sábado, agosto 29, 2009

4 DE COPAS/ MÁGICO

[A viagem do Louco e do Mágico: cont.]



Depois de passar o desfiladeiro, o Mágico chegou a um prado. O corpo pede descanso, ao menos por umas horas. É dia, ainda não pode ver as estrelas e guiar-se por elas. Ouve o corpo e senta-se à beira do carvalho, encosta a cabeça ao tronco e rapidamente adormece. O sonho vem logo a seguir. Nele vê quatro cálices frente a si e olha-os apático. Ele tem sede, mas cada um dos cálices tem um líquido diferente. Qual deles terá água? E qual terá o veneno? A escolha certa impõe-se. O Mago, dentro do sonho, senta-se em pose de lótus e não olha directamente nenhum dos cálices. Um lentamente ergue-se e pavoneia-se frente ao seu nariz como que dizendo: “Toma. Bebe-me”, mas ele permanece impassível. Era como se o copo fosse maléfico e o quisesse deter na viagem, terminá-la abruptamente. Matar o Mago - impedir que reencontrasse o antigo aprendiz e recuperasse a jóia que ele levara (inadvertidamente, era provável - o Louco não mentia, era puro e dizia a verdade - por isso o chamavam de Louco). Ora porque raio quereriam impedi-lo de encontrar-se com o antigo aprendiz? No sonho pode morrer-se, sabe o Mágico, se o veneno for forte o suficiente. Se o vissem de fora pensariam-no apático, sem força para tomar uma decisão (como a jovem das sete copas), mas na verdade pensava, planejava, planeava um curso de acção. Considerava cada detalhe com minuciosidade. De dentro do manto tirou a varinha e com um lento tremular todos os cálices se voltaram e despejaram o líquido no chão. A terra tornou-se cinzenta e morta. Afinal todos continham veneno.
Acordou durante a noite. Prosseguiu caminho, com as estrelas.

(30-31/07/09)

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