quarta-feira, abril 30, 2003
:: A Nora Satisfeita ::
Ó querido, claro que eu não me importo que tragas a tua santa mãezinha cá para casa passar uns mesitos! Aliás, eu quando me casei casei-me contigo e com a tua mãe. Ainda me lembro do discurso do padre: a senhora aceita em matrimónio o Felisberto e a santa da mãe dele?
Ó querido (disse eu ao padre já mirrado na farda do ofício, a cabeça parecia um figo seco a sair da batina), por quem é, por quem é!
Não tem importância nenhuma ela ter partido a anca em sete sítios e meio. Eu dou-lhe banho de esponja, não é incómodo nenhum. E, fofo, pode assistir se quiser, até pensei em gravar e difundir na internet, ganha-se uns cobres. Troco-lhe a roupa, mudo-lhe a algália, arranco-lhe os pêlos do queixo (temos o cortador de relva novinho em folha, óptimo para o efeito!) e fecho a porta do quarto à chave em noites de lua cheia quando a santa da minha sogra, ó, a pobre, costuma ter aqueles achaques. Agora o rico lá terá de matutar numa desculpa para os vizinhos quando eles se queixarem dos uivos altas horas da noite, eu não posso pensar em tudo.
Ai, esta cabecinha! Esqueci-me de ir buscar a serra eléctrica que encomendei de propósito para aparar as unhas da sua querida mãezinha!
Vou à loja num instantinho. Aproveito e passo pela papelaria e compro um maço de cigarros. Não demoro nada! Eu não fumo? Ó amor, comecei há uma semana atrás!
Para que é que são as malas, querido...? Humm... têm um problema no fecho, vou pô-las no arranjo.
E a roupa dentro das malas, querido...? Pois, errr, é para dar à igreja que distribui pelos pobrezinhos. Temos de ser uns para os outros! Nunca se sabe quando nos toca a nós!
Adeus, amor, quer dizer, até já! Já agora passe-me aí o passaporte, já me esquecia dele.
terça-feira, abril 29, 2003
FRASES DELICADAS
I
A casa da minha namorada é uma barafunda
É o único modo de descrevê-la.
Toda a noite com música e dança até fartar
Cerveja e vinho sempre a correr.
Noto como as melodias se entrelaçam,
E por fim, depois do meu amor insistir
Num pedido para uma colaboração mais activa,
Concluo que a noite valeu a pena,
apesar de tudo.
E amanhã?
A velha canção do costume.
in Poemas de Amor do antigo Egipto da Assírio & Alvim
(entre 1567 a 1085 a.C.)
tradução de Hélder Moura Pereira, a partir de versões inglesas
domingo, abril 27, 2003
Invocação ao teu Corpo
Mil nomes, diz Anish Kapoor. Uma nuvem de pombos paira, incessante, sobre a casa e
o som é cada vez mais habitado.
Estou aqui, meu amor, neste lugar ouve-se, quase se morre de ouvir o latejar da
cabeça, dos músculos, a forte ondulação do sangue, o crescer do rio, as margens azuis.
Espero-te. Ensurdecedora é sempre a esperança: um automóvel que trava, o elevador
que range, o cão, o vento que lambe as frestas. Mais longe, outros automóveis que
partem, chaves, portas, vozes, resíduos de passos. Ainda mais longe, os astros que,
arfando, preparam uma longa noite.
Vou à janela. Ouço melhor agora a música de Coleman explodindo, obsessiva, do
outro lado da rua, rachando de alto a baixo os espelhos do Tejo. Parece-me sentir a
surdina do teu corpo, mas, de certa forma, escuto, atentamente, a solidão.
Manuela Parreira da Silva
sábado, abril 26, 2003
..:: Falhas ::..
O que é que me falta, o que é que me falha?
(Que, que, que – tanta repetição, tanto que. Admiro os que constroem textos inteiros sem recurso ao maldito que. Vejo-os como mestres, gente sabedora. Feiticeiros da palavra escrita.)
O que me falta para conseguir escrever um daqueles romances que ficam, permanecem e prosperam nas prateleiras por décadas a fim, sempre novos, actuais, sempre verdes, as edições a estalar de novidade, cheirando a novo?
Cada vez que leio um livro penso: é isto que me falta.
Não sei falar de pormenores, por exemplo. Aliás, os pormenores causam-me terror, suores nocturnos. Que tipo de casaco, que tipo de objecto? Aquele prato tem nome! A sério? Ó espanto. Os nomes das plantas, os nomes da cores que vicejam e reverberam nas pétalas das flores cujo nome desconheço. Os nomes de movimentos: políticos, artísticos, e sei-lá-mais-o-quê.
Como raio se chama esta merdinha?! E aquela merdinha! Raiva... (entrechocar de dentes).
É sempre a porcaria dos pormenores que me lixa, que me escapa. Eu não sou do tipo mil olhos, mil ouvidos. Sou do tipo aérea: passa-me tudo ao lado.
Guerra? Onde? Sério? Há uma guerra? Ah, já acabou...
Sei também que devia pôr em cada capítulo os cincos sentidos: a audição, a visão, o tacto, o paladar e o olfacto.
Devia encher os textos com subtis frases plenas de cor, cheiro e sabor. O que implica incontáveis, por vezes invisíveis, pormenores.
Ó, frustração. Porque é que eu não sei fazer isto? (Ler Bruce Chatwin não ajuda. Mergulho na autocompaixão, self-pity em inglês, soa melhor. É impossível superá-lo!)
Mas é só uma desculpa. Um auto-engano, a maneira que engendro para nem sequer tentar. (Embora – todavia - tente, mas sem aquela genialidade do Chatwin, filho da mãe, sacana, escreves bem, pá!)
Outra coisa que me lixa: os sentimentos.
O ódio puro. O amor puro. O vasto leque de emoções entre tais extremos. Somos humanos e como tal experimentamos uma extensa panóplia de sentires. Infelizmente, há alturas em que não sabemos os seus nomes. (Isto é o quê? Não é inveja, é ressentimento. Não percebo... ressentimento...?)
Não conheço o nome a todas as emoções que já senti, mas sei que foram muitas. É claro que não as experimentei todas.
O engraçado é que, ao escrever, a narrativa, a história, as personagens que a vivem tomam conta da situação – e deixam-me livre. Tiram-me esse peso de cima – e de súbito vejo, escrevo, sei (ou aprendo?) coisas que pensava não saber. Descrevo sentimentos que julgava desconhecer. Não são meus – pertencem às personagens.
A sério. Há ali um momento em que não importa a experiência de vida mais completa. Há momentos em que, simplesmente, são as personagens a mandar ou, melhor, a mostrarem-se de uma forma que, se fosse pensada com lógica e a priori, não resultaria tão bem.
