domingo, julho 20, 2003

(Mas o que é que eu estou aqui a fazer a estas horas!)



Ao ler Eça tive este subitâneo pensamento - a gente inventa os heróis, não os descobre. Chega o tempo de os haver e, desdenhando heróis de facto, vai inventar os que nos agradam, parecidos com os "lá de fora".
A estranja, pensamos, tem heróis decentes. Heróis com o tamanho de Heróis. Nós começamos pelo tamanho - o resto logo se vê.
O resto vem por acrescento, se vier; se não vier façamos de conta que sim.
(Eish! Usei a p*ta da ponta e vírgula! Estreia! Desbravo novos mundos na pontuação!)
O luso vai pela Forma, o Conteúdo (ou a Ideia) que se fornique.
(Esta palavra é gira, não é? Outra: que se coza.)
A Ideia da Forma parece que nos talha.
Vivemos as aparências, de aparências e pelas aparências.
(Ou talvez se trate de uma simbiose.)
Os nossos heróis, e génios, são aqueles a quem vestimos a heroicidade. A virtude que se veste.
Virtude: manta, roupão, cobertura - trapo.
Ou seja, colocamos as virtudes no domínio do material. Voltámos à Forma. Talvez nunca tenhamos atingido o abstracto, o lado espiritual (translúcido) da vida.
E é por isso que temos de inventar heróis - gente de qualidades translúcidas, místicas. Não há como viver sem Ideias, sem virtudes, sem qualidades. O mais perto que delas chegamos é através da Forma.
Da aparência.
Somos todos uns menininhos à procura do Superior, a fazer perguntas difíceis às flores e aos ramos, a ver se achamos Deus numa toca abandonada no meio da floresta.


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