sábado, maio 20, 2006

ARRENDAMENTO: CONSIDERAÇÕES

O 

(palavrões à desfilada, ó-ié)

 

Porque é que a merda do arrendamento urbano não funciona neste país de coninhas?

Porque não é do interesse dos Bancos que funcione livremente. Da maneira como as coisas estão os Bancos, esses calhordas de merda, têm uma Renda Vitalícia que já anda pelos 50 anos. 50 anos a pagar quantias exorbitantes que se não são cem contos (500 euros) rondam lá perto. Como é que uma pessoa que ganhe, digamos, o ordenado mínimo nacional, pode comportar este nojo de despesa? Uma pessoa não, duas sim, e um tem de ganhar mais, mas não sobra migalha nenhuma. Vivem os dois escravizados até ao fim das vidas naturais.

(Como é que um político sabendo disto permite que este miserável estado de coisas continue? Como é que os gajos dormem à noite? Têm os instrumentos para acabar com esta nojeira e Escolhem não usá-los. Seguramente acabarão no inferno. A pagar renda.)

Bela Democracia, hã! Nem o Feudalismo faria melhor! E não dá direito de fazer uma perninha, hum? Admirem-se. Qualquer dia vem o Chefe-Mor lá do Banco, ou outro estafermo qualquer que se abotoa com os lucros astronómicos, Banco a quem o casal hipotecou a existência, exigir ser ele o primeiro a dormir com a senhora após o contrato de compra e venda firmado.

Ai, é ficção científica, é? Não acordem não, meninos: estão a foder-nos e nós a ver.

(E nós a ver.)

Porque é que o Governo, esses merdas sem colhões que nós - descolhados - elegemos para nos representar, permite a escravidão infecta?

Sinceramente não sei. Têm-nos presos, quiçá. Atrevo-me a imaginar (a imaginar porque dizer não posso - já que a censura em Portugal Existe, é Real), atrevo-me a imaginar, repito, que os Bancos são mais poderosos que este poder político de merda que nos representa. Poder político que não passa de um reflexo daquilo que nós - enquanto povo - somos: uns coninhas. Sem voz. Ou pior: não fazendo uso da voz que Deus/a Democracia/ou sei lá quem - nos deu. Somos como a águia que não faz a mínima ideia de que as asas que tem servem para voar - e anda rente ao chão, sendo despedaçada pelos carros. E é bem-feita, meninos, porque: quem, sendo águia, se comporta como galinha, merece ser despedaçado. À canhoada. É a selecção natural a... seleccionar. Os fortes. Os coninhas não deixam descendentes. Uma lei natural.

Também ajuda os governantes profissionais (e, penso, deviam ser temporários. TODOS devíamos ser preparados, na escola, a partir da primária para governar um dia a nação), também ajuda, acrescento, não terem sequer migalha de sombra de princípios éticos. Houve, desconfio, um leve vulto de início, nos longínquos anos da adolescência - rapidamente esborrachado mal se apercebem que, para avançar e fazer carreira, só os espertos se safam.

Não os éticos - os espertos.

Tanta coisa neste nojo de país se resolvia se existisse uma lei de rendas eficiente, decente e honesta. Tanta, tanta coisa.

Se o senhorio soubesse que, mal o inquilino falhasse um mês, podia fazer queixa à polícia e esta colocar o mau pagador no olho da rua, se o senhorio tivesse esta segurança, ele baixaria os preços das rendas.

O senhorio não tem de poupar durante anos, inflacionando as rendas, de modo a poder pagar a um advogado que o ajude a tirar o inquilino que não paga da sua casa.

O senhorio sabe que essa poupança não é necessária - porque não passará pelos tribunais, lestíssimos! a resolver as causas como-toda-a-gente-sabe. No dia seguinte já lá tem outro morador. Não. Perde. Dinheiro. Pode, ao invés, ir poupando - menos, mas algum mesmo assim - para investir na sua casa ou apartamento de modo a torná-lo mais atractivo para o arrendatário.

EXEMPLO: entre um restaurante de merda que se está nas tintas para o cliente e leva barato e um restaurante como deve ser que até pode levar mais um bocado, mas trata o cliente como rei - qual é que o cliente escolhe?

Meus lindos, senhorios sem medo Submergem de Oferta o Mercado de Arrendamento Urbano.

Muitos, muitos senhorios põem a sua propriedade - ou propriedades - à disposição. De repente há imensa oferta e menor procura. O que é que acontece?

- Ó meu Deus, ninguém me aluga a casa! E este cabrão ao lado baixou o preço da renda dele! Vou ter de fazer o mesmo!

Se não o fizer o inquilino - o cliente, digamos - vai para outro sítio de renda mais baixa e condições talvez mais apelativas.

