sábado, abril 02, 2005

Bentley – é aquela Base...


O senhor Bentley, refinada besta, agora deu em ir a Belém distribuir pontapés ao acaso nos glúteos dos Senhores Deputados. Mas este sacana tem coisas... eish, francamente.
- O menino – disse o senhor Bentley de ar contrito, pavorosamente velho e encardido como as traças múmias esquecidas no roupeiro, treinara os músculos faciais para moldarem as rugas apropriadas a cada ocasião e no momento representava, perfeito, o papel de cavalheiro idoso reformado, andou a lutar lá pelas Africas, naquele tempo é que era bom, os maganos dos pretos agora pensam que são gente e já nem os podemos tratar por tu a não ser que sejamos médicos.
(Pigarreou. Soltou o escarro viscoso, grande e verde para o chão – semelhando um alien abortado –, quase abalroou a biqueira de um Agente da Autoridade, ocupado a passar uma contra-ordenação grave a um sujeito que cometera o malfeitoria de estacionar na passadeira.)
- O menino – dizia ele a certo deputado do PS que arrebanhara pelo fundilho das calças e transportava nos ares, mercê do seu obediente chapéu-de-chuva voador – não estrebuche que me estraga a manicura. Vê as vistas, vê as vistas, pá, porque se te mexes muito o tecido dá de si e arreias com os cornos no chão – aconselhou, com a máscara do cuidado sério posta.
- Ouve lá – prosseguiu -, essa ideia da base de dados genética nacional... tem pernas para andar? É uma ideia valente. Grandes colhões vocês têm, sim senhor. Valentões! Meus malandrecos! Eu a pensar que eram um choninhas, uns coninhas de merda e afinal. Afinal têm-nos no sítio! Sniff – a solitária lágrima migrou da (falsa) catarata para a bochecha descaída. Foi ao SEF pedir os papéis e recambiaram-na de volta ao olho. Ela então veio a salto, através do nariz, viagem acidentada, mas o vento apanhou-a e dissipou-a nas nuvens. Não houve velório.
- Eu emociono-me com os corajosos. Malta desta é que era boa lá no Mato. RA-TA-TA-TA-TA! Limpinho.
Esclareçamos: o senhor Bentley é mau. Acha-se iluminado. Tem considerações zen grandiosas. Talvez seja superior a qualquer outro. Talvez seja um Buda vivo (embora duvidemos).
- Ideia genial, essa. Pode usar-se para tudo. Por exemplo: antes de consumares o teu dever marital, meu sacana – disse, enquanto o deputado se esganava em pânico apercebendo-se que o cinto ameaçava deslaçar –, tiras uma amostra à legítima e vês, lá no Banco de Dados, se é compatível com alguém. Podes fazer isto todos os dias e assegurares-te da sua canina fidelidade. Canina fidelidade... recorda-me o povo português, mas adiante. Tanta coisa que se pode fazer com essa merdinha. Não estrebuches, porra, depois não consigo hora com a Vanusa. Tu vais votar a favor desse projecto-lei, decerto? Tu e os companheiros, presumo. Ah, terei de conversar com eles, um a um. Dar a minha genuína aprovação e o meu conselho. Excelente ideia!
(Se bem que não seja de todo impossível, consideramos, que o Enraba-Passarinhos – a.k.a. Senhor Bentley – retenha antes a memória do Nirvana depois de o ter perdido.)
- Aliás, exames ao sangue mensais a toda a população portuguesa deviam ser obrigatórios. Se não fizeram alguma hão-de fazê-la ou estão a matutar nela. Há que sabotar estes criminosos em potência. Criminosos? Qual quê, terroristas! Não vai ser catita, meu menino, veres as tuas crias, a tua cônjuge, os teus papás decrépitos a alinharem mês após mês para os exames da praxe? E se um for apanhado? Ora Pena de Morte, pois claro!, para o delinquente imbecil, pensa enganar o soberano Estado. Cadeira com ele!
O cinto rebentou, deu a alminha aos pombos, e as calças quase rasgaram, mas o Enraba-Passarinhos deu um jeito no pulso de modo que o deputado do XVII Governo Constitucional não caiu de trombas na estrada, ia estragar o nariz, belo apêndice, as actrizes de Hollywood invejam-no. Correm rumores que Joaquim de Almeida lhe pediu o molde, mas divagamos.
- Belíssima ideia, a Base de Dados Genética. Melhor ainda seria um código de barras na testa, nos joelhos ou no rabo, e fazer depender dele qualquer actividade humana. Sem código não poder fazer compras, nem um pãozito, nem andar de transportes públicos ou ir para o trabalho e entrar em casa. Refere lá isso ao nosso Primeiro e ao gajo da SIS, que é uma cabeça. E ainda dizem que os cérebros fogem para a estranja. Mentira. Ficam por cá e arranjam-nos a vida. Vou-te acostar aqui, tenho encontro agendado com o Sardas. Vou instá-lo, urgir de joelhos, choramingão, para que assine este novo marco da refundação pátria! Ou beijar-lhe – (babar-lhe, clarificamos) – as mãos se não for necessário persuadi-lo de nada. Há homens iluminados, gaiato. Com eles partilhamos fraternais elos de espírito. Reconhecemo-nos de longe.
E alçou, de chapéu-de-chuva aberto, pelos ares, voando, voando, enquanto o homem se mantinha em frágil equilíbrio no cimo da mão esquerda de Cristo-Rei, repetindo-se mentalmente: “Não te mexas, não olhes para baixo. Não te mexas. Não olhes para baixo.”
Julgando ser nova tentativa de suicídio do gajo das galinhas, os Media deslocaram-se ao local, a SIC alugou um helicóptero, mas perderam o interesse ao sabê-lo deputado e recolheram às Redacções.

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