sexta-feira, junho 30, 2006

Solitude


Solitude, originally uploaded by esâm.

quinta-feira, junho 29, 2006

Entre la luz y la niebla


Entre la luz y la niebla, originally uploaded by jmolagar.

quarta-feira, junho 28, 2006

Coisas

Coisas que gosto de fazer ao mesmo tempo: tricotar e ver documentários.
(Vou no segundo novelo de algodão para o cachecol! Com sorte deve estar pronto no Inverno, lol.)
 
Powered By Qumana

More sea mist


More sea mist, originally uploaded by abstract_effects.

Blue Dawn


Blue Dawn, originally uploaded by Lara Swift.

writing articles

http://www.gaelenfoley.com/archive-writing-conducive.html

"We are often told that ‘real writers’ don’t wait for inspiration to strike, but produce a set number of words/pages on a regular schedule. While this kind of productivity may sound like it calls for heroic self- discipline, there are ways to make it a little easier on yourself. The force of habit and the power of setting can both be used to help you make your daily writing quota with less effort. All you have to do is put a little forethought into it."

http://www.aromancereview.com/columns/enoughalready_1105.phtml

"So the inquiring reader (you) can sit down at her computer in the comfort and privacy of her own home and, without having a degree in Quantum Mathematics, prowl through the life of her favorite author. Most websites are pretty easy to find. If “www.insertauthornamehere.com” doesn’t do it, then a quick search via a search engine usually manages to turn up the writer’s site, in addition to the obligatory three thousand X-rated sites that always manage to creep in someplace."

terça-feira, junho 27, 2006

Desafio

Texto feito para este desafio do Escreva!

Notícias:

http://www.correiodamanha.pt/noticia.asp?id=205953&idselect=184&idCanal=184&p=200
(Mundial: Portugal vence México)
http://www.correiodamanha.pt/noticia.asp?id=205897&idselect=181&idCanal=181&p=0
(Função Pública fora do limite nas pensões)

Função Pública Vence México por 2 a 1

O valor máximo de golos proposto por José Sócrates é de 3 golos por jogo ou, se Portugal estiver a perder por 3 boladas, de 5. Este valor só será aplicado no próximo Mundial.
Entretanto Luiz Felipe Scolari ainda possui liberdade estratégica para modelar a selecção da Função Pública da maneira que entender de modo a marcar o maior número de golos possível e até de ganhar o jogo.
Actualmente a totalidade de golos marcada por Mundial representa uma despensa mensal de 590 mil euros, despesa que o Governo quer ver diminuída. A solução encontrada é fazer com que nenhum jogador individual da selecção marque maior número de golos do que os marcados pelo Chefe de Estado.
Assim a nova forma de cálculo de golo por Mundial penalizará os futuros encontros, obrigando os jogadores da Função Pública a correrem mais para marcarem menos golos.
Na prática os golos serão - congelados.
Simão Sabrosa, Maniche e outros já protestaram.

Fire and water


Fire and water, originally uploaded by nelmaf.

Linda.

From Dumbo by Night


From Dumbo by Night, originally uploaded by Arnold Pouteau's.

Adoro estas cores.

segunda-feira, junho 26, 2006

where the light loves to touch your wings

Dark Clouds


Dark Clouds, originally uploaded by The Unpredictables.

In the Fields Daydreaming


In the Fields Daydreaming, originally uploaded by ghostbones.

Dark City


Dark City, originally uploaded by Arnold Pouteau's.

Suspended


Suspended, originally uploaded by Arnold Pouteau's.

sábado, junho 24, 2006

Astrologia

Astrologia - tribo.

Parece-me que tem imensa informação.

