segunda-feira, agosto 31, 2009

ÁS DE OUROS/ LOUCO



The Fool, originally uploaded by juju loves polka dots.

(11 de Agosto de 2009)

O Louco nas suas andanças encontrou meio enterrado no chão um enorme escudo de ouro falante, que o abordou assim:
- Bom amigo: desenterra-me e leva-me contigo. Mostrar-te-ei grandes tesouros!
Não te fies, disse o cão num breve latido desconfiado.
O Louco respondeu:
- Para que é que eu quero ouro se a natureza sempre me dá aquilo que eu preciso? - e com isto começou a afastar-se.
- Espera! - gritou o Ás de Ouros assustado por vê-lo partir. - Mostro-te mil maravilhas! Mistérios desconhecidos de todos! Só tens que me levar!
O Louco parou e voltou para trás.
- De verdade?
O cão ganiu, destroçado pela sua tolice. Vai levá-lo! Este peso! Vai suar as estopinhas por nada!
- De verdade! - disse o Ás de Ouros sorrindo.
O Louco acabou de o desenterrar e colocou-o com muito esforço sobre as suas costas.
As horas seguintes foram as mais excruciantes da sua vida. A cada passo o peso parecia esmagá-lo, mas o Ás de Ouros continuamente o incitava, dizendo que além do monte estariam as maravilhas de que falava - mas o monte vinha e afinal não era esse, mas outro perto, um pouco mais além. E as maravilhas nunca vinham.
- Pessoas que crescem nas árvores como frutos! - exclamava o Ás de Ouros. - Sereias aladas com rabos de peixe!
Isto fazia com que o Louco andasse mais depressa e com maior vigor, ainda que se derretesse em suor pois o sol ia alto e estavam no pino do Verão. Ao fim da tarde não pararam para beber água, apesar dos latidos desesperados do cão branco (que só a ia alcançar com a ajuda do Louco, tão fraco de forças se encontrava).
O Ás de Ouro mal sentiu o Louco abrandar o passo, gritou esganiçado:
- Não! Que fazes! É já ali atrás daquela pedra, a melhor água que vais querer, água que sós os deuses bebem! Quem sabe estão lá agora! Anda, caminha! - ordenou em voz autoritária. O Louco tinha a impressão que a cada passo o escudo se tornava mais pesado e crescia. Mas não, tolices suas. Se alguma vez... era a fome, a sede a pregarem-lhe partidas. Mas, ah, depois daquela árvores, as coisas melhorariam, iriam ter um manjar, um banquete à sua espera. Seguramente. O Louco olhou para trás para transmitir esta ideia ao canito branco, mas não o viu. Recuou uns passos.
- Que fazes?! É em frente - zagarateou o Ás de Ouros.
O cão branco estava muito para trás, sem sentidos e um coiote aproximava-se do seu amigo inconsciente. Sem pensar duas vezes deitou o escudo de ouro ao chão e correu para o fiel amigo. No último instante arrebatou-o das garras do coiote e fugiu com ele. Ao passar pelo Ás de Ouros viu que se transformara num velho pedaço de chumbo com ar demoníaco e cheiro horrível. Gritava-lhe imprecações e exigia que o levasse às costas de novo senão coisas terríveis iam acontecer.
O Louco desviou-se e correu com o cão desmaiado nos braços. Do outro lado do monte havia um lago onde matou a sede. Com algumas gotas de água despertou o cão branco, que também bebeu. Não havia banquete nem deuses, mas o Louco não se importou e adormeceu rapidamente, segurando o canito branco contra o peito.

domingo, agosto 30, 2009

3 milhões de palavras

Num ano. É o seu objectivo.

Uau!!!!!!!!!!!

http://www.my1000words.info/2009/01/3-million-word-challenge.html

529 [conto]

Não estou a dizer que o tenha notado assim de imediato. Não. Veio por fases. Melhor, por ondas. Há certos acontecimentos nas nossas vidas que vêm por ondas, não sei se já repararam. Eu tenho o hábito de reparar em tudo. Reparo tanto que perco quem amo assim. Perco amizades, perco casamentos porque o marido decidiu deitar-se com uma das minhas amigas quando eu não estava em casa. E eu reparei, claro, reparei no estranho comportamento dele, a sua alegria bizarra, fora de contexto, nada a ver com o seu carácter rígido e autoritário; reparei em como se sentia de repente incomodado quando esta agora ex-amiga estava presente e em como as suas orelhas avermelhavam; reparei até em dois momentos o modo como trocaram olhares e sorriram muito sem se darem conta. Reparei que os sustentaram só mais um segundo do que era habitual, mas foi tudo. Esse segundo disse-me tudo, disse-me o resto que ainda faltava saber. Sim, foram para a cama. Fizeram amor no nosso colchão, aquele colchão que nos custou os olhos da cara e que o Normando se recusava a comprar até lhe fazer ver os benefícios da aquisição. A saúde, as costas, a postura, o melhor sono. E era verdade. Soube que, pelo conforto, tiveram de dormir na nossa cama, no nosso quarto. Soube que provavelmente se encontraram depois na casa dela. Porque era divorciada e trabalhava a meio-tempo. Ele é que arranjava umas desculpas esfarrapadas para chegar mais tarde a casa e não ter o jantar feito a horas. Muito trabalho, o chefe pediu para ficar mais um bocado. Até logo. Ele tinha sorte, eu é que muitas vezes chegava não antes da meia-noite porque, a mim sim, me obrigavam a ficar no trabalho mais horas do que devia. Em casa encontrava-o já com o duche tomado e pronto para dormir. Mas isso não vem ao caso. Divorciei-me, claro. O que eu queria ilustrar é que tenho o hábito de reparar em tudo.

Por isso foi normal quando comecei a reparar no padrão anormal dos números. De súbito o número 529 estava por toda a parte. Com certeza já ouviram falar do famoso fenómeno 11:11. Cada vez que se olha para o relógio ou para o PC ou para a televisão - e são 11:11. Certas. Sempre. 11:11 por toda a parte. Milhões já reportaram este fenómeno. Há toda a sorte de teorias. Comunicação de anjos. A recordação de algo. Mas isso a mim não me importa. Estava a suceder-me pela primeira vez e era com o 529. Olho por acaso para a fachada de um prédio e o número que vejo é este; olho o relógio e são 5:29. Acordo a meio da noite e vou ver as horas: 5:29. Nas notícias há 529 infectados só num dia de gripe A num país qualquer. 529 por todo o lado. Ora mistérios não me agradam. Dão-me cabo do juízo e a primeira coisa que quero fazer é solucioná-los. Solucioná-los para que deixe de pensar neles obsessivamente. Quando já qualquer explicação racional tinha sido posta de parte por mim, desisti e pedi a ajuda de uma amiga ligada a esoterismos e metafísicas.

