::Separar as rejeições::
Já mandei largas dezenas de manuscritos a diversas editoras. Na maioria o que obtenho na volta do correio são recusas. Isto quando as editoras se dignam responder. O que eu sinto ao abrir uma dessas famigeradas cartas é dor. Frustração. Decepção. Mesmo que eu não queira e tente racionalizar a nega. (Aliás, as recusas editoriais são todas semelhantes.) Mas sou incapaz. Só consigo pensar (doendo): não escrevo como deve ser, o livro é uma merda. Ainda que o fosse (ou o fossem todos quantos enviei) isso não importaria ou não é um dos factores primordiais que decide a publicação de uma obra (trust me on this). Adiante.
Hoje quero falar da dor.
Quero afirmar, peremptória, que jamais uma editora está a recusar o autor, somente a obra. Há que separar as duas entidades: o autor da obra; a pessoa do livro que escreveu.
O que se recusa, declina, é apenas o livro. Nada mais.
Mas a dor que se sente é a dor da rejeição. Somos nós que nos sentimos rejeitados como se o editor anónimo fosse uma paixão secreta, um amor de que julgaríamos depender a felicidade vindoura.
Ok. Já consigo racionalizar. Agora digam isto ao meu pobre (ignorante, estúpido) coração. Digam-lhe que a carta não é para ele, que a obra não é ele, que, logo, se devia sentir leve, imperturbável. Distanciado.
Não sou capaz de não sentir dor, de não me sentir pessoalmente atingida quando me escrevem coisas do género: “agradecemos a gentileza de nos ter enviado o seu original. Infelizmente, por razões que se prendem com o nosso calendário editorial, não podemos editar a obra”.
Mas sei que devia saber separar as coisas no terreno emocional tal como o faço no lógico. Um dia chego lá, ao estado zen. Um dia pacificarei meu coração.
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