Sonho

Hoje tive um sonho muito movimentado.
Sonhei com cavaleiros templários, ligeiramente loucos; sonhei que não me lembrava onde tinha deixado o carro.
E, como sempre em sonhos, ando, ando, ando. Sonhei com actrizes e actores americanos. Caracóis. Um sapo nojento. Que não conseguia escrever (o tema era: explosão de algodão).
?!
A caneta não tinha tinta e eu não tinha "inspiração" (ou vontade).
E havia muito verde, árvores.
Eu devia anotar isto tudo, mas não tenho pachorra.

sexta-feira, junho 23, 2006

Olá

Um grande OLÁ! para quem passou hoje 39 minutos e 17 segundos na nossa companhia, a partir da Biblioteca de Leitura Pública de Braga!
 
Powered By Qumana

O Candelabro

[Saiu na Revista Bang! nº 0]

 

 

 

Quando órfãos na Índia, paupérrimos meninos de rua brasileiros ou tailandeses o abordam de mão ossuda estendida, encardidos, pestilentos, os trapos rotos a cobrir o corpo magro, esquelético e doente, expondo mazelas nos joelhos e braços e pulgas que se passeiam, desenxabidas, no couro cabeludo, de feridas velhas e frescas a enxamearem o rosto, o senhor Bentley comunica-lhes, numa mansa secura:

- Olhem lá, já não pode um homem, olhem lá. Eu não tenho filhos, porque raio hei-de aturar os filhos dos outros? Eu não vos pari. Vá lá, andor, andor. Não pode um homem passear descansado – e afasta-se vagarosamente sem pingo de vergonha ou piedade humana. Crê ser essa ausência a prova confirmada da sua Iluminação.

Certos miúdos, ressabiados, arremessam calhaus ao chapéu de coco que, coitadito, não tem culpa nenhuma. Foi este um dos motivos que o fez começar a cuspir às criancinhas. O senhor Bentley não percebe como é que as mamãs, ao primeiro berro do monte de carne que lhes parasitou as entranhas por nove meses, não se transmutam em infanticidas.

- Que defeito ancestral, petrificado nos genes passados de geração em geração, as obriga a cuidar de tais horríveis criaturinhas? – pergunta-se amiúde. Quer instituir no futuro uma bolsa para patrocinar estudo científico que responda à questão.

O Enraba-Passarinhos é defensor enérgico da sodomia infantil, embora não a pratique por nojo.

- A sociedade enrijava, trabalhava-se mais cedo, os miúdos saíam da primária e iam para as obras! A crise da Segurança Social era coisa do passado. Limpinho. Estar a gastar capital para quê, sem precisão nenhuma. Traumatizem-se as criaturinhas! De berço! Ponham-nas cá fora, A Trabalhar! Têm bom coiro para isso – vocifera, zombeteiro, perto de reformados, o sorriso vai de lado a lado como os dentes pontiagudos de uma serra.

Defende também o carácter compulsório da sodomia (em todos os actos protocolares) para qualquer pessoa que entre na vida política activa. Enrijece. Dá músculo. É tipo duche escocês (embora o próprio seja adepto do duche dourado).

[O senhor Bentley é uma besta, relembremos.]

Venceu, honestamente, ainda por cima, os maiores samurais do Japão. E gabou-se sem humildade nenhuma. Não se sentiria à altura do Nirvana se não se gabasse. Homens iluminados estão para além das hipócritas regras corteses. Em consequência deportaram-no e foi considerado persona non grata. Na verdade conseguiu ser expulso de todos os países do mundo. Não teve remédio senão regressar a Portugal donde se evadira na adolescência no ano de 1917 depois de abusar de Fátinha, uma das pastorinhas (os três pastorinhos que eram quatro, originalmente). Hoje a Pastorinha Desconhecida ou a Primeira Vidente é Madame num ilustre bordel alemão. Logo ao primeiro encontro ele demonstrou-lhe o Candelabro Italiano, o Arco do Triunfo e o Pêndulo; ensinou-a a injuriar Nosso Senhor Jesus Cristo Que Morreu Na Cruz Pelos Nosso Pecados (todos: coitadiiiiiinho) e a Virgem Maria durante a cópula. A rapariga teve orgasmos tenebrosos e abandonou as beatices saloias. Hoje a franzina catraia de dezasseis anos é chefe de um dos mais influentes Sindicatos de Putas teutónico, é mamalhuda, avessa a cirurgias, tem varicoses e anda carregadinha de celulite. As suas especialidades são a Bailarina, o Arco-Íris e a Hipotenusa que reserva a clientela escolhida por causa da artrite. Está grata a Bentley por a ter perfeitamente industriado na arte do amor físico. A cada visita ao bordel regala-o com belas ninfetas de pernas brancas e compridas e seios como maçãs verdes, que lhe cocegam os sovacos depilados e fazem festinhas circulares na barriga.

