domingo, abril 27, 2003
Invocação ao teu Corpo
Mil nomes, diz Anish Kapoor. Uma nuvem de pombos paira, incessante, sobre a casa e
o som é cada vez mais habitado.
Estou aqui, meu amor, neste lugar ouve-se, quase se morre de ouvir o latejar da
cabeça, dos músculos, a forte ondulação do sangue, o crescer do rio, as margens azuis.
Espero-te. Ensurdecedora é sempre a esperança: um automóvel que trava, o elevador
que range, o cão, o vento que lambe as frestas. Mais longe, outros automóveis que
partem, chaves, portas, vozes, resíduos de passos. Ainda mais longe, os astros que,
arfando, preparam uma longa noite.
Vou à janela. Ouço melhor agora a música de Coleman explodindo, obsessiva, do
outro lado da rua, rachando de alto a baixo os espelhos do Tejo. Parece-me sentir a
surdina do teu corpo, mas, de certa forma, escuto, atentamente, a solidão.
Manuela Parreira da Silva
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