Ora rezava a Anocas, descansadamente, na Basílica (para os lados de Fátima, onde deu uma coisinha má ao sol décadas atrás, ele desatou a rodar como um pião. Não aguenta a bebida, é o que é), orava a senhora, dizia eu, quando olhou para trás e viu um homem a exibir o pénis.
- E como era? perguntou Miss Wrinkle.
- Mirradinho respondeu, chorosa. O marido ao lado consolava-a. Mirradinho, mirradinho (sniff).
Levou o lenço bordado a renda aos olhos húmidos.
- Está a ver os legumes minúsculos? De decoração? Do tamanho de um pepino. Minguado. Está a ver?
(Funga.)
- Foi um choque.
- Ver um pénis mirradinho disse Miss Wrinkle.
A mulher, confusa, volveu:
- Na-não. Ver um... pénis na Igreja.
- Mirradinho, ainda por cima juntou o marido que na altura deu parte às autoridades.
- O senhor também viu?
- De relance. Quer dizer, um homem vê aquilo e começa a pensar: se calhar a reza faz encolher! Um homem assusta-se...
- Por isso é que saiu rapidamente quando a sua esposa sucumbiu a um desmaio?
A conter a indignação, replicou:
- Fui chamar as Autoridades!
Mais calmo, admitiu:
- Mas, enfim, um homem assusta-se. Mirradinho. Ó e aproximou o indicador do polegar.
- Murcho concordou a esposa. Os dois abanaram a cabeça, abalados.
Qual é o mistério?, inquere Miss Wrinkle. O homem foi apanhado. As Autoridades apuraram ter o indivíduo uma anomalia psíquica.
- É atabalhoadinho das ideias disse Anocas, com um sotaque tripeiro, franzindo a testa. Segura o lenço bordado enxuto na mão e fita o marido.
- Pois. Pobrezinho.
- Não percebo o meu papel. Apanharam-no. Porque me chamaram?
- Fomos ao reconhecimento do dito cujo murmurou o marido, aproximando a cabeça da simpática velhota. E levava barato, a gaja.
- Reconhecimento...?
- Não era o mesmo, percebe. Não era o mesmo disse o marido.
- Ou isso ou levou adubo. Desmirrou do dia para a noite.
- Muito estranho disse o marido.
Miss Wrinkle ficou parva a olhar para os dois.
- Depreendo que me incumbem de procurar o dono desaparecido de um pénis mirraducho?
- Exactamente dizem em coro.
Após um silêncio de pasmo Miss Wrinkle informa-os dos honorários.
- Razoáveis alegra-se o marido.
- Muito em conta concorda a esposa.
- Ah e... continua ele, chegando-se à frente e baixando o tom quando Miss Wrinkle pôs as mãos nas rodas da cadeira e... saber se vende... material.
Calou-se. Pigarreou, sem despregar os olhos da senhora idosa.
- Para descontrair, entende.
- Ah, pois claro!
Miss Wrinkle sorriu e vendeu-lhes um saquinho de canábis.
O preço é que já não era nada em conta. Assustaram-se com o valor.
- Mas é da boa garantiu Miss Wrinkle, unindo o indicador ao polegar.
- É só para descontrair... desculpou-se Anocas.
- Ah, pois claro, pois claro. Fazem muito bem! Quando tiver notícias contacto. Boa tarde.
Arrumou as notas na carteira e rodou para fora.
Bom, agora já sabem porque é que os preços dela são tão... razoáveis.
(Eu também não sabia. Uma avozinha traficante!)
As cadeiras de rodas andam caras, sabem lá.
(7 de Maio'06)
Sem comentários:
Enviar um comentário