sábado, outubro 28, 2006

No Call-Center

No Call-center, 4ª-feira, 25 Outubro

Os fones por costume são revestidos de espuma, hábito que nem todos os call-centers onde trabalhei tinham. Num obrigavam a pagar a esponjinha: 1,5 euros. Nunca paguei.

Hoje pela 1ª vez encontrei os meus fones sem elas. Fui a outro posto e resolvi a situação. Hoje o meu colega abifou-me o meu posto preferido. Tinha na ideia de que, por estar mais ou menos encoberto, podia comer à vontade. A supervisora já o desenganou. Amanhã recupero-o, adivinho.

São 18h23 e o sistema está em baixo. Olarilólelas!

Fui à biblioteca de Loures e requisitei alguns livros. Espero ter tempo para lê-los a todos (e ainda não recebi). Mal receba vou naturalmente render-me à excentricidade banal de ir jantar a um restaurante caro e selecto (not).

Vários colegas meus não aparecem há dias. Rotatividade, a palavra de ordem nos call-centers. Termo eufemístico que designa o facto de ninguém se aguentar nestas coisas mais que um mês.

E que não me mandem ao intervalo agora, nem pensem!

Há montes de tempo que não escrevo para o blog. Ando a fazer umas cartas de apresentação todas maradas para enviar a possíveis empregadores. Já me estou a lixar para o ridículo (grande e pequeno, o português teme mais o pequeno). O estômago, meus lindos, tem mais força que o Sentido de Ridículo (sub variante lusa). Deus, como odeio call-centers... Cada vez que penso que em Espanha receberia 3 vezes mais...! Fico. Piursa. O bom neste é que a hora certa não significa exactamente a hora certa...

Quem estuda não pode trabalhar num sítio destes a não ser que trabalhe para o chumbo.

E os que trabalham 8h por dia E ainda vêm para isto? Como aguentam? (Eu comigo seria só a dose cavalar de barbitúricos e anti depressivos.) Jesus, eu rebentava. Chego à segunda-feira a contar os dias para o fim-de-semana. Triste. Se calhar ainda emigro para Espanha, ah, ah, ah!

Hoje também a minha editora (Saída de Emergência) deu-me conta dos livros do Sr. Bentley vendidos de Janeiro até agora. Poucos 0_o A MJ tentou animar-me dizendo que quem lê adora, mas... não sei se é a minha veia materialista, isso para mim não é o bastante. Quero ser um sucesso à escala planetária :p Quero o Sr. Bentley a fazer patifarias em grego, russo, japonês, francês, alemão, mandarim, inglês e klingon.

Pensava que os exemplares vendidos tivessem sido mais, mas... Com caraças, tenho de escrever uma Bomba! (Salvo seja.) Fixe: 18h33. No Bes, na Expo, também não eram raras as alturas em que o sistema ia abaixo, hehe. Aproveita-se para se ser criativo!

Mantra quotidiano: ArranjarOutraCoisa, ArranjarOutraCoisa.

OOOOOMMMMMM. /zen mode

*

Não tenho andado a ver as notícias. A Coreia do Sul ainda está no mesmo sítio? E a do Norte, radiation free? Estão prestes a sair do Iraque ou a quota dos caixões (de ambos os lados) não foi ainda preenchida? Ah, pois, os objectivos. Porventura há gratificação por atingi-los. Quando saírem do Iraque não vai ser bonito? Toda a malta remanescente a matar toda a malta remanescente (os que não se podem pirar). Eu acho a religião muito bonita. Sagrada. Por isso não lhe toco. Deixá-la às sumidades que se têm de entreter com algo. (Ai, porra, dói-me as costas.)

(Amanhã já é Quiiiinta e depois Seeeextaaa. Eu não digo? Triste :/ )

E o povo português, tudo na mesma...? Ainda há croissants em stock, deduzo.

E nem se pode navegar! Via os mails, o blog, as mensagens nos fóruns.

18h43!! Deus: embora não acredite inteiramente em ti, agradeço-te a generosidade (mas sei bem que se deve a estratégia de marketing: oferecer uma “prenda” para angariar “cliente” assíduo. Mas assim não me apanhas. Vê lá é se melhoras o serviço). Às vezes peço: por favor, hoje uma hora sem fazer nada! O Gajo ouviu. Obrigada! Mas não me ponhas a bulir em duplicado amanhã, ok? >:(

Amanhã: hospital, consulta, olhos. O problema anda controlado, desde que ponha na vista o líquido todos os dias. Dantes não tinha este problema, simplesmente apareceu vindo de nenhures. E o raio das costas. Começo a perceber esta coisa de “ser velho”, de caminhar para “velho”. E eu a pensar que era uma lenda urbana.

Bem, vou acabar de ler o livro que trouxe. (18h48)

Fim: 19h23. Foi curta a festa.

Quinta-Feira, 26 Outubro

Levantei-me às 6h. Li. Bebi chá. Tomei banho, arranjei-me e ala para o Hospital de São José. Cheguei cerca das 9h06 e fui atendida ao balcão às 9h35. Agora são 10h, li mais um bocado e espero que me chamem. A consulta era às 9h. ´Tá bem. Noutro país qualquer 9h significa 9 e significa consulta mesmo e não os prelúdios para a consulta.

O gozo que me dá no guichet, quando me pedem 4 euros e tal pela consulta (os preliminares da dita), dizer:

- Sou dadora de sangue - e mostro o papelito. Tenho de andar com o raio do papelito de um lado para o outro. Podia confessar que sou apenas dadora de sangue só para não pagar as putas das taxas moderadoras - mas não seria inteiramente verdade. Desde os 18 anos que ando com a pancada de dar sangue, embora só tenha começado mais tarde. É uma coisa simples e prática de fazer para ajudar os outros. Não é preciso ir para o sub continente indiano ajudar criancinhas pobres.

A sala de espera tem mais cadeiras vazias. O quadro pisca os números e apita na mudança. Os doentes esperam em pé ou sentados com os olhos postos no visor dos números e de cara fechada. Uma pessoa só de estar cá à seca ainda fica mais doente.

- Pi-pi - senha 190, balcão 2.

“Consulta de otorrino, 1º andar.”

- Puuu.

“Dona Julieta N., sala 32, 1º andar.”

Malta na maioria de meia-idade, a esperar com enfado, encasacada, a segurar chapéus-de-chuva. Não há quem leia um livro. Conversam com ligeiro tédio e queixam-se. Nem fazem malha ou crochet.

Bom, já estão a chamar para a oftalmologia há algum tempo, mais um pouco e devo ouvir o meu nome.

27 Outubro

Ontem o meu pai:

- Estou a ouvir uma entrevista do António Lobo Antunes. Ele não é maluco?!

- Bom, quer dizer, acho que não. Sei que é médico psiquiatra.

- A mim parece-me maluco!

Lol.

Ah, hoje recebi “O Escritor” nº 21 da Associação Portuguesa de Escritores. Até me sinto culpada porque já não pago as quotas há uma data de tempo (ok: anos). Parece ter textos interessantes.

Bom, ganhar coragem para ir ganhar o suado tostão :/

(Na próxima encarnação vou ser rica como o caneco - ou ter uma imensa horta fértil onde cultivar.)

*

Novamente festa! Primeiro uma osga desencaminhada causou por cá certa comoção. As meninas a comportarem-se como meninas (gritinhos, puxar de cadeiras, afastamento do posto), chamando os homens para resolver o assunto. Um colega de barba rija, após várias tentativas falhadas, apanhou a diminuta (Meu Deus, que Monstro!) osga e transportou-a novamente à sua condição de info-excluída, ao exterior do edifício.

Depois o sistema foi abaixo. Ó. Que. GRANDE. Pena a minha.

São 18h47 e ainda não retornou ao normal. Alguns colegas, porém, estão a fazer outra campanha. Menos a je :p

Acho que sou capaz de ficar neste emprego mais tempo, com estas folgas todas...

(Já sei o que é que os economistas e políticos da treta estão a pensar: - Ah, meu Deus, assim a Pátria Não Avança!

E a minha resposta: - Talvez avançasse mais se me Pagassem Como Deve Ser!

Adiante.)

Ainda não me sai da testa a ideia que tudo não passa de uma elaborada campanha de marketing do Gajo lá de Cima, com o intuito de me angariar – e manter-me - como cliente. É que Não Me Apanhas, ó Barbichas! É preciso mais do que isto para me levar ao rebanho novamente.

10 para as 19h. Aproveitei e li parte d’ “A Epopeia de Mr. Skullion” de Tom Sharpe (título original: Porterhouse Blue). Vou a meio. Há uma cena hilariante. Mete preservativos cheios de gás, uma chaminé e uma fria noite de neve – e um gajo estupidamente embriagado com uma pancada pela criada de quarto, a porcina Mrs. Biggs, que se tenta livrar dos 250 preservativos cheios gás pela chaminé acima.

Recomendo a obra.

*

Só falta uma hora para o fim-de-semana.

[Eu não digo: triste :/ ]

O único “trabalho” onde me sinto razoavelmente satisfeita é o da escrita. As horas passam, a escrever à mão, a passar a limpo a computador, a imprimir, a corrigir e novamente a imprimir. Passam sem que eu dê por elas. Olho o relógio e penso: já? E ainda tenho de fazer compras e arrumações e pôr a máquina a lavar e passar a ferro. E alimentar a periquita (assassina do próprio marido, periquito branco lindo, mas isso já lá vai e eu quase a perdoei).

28 de Outubro

Senhores jornalistas, para quando uma Reportagem de Fundo sobre as condições de trabalho - e salários - nos call-centers? E já agora comparando com os do estrangeiro.

/Dunya out



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