“Submete-te”, disse-me ela. “Ao quê?”, perguntei. Ela encolheu os ombros e disse “Simplesmente submete-te”. A Deus, ao Universo, a quem quer que seja que esteja a tentar comunicar comigo. “Porque raio não mandam um emílio? Ou me escrevem uma carta? Um sms? Isto parece-me demasiado labiríntico.” Ela riu-se. “Todas as noites quando fores dormir pede ao teu Guia Espiritual que te ilumine e indique o significado desta ocorrência. Vais ver, resulta. Demora é tempo.” “Quanto tempo?” “Não sei. Um mês. Duas semanas. Quatro meses.”

E assim, todas as noites, como a boa rapariguinha que sou, pedi a ajuda de um suposto guia. Ou mestre. Ou Eu Superior. Até requisitei com fervor a ajuda de Deus, não obstante o meu agnosticismo. Hoje é a noite 529. Hoje será a última noite em que peço o esclarecimento deste enigma. Depois, ah, depois ataco o mistério com a resolução de um Pittbull esfomeado ao atacar a carcaça de uma ovelha.

(29-30/08/2009)

Artigos de Escrita

Já que há imenso tempo não falo sobre este tema.

Aqui ficam alguns artigos, em inglês, pois claro.

What if?

What if you balanced on the edge of your dream, unable to see the rail, but went for it anyway? What if you failed the first four (hundred) times you tried but you still ran back to the start and tried again? What if you ignored every excuse, every reason to quit, and refused to back down?

What if?



Commitment is what marks us as writers. Writing requires time, effort, focus and a great deal of faith. We're like explorers crawling into a cave with nothing but the wavering beam of a flashlight to light our way. Without faith, we might turn back. Without persistence, we might give up. Which is exactly why writers need to commit: to writing that sentence, to filling up the page, to finishing the chapter, to wrapping up the book.

And of course, that's just the beginning! Re-read and revise. Cut some scenes, flesh out others. Yet… the joy of it. Ah, the tingling rush of pleasure as the eye follows the plot. This is magic of the best sort.

Did you know that scans have shown that our brains respond to imagined circumstances just as if they were real? When we write stories, and others read them, well… We are creating worlds here, my friends. This is True Magic.


http://www.beverlybrandt.com/spreadsheet.htm Abaixo, um trecho que me pareceu relevante.

PLOTTING--THE TWELVE-STEP METHOD

1. Ordinary world-set up what life is like before the story begins; give reader only what she needs to know (what's going to change)

2. Inciting incident-get one of the major plot lines moving

3. External conflict begins to rise-life is thrown off course, raise the stakes

4. Intensify conflict-troubles accrue because of the protagonist's actions in response to the antagonist. The protagonist appears to be making the right choices, but it just causes more problems for the antagonist, who then has to act in response, forcing #5.

5. Protagonist engages-have to give her a reason to do something (motivation)

6. Antagonist bites back-this forces the protagonist to take action, the antagonist is ACTIVELY working against the protagonist

7. Reversal (optional)-everything a character believed before changes 180 degrees

8. Point of no return-event, action or decision where the protagonist commits 100%, life as the protagonist knew it is over and things will never be the same.

9. Crisis-the worst that can happen does; bring in the internal conflict to make it the worst thing that could happen to your character. This is where it seems the protagonist is going to be conquered either emotionally or physically. S/he begins to think "maybe I am beaten"

10. Dark moment-emotional reaction to the crisis; giving up shouldn't seem like the coward's way out but a rational choice, but of course s/he won't do that

11. Climax-what happens after the h/h make their decision based on the dark moment (as much as you can, make crisis & climax happen in a BIG way -- make it public and not just in their minds. The dark moment is internal, the crisis and climax shouldn't be.) The protagonist appeared to be beaten, but continues on against all odds. The protagonist should come into direct, physical contact with the antagonist in this scene to make it more satisfying to the reader. The protagonist could not have won out against the antagonist when the story began, but what s/he's learned along the way gives her the tools to win out.

12. Resolution-show world restored to order. Should be triumphant; resolves interactive conflict between h/h and shows internal conflict has truly been resolved for all time; show the change your story has wrought in both the setting and in the protagonist. Shouldn't just be "I love you", "I love you, too."

sábado, agosto 29, 2009

MÁGICO/ VALETE DE PENTACLOS



[A Viagem do Locuo e do Mágico: cont.]


O Mágico não tinha um tostão furado. Não o incomoda, mas a sua barriga discorda da asserção. Decide parar na vila mais próxima, um vilareco de uma dezena de casas, cheia de gente pobre, mais pobre de horizontes e princípios do que a nível material e isso é dizer muito porque parecia terem menos do que pó para comer. Na tasca da vila há tremoços e cerveja. O Mago ergue o sobrolho, obviamente não habituado à magreza do manjar, há tanto que não tinha de se virar só para ter uma míngua tijela rasa de sopa. E isto nem sopa era. Mas lembrava-se dos tempos antigos, do que fazia, saído da infância, e mesmo enquanto criança de oito, nove anos, depois de se ter perdido dos pais ao seguir por curiosidade os saltimbancos - e nunca mais os haver encontrado. Uma criança com um intelecto quase sobrenatural e uma capacidade de se virar no mundo muito além daquela que tinham os adultos mais batidos nos caminhos agrestes da vida. Tinha o dom incomum para a sobrevivência. Era um homem alegre se bem que com os anos essa alegria se fosse alojando mais e mais no interior de si, como uma candeia eternamente acesa no centro da sua alma. Quando era jovem e adolescente ria e saltava por todo o lado, alegre no meio dos desafios porque era aí que se sentia mais vivo. Apesar de à superfície se parecer bastante com o Louco, nunca ninguém nos tempos de juventude se lembrou de o chamar de Tolo. A sua inteligência viva e inquisitiva saltava à vista.

Montou a banquinha no centro da vila, tirou a vara mágica do interior do manto e dispôs três copinhos em cima da banca. Alguns curiosos aproximaram-se e um entre eles, mais temerário, aceitou o desafio.
- Onde está o feijão mágico? Quem o encontrar fica com ele.
Após várias tentativas ninguém acertava, mas o Mago já tinha algumas moedas gastas de cobre que podia usar para matar a fome. Quando tinha o suficiente parou e arrumou a banca. Mas antes deixou que um velhote sem um tusto (permitiu que jogasse três vezes gratuitamente) “descobrisse” o feijão mágico. O Mago afastou-se enquanto o velho correu tropegamente com o seu prémio para muito longe. Quando achou que ninguém o via, plantou-o num monte de lixo. Daí a uns dias teria uma surpresa chocante. Mas deixemo-lo, a ele e ao seu prémio, o primeiro que recebera em toda a sua vida maltrapilha e desesperada.

