Aos amigos perdoa-se tudo – menos a ausência de amizade. Eu escolhi-te. Tu escolheste-me. Escolhemo-nos ambos, no meio de milhões de anónimos. Racionalmente entregámos o coração aberto um ao outro. (Ou, pelo menos, a esperança desse coração aberto.) Racionalmente escolhemos amar-nos. E, é incrível, mas este amor racional, lógico, frio na essência (ou morno) – resultou. Tinhas a responsabilidade de me conheceres, assumiste o compromisso de não me magoares. Se ficas ao lado de terceiros que escolhem ferir-me – então és igual a eles e não és meu amigo.
E pronto. Partilhei convosco a minha ideia da amizade.
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