Enfim, muito me falha. Remédio? Cura? Treino constante. Faça chuva, faça sol. Escrever, escrever. Treinar, treinar. Exercitar os pontos fracos, aprimorar as falhas.
O que me lixa é a preguiça.
Tenho de andar constantemente a lutar contra mim só para conseguir escrever uma reles página.
No meu caso a escrita faz-se (nasce) apesar da autora.
/away keyboard missing
O que é que me falta, o que é que me falha?
(Que, que, que – tanta repetição, tanto que. Admiro os que constroem textos inteiros sem recurso ao maldito que. Vejo-os como mestres, gente sabedora. Feiticeiros da palavra escrita.)
O que me falta para conseguir escrever um daqueles romances que ficam, permanecem e prosperam nas prateleiras por décadas a fim, sempre novos, actuais, sempre verdes, as edições a estalar de novidade, cheirando a novo?
Cada vez que leio um livro penso: é isto que me falta.
Não sei falar de pormenores, por exemplo. Aliás, os pormenores causam-me terror, suores nocturnos. Que tipo de casaco, que tipo de objecto? Aquele prato tem nome! A sério? Ó espanto. Os nomes das plantas, os nomes da cores que vicejam e reverberam nas pétalas das flores cujo nome desconheço. Os nomes de movimentos: políticos, artísticos, e sei-lá-mais-o-quê.
Como raio se chama esta merdinha?! E aquela merdinha! Raiva... (entrechocar de dentes).
É sempre a porcaria dos pormenores que me lixa, que me escapa. Eu não sou do tipo mil olhos, mil ouvidos. Sou do tipo aérea: passa-me tudo ao lado.
Guerra? Onde? Sério? Há uma guerra? Ah, já acabou...
Sei também que devia pôr em cada capítulo os cincos sentidos: a audição, a visão, o tacto, o paladar e o olfacto.
Devia encher os textos com subtis frases plenas de cor, cheiro e sabor. O que implica incontáveis, por vezes invisíveis, pormenores.
Ó, frustração. Porque é que eu não sei fazer isto? (Ler Bruce Chatwin não ajuda. Mergulho na autocompaixão, self-pity em inglês, soa melhor. É impossível superá-lo!)
Mas é só uma desculpa. Um auto-engano, a maneira que engendro para nem sequer tentar. (Embora – todavia - tente, mas sem aquela genialidade do Chatwin, filho da mãe, sacana, escreves bem, pá!)
Outra coisa que me lixa: os sentimentos.
O ódio puro. O amor puro. O vasto leque de emoções entre tais extremos. Somos humanos e como tal experimentamos uma extensa panóplia de sentires. Infelizmente, há alturas em que não sabemos os seus nomes. (Isto é o quê? Não é inveja, é ressentimento. Não percebo... ressentimento...?)
Não conheço o nome a todas as emoções que já senti, mas sei que foram muitas. É claro que não as experimentei todas.
O engraçado é que, ao escrever, a narrativa, a história, as personagens que a vivem tomam conta da situação – e deixam-me livre. Tiram-me esse peso de cima – e de súbito vejo, escrevo, sei (ou aprendo?) coisas que pensava não saber. Descrevo sentimentos que julgava desconhecer. Não são meus – pertencem às personagens.
A sério. Há ali um momento em que não importa a experiência de vida mais completa. Há momentos em que, simplesmente, são as personagens a mandar ou, melhor, a mostrarem-se de uma forma que, se fosse pensada com lógica e a priori, não resultaria tão bem.
Enfim, muito me falha. Remédio? Cura? Treino constante. Faça chuva, faça sol. Escrever, escrever. Treinar, treinar. Exercitar os pontos fracos, aprimorar as falhas.
O que me lixa é a preguiça.
Tenho de andar constantemente a lutar contra mim só para conseguir escrever uma reles página.
No meu caso a escrita faz-se (nasce) apesar da autora.
/away keyboard missing
sexta-feira, abril 25, 2003
quinta-feira, abril 24, 2003
Sugestões do Flip quando escrevi caralho (após sublinhar o termo a vermelho, indicando erro):
- carvalho
- baralho
- baralhou
- baralhos
- cangalho
O Flip é que sabe. Custou-me uma porrada de dinheiro por isso deve saber mais do que eu. Ele sabe que nunca, jamais, um gajo furioso diz: vai pó caralho! Nã senhor. Aqui na santa terrinha o software (luso) diz-me que a malta se manda pó carvalho, pó baralho e pó cangalho. Obrigadinha, Flip, salvador da língua portuguesa. Tu sabes tudo, tens não sei quantos dicionários, mas, incrivelmente, falta-te uma das palavras mais utilizadas no idioma português.
'Tou para ver as sugestões ao foda-se.
[Back to work.]
- carvalho
- baralho
- baralhou
- baralhos
- cangalho
O Flip é que sabe. Custou-me uma porrada de dinheiro por isso deve saber mais do que eu. Ele sabe que nunca, jamais, um gajo furioso diz: vai pó caralho! Nã senhor. Aqui na santa terrinha o software (luso) diz-me que a malta se manda pó carvalho, pó baralho e pó cangalho. Obrigadinha, Flip, salvador da língua portuguesa. Tu sabes tudo, tens não sei quantos dicionários, mas, incrivelmente, falta-te uma das palavras mais utilizadas no idioma português.
'Tou para ver as sugestões ao foda-se.
[Back to work.]
E mais outro extracto do livro que ando a escrever.
"Segue-la à distância, disfarçado, vagabundo, idoso, sujo, abatido, a arrastar um pé, olhando o chão e recolhendo dos caixotes de lixo cartão para mais tarde vender. Tens barba (o tempo que passaste na Alemanha a dividir o espaço com um antigo palhaço desempregado e alcoólico foi proveitoso, ensinou-te umas coisas, o tipo era um mestre no disfarce, mas tinha de estar bem bebido para se deixar convencer a partilhar tais segredos) e um chapéu roto, à cigano, a tapar-te os olhos. A invisibilidade serve para ninguém te ver, para ela não te descobrir.
terça-feira, abril 22, 2003
"Uma hora antes de raiar a madrugada do dia 7 de Março de 1974, Kaspar Joachim Utz faleceu, de uma segunda e há muito prevista apoplexia, no seu apartamento da rua Siroká, nº 5, que dava para o Velho Cemitério Judeu em Praga.
Três dias mais tarde, às sete e quarenta e cinco da manhã, o seu amigo, Dr. Václav Orlík, encontrava-se à porta da igreja de São Sigismundo à espera do carro mortuário, apertando na mão sete dos dez cravos cor-de-rosa que pensara poder dar-se ao luxo de comprar à florista. Notou, com satisfação, os primeiros indícios da chegada da Primavera. No jardim em frente, gralhas com pequenos ramos no bico esvoaçavam à volta dos canteiros de tílias e, de quando em quando, uma pequena avalancha desabava do telhado inclinado de um prédio."