Na tasca os tremoços souberam-lhe divinamente e a cerveja morna era como hidromel dos deuses. Há tanto tempo que não caminhava assim pela estrada, com absoluta confiança em Deus e nos seus talentos. Era como se vivesse de novo a juventude. A um canto afastado viu um valete, ricamente vestido com algum ouro debruado na roupa. Falava pelos cotovelos ao telemóvel. Falava e falava. Ideias de negócios, tinha-as aos milhares. E partilhava-as alegremente. Era muito jovem, parecia ter quinze anos. Parecia que tinha o telemóvel colado ao ouvido. Falava com patronos e mecenas, na esperança de que um deles financiasse uma das suas ideias que os tornaria a todos multimilionários. O Mago estava impassível à sua mesa, renovando os pires de tremoços e as cervejas mornas que lhe sabiam a ouro líquido, muito atento à conversa do jovem desenvolto. Tinha dinheiro suficiente. O seu lado matreiro veio ao de cima quando decidiu pedir para se sentar à mesa do Valente de Pentaclos e oferecer-lhe uma cerveja. Ofereceu-lhe várias, na verdade. As suficientes para o embriagar e soltar-lhe a língua. Intuíra que aquele rapaz sabia algo importante.

- Psst... anda cá, vou contar-te um segredo...! - disse baixinho e com modos entaramelados.
- Conta... - disse o Mago a rir-se. - Que segredo tão grande poderá um jovem ter?
- O Maaaaior de Tooodos...! - disse abrindo os braços de par em par e quase se estatelando no chão.
- Ah sim? - disso o Mago e bebeu outro gole de cerveja, não querendo parecer muito interessado.
Por fim o Valete de Pentaclos contou-lhe que tinha um mapa que mostrava o caminho exacto para o tesouro que o seu antigo Senhor tinha escondido dos bárbaros das tribos do Norte, aquando das invasões quatro anos antes. Levara muitos criados e matara-os a todos, menos a ele que teve a previdência de fugir e esconder-se. Lembrou-se de pôr em papel o “caminho para o tesouro”. Pouco depois o Rei de Pentaclos foi morto por um opositor e mais ninguém a não ser ele sabia onde o tesouro se encontrava.

O Mago riu muito alto. Pagou as cervejas generosamente e ainda um quarto para ambos passarem a noite. Depois pegou no rapazola, pô-lo ao ombro como uma saca de batatas e subiu as escadas até ao sótão abafado e ao colchão de palha. Despiu o jovem e olhou o corpo nu muito tempo. Era bonito. Acariciou-lhe os ombros e os braços, a seguir as faces rosadas e o cabelo loiro claro. Deu-lhe um beijo casto nos lábios e com pesar decidiu que não havia tempo para prazeres hoje. Localizou o telemóvel e abriu-o. No interior estava o mapa do tesouro, já gasto. Remontou o telemóvel com perícia e partiu, não sem antes olhar com pena para o corpo apetitoso do rapaz.
Procurava o Louco, ele próprio dono de algo valioso sem o saber, mas aquele desvio divertido valeria a pena, não pela fortuna, desprezível quando se tinha outra, a da sabedoria, mas pelo mistério, pela expectativa, pela aventura! Ah, era como se fosse criança uma segunda vez. E que bem isso sabia, todo esse ar fresco a bater-lhe na cara era como ouro, como ouro do mais puro.

7 de Agosto/09

4 DE COPAS/ MÁGICO

[A viagem do Louco e do Mágico: cont.]



Depois de passar o desfiladeiro, o Mágico chegou a um prado. O corpo pede descanso, ao menos por umas horas. É dia, ainda não pode ver as estrelas e guiar-se por elas. Ouve o corpo e senta-se à beira do carvalho, encosta a cabeça ao tronco e rapidamente adormece. O sonho vem logo a seguir. Nele vê quatro cálices frente a si e olha-os apático. Ele tem sede, mas cada um dos cálices tem um líquido diferente. Qual deles terá água? E qual terá o veneno? A escolha certa impõe-se. O Mago, dentro do sonho, senta-se em pose de lótus e não olha directamente nenhum dos cálices. Um lentamente ergue-se e pavoneia-se frente ao seu nariz como que dizendo: “Toma. Bebe-me”, mas ele permanece impassível. Era como se o copo fosse maléfico e o quisesse deter na viagem, terminá-la abruptamente. Matar o Mago - impedir que reencontrasse o antigo aprendiz e recuperasse a jóia que ele levara (inadvertidamente, era provável - o Louco não mentia, era puro e dizia a verdade - por isso o chamavam de Louco). Ora porque raio quereriam impedi-lo de encontrar-se com o antigo aprendiz? No sonho pode morrer-se, sabe o Mágico, se o veneno for forte o suficiente. Se o vissem de fora pensariam-no apático, sem força para tomar uma decisão (como a jovem das sete copas), mas na verdade pensava, planejava, planeava um curso de acção. Considerava cada detalhe com minuciosidade. De dentro do manto tirou a varinha e com um lento tremular todos os cálices se voltaram e despejaram o líquido no chão. A terra tornou-se cinzenta e morta. Afinal todos continham veneno.
Acordou durante a noite. Prosseguiu caminho, com as estrelas.

(30-31/07/09)

quinta-feira, agosto 27, 2009

Hoje

Hoje - É um dia fabuloso: é véspera de Sexta-feira, que é véspera de Sábado!!!!!!

In other news.

Montes de trabalho hoje, parece que a malta estava à espera que os preços dos combustíveis baixassem para fazerem encomendas. Pois é, agora 'tou a fazer outra coisa e... não atendo!!!!! Por enquanto, isto é. Isto não se pode ter certeza de nada.

/Dunya out

quarta-feira, agosto 26, 2009

domingo, agosto 23, 2009

Escrever um milhão de palavras

... num ano.

Um dia quero fazer isto.

Fui ao google e descobri este senhor:

http://yearofamillionwords.blogspot.com/2008/12/2008-year-of-eight-hundred-thousand.html

Decidiu escrever um milhão de palavras durante um ano - mas só conseguiu 800 mil.

Mesmo assim, bolas!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! NADA MAU! Aliás - Brilhante!

Já 'tive ali a fazer umas contas, hehe. Precisaria de 10 cadernos A5 para escrever o meu milhão de palavras, lol - isto se escrevesse primeiro à mão e só depois passasse a PC.

Um dia, quem sabe, farei isto... :p

Adenda: http://www.openwriting.com/archives/2006/06/arthur_mee.php

"Arthur Mee, a man who wrote an estimated million words a year for 50 years."

