domingo, junho 15, 2003


Vi na têvê García Márquez falando sobre livros e literatura. Disse mais ou menos isto: a função do livro é hipnotizar o leitor.
Hipnotizar. Jamais o pensara dessa forma. E como hipnotizava ele? Não quebrando o ritmo da frase. Se preciso acrescentava um adjectivo ou dois para a manter equilibrada.
Acrescentar adjectivos? Olha, essa é nova! E eu a pensar que devíamos fugir deles como o diabo foge da cruz! Que só o verbo é senhor e mestre na escrita!
De súbito, penso: não ter medo dos adjectivos.
Não ter medo dos adjectivos.
Quanto mais oiço os escritores a falar sobre a sua obra ou como se escreve, mais sei que não os devo ouvir porque todos se contradizem. E todavia oiço. E todavia me surpreendo (e aprendo).
Paradoxos. Contradições. A escrita tudo aceita.
Adjectivos, disseste, camarada? Hum... a experimentar (a experimentar deveras).

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