segunda-feira, maio 08, 2006

O Caso do Pénis na Basílica de Fátima

 

 

 

Ora rezava a Anocas, descansadamente, na Basílica (para os lados de Fátima, onde deu uma coisinha má ao sol décadas atrás, ele desatou a rodar como um pião. Não aguenta a bebida, é o que é), orava a senhora, dizia eu, quando olhou para trás e viu um homem a exibir o pénis.

- E como era? – perguntou Miss Wrinkle.

- Mirradinho – respondeu, chorosa. O marido ao lado consolava-a. – Mirradinho, mirradinho (sniff).

Levou o lenço bordado a renda aos olhos húmidos.

- Está a ver os legumes minúsculos? De decoração? Do tamanho de um pepino. Minguado. Está a ver?

(Funga.)

- Foi um choque.

- Ver um pénis mirradinho – disse Miss Wrinkle.

A mulher, confusa, volveu:

- Na-não. Ver um... pénis na Igreja.

- Mirradinho, ainda por cima – juntou o marido que na altura deu parte às autoridades.

- O senhor também viu?

- De relance. Quer dizer, um homem vê aquilo e começa a pensar: se calhar a reza faz encolher! Um homem assusta-se...

- Por isso é que saiu rapidamente quando a sua esposa sucumbiu a um desmaio?

A conter a indignação, replicou:

- Fui chamar as Autoridades!

Mais calmo, admitiu:

- Mas, enfim, um homem assusta-se. Mirradinho. Ó – e aproximou o indicador do polegar.

- Murcho – concordou a esposa. Os dois abanaram a cabeça, abalados.

“Qual é o mistério?”, inquere Miss Wrinkle. O homem foi apanhado. As Autoridades apuraram ter o indivíduo “uma anomalia psíquica”.

- É atabalhoadinho das ideias – disse Anocas, com um sotaque tripeiro, franzindo a testa. Segura o lenço bordado enxuto na mão e fita o marido.

- Pois. Pobrezinho.

- Não percebo o meu papel. Apanharam-no. Porque me chamaram?

- Fomos ao reconhecimento do dito cujo – murmurou o marido, aproximando a cabeça da simpática velhota. E levava barato, a gaja.

- Reconhecimento...?

- Não era o mesmo, percebe. Não era o mesmo – disse o marido.

- Ou isso ou levou adubo. Desmirrou do dia para a noite.

- Muito estranho – disse o marido.

Miss Wrinkle ficou parva a olhar para os dois.

- Depreendo que me incumbem de procurar o dono desaparecido de um pénis mirraducho?

- Exactamente – dizem em coro.

Após um silêncio de pasmo Miss Wrinkle informa-os dos honorários.

- Razoáveis – alegra-se o marido.

- Muito em conta – concorda a esposa.

- Ah e... – continua ele, chegando-se à frente e baixando o tom quando Miss Wrinkle pôs as mãos nas rodas da cadeira – e... saber se vende... material.

Calou-se. Pigarreou, sem despregar os olhos da senhora idosa.

- Para descontrair, entende.

- Ah, pois claro!

Miss Wrinkle sorriu e vendeu-lhes um saquinho de canábis.

O preço é que já não era nada em conta. Assustaram-se com o valor.

- Mas é da boa – garantiu Miss Wrinkle, unindo o indicador ao polegar.

- É só para descontrair... – desculpou-se Anocas.

- Ah, pois claro, pois claro. Fazem muito bem! Quando tiver notícias contacto. Boa tarde.

Arrumou as notas na carteira e rodou para fora.

Bom, agora já sabem porque é que os preços dela são tão... razoáveis.

(Eu também não sabia. Uma avozinha traficante!)

As cadeiras de rodas andam caras, sabem lá.      

 

 

(7 de Maio'06)     

 

 

 

 

 

 

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