Mãezinha! 0_0

Hill With A View


Hill With A View, originally uploaded by adebⓞnd.

segunda-feira, agosto 17, 2009

Saturno em trânsito na Casa 11 - II -

Saturn will be moving off an angle (your 10th house of career) and into your solar 11th house. On a straightforward level, Saturn here can affect your relationships with your friends. You may feel cooler toward them or vice versa. You may identify problems that need to be corrected. The same thing applies to groups you belong to. You may feel a need to straighten out problems there. On a larger level, Saturn in the 11th can affect how you relate to society in general. Your networking via social media sites can change, but also some of your deeper convictions and sense of contentment with how your life as a member of society is going. Social issues may affect you more profoundly. [A gripe A...?! lol] This can be good, in the sense of greater engagement with the world at large, and not so good, as you realize that society’s ills affect you personally.


E o Melhor de tudo é que este belíssimo Saturno vai fazer conjunção ao meu Plutão natal na 11 (Olé) e quadratura à sua posição natal, bem como à Lua natal na casa 2. Olé, olé, olé!!!! Ou seja vai activar a minha quadratura em T envolvendo Saturno/Lua/Plutão.

'Tou para ver o que é que vai sair daqui :/

Winter must be cold for those with no warm memories.

Este passaroco é tão engraçado...!

domingo, agosto 16, 2009

Escrever

Je vous present le Journal de Jules Renard (escritor francês):

Le talent est une question de quantité. Le talent, ce n'est pas d'écrire une page : c'est d'en écrire 300. Il n'est pas de roman qu'une intelligence ordinaire ne puisse concevoir, pas de phrase si belle qu'elle soit qu'un débutant ne puisse construire. Reste la plume à soulever, l'action de régler son papier, de patiemment l'emplir. Les forts n'hésitent pas. Ils s'attablent, ils sueront. Ils iront au bout. Ils épuiseront l'encre, ils useront le papier. Cela seul les différencie, les hommes de talent, des lâches qui ne commenceront jamais. En littérature, il n'y a que des boeufs. Les génies sont les plus gros, ceux qui peinent dix-huit heures par jour d'une manière infatigable. La gloire est un effort constant.


Concordo em absoluto.
E acrescento que a glória de escrever reside na glória de escrever todos os dias - ainda que anonimamente.

sexta-feira, agosto 14, 2009

The Attraction


The Attraction, originally uploaded by RH Miller.

É amor, lololol.


Ah, e hoje é uma gloriosa SEXTA-FEIRA!

Almost ready to leave the nest!

Que giros.

All that is gold does not glitter; not all those that wander are lost. ~ J.R.R. Tolkien

Na minha rua oiço os badalos das ovelhas que regressam, com o pastor.

Concordo em absoluto com este gajo.

Oh, if I had my way...!

In other news: fui à piscina. Que BOM.
'Tava sozinha. Que fixe.

E agora tenho de ir trabalhar.

Job wise: agora 'tou a fazer outra coisa (embora no mesmo local) e por isso já não tenho tempo de escrever (durante o trabalho, I mean :p), no entanto, agora que a comecei, quero terminar a história da Viagem do Mágico e do Louco. Tenho alí uns capítulos para passar e colocar aqui.

/Dunya

segunda-feira, agosto 10, 2009

Escrita

Fiquei com vontade de ter objectivos de escrita igualmente doidos depois de ler isto:

http://navywifeadventures.blogspot.com/2009/05/writing-goals-revisited.html


Eish, um dia hei-de escrever UM MILHÃO DE PALAVRAS NUM ANO!
Só para ver se sou capaz. Mesmo que depois tenha de queimar tudo se se revelar uma completa porcaria, lol.


[Adenda: ai que grande invejinha que eu tenho...! >:| ]

REI DE ESPADAS/ LOUCO

A VIAGEM DO MÁGICO E DO LOUCO (CONT)


O Rei de espadas era o homem consumado da lógica e da estratégica, ganha a custo com a maturidade e as lições de vida. Herdou um pequeno reino quando nem tinha dezasseis anos e quarenta anos depois construíra um império, alargando o território com conquistas, acordos de paz e casamentos (seus e dos filhos). Este Rei tinha fama de justo (se bem que às vezes um pouco implacável), os veredictos eram acertados e em ocasiões duros. Era um homem que cortava a rente sem deter-se em floreados. Instintivamente sabia o que seria correcto, por mais que doesse. Quem quer que falasse com ele sabia que só ia ouvir a verdade. Tinha uma grande capacidade para ser imparcial e, apesar de não ser falho de sentimentos, sabia temperar a razão e a emoção.

Ao fim de meses num impasse, em batalha com outro exército de um reino próximo que teimava em não submeter-se, o Rei de Espadas tinha chegado à conclusão que outra via teria de ser tomada: a diplomática. O Rei continuava a querer a posse deste Reino pois dar-lhe-ia acesso directo ao mar, logo, a maiores oportunidades de comércio (evitando por completo as tribos bárbaras do Norte que roubavam muitas das caravanas para o exterior). Contudo ele estava disposto a esperar anos se fosse preciso. Entretanto de nada valia delapidar os seus recursos humanos, militares e financeiros numa batalha e guerra obviamente empatadas, mais valia dizer: perdidas.

É neste cenário que o Louco aparece, cabriolando, assobiando, gozando o calor do sol na face enquanto o cão atrás de si mal pode andar, tão morto de sede estava.
- Quem é aquele homem? - pergunta o Rei de Espadas no limite da sua tenda. Avistara-o ao longe e todo o exército o observava, aquele homem que não parecia muito bom da tola, a andar aos saltinhos (com um cãozito meio morto atrás) no meio do terreno onde nem há quatro dias houvera uma carnificina violenta.
- Não sabemos, Senhor. Acabou de aparecer - respondeu o servo.
O Rei de Espadas esfregou a barba e mandou que o trouxessem à sua presença.
Dois guerreiros pujantes e musculados pegaram no Louco e arrastaram-no até à tenda do Rei.
O Louco foi jogado aos pés daquela magnífica e aterrorizante figura, sentada num cadeirão enorme.
De joelhos ele implorou:
- Por favor, não me mates! Não sei o que fiz! O que fiz de errado? Prometo que não volto a fazê-lo!

Estava aterrorizado. Em segundos questionou a sua viagem, a razão porque a empreendera. Fora aprendiz do Mágico durante tantos anos, em criança, mas a juventude chegara e ele queria ver o Mundo! Devia ser deveras um tolo, como os outros o chamavam. Ajoelhado, escondeu a cabeça entre as mãos e esperou pelo golpe fatal daquele quase gigante à sua frente.
De súbito o canito branco alcançou-o, cansado, mas teve forças de se meter entre o Rei e o Louco e ladrar furiosamente. Para o matares vais ter de passar por mim!, dizia ele ao Rei. O Rei de Espadas desatou num riso desenfreado que fez desmaiar o cão de susto e espantou o Louco que, a seguir, sentiu uma mão carinhosa a afagar-lhe o cabelo.
- Levanta-te. Quem tem servos tão corajosos e leais - apontou o cão de pernas para o ar - deve ser um homem valente.

