domingo, março 27, 2005

Faz de conta que ninguem me lê. Faz de conta. Tornemos ao velho método, o que me safa. Escrever sem pensar, pôr as mãos no teclado (hoje é o teclado e são as mãos, a caneta está na mesa, não quero gastar a tinta). Até me dou ao luxo supremo de voltar atrás e corrigir. No nanowrimo de Novembro farei as 50 mil palavras a computador ou à mão? Logo verei. Se for à mão não terei tempo de passar o livro a pc nesse mês. Não dormia. Andava feito zombie pela rua.

Detesto todos os livros que já escrevi - menos o último. O último é sempre o melhor. Depois escrevo outro e passo a detestar também o anterior. Parece-me que evoluo aos soluços, pouco a pouco. Coisas que não me escapam hoje passavam-me a mil à hora pela vista sem que as notasse. Excesso de que's, excesso de muita coisa. Reli alguns trechos de livros antigos e parece-me que as histórias não são más de todo, mas a escrita, santo Deus, tem de melhorar. Eu sei como fazê-lo: é dieta estrita de Camilo Castelo Branco e sobremesa de Eça de Queiroz. De vez em quando uma Agustina, mas não abusar.
Se não tivesse internet decerto escreveria melhor. Se deitasse a têvê janela fora decerto escreveria melhor.
Se a minha avó tivesse rodas era um autocarro.
Se a minha tia tivesse bigode era o meu tio.

Corrigo um livro que fiz há dois anos atrás, se não me engano.
Vontade... vou na página 149. São 211. O texto do o amor é um pombo a debicar milho amarelo vem daí.

E mais outro cheirinho.

"Na Fábrica (...) rodeada do metal frio e grave, compridas colunas erguendo-se ao alto, escadas que se perdem em escadas, vê nascer devagar, como se brotando do solo invisível, finos caules donde brotam flores de imensas cores. Um imenso silêncio a germinar. Vê tubos brancos e amarelos, florzinhas azuis minúsculas. Vê-as progredirem, transformarem-se em ramagem densa. Ao lado, em cima, por baixo, emaranhando-se nos cilindros, descobre gardénias de flores brancas, sente-lhes o perfume. Ao longe florescem em segundos pequeninas flores estreladas de cor azul e roxa..."

[Se os sacanas dos brasileiros baixassem mas é a merda da música.]
[Se me der na tola ainda ponho aqui uma ópera a altos berros.]

Sem comentários: