terça-feira, abril 10, 2007

[DA SÉRIE DE COISAS QUE EU NÃO SABIA]

Ser Escritor em Portugal: como funciona

Afinal os escritores também são obrigados a pagar Segurança Social, sabiam?
Dizem-me uma coisa na SPA (posso estar enganada, mas julgo que me disseram o contrário), dizem-me outra diferente na Seg. Social... 'tá bem. Afinal qual é o escritor que Come! Nós vivemos todos do ar, não é verdade?
E da musa. Pois. A musa é um buffet.
Mas.
- Se o meu rendimento anual ilíquido (de trabalhadora independente no qual se enquadram também trabalhadores intelectuais) for inferior a 6 vezes o salário mínimo nacional - então aí já não tenho de declarar nada à segurança social.
- Se o rendimento for superior já terei de declarar. E depois pago (dependendo dos rendimentos que tive) ou:
* 50% do salário mínimo nacional (por mês!)
*ou o duodécimo (12% - por mês também)

Porém!
- Se eu for trabalhadora por conta de outrém e ganhar o mínimo nacional (que é quanto, já agora?) não pago a Seg. social do que faço em recibos verdes.

A diferença entre um trabalhador normal independente e eu é: se o trabalhador intelectual não ganhou nada no ano passado, no ano seguinte não tem de declarar népia.

Quem tiver dúvidas, deixo aqui o telefone da Seg. Social: 21 8424200. Quando atenderem (e vai demorar muito tempo, aquilo nem vos dá música, só chama, chama, chama) peçam para passar à secção de Independentes.

Basicamente um escritor nesta merda de país tem de ter sempre a merda de um segundo emprego porque senão a Seg. Social vem e fode-lhe os cornos. Qual é o escritor que pode sequer Alimentar-se (todos os dias porque, enfim, convém, a não ser que esteja a treinar para top-model e tenha de fazer o exame final de anorexia) ganhando apenas 6 salários mínimos nacionais Por Ano?!?!?!?!?!
Pensava eu, na minha atroz ingenuidade, que nós Éramos Diferentes! Não tínhamos de pagar porque ganhávamos tão pouco! Quando ganhávamos!
Afinal é mentira.
Um escritor, para viver neste país, tem duas opções: ou vende caralhões de livros e aí já pode pagar 300 vezes a puta da seg. social ou tem um segundo emprego.
Imagine-se, faz de conta!, que eu ganhava, vá lá, 5000 euros por ano. Só publicando livros.
(Nem estou lá perto by the way.)
Estava tramada com a seg. social. Praí metade, se calhar, ia-me ser tirado, isto para não falar dos impostos. Ficava com quanto no fim?
Olha, ficava com o suficiente para viver do ar.
Isto é completamente injusto. Merda de país. Que exploda, que morra afogado no seu fel decadente! É o que te desejo (e auguro!) Portugal!!

Resumindo, três fantásticas opções:
- Ou se vende centenas de milhares de livros (com ou sem segundo emprego).
- Ou se tem um segundo emprego Por Conta de Outrem (por onde já se desconta para a seg. social. E tem de ganhar o mínimo nacional).
- Ou não faz o suficiente nem sequer para descontar para a seg. social porque vendeu escassos exemplares.

Eu, ¨atinadamente¨, escolhi a terceira opção. Digam lá que não sou esperta? Eu não, o meu anjo da guarda que parece saber mais sobre estas coisas. É que o ano transacto eu não ganhei, de todo, o salário mínimo nacional.

Enfim.
Agora, in other news, mas também sobre o assunto Recibos Verdes:
- Tenho uma colega que trabalha 10 horas por dia. Cinco horas num sítio, a recibos verdes, e outras cinco lá onde eu laboro.
No sítio onde recebe a RV não tem folgas, sabiam? E se começa a faltar muito põe-na na rua. Não é giro? Este país não é bonito? Atão a escravatura não foi abolida? Ou enganei-me?
Isto não é ilegal...?
Ah, eu esqueço-me: Portugal, Portugal, Portugal!
(Inté cantava o hino e dava hossanas ao senhor Sal, perdão, Sócrates e demais maralha - masNumMeApetece.)

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