quarta-feira, março 12, 2003

(Excerto do que escrevi ontem.)



Ouve-se as notícias ou lê-se o jornal e lá se apanham as palavras prostituídas em eufemismos ou generalizações. O eufemismo que mascara a gravidade do evento e, logo, o diminui, ou a generalização que coloca no mesmo saco factos específicos, comportamentos específicos, pessoas singulares. Gosto de ler os jornais, ver as notícias. Para me lembrar. Da facilidade com que se chulam as palavras. As distorcem. As tornam putas apesar de sérias; circunspectas apesar de rameiras. As palavras dão para tudo, são elásticas. Tal como a alma, a ética humana. Não podemos desrespeitar as palavras, tornar a linguagem conveniente a este ou aqueloutro. É errado. Falso. Há que servir a verdade, a verdade, Julie. Nada mais importa. Morremos e o que deixamos atrás de nós? Rameiras? Palavras poluídas? Língua indigna? Há que ser leal à verdade e tratá-la com respeito. E a verdade acaba no momento em que, para a expressar, nos viramos para as palavras. Se as prostituirmos, sobra o quê?

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