domingo, setembro 03, 2006

Desafio

(Texto feito para este desafio do Escreva!)
 

Transformações

 

Vida-Morte. A vida carrega em si a semente da morte; a morte carrega a semente germinadora da vida - o presente da morte é a própria vida, a regeneração eterna, a transformação, a transmutação de um a outro estado.

Estados transformativos.

 

Transformações, transmutações.

 

Raiz, tronco, desabrochar, folha, fruto, maduro, murchar, húmus.

Terra.

Semente. Vida.

 

O homem que é homem por dentro e mulher por fora; a mulher-interior num invólucro macho. A operação. A dor. O realinhar de alma e corpo. A carne-borboleta a borboletear no processo do ser.

 

A luz crescente. A lua minguante.

A Lua Cheia, a Lua Nova. Os começos e os fins – ah, e no meio: natas.

A noite que sucede ao dia.

O escuro que devora o brilho.

A luz dissipando trevas.

Uma página, uma a uma, o voltar lento das folhas – até ao fecho do livro.

 

A romã – na boca.

O sumo a escorrer no queixo.

A romã sem boca.

A romã que apodrece. 

 

Um tiro de canhão a apodrecer o ar, anunciando que a paz eterna cessou. A última espada, a última navalha na tenra garganta de alguém, que anuncia morte – perpétua! – à eterna guerra.

A uva doce; e se colhe; e se esmaga; e se fermenta.

O vinho da garrafa a encher o copo que se estilhaça em mil grãos de areia.

 

A pele tenra e macia que enruga.

A moeda que cai e sobe e sobre e sobe.

O metal desentranhado à terra, moldado por mãos humanas; a jóia na montra; o ornamento na pele ontem suave, hoje flácida, encovada, cheia de vincos como os lençóis.

 

Viver num presente pleno de transmutação. A cada segundo.

 

A cada segundo hibernar e emergir. 

 

 

 

 

3 de Setembro’06

 
 

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