Deram água ao cão e alimentaram-no quando enfim acordou. O Louco também foi alimentado. Nem sequer se lembrou de pensar na sua sorte. Cada vez que precisava de comer o destino providenciava.
Passaram a noite no maior conforto e no dia seguinte o Rei de Espadas foi directo ao assunto:
- Quero que vás ao meu oponente apresentar uma proposta de tréguas.
- E-eu? - balbuciou o Louco. Mas quem sou eu? - um homem com a inocência de uma criança, sem um osso de decepção no corpo. E isso era exactamente o que convinha ao Rei de Espadas naquele momento.
- És o homem apropriado para a missão - respondeu o Rei e colocou-lhe com gravidade a mão no ombro. Depois entregou-lhe um canudo longo com uma fita para o transportar.
- No interior estão as condições. Espera pela resposta.
- Não sei se sou a pessoa indica... - mas o Rei cortou-lhe a palavra.
- És sim. É um favor pessoal que me fazes - disse pegando-lhe nos ombros e estreitando-o contra si. - Somos amigos, não é verdade! - gritou com um riso de trovão.
- É... é - e o Louco lá foi, sentindo uma estranha responsabilidade que não queria sentir, uma responsabilidade com um peso esmagador.

O cão branco seguiu-o a medo, desconfiado. E se apanha com uma flecha? E se lhe dão uma espadeirada? Pela primeira vez os passos do Louco não eram confiantes, mas sim hesitantes e trémulos.
O outro Rei tinha o cabelo Ruivo e ar feroz. Leu os papéis do canudo sem uma palavra para o homenzinho trémulo que trouxera a mensagem.
O outro não dava ponto sem nó, pensou o Rei Vermelho. Isto devia trazer água no bico. Ordenou que o prendessem e o torturassem até revelar os verdadeiros planos do Rei de Espadas. Entretanto deu ordens ao exército para se preparar para o provável ataque iminente. Lá voltaram a arrastar o pobre do Louco, desta vez por outros dois matulões, para dentro de um buraco cavado no chão.
- Ó, bem bonita a fizeste - pensou o Louco quando os ossos bateram na terra, mas, estranhamente, não tinha medo. Sentiu falta de algo. O pau. Já não tinha o pau. E o cão já não o seguia. Que cão tão estranho era aquele, tentou lembrar-se da primeira vez em que o vira - sem resultado.

O canito branco foi a medo até à borda do buraco, mas logo se escondeu atrás de uma moita quando viu outro soldado ir buscar o Louco. Tirou-o do interior e pô-lo no armazém (única construção feita de barro, palha e pedra, o resto eram tendas).
Foi o canito que o salvou: mordeu o rabo ao soldado e o Louco teve tempo de se libertar das amarras onde começara a prendê-lo à parede. Perto notou um chicote. Correram a bom correr. Correram tanto que só à noite pararam. Para trás deixaram um rumor de guerra, guerra até ao limite, guerra sem lógica nenhuma. Guerra sem vencedores porque ambos os lados se dizimaram sem ganho algum.

(30.07.09)

(c. 1050 palavras)

Coimbra

Olá pessoa de Coimbra que acha que eu já tenho uma entrada com o meu nome na Wikipédia, lololol!

(Não tenho.)


Ah: e é sem "h" no nome próprio.

domingo, agosto 09, 2009

Entrevista com Anita Brookner.

http://www.telegraph.co.uk/culture/books/authorinterviews/4639980/A-singular-woman.html

Astrologia de AB.

Anita Brookner

Uma autora que eu Adoro. Agora estou a ler Fraude. Parece que publicou mais de 20 romances e o seu primeiro livro foi editado aos 53 anos!

http://petamayer.blogspot.com/


I'm writing my PhD on contemporary British novelist and Romantic art historian Anita Brookner, best known for writing boring books about lonely, single women. My PhD re-assembles this description in ways that make her look good. I hope to submit in 2009.

sábado, agosto 08, 2009

BENTLEY REVISITED

(sort of)

Era uma vez o senhor Bentley, muito chatinho, porque eu não lhe ligo nenhuma.
- Tu não me ligas nenhuma – diz ele com as fauces vermelhas de idoso com birra.
E é verdade. Há quantos anos tenho o Bentley II parado? (Demasiados!, diz ele.) Pois. Temos pena, como sói dizer-se ainda no outro lado onde eu costumava trabalhar. Temos pena. É a vida. Lamentamos. Com a maior brevidade possível. São os procedimentos.

Agora tenho uma horita para tornar defunta. Ah, ah, ah. Depois vou comer. “Não vais!”, grita ele. Pois. Temos pena: vou. “Não vais!” Ofereceu-me há pouco uma barata para eu comer. Que ando magra e baratas têm Proteína. É mentira. Duas mentiras. Desconfio que as baratas engordam senão não me ofereceria. Anda desconsolado (desacorçoado), o senhor Bentley. A sobrinha-neta não o respeita (e devia? “Devia! Raio da pirralha. Se fosse no meu tempo muita porrada levava.” Ó, senhor, cale-se, não sabe nada. No seu tempo... “No meu tempo! Sim!”). A quantas mestras de escola fodeu ele o juízo e levou quase à esquizofrenia clínica, I wonder? A muitas. “Poucas!”

Não te quero ligar nenhuma, meu velho Bentley. Senil Bentley (escarrou-me, o cabrão, mas eu desviei-me e a massa verde esponjosa caiu no colo de um senhor de cadeira de rodas).
Não me apetece tocar-te mais, para dizer a verdade.
“Ó, o meu belo corpo...!”
Enrugado e encardido.
“He, he, he”, ri-se, sardónico, o sacana do velho.
- Onde meteste o chapéu, ó velho fuinha? Fugiu-te outra vez?
“Foi para as Meninas”, diz ele, enunciando muito detalhadamente cada palavra com solenidade. “Para as Meninas”, repete de ombros caídos, quase pesaroso.
- Se te apanham, apeado no chão, 'tás bem fodido. Lixam-te os cornos, filho-da-puta – digo-lhe a rir. É que mesmo ninguém gosta dele.

Ele ri-se muito alto, dramaticamente (como se estivesse no teatro de modo a que na última fila o escutassem) e alça-se no ar. O cabrão do velho. Como raio é que?
Olhei para cima com atenção onde permanecia estático com a mão em pala sobre a testa a observar o horizonte e a outra apoiada na cintura, por cima do pesado sobretudo cinzento de lã. Nos sapatos saíam de cada lado um par de asinhas, cuja dimensão era a metade das de um pombo, e elas mantinham-no no ar. Depois, com um ar trocista, puxou as calças para baixo, deixando à vista um rabo enjoativamente branco e flácido (foda-se, vai para o Meco, a ver se apanhas alguma cor...).