Mas isto é no país do faz de conta, não é? Em Portugal não funciona assim.

O que é que acontece se de repente há muitas, muitas casas a preços decentes para arrendar?

AS PESSOAS DEIXAM DE COMPRAR CASA PORQUE É MAIS BARATO ARRENDAR.

(Isto entra pelos olhos adentro.)

Por enquanto não há opção a não ser a de ser escravo - hipotecar a alma, a pele, ao Filho da Puta do Banco.

Porém acham que, entre uma mensalidade de 80 contos e uma renda de 40, as pessoas iam mesmo escolher serem escravas décadas a fio?! Eu cá não me parece.

Os senhorios passam a competir entre si e com os Bancos.

- É 50 contos, meu caro senhor, mas não tem de pagar luz porque instalei painéis solares! - diz, risonho e orgulhoso do trabalho, temendo que o arrendatário em perspectiva saia e vá à casa do lado onde o outro gajo oferece o mesmo por 45 contos. Assusta-se e acrescenta: - Ah, e tem a tv cabo de graça.

- O canal playboy também?

- Errr, sim, claro! Quando se muda?

- Ainda vou ver doutras. Depois telefono.

As casas têm de ser atractivas porque a competição é cerrada e a procura menor.

Os indivíduos - em vez de comprarem moradia por 17 mil contos em cascos de rolha, por ser lá mais barato, e gramarem com 2 horas de trânsito todos os dias - vão preferir, Aposto!, arrendar casa em Lisboa, ou perto o suficiente para levarem o carro até ao parque e depois tomarem o Metro. Perto o suficiente para levarem  meia hora até ao emprego. Perto o suficiente para não terem de se levantar às 6 da manhã a puta da semana inteira e puderem dormir e terem tempo e disposição para fazer amor com o cônjuge, terem tempo para os filhos (pois, de repente, incrível, já há dinheiro para ter filhos! Impressionante, não é?), e, até, quiçá, terem tempo para eles: um hobbie, um desporto.

A quantidade de merdas que se resolvia se o mercado de arrendamento funcionasse em Portugal - A Sério e À Séria.

Mas não - os políticos estão presos pelos colhões e eu atrevo-me ao sacrilégio de pensar que já nem os têm, os Bancos tomaram posse deles e fizeram brincos. Ou broches para pôr na lapela.

Com rendas baratas:

- A malta vive perto de Lisboa

- Não há as bichas vergonhosas todos os dias para entrar e sair da capital

- Menos poluição

- Menos problemas alérgicos (do que resulta poupança nas despesas de Saúde)

- Maior qualidade de vida

- Malta com menos stress, logo maior produtividade no emprego

- Disponibilidade financeira para ter filhos, até 2, vejam lá!

(É preciso money para tê-los e criá-los. Vocês - muitos saberão - fazem ideia do que custa um infantário? Eu fico parva com os preços. E nem há vagas! É como se tivessem a pagar ao puto as propinas da faculdade!)

A gente está vivo é para ser feliz, não para ser escravo. O nosso dever, enquanto humanos, é viver em contentamento - porque é uma coisa que se espalha, percebem? A alegria espalha-se. Tipo gripe das aves. Não se espirra, mas fica-se com um ar estupidamente alegre. Sereno.

As pessoas que não têm dinheiro para pagar rendas mais caras - mudam-se para sítios onde são mais baratas: subúrbios, nas franjas de Lisboa. Acham impossível que existam rendas de 20, 30 contos aí? A mim não - se o mercado funcionasse em inteira liberdade. Mesmo a ganhar o mínimo nacional é possível ter esta despesa e não passar fome. Os casos piores - são responsabilidade do Estado. Não dos senhorios. E duvido que sejam muitos. Não acho justo que se deixe primeiro esta malta morrer para então depois fazer as reformas a sério. Bom, com a nova lei, espera-se 10 anos... (mas há para ali matreirices no meio que não me agradam) parece-me em simultâneo razoável e pouco razoável.

E o facto de puderem roubar a propriedade aos senhorios - nojento.

Voltando ao país do faz de conta onde as coisas funcionam.

De repente - em meses! - os Bancos Escravizadores, quais Entidades Faraónicas, notam uma acentuada Queda na procura de empréstimos.

- Este mês 1! Só 1 veio!

- Tens sorte: há 40 dias que ninguém lá aparece a pedir dinheiro para comprar casa.

- Ó meu Deus - dizem a um tempo, - o que é que nós vamos fazer! É uma sangria!

- Há pior - diz outro a choramingar com um lencinho de renda, assim à maricas, tremelicando junto do nariz. - Há quem comece a vender a casa e a arrendar!

- NÃO!

- De 100 para 40 contos notam a diferença...

- Isso significa que...

- Não, não digas!

