sábado, abril 09, 2005

Desafio da semana: Currículos rejeitados.

E se se candidatasse a um emprego com o pior currículo do mundo. É isso que queremos ver, o pior e o mais divertido currículo do mundo.


O prazo termina hoje, à meia-noite. Ainda têm tempo.
Eis a minha participação:


O Senhor Bentley Candidata-se



Caríssimos Gajos dos Recursos Humanos da Pizza Hut;


‘Tão bons, pazinhos? Então esses ossos, essa espinha! Vejam lá a escoliose, com a saúde não se brinca, vá para fora cá dentro, comigo o puto vai atrás, o algodão não engana, aqui movimento das forças armadas, fia-te na virgem e não corras.
Serve a presente a intenção de me candidatar no vosso execrável estabelecimento ao execrável cargo de Entregador de Pizzas. Antes de sacar das pinças e cuidadosamente lançar fogo à carta, caro seleccionador, deixe-me dizer-lhe que empregar-me tem as suas vantagens. Eu não preciso de mota, nem de um par de patins (apesar do que minha devota manicura Vanusa – mulata dos verdes olhos - possa dizer). Sou o feliz proprietário de um guarda-chuva voador. Correcto: um guarda-chuva volante. Com ele faço as minhas deslocações e até poupo na senha do passe. Na mão livre empilho as pizzas e, se se der o caso de alguma cair – possibilidade a não excluir pois sou um cavalheiro idoso e por vezes acometido de tremores – decerto não cairão todas. Duas ou três pizzas perdidas ficarão certamente mais em conta que um depósito cheio de gasolina, sobretudo nestes conturbados tempos.
A seguir enumero os pontos altos do meu vasto currículo.

- Trabalhei três dias no Mcdonald’s da Baixa onde fui o feliz responsável pelo foco da epidemia Ébola que se espalhou misericordiosamente num raio de dez quilómetros. A notícia foi abafada pelo Ministério do Turismo.
- Introduzi com sucesso duas catástrofes simultâneas no Banco de Portugal onde estive a serviço por dois dias como empregado de limpeza: fogo e inundação. E apenas devido à inundação os explosivos não detonaram no interior do cofre.
- Fui gerente de uma loja de chapéus-de-chuva, mas malevolamente despediram-me por os ter liberto. Os chapéus-de-chuva querem-se livres como os passarinhos. Piu-piu.
- Ensinei matemática num orfanato estatal durante uma semana. Os cabrões demitiram-me por, nas aulas, ensinar os putos a fazer bolinhas de sabão e a injuriar, tal qual camionistas, os profissionais da política.
- Fui empregado de balcão o tempo estimado de duas horas. No café colocava, como “cheirinho”, pitadas de expectoração verde e espessa, que boiava à superfície, linda, como a nata.
- Tive ainda tempo para ser funcionário público durante setenta e dois anos, desde a tenra e inocente idade dos oito anos. Nunca tive problemas. Nunca lá pus os pés. Recebo a reforma por inteiro e tive bonificações por acréscimo do tempo cumprido.

Sei que reúno as condições para ser um trabalhador exemplar na Pizza Hut. As referências dos meus antigos empregadores seguem no anexo.
Os melhores cumprimentos do vosso criado, etc., etc.

V. Bentley


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