domingo, abril 13, 2003

TEJO

Como o sol lhe queima a pele.
Como a água de mar do Tejo, que não sei se tem água de mar ou não, lhe queima a pele.
Como os patinadores lhe queimam a pele dos olhos porque eles não sabem patinar tão bem como ele.
Não sabem voltear e voltear e voltear.
Ignoram volteios.
Como a estrada quente de Verão lhe queima a pele na Primavera.
Como a ponte que não cai e segue e segue cega a cegueira de todos no trabalho de todos os dias lhe queima a pele dos lábios e pálpebras.
Como os turistas de todos os anos que nunca são os mesmos, ou são os mesmos, mas nunca todos os anos, lhe queimam a pele na ponta dos dedos, logo abaixo das unhas - onde dói.
Como o céu azul das águas, de mar?, do Tejo, rio sem nuvens, lhe queima a pele em cima das unhas e a pele em cima dos cabelos, aquela que é tão difícil lavar no chuveiro.
Como as árvores frescas e mortas, perdão, verdes e vivas e os monumentos antigamente portugueses, hoje de ninguém, porque qualquer dia ninguém será mais português, e os monumentos toda a gente sabe vivem no futuro, lhe queimam a pele dentro dos pulmões.
Como os patinadores que não sabem voltear como ele lhe queimam a pele dos olhos e dos dentes e da palma das mãos.
Dedos queimados de sol alheio.

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