sábado, março 12, 2005

2º capítulo d'A Imortalidade

-2-

- Como é que saímos daqui? Como é que saímos daqui!
Sem me olhar diz:
-Não saímos. Sem a chave não saímos.
- Tem de haver outra maneira! Tem de haver.
Lentamente ergue-se. Vejo-lhe os olhos vermelhos inchados, sem lágrimas e o vestido não tão chique quanto havia pensado antes. O rápido olhar que lhe deitara fora mais influenciado pelo deslumbrante quadro que ela compunha do que pelo vestido ele próprio. Noto rasgos e sujidade que a cor disfarça. Pergunto porque está ali. Não me responde. Quem a prendeu e quem levou a chave – levanta os ombros, desinteressada. Arrasta os pés até ao fim da cela e escorrega parede abaixo. Não percebo a atitude. Também eu preciso de ajuda. Revelo o meu nome e o ter caído acidentalmente por um tubo abaixo. Também foi assim com ela, pergunto.
- Não me lembro – diz em idêntico tom desapegado.
A luminosidade é escassa. Do interior da prisão distingo-lhe o perfil e nada mais.
Caminho em direcção ao fundo, no sentido contrário ao sítio onde a chave era suposto estar. Há luz ao longo do corredor, até certo ponto. Este termina num buraco negro, uma boca lúgubre que me pode engolir. No ar sente-se o cheiro a diluído mofo e a ar fresco, o que me intriga. Se há ar fresco deve existir uma saída. Nem que seja uma conduta, mesmo estreita. Antes de entrar na cratera sombria (para onde fui a lentos passos felinos), apercebo-me que não há ruídos, excepto por uma espécie de fundo branco, cenário onde actua a minha respiração entrecortada.
E a dela?
(cont.)

Concorram também ao desafio Narrativa de Ficção. Vá lá, 20 mil palavras não é assim tão difícil.

A mim só me falta um bocadiiiinho ;)