“Uma criança! Uma criancinha com uma saudável birra! Olé! Olé, Tooooourooooo!”
E a segurar as calças voou até à paragem do autocarro, agachou-se bem (no ar) e projectou um saudável e consistente rolo de massa castanha-escura, que foi aterrar no berço do miúdo de três anos. Todavia a mãe retirara o fedelho a tempo. O berço foi direitinho para o lixo. O senhor Bentley gritou lá do alto depois de limpar o rabo às folhas das árvores:
“Parece que nem dão valor às coisas! Dêem o berço à caridade! À Caridade!”
Eu pirei-me. Que vergonha. Este gajo só me dá vergonhas. E baratas. Piolhos não dá porque eu nunca me chego muito perto (IstoNuncaSeSabe).

(Ui. 'Tá quase na hora do jantarinho.)


Ai o que eu gostava um dia de ver o Senhor Bentley em cena, no Teatro! Representado pelo Luís Miguel Cintra! Só esse, ninguém mais.

(c. 580 palavras)

6.08.09

Dioptrias

Tenho miopia de 5 dioptrias num olho e 5,5 no outro. Agora terça~feira vou buscar os novos óculos. E a médica disse que se calhar vou precisar de óculos para ver ao perto a partir dos 40 anos. Fixe ._.

Disse também que a miopia tinha mais ou menos estabilizado. E que o estigmatismo tinha piorado.

Enfim. Maleitas!

C'est la vie.

'Tou velha, caneco.

TEMPO IMORTAL

TEMPO IMORTAL (ou: Vénus em Escorpião)

Só de pensar nela e nele juntos, na mesma cama, a trocarem confidências murmuradas, a tocarem-se, a sentirem a pele um do outro, Luís sente como se um buraco negro o engolisse. Um buraco no meio do estômago, algo muito fundo, a exsudar desespero, a libertar raios de angústia. Não consegue evitar pensar nos dois juntos. Um ao pé do outro. Porque não está Vera ao pé de mim? Porque não me toca com a mesma paixão e compulsão, com esse leve e suave, gentil, quase desgosto de que podia ser rejeitada pelo outro – mas nunca é? Porque ele e não eu? Supõe, Luís, no meio da sua dor surda, no centro dela como se a habitasse, supõe que o outro é o típico macho alfa. Tem os dentes bonitos e brancos, o tipo. Quando ri tem um riso muito grande, exuberante, e nada falso. Como se ela tivesse dito a coisa mais espirituosa à face da terra, em todo o tempo da terra e desde o começo da evolução humana.
Vera não é espirituosa.

É bonita e alta. Sabe gozar a vida e dar-se com todos. Quando fala com alguém consegue dar a impressão de que naquele momento essa é a pessoa mais importante do mundo. Tudo o que o outro diz é original, significativo, e é importantíssimo que esteja atenta. Pode não haver outra oportunidade para ouvir aquela pessoa extraordinária. E se morre amanhã? Vera é um pouco falsa. E vazia. Mas é a Sua Vera. Que sempre amou com paixão e agora ela devota a paixão dela a outro.
E é menos falsa e mais verdadeira. E é mais genuinamente alegre. E ri-se com gosto. Com verdade. Luís morre a cada segundo que pensa nos dois juntos. Um buraco negro a engoli-lo, a estilhaçar cada átomo da carne. Um desespero que o afoga e lhe ocupa o corpo todo.

Não gosta deste sentimento tão incomum. Nunca foi ciumento. Porquê agora? Odiava a sensação, a maneira escura e suja que o fazia sentir, como se estivesse no meio de um lago turvo e tóxico, preso por algas que o impedem de subir à superfície e respirar. Era isso: o ciúme não o deixava respirar. E no momento em que sentia o ciúme, ele deixava de ser o Luís para se transformar naquela massa horrível de sentimento tenebroso. Ele perdia-se. Afogava-se a si próprio.
Tudo tinha sido muito cortês, o rompimento. Continuavam “amigos”. Amara-a tantos anos que já se tinha esquecido do que isso era. E agora perguntava-se: mas isto é amor ou ressentimento? Por ter sido “trocado” por outro? Isto é orgulho de macho, orgulho ferido? Sentiu-se pior ainda ante esta possibilidade. Sempre se sentiu um ser superior, impossível ele, o Luís, ter sentimentos pequenos e mesquinhos como esses. Não ele! Jamais ele. Era demasiado generoso de coração. O que importava era a felicidade comum, era assim que ele se via: um homem do mundo, civilizado, com sentimentos civilizados. E a partida de Vera em direcção a um belo espécimen humano de grande boca e sorriso bonito, fê-lo ver-se de outro modo. De um modo honesto.

Por instantes odiou-a. Se não fosse a sua partida (num momento da vida conjunta em que já quase nada tinham a dizer um ao outro) ele continuaria perfeito ante os seus próprios olhos e opinião. Agora Luís era obrigado a reformular a opinião de si mesmo.
Luís era um ser humano com falhas tal como os demais. E aquele horrível silêncio negro a ocupar-lhe a alma, sem desculpas, sem permissão, cada vez que deixava os pensamentos voarem para eles os dois, juntos. Doía-lhe tanto saber que, quando os dois estavam juntos, nada mais no mundo inteiro existia. Só os dois. Só os corpos de ambos entrelaçados num instante imortal, e ele, Luís, - deixava de existir. Ele a quem Vera amara um dia – cessava de existir.

Uma dor imensa, pior que o ciúme, submergia-o nessas alturas. Como se a própria tristeza o engolisse. Perguntava-se se deveras a amava ainda – porque achava que não. Mas não entendia esta tristeza cortante que o assombrava de tempos a tempos. Talvez fosse a memória do amor antigo que o viesse relembrar que houve uma época em que ele e Vera estavam tão juntos que o mundo desaparecia. Também eles partilharam, algures, esse tempo imortal.

6.08.09

(c. 740 palavras)

EscreverEscrever

Ando a escrever imensa coisa durante as horas de trabalho. As chamadas são raras. Ou raras o suficiente para eu conseguir escrever. Agora o meu problema é: vou escrever sobre o Quê? Têm de ser pequenos contos ou um projecto mais longo (como este do Louco e do Mágico) que possa ser dividido em pequenos contos. Tenho ali mais coisas para pôr no blog, mas tenho de as passar primeiro a pc.
Este trabalho é o inverso do outro - menos chamadas, mas muito menos. Só que - quanto tempo será assim? Logo se vê.

