RETRATO
Daqui existe o jogo de luzes e sombras apostas na tela.
Entrechocar de tons num mar pintado, numa varanda de ócios.
Bebem os mortos em copos antigos de cores vivas.
Bebem como se estivessem ao pé de mim,
sussurrando-me as últimas notícias.
Daqui vejo as gôndolas e os cristais, as rendas e os vestidos,
os chapéus altos distintos, as criadas cheias de carne, rodando
por entre marinheiros e homens de negócios que lêem jornais.
Uma bengala e uns binóculos abandonados, palácios ao
longe esforçando-me a vista como que exigem
à minha pobre memória o seu pérpetuo perpetuamento.
Mas o futuro é incerto e rebelde, fugaz e imprevisível.
Quem me garante a mim que estas figuras não
estão dentro de um quadro que outro pinta
e que esse outro me pinta a mim?
O futuro foi ontem.
7/99
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