In Utz, de Bruce Chatwin.
Que belo começo. Ai que inveja. Estou verde. Quem me dera saber começar assim um livro.
É engraçado notar... a personagem principal está já morta, depois o leitor é movido para o seu amigo Václav e daí para a imagem (invisível antes) de um jardim, da Primavera que desponta.
Somos transportados da morte para a vida, do negro para a cor, em poucas linhas.
Quem me dera um dia saber escrever assim. Li algures que Borges disse um dia: lemos os livros que gostamos e escrevemos os livros que podemos.
Adoro livros pequeninos (como este, pouco mais tem de 100 páginas) que "dizem tudo", que têm "tudo lá dentro", se é que me percebem. Adoro estas pequenas jóias literárias. Jóias preciosas, apesar de pequenas. Quase imperceptíveis.
A minha gata é tão querida. Traz-me ratos, lagartixas e no outro dia foi um periquito.
‘Tadinha, preocupa-se com o que eu como.
- Ó Linda! Uma lagartixa! Linda menina, linda!
(Voz interior: Nojo! Noooojoooo!)
- Ó, um rato! Apanhaste um rato! Linda gatinha...!
(Voz interior: N-O-J-O! Argh! Tira-me essa coisa do tapete da sala, acabei de o lavar!)
- Lá para fora, vai, anda, lá para fora...
É um amor, presenteia-me.
(Note to self: graças a Deus não há cobras por aqui...!)
(Note to self: também não há coelhos...)
(Humm, coelhinho guisado com batatinhas...)
- O que é isso? Outra lagartixa! Ai que giro!
(Arghhhhh!!!!)
[Nota: sempre que posso tento salvar estas pobres almas das garras e dentes afiados da minha gata. Sim, sim, vou para o céu.]
‘Tadinha, preocupa-se com o que eu como.
- Ó Linda! Uma lagartixa! Linda menina, linda!
(Voz interior: Nojo! Noooojoooo!)
- Ó, um rato! Apanhaste um rato! Linda gatinha...!
(Voz interior: N-O-J-O! Argh! Tira-me essa coisa do tapete da sala, acabei de o lavar!)
- Lá para fora, vai, anda, lá para fora...
É um amor, presenteia-me.
(Note to self: graças a Deus não há cobras por aqui...!)
(Note to self: também não há coelhos...)
(Humm, coelhinho guisado com batatinhas...)
- O que é isso? Outra lagartixa! Ai que giro!
(Arghhhhh!!!!)
[Nota: sempre que posso tento salvar estas pobres almas das garras e dentes afiados da minha gata. Sim, sim, vou para o céu.]
segunda-feira, abril 21, 2003
"Zé Diogo Jornalista: Calculo que não ajude o problema das girafas?
Ricardo "Quico" Abominável: Quais girafas?
ZDJ: As girafas da montanha.
RQA: Não há girafas na montanha.
ZDJ: Não?
RQA: O que há é muita dificuldade em uma pessoa fazer a sua carreira.
(...)
ZDJ: E a questão das girafas?
RQA: Mas que girafas? Em 35 anos que trabalho na neve nunca vi uma girafa... o que vi foi gente que quer trabalhar..."
(Também achei imensa graça.)
Roubado daqui.
Ricardo "Quico" Abominável: Quais girafas?
ZDJ: As girafas da montanha.
RQA: Não há girafas na montanha.
ZDJ: Não?
RQA: O que há é muita dificuldade em uma pessoa fazer a sua carreira.
(...)
ZDJ: E a questão das girafas?
RQA: Mas que girafas? Em 35 anos que trabalho na neve nunca vi uma girafa... o que vi foi gente que quer trabalhar..."
(Também achei imensa graça.)
Roubado daqui.
O que fazer quando de repente se encalha no livro que se anda a escrever?
Sinceramente, não sei. Foi o que me aconteceu (acontece-me com frequência) e não faço ideia de como sair disto.
Li algures que se deve começar a falar com as personagens.
Tipo, então, a vidinha?
Personagem: ó, já sabes, vai-se andando.
Autora: pois é, pois é.
...
A: e o tempo, hã! Este tempo, este tempo danado!
P: pois, é a vida. Antigamente não era assim.
A: é verdade, é verdade...
...
Às vezes não há assunto.
É como certas amizades. Já os amigos sabem tudo um do outro. Mais vale ir beber uma cervejeca ou uma bica.
Ai. Digamos que as personagens também se fartaram de mim. Deixá-las. Em paz. Nas amizades há que dar espaço aos amigos. Quiçá as personagens fictícias precisem desse mesmo espaço.
/away
domingo, abril 20, 2003
Grave
There's no grave, there's no grave for me to see.
How can I live without knowing if he ever was
and without knowing how can I ever be?
I need the soil, I need the cross,
I need to pray, I need the decay
to be sure of life.
But there's no grave to tell me he lived.
So to be sure of life - I'll just take mine.
7/2000
(Deixo mais um poema. Antigo.)
sábado, abril 19, 2003
Você é "Imensidão Azul" de Luc Besson. Você é sonhador, único. Muito sublime e encantador(a).
Faça você também Que
bom filme é você? Uma criação deO
Mundo Insano da Abyssinia
sexta-feira, abril 18, 2003
Je suis comme je suis
Je suis faite comme ça
Quand j'ai envie de rire
Oui je ris aux éclats
J'aime celui qui m'aime
Est-ce ma faute à moi
Si ce n'est pas le même
Que j'aime chaque fois
Je suis comme je suis
Je suis faite comme ça
Que voulez-vous de plus
Que voulez-vous de moi
Je suis faite pour plaire
Et n'y puis rien changer
Mes talons sont trop hauts
Ma taille trop cambrée
Mes seins beaucoup trop durs
Et mes yeux trop cernés
Et puis après
Qu'est-ce que ça peut vous faire
Je suis comme je suis
Je plais à qui je plais
Qu'est-ce que ça peut vous faire
Ce qui m'est arrivé
Oui j'ai aimé quelqu'un
Oui quelqu'un m'a aimée
Comme les enfants qui s'aiment
Simplement savent aimer
Aimer aimer...
Pourquoi me questionner
Je suis là pour vous plaire
Et n'y puis rien changer.
Jacques Prévert
(Adoro este poema.)