Entre a série de coisas que aprendi neste job, aqui vai uma:

- Foda-se, que os portugueses têm uma letra de merda...!

/Dunya out

7 de Copas e 6 de Ouros

E eis aqui o que vou escrevendo durante as horas de trabalho...

* * *


7 DE COPAS / MÁGICO

O Mágico tem olhos de lince. Está em sintonia com o Universo. Estuda-o. Une o cimo ao baixo, o céu à terra. É a força da Palavra a unir o material e o imaterial - concretizando-o, dando-lhe Forma. Substância.

O Mago vê a jovem mulher de costas com um xaile creme. Está em plena adoração a uma árvore. Ele aproxima-se lentamente, com um secreto temor e respeito pela insanidade de outro ser. Não se enganou. A jovem não está no seu juízo perfeito. Quando a rodeia descobre que mira com extâse sete cálices colocados no tronco da árvore. A jovem tem um ar patético e contente, lançando à vez cada uma das mãos para os diferentes cálices, mas nunca tocando nenhum, nem nunca se decidindo por um. Não veria ela, como claramente ele o via, que eram imagens irreais, hologramas? Que iriam desaparecer todas à excepção do tocado? Que não eram na verdade realidades concretas? Ilusões, todos esses cálices pelos quais ela salivava, incluindo o que por último escolhesse - porque nunca realidade nenhuma supera a ilusão, sempre superior e brilhante e perfeita. Era para isso que ela estava a olhar. Desejosa e esperançosa do que estava por vir, nem sequer notava o aqui e agora. Não via o Mágico à sua frente, perto da árvore. Nem reparava no próprio vestido, roto e sujo, nem se dava conta da própria sede e fome. Um embuste, aquela árvore. Esteve tentado a tocar num dos cálices e a terminar a ilusão, mas deteve o gesto. O Mágico sabe que só ela tem a capacidade de terminar aquilo. De parar e fazer uma escolha, por pior que seja, de rebentar a bolha à ilusão.

O Mago regressa ao caminho sem olhar para trás e é nesse momento que a jovem o nota, de costas, a afastar-se. Mas retorna a atenção para os cálices e pensa que um em particular, o que tem a caveira, é assaz interessante. Porque terá uma caveira? Avança o dedo esticado para ele, mas não o toca. Detém-se olhando longamente e reflectindo. De repente os outros cálices eclipsam-se e só resta aquele. Ao longe a figura do Mágico desvanecia-se.
Seguira o instinto. Algures por aquele caminho devia ter ido o Louco.


6 DE OUROS/ LOUCO

O homem de negócios hoje sai para fazer caridade! Uma vez a cada duas semanas atavia-se com as melhores vestimentas e sai para a rua onde, de entre o povo, escolhe uma alma maltrapilha e em necessidade com quem será magnificamente generoso. Moedas reluzentes de ouro caem de modo enfático e pomposo da sua mão bojuda para o humilde pedinte ajoelhado diante de si. É um homem orgulhoso da sua Generosidade. Acima de tudo é importante que seja visto a Doar livremente o seu dinheiro. Após a dádiva pavoneia-se altivo, muito satisfeito, pela cidade, recebendo os bons-dias respeitosos e deferentes dos cidadãos. Os que já foram alvo da sua generosidade sabem que têm de ser especialmente atenciosos com ele. A Generosidade Paga-se, afinal! Na verdade, nada naquele pobre homem é generoso ou feito de coração, o motor do pequeno teatro é outro: provém da extrema carência interior, da falta de amor, de si e pelos outros. Dando seguramente vão gostar de mim, apreciar-me! Terão de o fazer. Sim, terão. E há uma nódoa negra que lhe enche o corpo por um segundo àquele pensamento - mas logo a espanta e regressa à Imagem cultivada há décadas: o homem das dádivas! O homem que dá "sem pensar em si". Grande mentira. Se é unicamente em si que ele pensa. Mas não pode permitir que a verdade venha ao de cima. Ela está muito bem escondida, reprimida no fundo da alma, afogada nas suas carências e sentimentos negativos.
E de súbito há comoção na cidade: o Louco chegou, cabriolando, dando nas vistas nas suas vestimentas sem nexo nenhum (quantas cores tens no teu fato, ó Louco?). Na ponta do pau o lenço baila vazio. Comera as uvas, dera a pera ao cão e atara mal a trouxa, predendo os restante frutos.

As pessoas seguiram aquela figura jovial, interessadas. Até que o Louco se sentiu cansado e sentou-se numa pedra. De repente ficara com fome e sede. Olhou ao redor e viu a fonte. Foi matar a sede e, depois de o fazer, viu um homem gordo e grande à sua frente, a sorrir muito.
- De onde vens, amigo? - pergunta com jovialidade.
- Dali - apontou com o dedo para o infinito atrás de si, que já não lhe interessava. Interessava-lhe muito mais o infinito à sua frente.
O homem de negócios mediu-o e decidiu que era um maltrapilho, um perdido de Deus. Alguém que precisaria de ajuda. Pôs-lhe amigavelmente o braço sobre as costas:
- Vem, amigo, vamos comer algo que eu estou esganado!
O canito branco grunhiu e seguiu-os a certa distância.
O estranho pediu as melhores iguarias da casa. Os olhos do Louco abriam-se perante as carnes e peixes exóticos que desfilavam diante de si. O que comeu! Coelhos, perdizes, vacas inteiras, dir-se-ia. Com os restos que iam caindo para o chão o cão branco encheu também o bandulho.

Duas horas depois mal se podiam mexer. Tinham as barrigas salientes e redondas como abóboras. O canito estava de pernas para o ar e arfava com a língua vermelha fora do focinho. O homem de negócios assistia à cena satisfeito. Acabaram os três por dormir ali uma sesta. O homem de negócios não permitiu que ninguém os perturbasse. Chamou criados, mais tarde, e ordenou que fossem levados para o seu castelo no conforto de uma carruagem particular almofadada. Quando acordaram no dia seguinte um banquete digno de reis esperava-os. O homem de negócios mal comia só do gosto de os ver empanturrarem-se. Mas todo aquele tempo, aquilo por que tanto ansiava não veio: um gesto de gratidão, uma palavra, ó!, um tremor de agradecimento. Nem pedia muito. Quanto custa dizer "obrigado"?

Deu tudo ao Louco. Deu-lhe roupas, comida e abrigo. Quase lhe dava as duas filhas gémeas só da ânsia de escutar um "obrigado" sentido. Ao fim de dias, o Louco, porém, tinha a febre de partir. Não parava quieto num sítio e a roupa ornamentada e bela parecia-lhe demasiado pesada, atrapalhando-lhe os movimentos. Um fardo. Cada vez que falava em partir os olhos do estranho que lhe dera comida e guarida mareavam-se de modo que ele se calava para não o transtornar. Mas não suportava mais tal vida.
Uma noite levantou-se antes da madrugada, trocou as bonitas roupas pelas suas antigas, mais leves, resgatou o velho pau com o lenço na ponta (estava no molho a ser queimado no dia seguinte na lareira) - e pôs-se a caminho. O canito deu pela falta dele quando o Louco já estava longe, à saída da cidade. Aquele tolo! Deixar este paraíso! Que tonto!
Só o apanhou três horas depois.

