.:: Shadow ::.
Há muito tempo que não escrevo e cá por dentro isso dói-me. É uma dor estranha. Como um reservatório cheio, mas sem torneira. A criatividade, as histórias, a ânsia de escrever – não podem fluir. Penso em enredos, mas após breves linhas fico estéril.
O que se passa comigo?
Faz este Março um ano a última vez que escrevi um livro. Desde então produzo contos breves. E breves enredos. Não percebo. Ou talvez perceba. É o fora que me domina. O exterior – um novelo a esmagar-me. Tenho de me concentrar no interior. Olhar para dentro de mim. Seguir o meu caminho seguindo-me. Desdobrar-me e acossar o meu duplo, a minha sombra. As sombras sabem para onde vão. Não se enganam. Contornam esquinas como se fossem planícies.
Sinto-me bem depois de escrever. Um laço cheio de nós desenrolou-se e eu enfim respiro. Livremente. Até o reservatório encher de novo.
Vou ali, procurar-me na sombra.