Je suis faite comme ça
Quand j'ai envie de rire
Oui je ris aux éclats
J'aime celui qui m'aime
Est-ce ma faute à moi
Si ce n'est pas le même
Que j'aime chaque fois
Je suis comme je suis
Je suis faite comme ça
Que voulez-vous de plus
Que voulez-vous de moi
Je suis faite pour plaire
Et n'y puis rien changer
Mes talons sont trop hauts
Ma taille trop cambrée
Mes seins beaucoup trop durs
Et mes yeux trop cernés
Et puis après
Qu'est-ce que ça peut vous faire
Je suis comme je suis
Je plais à qui je plais
Qu'est-ce que ça peut vous faire
Ce qui m'est arrivé
Oui j'ai aimé quelqu'un
Oui quelqu'un m'a aimée
Comme les enfants qui s'aiment
Simplement savent aimer
Aimer aimer...
Pourquoi me questionner
Je suis là pour vous plaire
Et n'y puis rien changer.
Jacques Prévert
(Adoro este poema.)
Talvez hoje consiga escrever, ultrapassar as míseras 92 palavras de dias atrás.
Talvez o problema seja meu, talvez não queira falar com as personagens. Não me apetece falar com eles. Pronto. Que se lixe o Patrick, que se dane a Julie. Uma amiga vai casar-se e ela deve estar a receber (por estes dias) uma carta a dizer que não está feliz, mas satisfeita. A Julie vai ter inveja desta satisfação. (Como se atreve!)
A carta... já deve ter seguido no correio, por isso vou ter de a escrever para que Julie não a abra e a descubra em branco.
Talvez o problema seja meu, talvez não queira falar com as personagens. Não me apetece falar com eles. Pronto. Que se lixe o Patrick, que se dane a Julie. Uma amiga vai casar-se e ela deve estar a receber (por estes dias) uma carta a dizer que não está feliz, mas satisfeita. A Julie vai ter inveja desta satisfação. (Como se atreve!)
A carta... já deve ter seguido no correio, por isso vou ter de a escrever para que Julie não a abra e a descubra em branco.
QUERER BELO
Não há legiões de mares
nas terras de Vénus
Há amores eternos
Egoístas conversos
Manjares serenos
Não há quereres distantes
nos lugares de Afrodites
Há sentires que dantes
não eram sentidos
Não há jogos perdidos
em terras de Vénus
Há amigos convertidos
em amantes
Não há invernos antigos
nesses jardins flutuantes
Há eternos estios
navegantes
Junta o meu amor ao teu
nos jardins flutuantes
Em terras de Vénus
perdidas
Distantes
Faz um amor maior
que o nosso
Faz um querer belo
colosso
1/96
Não há legiões de mares
nas terras de Vénus
Há amores eternos
Egoístas conversos
Manjares serenos
Não há quereres distantes
nos lugares de Afrodites
Há sentires que dantes
não eram sentidos
Não há jogos perdidos
em terras de Vénus
Há amigos convertidos
em amantes
Não há invernos antigos
nesses jardins flutuantes
Há eternos estios
navegantes
Junta o meu amor ao teu
nos jardins flutuantes
Em terras de Vénus
perdidas
Distantes
Faz um amor maior
que o nosso
Faz um querer belo
colosso
1/96
Castle
A dark castle melts away each began fear
In the wet place were fierce dragons dare
Burn their dim souls
I knew not what would happen
If the quiet, bright gem would light up
And illuminate the forgotten world of dreams
So beware of burning seasons
Of ended stairs
One softly lighted sun earns the Devil
The paradise…
11/06/01
A dark castle melts away each began fear
In the wet place were fierce dragons dare
Burn their dim souls
I knew not what would happen
If the quiet, bright gem would light up
And illuminate the forgotten world of dreams
So beware of burning seasons
Of ended stairs
One softly lighted sun earns the Devil
The paradise…
11/06/01
quinta-feira, abril 17, 2003
http://www.bookcrossing.com/home
"What is BookCrossing, you ask? It's a global book club that crosses time and space. It's a reading group that knows no geographical boundaries. Do you like free books? How about free book clubs?. Well, the books our members leave in the wild are free... but it's the act of freeing books that points to the heart of BookCrossing."
Hum, ainda me inscrevo.
quarta-feira, abril 16, 2003
CLONE - YOU'RE NOT ALONE
Donde vem o corpo que não é teu?
Donde vem a carne que nem tua é?
Donde vem a alma com que vês o céu?
Donde vem a crença em Deus - de ti?
Ou é de outro a fé?
És tu de ti próprio?
Pertences-te?
Donde vem a cor dos teus olhos?
Donde vem a língua que falas?
Donde vêm os teus sonhos?
E tens direito a tê-los?
Ou puseram-te a vontade em talas?
Deram-te o caminho à nascença?
Deram-te toda, já inteira e pronta, uma crença?
E és tu de quem? És de ti mesmo?
Ou espreita-te por cima do ombro o mesmo alguém?
De quem é a força?
De quem é a razão?
De quem é o medo?
E a quem pertence o coração?
De quem são os maneios que te ondulam a voz?
De quem são os caminhos, os passos, com que passeias e caminhas acima ou abaixo de nós?
De quem são as letras, as páginas escritas que alguém antes de ti escreveu?
De quem é a boca? De quem são os beijos?
De quem são os pensamentos e os tremores?
De quem é o corpo? De quem são os desejos?
De quem é a honra?
A quem pertence a sombra? É tua?
Ou foi-te emprestada pela rua?
É tua a tua alma?
Haverá uma só - em vários corpos?
É ela como líquido, como água, distribuída por muitos copos?
De quem é a cor da pele?
De quem é o saborear e o gostar com que saboreias e te delicias no mel?
De quem é o sentimento?
De quem é o ódio? De quem é o amor?
De quem é o sonho? Quando algo te dói - é de ti a dor?
De quem é o frémito e o espasmo?
De quem é o vómito e o pasmo?
De quem é o soco e esse teu belo, belo cheiro rouco?
De quem é a vitória?
E a glória?
E a fama?
E a solidão?
E a plenitude?
E a mentira?
E a humanidade?
E a pessoa?
Quem tem a verdade?
Se é que a há...
De quem é a música semeando-te as mãos?
E essas cores, nos quadros, essas paletas que consegues transportar às flores?
("E quando ele tem sono - é ele que dorme?")
("Quando ele tem fome - qual dos dois come?")
São tuas as tuas ruínas? São teus os teus escombros?
De todas as sinas do mundo, está a tua via bem marcada?
És tu que levas a vida ou é ela que te carrega aos ombros?
Terás direito a erros, a enganos?
Ou és só uma linha de certezas perfeitas - avançando para o alto?
Que querem de ti os que te criaram?
Querem-te Deus ou escravo? Ou ambos?
És tu o que te sentes?
És tu o que te sabes?
És tu o que tu abres?
És tu o que tu fechas e cerras... e mentes?
E as dúvidas, quando as tens? E tantas devem ser!
E as incertezas... que as dás ou que as guardas... são de quem?
