quinta-feira, janeiro 05, 2006

PEDOFILIA I




Lembro-me de ter lido na revista Maria, se não incorro em erro, o caso de um homem que descobriu que as duas filhas menores eram regularmente abusadas pelo avô. Depois soube que na infância o mesmo acontecera às irmãs. Ficou estupefacto, não fazia ideia. Estava magoado, furioso, desesperado, estava tudo.
A mim o que me causou estupefacção é que ele não denunciou o caso às autoridades por o pai já ter mais de setenta anos (setenta e quatro à data se não me engano) e ser já um idoso.
Um idoso que fode as netas não deixa de ser um idoso, convenhamos. Temos de respeitar os idosos, não é verdade? Afinal trabalharam a vida inteira e tal e tal e tal.
Não consigo tirar esta história da cabeça. A única coisa que consigo pensar é: este gajo vai-se lixar tanto, mas tanto. As filhas vão crescer, vão perder-lhe o respeito, tiveste a oportunidade de castigar quem nos fez mal e escolheste não fazê-lo. Ele que espere a devida recompensa quando for.
Velhinho.
E merecedor de respeito. Já imagino o lar onde vão espetá-lo.
Bafiento, húmido, com baratas, assim um ambiente à Dickens.
E o estupor nem pensou que, mesmo vigiando as filhas, o avozinho podia, num momento de distracção, voltar à carga.
(E a mulher no meio disto?, pergunto-me. Seguramente a relação acabou ou acabará em divórcio.)
Muito menos considerou a hipótese que o papá irá com certeza abusar de outras crianças. Mas isso decerto não o incomodou, desde que não sejam as suas filhas.
(Somos uma sociedade tribal, já repararam? Cuidamos de nós e os outros que se lixem.)
Li esta carta há muito, muito tempo atrás. Dois, três anos? Não recordo. E de vez em quando dou por mim a pensar: o que terá acontecido depois? Terá o avô sido denunciado? Terá o pai ganho coragem e Respeito pelas filhas e feito a denúncia? Ou terá sido antes denunciado por outro crime qualquer que podia ter sido prevenido se ele estivesse já no chilindró? (Uma sociedade tribal deveras.)
O que é que se passou depois?
Gostava de saber.
E o encobrir do pai, I wonder, também não dá direito a umas fériazinhas na penitenciária? É que devia.
Era uma família da classe alta, as filhas frequentavam um colégio daqueles onde se paga à valente.
Devem ter internet.
Talvez o estupor me leia o blog neste momento (a propósito: foste um merdas sem colhões).
Ou as irmãs.
Os mesmo as filhas.
Epá, queria mesmo saber a continuação desta história.



P.S. A resposta foi dada à carta pela ex-mulher do Tallon, sabem, aquela que (alegadamente) apanhava. Não gostei da resposta. Foi muito suave e compreensiva. A tipa devia ter escrito em letras garrafais: ó meu grande filho da puta, tu vai já à polícia agora!
Mas, enfim, país de brandos costumes.
O costume.

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