Mas agora, em Portugal, país de grunhos, onde é que existem lupanares decentes? Com ninfetas, rapazinhos cruéis, velhas gordas devassas e meretrizes normalíssimas, burguesas que fazem uns bicos à noite para pagar créditos malparados e trabalham nas Repartições durante o dia?

O senhor Bentley suspira, inconsolável.

Espera que inventem um país novo, donde ainda não tenha sido expulso. Visitá-lo-á com o senhor Robert, fantoche de origem gaulesa, o que não vem ao caso.

 

 

 

 

 

28 Setembro’05

 
 

quarta-feira, junho 21, 2006

Artigos sobre escrita (em inglês)

http://www.burningvoid.com/write/2002/seven.php

http://melissaa.com/articlecritiquepartners.htm

http://www.writersstore.com/article.php?articles_id=39

http://www.author-network.com/ravenscroft6.html

http://www.likesbooks.com/wb3.html

http://www.johnbakersblog.co.uk/?p=146

Mandei...

... três (3) e-mails a três (3) editoras perguntando se podia enviar para apreciação o meu último livro. Neles descrevia a história e dava a ler um trecho do 1º capítulo (para terem uma ideia do tom da obra).

A semana passada.

Até agora nenhuma me respondeu.

Fixolas.

Epá, eu tive a cortesia de perguntar primeiro, percebem? Porque não quero estar a desperdiçar o tempo deles - nem o meu. Já para não falar do dinheiro (que é escasso e usado em comida porque, infelizmente, os escritores não vivem do ar nem da puta da Musa e têm de comer todos os dias).

Assim o que é que eu faço? Mando à mesma o manuscrito? Não mando?
Epá, esta merdinha fode-me o juízo. É assim Tão Difícil Dizer Não?!
"Não, não queremos a sua última tentativa de sedução da Imortalidade Literária. Por favor, pedimos encarecidamente: pare de assassinar árvores. Elas também têm filhos."

Já nem sei se Perguntar Primeiro Antes de Mandar (o que lá fora tem o nome de "query letters") é algo a fazer.

Provavelmente vou interpretar o silêncio como um Não mudo - à portuguesa.
Os silêncios são sempre negativas que não se querem dizer abertamente para não "ficar mal visto pelo outro", para não "arranjar inimizades".

Epá, eu tenho um sonho:

- que as editoras um dia corram Atrás de Mim.
"Por favor, pedimos encarecidamente: assassine árvores! Mande-nos os manuscritos que tiver! Sim, mesmo os da primária!"
(Não tenho, aliás. Comecei a escrever tarde, por volta dos 21 anos.)

Sabem o que é os outros dizem Lá Fora?
Those who are writers are the ones that don't quit.

Ou algo parecido.
Os escritores são aqueles que não desistem. E eu sou casmurra que nem...! (Ascendente escorpião.)

Mas às vezes, pá, queria que esta merda fosse mais fácil.
Queria ter livros "contratados". Queria receber adiantamentos (como se faz Lá Fora), queria ter a liberdade de me dedicar só à escrita em vez de ter de arranjar empreguinhos de merda só para me alimentar.

