terça-feira, maio 13, 2003


Ai, e o título?

Deita fora a alma, agora,
mas não te livres dos acessórios do corpo
ou dos materiais acessórios corporais
como os cd's, a escova, a massa por fazer,
o carro novo com sete airbags porque para
morrer há que ter classe e segurança.
Exacto, liberta a alma e, porém,
no intermédio do tempo, do resto, cuida
do corpo, lava-o com omo, presto,
põe-no a secar no jardim, livre
de ti, e entretém-te, enquanto seca e não seca, a ver a alma
voando, voando... voando...
Pois. É certo. Por esta hora és leve e liberto.
A tua vida não é nem breve nem longa, que importa.
Já não contas os dias, os minutos,
porque quem usava relógio era a tua
alma. E ela, alada e livre, já
não sabe contar. Já não conta.
Cuida do corpo, que é belo, há que
vesti-lo e penteá-lo, secá-lo e lavá-lo.
A ordem é a tua. Escolhe.
Concentra-te na carne, sim, na do tacho;
concentra-te no gaspacho, é bom para a dieta,
toma-o de manhã cedinho,
faz-te bem. Não percas de vista o
corpo. E não confies muito nele porque
agora, sem alma, sem cativa, sem
prisioneira e mestra, não é de fiar,
é um valdevinos. Para ele a vida
é uma bebedeira passageira. Para ele
a vida não és tu. Portanto não te fies... não te fies...

25/11/01


Sem comentários: