terça-feira, setembro 01, 2009

MÁGICO/ QUATRO DE ESPADAS



4/365 collages : cliPrincess, originally uploaded by kelle.emese.


O mapa do Valete de Pentaclos levou-o até ao bosque. No interior descobriu a muralha de pedra. Manipulou o mecanismo certo e eis que uma pequena abertura na muralha se revela. O Mágico arrasta-se por ela durante uma hora em total escuridão até alcançar a saída e o sol lhe queimar os olhos. O Rei de Pentaclos não fora parvo. Escolhera justo o antigo lugar das lendas, aquele onde ninguém se atrevia a ir, tal era o medo e o respeito. Histórias antigas falavam de dragões cuspidores de veneno, bruxas, fantasmas esfomeados, mortos-vivos. Porém tudo o que o Mágico encontrou foi um Príncipe Adormecido. Pelas roupas há séculos que ali devia estar no estado de suspensão animada. Era muito bonito. Tinha o cabelo loiro, como o Louco. Uns belos lábios vermelhos. Esfregou os olhos. Não havia tempo para isto. Notou quatro espadas a ornamentarem a urna transparente. Prontas para uma batalha invisível, mas neste momento a descansarem, também elas, das penas da vida. Quantas teriam saboreado o sangue de fogo dos antigos dragões? E será que, despertas, recordariam, ávidas, a sede do mesmo sangue?

Avançou até à gruta, perto. No interior viu ossos desconexos. Ao alto, numa plataforma, viu o que devia ter sido o último dragão: os ossos estavam miraculosamente intactos e ainda juntos numa quase abominável assombração para quem tivesse medo - não o caso do Mágico.

À sua frente, abaixo da plataforma, estendia-se o tesouro do Rei, por câmaras e câmaras que violavam o interior da montanha. O Mágico ignorou cada pedra valiosa, cada ceptro de ouro, cada saco de moedas e passou adiante, até à base da plataforma. Trepou até ao cimo e alcançou o velho esqueleto do idoso dragão. Deve ter vivido mais de quatrocentos anos, pensou ao analisar os ossos. Com uma faca de diamante, que roubara décadas atrás a um idoso feiticeiro com quem dormira uma noite, ralou parte do osso para dentro de uma caixa minúscula que guardou na bainha do pesado manto. No fim voltou as costas àquele portento e retornou pelo mesmo caminho. Ao passar pelo Príncipe Adormecido sentiu-se tentado a quebrar a urna com um golpe seco de mão e a acordá-lo com um beijo apaixonado, mas deteve-se.
"Não eu. Não serei eu a acordá-lo."
Do lado de fora, já no bosque, respirou fundo e pensou que neste momento o rapazote devia estar a acordar com uma bela ressaca.

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