Bom, hoje talvez vá ao Centro de Emprego! Fazer parte das Estatísticas! Lixar os números ao Sócrates! Fixeeeeee!!!!!!!!!!!

Deve estar toda a gente a ver a puta da Bola por isso deve ser fácil arranjar lugar para estacionar.

Penso...

... que já tenho a próxima história a formar-se.
Mas primeiro há que fazer a sinopse.
Para depois a ignorar ;)

Sobretudo Não começar a escrever durante Mercúrio Retrógado (começa a 4 de Julho). Sim, sim, isto da astrologia já me começa a afectar, lol.

Ah, gostam de micro-narrativas?

"Minguante define-se como uma revista de micro-narrativas. Textos com mais de 200 palavras não serão considerados. Minguante está aberta a todos. A periodicidade será inicialmente bimestral e o formato online.

Este é um número experimental, de apresentação e de convite à participação.

A revista será temática a partir do próximo número. O tema inicial será O banal.

Entre e junte-se a nós."

segunda-feira, junho 19, 2006

domingo, junho 18, 2006

CONTINUAÇÃO DAS AVENTURAS DO SR. BENTLEY

O senhor Bentley oferece-se para liderar um movimento de resistência civil.
- Contra as multas. Os filhos da puta dos políticos. E as putas das mãezinhas. Vamos incendiar Portugal, meus lindos!, com o nosso rigor e honra, com a nossa Exigência Ética!
O senhor Bentley está no Ágora, modestamente povoado. A maioria resta em casa a fritar os miolos assistindo ao Mundial.
- Às vezes tem-se neurónios a mais – admite ele, sério.
Os presentes miram sub-repticiamente, emitem sons de desprezo pelos lábios, agitam as mãos em movimentos moderados e continuam a dialogar em voz baixa com o camarada do lado.
Ó, o Monsieur Bentley - ignorado!
Isso não se faz a um pobre velhinho!
Ele não se incomoda.
- Proponho - (continua) - uniforme! Para sermos de imediato reconhecidos!
(E mais rapidamente recolhidos como ganadaria para ser marcada a ferro quente, mas isso ele não diz.)
- Protestemos juntos, meus lindos, uniformizados! Ah, cá está ele - observa uma trouxa ao canto da parede.
Bentley muda-se à frente de toda a gente (não tem mesmo vergonha nenhuma, a bisca, mas isto, os velhos, são uns desavergonhados. O senhor Bentley considera ter o direito de agir como se a velhice o isentasse do pudor).
- Sou velhinho. A vergonha é para os novos.
Canalha.
- Cá está ela, a farda do nosso Movimento de Resistência Civil.
Mini-saia de aspecto plástico, cor-de-rosa choque, sapatos femininos da mesma cor de salto agulha. O brilho fere os olhos.
O suave ronronar de barulho de fundo no Ágora.
Cessa.
- Vamos, companheiros! Allons-y, camaradas! En route!
Abre os braços como um Cristo obsceno. As pernas são estacas de bambu, finíssimas, brancas como as de um albino. E sem pelinhos. Ele nem tem pelinhos nos colhões, reparem. Antigamente era uma grande tristeza (not), mas hoje, Homem Iluminado, Buda Vivo, Funcionário da Emel em Part-Time - superou o trauma.
Correram-no, não à pedrada (como é costume), mas à galhofa.
- Olhó Periquito Pomposo!
- Vais pá naite, méne?!
- Vai masé pó Intendente sacar a jorna aos emigrantes do Leste!
- O cornudo gosta é dos outros, das PALOP’s.
- E de putos.
- EU ABOMINO CRIANCINHAS!
Abespinha-se e com razão. Alça no ar com a ajuda do guarda-chuva aberto, a perna aberta, a formar um pavoroso V invertido, raquítico de hastes. (Falta de vitaminas.)
- Hereges - choraminga. - Vou-me. Noutro sítio encontrarei seguidores à altura.
- Vai lá, vai. Não te esqueças é da camisinha! Ah, ah, ah!
- Da camisinha de algodão porque está frio, ainda te constipas e apanhas a puta de uma pneumonia e depois Morres!
O ribombar de risos só o deixa à entrada do Metro.
Arranja lugar sentado. Um adolescente com pena cede-lho. “Coitado. A Alzheimer é fodida.”
O senhor Bentley senta-se, compenetrado e absorto, de rosto limpo e só não dá um tabefe ao rapaz por desconhecer o teor do juízo.
Hoje é quarta-feira e ele, ComoTodaAGenteSabe, tem de purificar a alma, deter-se na contemplação da Impermanência da Vida e da Morte.

