Capítulo 3º d'A Imortalidade
Mal saio do túnel tenho-a à minha espera.
- A chave! Trouxeste-a! – exclama, num misto de incrédula alegria.
- É mesmo esta?
- É! Dá-ma! – e projecta os braços por entre as barras, ávida. – Dá-ma!
Um desconforto interior suspende-me. Algo indefinido. Súbito recordo.
- Tu mentiste-me. Porquê?
Ela olha-me em desconcerto.
- Dá-ma! DÁ-MA! – puxa a barra com a mão direita enquanto projecta a esquerda na minha direcção, o rosto enraivecido. A fragilidade desapareceu. Eu recuo.
- Há uma saída. Ali, pelo túnel.
Não me responde. Ao invés recolhe lentamente o braço e dissimula a face nos cabelos, onde descubro, alarmada, um olho azul claríssimo e maldoso.
- Porque é que mentiste?
Eu já sei o motivo, mas escondo-o de mim própria. Ela sabia que eu estava a dois minutos da liberdade. Dois minutos, nada mais. A desculpa do terror não me convence. O medo, por mais ilógico, de ser abandonada e esquecida também não. Há qualquer coisa que ela oculta. Mentiu deliberadamente. Porquê?
- Não voltavas.
Mentira.
(cont.)