E a morte, quando vier...?
Quem, afinal, irá morrer?
De quem são os voos?
As penas, as lágrimas, os choros?
Os risos...
As noites...
Os amores...
4/97
Donde vem o corpo que não é teu?
Donde vem a carne que nem tua é?
Donde vem a alma com que vês o céu?
Donde vem a crença em Deus - de ti?
Ou é de outro a fé?
És tu de ti próprio?
Pertences-te?
Donde vem a cor dos teus olhos?
Donde vem a língua que falas?
Donde vêm os teus sonhos?
E tens direito a tê-los?
Ou puseram-te a vontade em talas?
Deram-te o caminho à nascença?
Deram-te toda, já inteira e pronta, uma crença?
E és tu de quem? És de ti mesmo?
Ou espreita-te por cima do ombro o mesmo alguém?
De quem é a força?
De quem é a razão?
De quem é o medo?
E a quem pertence o coração?
De quem são os maneios que te ondulam a voz?
De quem são os caminhos, os passos, com que passeias e caminhas acima ou abaixo de nós?
De quem são as letras, as páginas escritas que alguém antes de ti escreveu?
De quem é a boca? De quem são os beijos?
De quem são os pensamentos e os tremores?
De quem é o corpo? De quem são os desejos?
De quem é a honra?
A quem pertence a sombra? É tua?
Ou foi-te emprestada pela rua?
É tua a tua alma?
Haverá uma só - em vários corpos?
É ela como líquido, como água, distribuída por muitos copos?
De quem é a cor da pele?
De quem é o saborear e o gostar com que saboreias e te delicias no mel?
De quem é o sentimento?
De quem é o ódio? De quem é o amor?
De quem é o sonho? Quando algo te dói - é de ti a dor?
De quem é o frémito e o espasmo?
De quem é o vómito e o pasmo?
De quem é o soco e esse teu belo, belo cheiro rouco?
De quem é a vitória?
E a glória?
E a fama?
E a solidão?
E a plenitude?
E a mentira?
E a humanidade?
E a pessoa?
Quem tem a verdade?
Se é que a há...
De quem é a música semeando-te as mãos?
E essas cores, nos quadros, essas paletas que consegues transportar às flores?
("E quando ele tem sono - é ele que dorme?")
("Quando ele tem fome - qual dos dois come?")
São tuas as tuas ruínas? São teus os teus escombros?
De todas as sinas do mundo, está a tua via bem marcada?
És tu que levas a vida ou é ela que te carrega aos ombros?
Terás direito a erros, a enganos?
Ou és só uma linha de certezas perfeitas - avançando para o alto?
Que querem de ti os que te criaram?
Querem-te Deus ou escravo? Ou ambos?
És tu o que te sentes?
És tu o que te sabes?
És tu o que tu abres?
És tu o que tu fechas e cerras... e mentes?
E as dúvidas, quando as tens? E tantas devem ser!
E as incertezas... que as dás ou que as guardas... são de quem?
E a morte, quando vier...?
Quem, afinal, irá morrer?
De quem são os voos?
As penas, as lágrimas, os choros?
Os risos...
As noites...
Os amores...
4/97
:: Cave ::
Faz de conta que o importante é o meio e não o fim.
(Por isso escreve sem assunto, faz letra bonita e boceeeeja...)
Boceja.
Não consegues pensar em nada de jeito, rapariga? E depois?
Isso é lá desculpa!
Desprende-te da culpa, enrola letra catita na caneta e
prà frente com isso!
Finge, minha cara, finge. Os poemas não se fazem: fingem-se.
É tudo pose, mascarada.
E ri-te.
Ai que vontade de escrever algo definitivo!, pensas sem alento.
O que te falta é talento. O que te manca é verdade.
Então desces à cave onde a esperança está na tipografia
(as provas só prà semana) e sonhas, e sonhas. (E tudo cansa.)
Cansaço desta falta de harmonia.
6/2000
Faz de conta que o importante é o meio e não o fim.
(Por isso escreve sem assunto, faz letra bonita e boceeeeja...)
Boceja.
Não consegues pensar em nada de jeito, rapariga? E depois?
Isso é lá desculpa!
Desprende-te da culpa, enrola letra catita na caneta e
prà frente com isso!
Finge, minha cara, finge. Os poemas não se fazem: fingem-se.
É tudo pose, mascarada.
E ri-te.
Ai que vontade de escrever algo definitivo!, pensas sem alento.
O que te falta é talento. O que te manca é verdade.
Então desces à cave onde a esperança está na tipografia
(as provas só prà semana) e sonhas, e sonhas. (E tudo cansa.)
Cansaço desta falta de harmonia.
6/2000
terça-feira, abril 15, 2003
Temos o prazer de anunciar que o visitante nº 3000 chegou aqui através do http://prazer_inculto.blogspot.com/.
Parabéns!
(Não temos é prémiozito...) :/
(Sô Possidónio, achamos que foi vocemessê) :^)
Parabéns!
(Não temos é prémiozito...) :/
(Sô Possidónio, achamos que foi vocemessê) :^)
Tenho vários cd's gravados no pc, único modo de os poder ouvir.
Tento ouvir os 3 doors down (que Comprei!) - o fdp do wmp diz que não consegue encontrar a p*ta da licença e não há papa pa ninguém, fáxavor, vá lá transferir a licença ou o raio que te parta, sem licença não ouves não ouves não ouves, toma toma. E não adianta ires ao quick time, que ele 'tá feito comigo.
Vá vá, pira-te, não me faças perder tempo... (isto, os utilizadores são todos uns gatunos, a microsoft do meu pal, o gaitas, tem toda a razão.)
Juro. Se o fdp do wmp fosse um rato, um canário - dava-o à minha gata. bssss bsss, xaninha, anda cá, é para ti, mas come DE-VA-GAR!
Agora se eu tivesse perdido o cd, como era? Mas que merda, o computador é Meu, o cd é Meu, eu é que decido o que ouvir, Quando e Como!
#$%&%#% I am NOT happy :[
Tento ouvir os 3 doors down (que Comprei!) - o fdp do wmp diz que não consegue encontrar a p*ta da licença e não há papa pa ninguém, fáxavor, vá lá transferir a licença ou o raio que te parta, sem licença não ouves não ouves não ouves, toma toma. E não adianta ires ao quick time, que ele 'tá feito comigo.
Vá vá, pira-te, não me faças perder tempo... (isto, os utilizadores são todos uns gatunos, a microsoft do meu pal, o gaitas, tem toda a razão.)
Juro. Se o fdp do wmp fosse um rato, um canário - dava-o à minha gata. bssss bsss, xaninha, anda cá, é para ti, mas come DE-VA-GAR!
Agora se eu tivesse perdido o cd, como era? Mas que merda, o computador é Meu, o cd é Meu, eu é que decido o que ouvir, Quando e Como!
#$%&%#% I am NOT happy :[
domingo, abril 13, 2003
::Almas dos livros::
As pessoas não existem. Existem os livros lidos pelas pessoas que, ao lê-los, passam a existir. Ascendem à condição de viventes, compreende? Logo (siga o meu raciocínio), as bibliotecas são depositários de almas. Ou, se quiser, compiladores de espíritos... na expectativa. Os livros, sendo lidos, passam, também eles, a existir de forma diferente, diversa da anterior. As bibliotecas são depósitos e/ou catalisadores de almas. São elas que enchem o mundo de vida! Percebe!
Gritar, senhora? Eu nunca grito. Nunca.
Interrompeu-me... onde ia eu...? Ah! Seguindo este raciocínio, evidente após exposto, convirá, o mundo sem bibliotecas não existe. De facto, nós os dois, agora, estamos mortos. Não existimos. E sabe porquê? O chão sagrado que pisamos expirou. É morto. Pereceu. A terra sagrada é, por norma, viva. Morre em circunstâncias extraordinárias. Esta que nos suporta, ao contrário, morreu, melhor - foi morta, por circunstâncias ordinárias. Comuns. Banais.
A biblioteca fechou porque o sistema informático está em baixo. Há duas semanas (corrija-me se incorro em erro) ... duas semanas e... e meia, hum? Não havendo sistema informático – não há livros. Os pobres são condenados a um limbo inexistencial. Não podem ser requisitados de outra forma, à maneira antiga. Repare no absurdo, com o sistema informático avariado regressamos à idade da pedra. Felizmente não sou obrigado a recorrer à clava pois tive o bom senso de guardar a minha espingarda. Safou-me de belas alhadas, lá na Guiné...
Reformei-me há cinco meses, melhor dizendo, reformaram-me.
Foi duro. Foi... foi difícil. Nunca cultivei hobbies, não tinha tempo, percebe? Não havia tempo. Eu andava sempre ocupado. O único prazer que tinha (e prevalece) era ler, à noite, antes de me ir deitar. Muitas vezes, incapaz de pegar no sono, levantava-me e retomava o livro. Os livros são caros, sabe? Se fosse obrigado a comprá-los, juro-lhe, teria as insónias mais dispendiosas deste país. Não há a mínima possibilidade de entrar numa livraria e simplesmente lambuzar-me. Empanturrar-me de novelas, romances, poesias, biografias, narrativas históricas. O dinheiro é preciso noutro lado. Nem sequer chega para... já ouviu falar de uma coisa chamada stress pós-traumático? Engraçado... saber o nome das coisas não nos ajuda à sua compreensão... entende? Não nos ajuda... em nada.
Eu... eu... diga-me, quando posso cá voltar? A biblioteca estará de novo operacional... quando?
- A... ama... amanhã.
Eu... volto amanhã então. Às nove?
- Nove e... e meia... é mais.... mais seguro.
Nove e meia, sem falta. No emprego era conhecido pela pontualidade. Nove e meia. Até amanhã.
- Até... até a... amanhã... – respondeu, num murmúrio enquanto o homem saía do edifício e descansava a espingarda debaixo do braço.
Janeiro de ‘02
As pessoas não existem. Existem os livros lidos pelas pessoas que, ao lê-los, passam a existir. Ascendem à condição de viventes, compreende? Logo (siga o meu raciocínio), as bibliotecas são depositários de almas. Ou, se quiser, compiladores de espíritos... na expectativa. Os livros, sendo lidos, passam, também eles, a existir de forma diferente, diversa da anterior. As bibliotecas são depósitos e/ou catalisadores de almas. São elas que enchem o mundo de vida! Percebe!
Gritar, senhora? Eu nunca grito. Nunca.
Interrompeu-me... onde ia eu...? Ah! Seguindo este raciocínio, evidente após exposto, convirá, o mundo sem bibliotecas não existe. De facto, nós os dois, agora, estamos mortos. Não existimos. E sabe porquê? O chão sagrado que pisamos expirou. É morto. Pereceu. A terra sagrada é, por norma, viva. Morre em circunstâncias extraordinárias. Esta que nos suporta, ao contrário, morreu, melhor - foi morta, por circunstâncias ordinárias. Comuns. Banais.
A biblioteca fechou porque o sistema informático está em baixo. Há duas semanas (corrija-me se incorro em erro) ... duas semanas e... e meia, hum? Não havendo sistema informático – não há livros. Os pobres são condenados a um limbo inexistencial. Não podem ser requisitados de outra forma, à maneira antiga. Repare no absurdo, com o sistema informático avariado regressamos à idade da pedra. Felizmente não sou obrigado a recorrer à clava pois tive o bom senso de guardar a minha espingarda. Safou-me de belas alhadas, lá na Guiné...
Reformei-me há cinco meses, melhor dizendo, reformaram-me.
Foi duro. Foi... foi difícil. Nunca cultivei hobbies, não tinha tempo, percebe? Não havia tempo. Eu andava sempre ocupado. O único prazer que tinha (e prevalece) era ler, à noite, antes de me ir deitar. Muitas vezes, incapaz de pegar no sono, levantava-me e retomava o livro. Os livros são caros, sabe? Se fosse obrigado a comprá-los, juro-lhe, teria as insónias mais dispendiosas deste país. Não há a mínima possibilidade de entrar numa livraria e simplesmente lambuzar-me. Empanturrar-me de novelas, romances, poesias, biografias, narrativas históricas. O dinheiro é preciso noutro lado. Nem sequer chega para... já ouviu falar de uma coisa chamada stress pós-traumático? Engraçado... saber o nome das coisas não nos ajuda à sua compreensão... entende? Não nos ajuda... em nada.
Eu... eu... diga-me, quando posso cá voltar? A biblioteca estará de novo operacional... quando?
- A... ama... amanhã.
Eu... volto amanhã então. Às nove?
- Nove e... e meia... é mais.... mais seguro.
Nove e meia, sem falta. No emprego era conhecido pela pontualidade. Nove e meia. Até amanhã.
- Até... até a... amanhã... – respondeu, num murmúrio enquanto o homem saía do edifício e descansava a espingarda debaixo do braço.
Janeiro de ‘02
TEJO
Como o sol lhe queima a pele.
Como a água de mar do Tejo, que não sei se tem água de mar ou não, lhe queima a pele.
Como os patinadores lhe queimam a pele dos olhos porque eles não sabem patinar tão bem como ele.
Não sabem voltear e voltear e voltear.
Ignoram volteios.
Como a estrada quente de Verão lhe queima a pele na Primavera.
Como a ponte que não cai e segue e segue cega a cegueira de todos no trabalho de todos os dias lhe queima a pele dos lábios e pálpebras.
Como os turistas de todos os anos que nunca são os mesmos, ou são os mesmos, mas nunca todos os anos, lhe queimam a pele na ponta dos dedos, logo abaixo das unhas - onde dói.
Como o céu azul das águas, de mar?, do Tejo, rio sem nuvens, lhe queima a pele em cima das unhas e a pele em cima dos cabelos, aquela que é tão difícil lavar no chuveiro.
Como as árvores frescas e mortas, perdão, verdes e vivas e os monumentos antigamente portugueses, hoje de ninguém, porque qualquer dia ninguém será mais português, e os monumentos toda a gente sabe vivem no futuro, lhe queimam a pele dentro dos pulmões.
Como os patinadores que não sabem voltear como ele lhe queimam a pele dos olhos e dos dentes e da palma das mãos.
Dedos queimados de sol alheio.
1/97
Como o sol lhe queima a pele.
Como a água de mar do Tejo, que não sei se tem água de mar ou não, lhe queima a pele.
Como os patinadores lhe queimam a pele dos olhos porque eles não sabem patinar tão bem como ele.
Não sabem voltear e voltear e voltear.
Ignoram volteios.
Como a estrada quente de Verão lhe queima a pele na Primavera.
Como a ponte que não cai e segue e segue cega a cegueira de todos no trabalho de todos os dias lhe queima a pele dos lábios e pálpebras.
Como os turistas de todos os anos que nunca são os mesmos, ou são os mesmos, mas nunca todos os anos, lhe queimam a pele na ponta dos dedos, logo abaixo das unhas - onde dói.
Como o céu azul das águas, de mar?, do Tejo, rio sem nuvens, lhe queima a pele em cima das unhas e a pele em cima dos cabelos, aquela que é tão difícil lavar no chuveiro.
Como as árvores frescas e mortas, perdão, verdes e vivas e os monumentos antigamente portugueses, hoje de ninguém, porque qualquer dia ninguém será mais português, e os monumentos toda a gente sabe vivem no futuro, lhe queimam a pele dentro dos pulmões.
Como os patinadores que não sabem voltear como ele lhe queimam a pele dos olhos e dos dentes e da palma das mãos.
Dedos queimados de sol alheio.
1/97
sábado, abril 12, 2003
RETRATO
Daqui existe o jogo de luzes e sombras apostas na tela.
Entrechocar de tons num mar pintado, numa varanda de ócios.
Bebem os mortos em copos antigos de cores vivas.
Bebem como se estivessem ao pé de mim,
sussurrando-me as últimas notícias.
Daqui vejo as gôndolas e os cristais, as rendas e os vestidos,
os chapéus altos distintos, as criadas cheias de carne, rodando
por entre marinheiros e homens de negócios que lêem jornais.
Uma bengala e uns binóculos abandonados, palácios ao
longe esforçando-me a vista como que exigem
à minha pobre memória o seu pérpetuo perpetuamento.
Mas o futuro é incerto e rebelde, fugaz e imprevisível.
Quem me garante a mim que estas figuras não
estão dentro de um quadro que outro pinta
e que esse outro me pinta a mim?
O futuro foi ontem.
7/99
Daqui existe o jogo de luzes e sombras apostas na tela.
Entrechocar de tons num mar pintado, numa varanda de ócios.
Bebem os mortos em copos antigos de cores vivas.
Bebem como se estivessem ao pé de mim,
sussurrando-me as últimas notícias.
Daqui vejo as gôndolas e os cristais, as rendas e os vestidos,
os chapéus altos distintos, as criadas cheias de carne, rodando
por entre marinheiros e homens de negócios que lêem jornais.
Uma bengala e uns binóculos abandonados, palácios ao
longe esforçando-me a vista como que exigem
à minha pobre memória o seu pérpetuo perpetuamento.
Mas o futuro é incerto e rebelde, fugaz e imprevisível.
Quem me garante a mim que estas figuras não
estão dentro de um quadro que outro pinta
e que esse outro me pinta a mim?
O futuro foi ontem.
7/99
::Separar as rejeições::
Já mandei largas dezenas de manuscritos a diversas editoras. Na maioria o que obtenho na volta do correio são recusas. Isto quando as editoras se dignam responder. O que eu sinto ao abrir uma dessas famigeradas cartas é dor. Frustração. Decepção. Mesmo que eu não queira e tente racionalizar a nega. (Aliás, as recusas editoriais são todas semelhantes.) Mas sou incapaz. Só consigo pensar (doendo): não escrevo como deve ser, o livro é uma merda. Ainda que o fosse (ou o fossem todos quantos enviei) isso não importaria ou não é um dos factores primordiais que decide a publicação de uma obra (trust me on this). Adiante.
Hoje quero falar da dor.
Quero afirmar, peremptória, que jamais uma editora está a recusar o autor, somente a obra. Há que separar as duas entidades: o autor da obra; a pessoa do livro que escreveu.
O que se recusa, declina, é apenas o livro. Nada mais.
Mas a dor que se sente é a dor da rejeição. Somos nós que nos sentimos rejeitados como se o editor anónimo fosse uma paixão secreta, um amor de que julgaríamos depender a felicidade vindoura.
Ok. Já consigo racionalizar. Agora digam isto ao meu pobre (ignorante, estúpido) coração. Digam-lhe que a carta não é para ele, que a obra não é ele, que, logo, se devia sentir leve, imperturbável. Distanciado.
Não sou capaz de não sentir dor, de não me sentir pessoalmente atingida quando me escrevem coisas do género: “agradecemos a gentileza de nos ter enviado o seu original. Infelizmente, por razões que se prendem com o nosso calendário editorial, não podemos editar a obra”.
Mas sei que devia saber separar as coisas no terreno emocional tal como o faço no lógico. Um dia chego lá, ao estado zen. Um dia pacificarei meu coração.
Já mandei largas dezenas de manuscritos a diversas editoras. Na maioria o que obtenho na volta do correio são recusas. Isto quando as editoras se dignam responder. O que eu sinto ao abrir uma dessas famigeradas cartas é dor. Frustração. Decepção. Mesmo que eu não queira e tente racionalizar a nega. (Aliás, as recusas editoriais são todas semelhantes.) Mas sou incapaz. Só consigo pensar (doendo): não escrevo como deve ser, o livro é uma merda. Ainda que o fosse (ou o fossem todos quantos enviei) isso não importaria ou não é um dos factores primordiais que decide a publicação de uma obra (trust me on this). Adiante.
Hoje quero falar da dor.
Quero afirmar, peremptória, que jamais uma editora está a recusar o autor, somente a obra. Há que separar as duas entidades: o autor da obra; a pessoa do livro que escreveu.
O que se recusa, declina, é apenas o livro. Nada mais.
Mas a dor que se sente é a dor da rejeição. Somos nós que nos sentimos rejeitados como se o editor anónimo fosse uma paixão secreta, um amor de que julgaríamos depender a felicidade vindoura.
Ok. Já consigo racionalizar. Agora digam isto ao meu pobre (ignorante, estúpido) coração. Digam-lhe que a carta não é para ele, que a obra não é ele, que, logo, se devia sentir leve, imperturbável. Distanciado.
Não sou capaz de não sentir dor, de não me sentir pessoalmente atingida quando me escrevem coisas do género: “agradecemos a gentileza de nos ter enviado o seu original. Infelizmente, por razões que se prendem com o nosso calendário editorial, não podemos editar a obra”.
Mas sei que devia saber separar as coisas no terreno emocional tal como o faço no lógico. Um dia chego lá, ao estado zen. Um dia pacificarei meu coração.
sexta-feira, abril 11, 2003
quinta-feira, abril 10, 2003
quarta-feira, abril 09, 2003
"- Há anjos – disse Julie. – Às vezes há anjos que nos alegram nos dias mais escuros.
Tinha uma teoria. A Julie não era de teorias, de vez em quando lá esgalhava uma.
Os anjos (disse) fazem-nos voltar os olhos para algum pequeno milagre, um pássaro diferente que repousa na erva a dois metros de ti e não te mexes por teres medo que o encanto se quebre e ele fuja a voar. E é quando mais triste te sentes que o vês, esse quase invisível milagre, depois sentes-te bem o resto do dia. E muitas vezes te lembras, regressas à cena, e um sorriso aflora-te ao rosto.
Estás de mal com o mundo (disse Julie), acordaste com os pés de fora, um mau humor danado, ou em baixo, deprimido, quando, incrivelmente, te sucedem pequenas alegrias no decorrer do dia: compras o último exemplar do jornal, dás o troco exacto e a senhora da papelaria brinda-te com um sorriso rasgado; não tens de esperar em bichas, há sempre um lugar livre e é o teu preferido, ao pé da janela; faz sol quando durante dias não parava de chover; no café há aquele bolo, que adoras, e acabou de chegar, está quente, morninho. Pequenos milagres sucessivos que te exultam e fazem perdoar o mundo.
- São anjos, - acrescentou Julie – só podem ser, que nos fazem isto. Uma vez..."
(Excerto.)
Tinha uma teoria. A Julie não era de teorias, de vez em quando lá esgalhava uma.
Os anjos (disse) fazem-nos voltar os olhos para algum pequeno milagre, um pássaro diferente que repousa na erva a dois metros de ti e não te mexes por teres medo que o encanto se quebre e ele fuja a voar. E é quando mais triste te sentes que o vês, esse quase invisível milagre, depois sentes-te bem o resto do dia. E muitas vezes te lembras, regressas à cena, e um sorriso aflora-te ao rosto.
Estás de mal com o mundo (disse Julie), acordaste com os pés de fora, um mau humor danado, ou em baixo, deprimido, quando, incrivelmente, te sucedem pequenas alegrias no decorrer do dia: compras o último exemplar do jornal, dás o troco exacto e a senhora da papelaria brinda-te com um sorriso rasgado; não tens de esperar em bichas, há sempre um lugar livre e é o teu preferido, ao pé da janela; faz sol quando durante dias não parava de chover; no café há aquele bolo, que adoras, e acabou de chegar, está quente, morninho. Pequenos milagres sucessivos que te exultam e fazem perdoar o mundo.
- São anjos, - acrescentou Julie – só podem ser, que nos fazem isto. Uma vez..."
(Excerto.)
Poesias_e_Prosas.
Alguns links ainda não funcionam, mas vejam :)
(Ontem a minha gata apanhou um periquito - não um dos meus. Algures no meu bairro há um dono des-piriquitado :-/ )
Alguns links ainda não funcionam, mas vejam :)
(Ontem a minha gata apanhou um periquito - não um dos meus. Algures no meu bairro há um dono des-piriquitado :-/ )
terça-feira, abril 08, 2003
segunda-feira, abril 07, 2003
domingo, abril 06, 2003
sexta-feira, abril 04, 2003
quinta-feira, abril 03, 2003
quarta-feira, abril 02, 2003
Vieram aqui à procura de poemas de periquitos, lol!
Dica: escreva antes "poemas de periquitos" ;)
Deixa lá ver se esgalho aqui um...
Ode ao periquito!
Ó periquito!
Ó, o teu bico amarelo!
Ó as tuas penas brancas, azuis e negras
Ó, quando as perdes, mais parece a Desfolhada!
Ó sacana que sujas o chão todo!
Ó, tenho de andar o dia inteiro a limpar atrás de ti!
Ó, que lindo arrozinho fazias!
Ó periquito - eras mais barato que um canário.
Ó que porra - já me arrependi.
Fim
Serve este?
Dica: escreva antes "poemas de periquitos" ;)
Deixa lá ver se esgalho aqui um...
Ode ao periquito!
Ó periquito!
Ó, o teu bico amarelo!
Ó as tuas penas brancas, azuis e negras
Ó, quando as perdes, mais parece a Desfolhada!
Ó sacana que sujas o chão todo!
Ó, tenho de andar o dia inteiro a limpar atrás de ti!
Ó, que lindo arrozinho fazias!
Ó periquito - eras mais barato que um canário.
Ó que porra - já me arrependi.
Fim
Serve este?
terça-feira, abril 01, 2003
Instructions for Meeting Time Travellers by Bebe Williams - Outline of the Document
Convide um viajante do tempo para uma visitinha.
Siga as instruções ;)
Humm, deixa ver... que tal dia 7 de Abril? (O dia em que combinei encontrar-me com uma amiga.) Se fores um viajante do tempo a sério - vais ter acesso ao e-mail, logo, saberás a hora e o local exacto do encontro.
(Yes, I'm sane ;P)
Daqui a uma semana, mês lindos, esperem relatório sobre o encontro e se avistámos (ou não) algum hipotético viajante do tempo...!
[Vamos lá a ver se é desta que a porra do blogger publica :-/ ]
Convide um viajante do tempo para uma visitinha.
Siga as instruções ;)
Humm, deixa ver... que tal dia 7 de Abril? (O dia em que combinei encontrar-me com uma amiga.) Se fores um viajante do tempo a sério - vais ter acesso ao e-mail, logo, saberás a hora e o local exacto do encontro.
(Yes, I'm sane ;P)
Daqui a uma semana, mês lindos, esperem relatório sobre o encontro e se avistámos (ou não) algum hipotético viajante do tempo...!
[Vamos lá a ver se é desta que a porra do blogger publica :-/ ]
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