- Vamos Ter de Baixar os Preços!

- Ó santo Jesus, e onde ficam os nossos lucros obscenos!

- Passam a semi-obscenos...

Quedam-se num mudo estupor, o pânico interno congela as faces e até parece que os colhões que usam nas orelhas deram em mirrar.

(Ou isso ou ando a ver mal. Ando a precisar de lentes novas.)

Os Banquinhos, esses calhordas que ganham exorbitâncias e cujos impostos são assim um ´cadito pó lado do diminuto, os Banquitos passam primeiro:

- a diminuir o tempo dos contratos;

Segundo:

- a abusarem menos na merda das comissões.

Mas, mesmo assim, não chega.

- Os tipos não compram! Preferem poupar, as Bestas, as Bestas agora poupam! - diz um a espumar da boca.

- Peraí... - diz outro, pensativo. - E se nós fizéssemos o mesmo!

- O quê?

- Alugar casas, espaços comerciais! - continua, alegríssimo. Põe-se a saltitar e despede-se.

- Este é parvo... - diz o que espumava.

Mas o parvo começa a ter lucro. É senhorio. As rendas vitalícias voltaram. E desta vez a preços decentes. Há competição entre Bancos. (O problema é quando os cabrões se juntam e concertam preços. Tipo as gasolineiras. E não me digam que não que eu duvido que não o façam. Os ricos, sobretudo as entidades putrefactas de riqueza, não têm incentivo nenhum para a ética e a honestidade. O pilim é desprovido de sentido moral.)

Mas aí entramos nós todos. Há senhorios que não são Bancos. Que lhes fazem concorrência. Será difícil açambarcar o mercado de arrendamento (levando a um monopólio ou concertação desonesta de preços), conduzindo novamente à escravidão de milhões de portugueses. Porque depois os Bancos juntam-se e falam o mesmo: agora o mínimo de renda é 60 contos!

E depois:

- 70 contos.

E a seguir:

- Olhe que é mais lógico comprar casa. 80 contos.

Mas isto já sou eu a ser paranóica, não me liguem.

(Se a justiça funcionasse como deve ser e as coisas se resolvessem logo e não apenas a favor dos ricos e em desfavor dos descamisados...)

Todavia penso que o açambarcamento do mercado imobiliário para arrendamento seria difícil. Tipo - tinham de comprar as casas todas. Não digo impossível porque a corrupção grassa neste país (e lá voltamos ao deficitário funcionamento da justiça). Aí se calhar o Governo teria de intervir e fixar os preços (calma: não é voltarmos ao mesmo).

Tipo:

- Uma casa em tal sítio com tais características vale tanto e noutro vale menos ou mais.

Fixar de maneira a evitar especulação - ou inflacionamento criminoso (como o que ocorre agora com os combustíveis, por exemplo).

Se as coisas funcionarem bem, sem perigo de monopólios ou concertação perversa, então que o Governo fique lá quietinho.

Tanta coisa que se resolvia de uma penada se houvesse liberdade e segurança tanto para o inquilino como o senhorio. O inquilino podia ir-se embora se encontrasse alojamento mais barato; o senhorio não perderia a sua propriedade meses a fio acaso o arrendatário deixasse de pagar. Em vez de olhar para o inquilino com olhos tementes, receando potencial vigário, olhá-lo-ia de outro modo, tentando seduzi-lo para que permanecesse muito tempo na sua propriedade, dando-lhe todo o conforto:

- Não ouve os vizinhos, nem o trânsito. Nada! Foi tudo isolado! Ah, e tem aquecimento! E não gasta gás para o banho! Mandei instalar um sistema solar completo para aquecimento de águas até 3 pessoas!

A reforma.

As pessoas (como li num comentário no blog Blasfémias se não me engano) podem investir numa casa para arrendar - um género de reforma. Seria óptimo investimento agora que a Segurança Social seems to go belly up. Mas isto é no país do faz de conta, onde a prática justa prevalece, ao invés daqui, onde a justiça é ideia mental e a prática quotidiana é injusta e imoral.

 

Quando é que as coisas vão ser assim em Portugal? Até quando vamos permitir que entidades sem alma humana nos tratem como cativos? Isto rebenta como rebentou a Revolução Francesa?

Quando faltar o pão?

 

 

 É tempo de falar. Considero que não sou a única a pensar desta maneira, mas poucos o dizem claramente. Penso que é cada vez mais altura de nós, enquanto cidadãos, gritarmos as nossas opiniões. É por aí que se começa: afirmando com todas as letras aquilo que se pensa.

É por aí que se inicia a mudança.

 

 

 

 
 

1 comentário:

Dunyazade disse...

Reli isto e assustei-me a mim própria... o_o

(Tava danada...)

Apago, não apago... hummm. It stays. For now.