quarta-feira, março 05, 2003

(Passado no #poesia_e_prosa.)

OCUPAÇÃO DA NOITE


As árvores apodrecem
de solidão, a nosso lado.
As mulheres envelhecem
na penumbra dos quartos.
Na fogueira das minas,
no degelo dos andaimes,
os operários, de pacíficos,
trocam músculos por usura.
Nas cidades, no patamar
dos palácios, nos ministérios,
acrescentamos silêncio
ao silêncio do pântano.
Previmos a guerra, votamos
a guerra, favorecem-nos
os índices demográficos..
Ocupamos a noite e o dia
à sombra das armas -
o tempo que moldamos
aos desígnios da guerra.
Perdemos a infância, o amor
mas somos familiares
das minúcias do átomo. Pobres,
mais pobres do que o ar,
resta-nos a morte, o mistério
que não ousamos alimentar .



Casimiro de Brito
Jardins de Guerra
1961-1964
Ode & Ceia
Poesia
1955-1984
Publicações D. Quixote
1985
1ª edição



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