De manhã o antigo protector notou o desaparecimento repentino dos hóspedes. Concluiu logo que tinham partido. Ainda tinha a esperança de descobrir que o Louco roubara algo, e ficou muito desiludido quando viu que o tolo trocara até a roupa luxuosa pelos trapos que trouxera. Durante dias andou de orelha murcha, até quando ia à cidade. Já não dava. Nem se lembrava. Um homem velho e muito pobre, que nunca lhe tinha pedido nada porque lhe via com clareza a mancha negra no meio do peito, um dia ajoelhou-se aos pés do triste homem de negócios e disse:
- Senhor, por favor, dá-me uma moeda, por mais pequena que seja, que eu há quatro dias que não como.
O outro subitamente alegrou-se e mareou-o com uma chuva de moedas pequeninas e brilhantes.
E agora, quem é que estava a ser generoso com quem?

(24-27/07/09)

(1321 palavras)

domingo, agosto 02, 2009

Anjos

Sort of.

Onde eu sinto que estou mais protegida (por anjos or whatever) é quando estou na estrada. Quando há um problema há sempre ajuda. Mais do que uma pessoa vem ao meu encontro. Ontem por exemplo foram duas: o homem da assistência em viagem (que eu tinha chamado) e outro que faz assistência na auto-estrada e viu o meu carro e colocou os cones para haver uma delimitação da área. Isto para não mencionar o próprio mecânico que fez a reparação num tempo record.

Tenho a sensação, a impressão, esta quase certeza absoluta: quando tenho problemas na estrada há sempre alguém que me ajuda (anjos, anjos :p). Por exemplo, da última vez em que tive problemas com o carro também foram 3 as pessoas que foram ter comigo directamente: o mecânico (outro que não o de cima), o tipo do seguro com o reboque (que eu chamei, but that's not the point) e um desconhecido que me viu com o carro parado no meio da subida e com o colete vestido e perguntou se era falta de bateria e se eu queria ajuda (nessa altura já estava à espera do mecânico e declinei). Tenho Júpiter retrógado na casa 3. Júpiter, o Benevolente. Será que, em vidas anteriores, sempre que eu encontrava um desgraçado com problemas na carroça ou a quem lhe tivesse sido roubado o cavalo e tudo o resto, será que eu ajudava essas pessoas? Será que eu estou a ter a paga por isso nesta vida, será esta a retribuição cármica?

No dia anterior, ou seja, anteontem, dei boleia a um tipo que tinha ido pedir trabalho a umas obras, sem resultado. Eu não costumo dar boleias, mas estava calor e tive pena do homem. Poupei-lhe uma subida enorme. Era estrangeiro. Se calhar a minha "boa acção" fez com que tivesse ajuda rapidamente no dia a seguir, lol.

Enfim, considerações minhas.

/Dunya out

sábado, agosto 01, 2009

Carta do Dia: 6 de Paus


6 de Paus
Desenvolvendo a confiança em si

É chegado o momento de conquistar algo bastante almejado, Agata! A presença do 6 de Paus como arcano conselheiro favorece o triunfo sobre a adversidade e pressagia uma situação específica de triunfo muito em breve. Suas aspirações e objetivos tomarão forma e você sentirá imensa satisfação ao perceber que seus esforços não foram em vão. Você se recordará de uma fase em que agiu de forma realmente insegura e rirá disso. Todas as pessoas, por mais fortes que sejam, passam por momentos de insegurança. Isso não as faz menos fortes. A fraqueza surge apenas quando queremos fazer de conta que não passamos realmente por momentos de dificuldade e posamos de orgulhosos. Pedir ajuda a quem se confia não é má idéia, o grande lance é saber em quem confiar!

Conselho: Confie em si e mande ver!

Carro empanado

Ia eu na A8, direcção Leiria, quando o carro empanou perto de Torres Vedras.

Ia para um funeral. Já não fui. Chamei o reboque e agora estou de volta a casa e o carro está no mecânico.

Eclipse de 6.08.09 na casa 3, anyone...?

Saturno/Urano

Porque é que eu vou andar deprimida em Setembro? E em Outubro?
E depois em Março e Maio de 2010?

Nessa altura Saturno e Urano opostos vão estar muito perto da minha Lua a 26º Sagitário, completando uma quadratura em T.

Alguma coisa deve ser, agora o quê?
Something is coming - but I can't tell what.

Seja lá o que for - começa em Setembro.

Uma coisa me "anima" mais ou menos: quando Saturno em trânsito entrar na minha casa 11 e fazer conjunção com o Plutão natal - também fará um sextil ao Mercúrio natal. E não sei porquê os trânsitos de Saturno-Mercúrio são sempre muito "bons" para mim - o que é estranho porque no meu mapa natal estão envolvidos apenas em semi-sextil. (Fui ver: o Ponto Médio de Saturno/MC é: 29º´02 Caranguejo e o Mercúrio natal está muito perto desta posição a 27º46 Caranguejo. Eish. Acabei de me aperceber que o eclipse de 22.07.09 deu-se no Ponto Médio Saturno/MC! Anyway: talvez esta seja uma possível explicação para o porquê destes dois planetas se darem "tão bem" no meu mapa natal, isto é, quando começam a relacionar-se através de trânsitos? Não sei, apenas uma hipótese.)

Só que, penso, a força de Plutão aspectado pode derrubar ou escurecer esse possível efeito "positivo" (ou mais "fácil") de Saturno com Mercúrio. Tipo: alguma coisa Boa está a acontecer - só que eu não a vou ver.

Vamos lá a ver o que me reservam os próximos anitos! Saturno em t. na casa 11: no friends! No hopes! (Ou, tipo, vou afunilar tanto que vou ter Um amigo e Uma aspiração...) E depois segue para a casa 12: Depressão! (Esperemos que não...)

E depois entra na casa 1: ao menos perco peso...! (Isto se a minha Lua deprimida em Sagitário esteve a enfardar os anos anteriores, lol.) Para dizer a verdade: não sei. A parte de perder os amigos e a esperança é que me assusta. Ao menos quando Mercúrio está de algum modo envolvido eu consigo planejar melhor, pensar bem as coisas, e reestruturar-me (inside out).

De novo à minha pergunta inicial: em Setembro vou andar em baixo, triste. Porquê?

Logo se vê.