No Cemitério

- Ah-Ah-Ah! O cemitério! - exclama em exuberante alegria. A noite escura revela os contornos baços das sepulturas. Um grilo canta. Resfôlegos e murmúrios entrecortados enchem a espaço a noite.
- Olá... - murmura Bentley.
Agacha-se. Fecha o chapéu. Desliza, qual felino, até à fonte dos sons estrangulados. E antes de ver a origem já ele sabe o que ocorre.
Um rapazote, magro, dos seus vinte anos, com um rabo luminoso e redondo, trabalha furiosamente a mulher cadáver que desenterrou. Está fresquinha, a gaja. Não deve ter estado mais de cinco dias enterrada.
O senhor Bentley tem pena de não ter trazido holofote.
“Para eventos destes são necessários holofotes. E honras de Estado, caralho.”
Pop.
Desaparece num estrondo mínimo. Reaparece na Residência Oficial do Esticadinho. Arranca o esqueleto mirrado da cama.
- Marucha! Marucha! - implora de mãos estendidas enquanto Bentley o arrasta de pijama e barrete para outro.
Pop.
Ora eu não sei como o diacho do homem fez, mas após algumas dezenas de pops não é que há uma ala formada frente ao jovem fornicador de cadáveres, todos perfeitamente alinhados, alguns no acto da continência? Só o rosto em pânico silente é testemunha de que a postura erecta ou a saudação militar não são actos naturais. O vestuário também não ajuda: envergam pijama inteiro, ou só as calças, camisa de noite florida (o Paulinho), ou estão nus, e estremunhados, cheios de ramela, o penteado desfeito ou com rolos no cabelo.
Bem tentam as biscas descolar-se da posição de sentido forçado ou descerrar lábios, só a respiração aos arrancos, forte, é prova dos esforços, mas nada feito. Pregados ao chão como lindas figurinhas de Estado, ai, catitas! Até lá está o Narigão do Primeiro! (O Primeiro não pôde vir, o senhor Bentley compreendeu. Trouxe a penca que cumpre às mil maravilhas a função, aliás, como tem cumprido as outras. O Sardas também foi dispensado. Estava na Channel à cata de cachecóis chiques.)
- Sem cachecol elegante não se grita a plenos pulmões! - disse o senhor Bentley.
Às sardas.
Teve vai-não-vai para levar as sardas junto, mas mudou de ideias.
- Um ruivo sem sardas não é natural.
Ora o jovem fornicador (com um lindo rabinho branco, duas meias luas simétricas e gordas, rabiosque quase de gaja, o senhor Bentley sentiu uma atracção sáfica por ele - sáfica pois que o seu lado feminino desejou as meias luas femininas do fornicador de cadáveres, porém passou-lhe, graças a Deus, há coisas que nem eu seria capaz de descrever), o jovem fornicador, dizia, ora entra e sai da coninha apertadinha - morta, pútrida e fétida - da defunta sem conseguir parar, preso num movimento perpétuo.
(Ó!, será a Máquina do Movimento Perpétuo?!, demanda-se o Enraba-Passarinhos. Chamem os engenheiros da Nasa! Alertem as companhias petrolíferas! Temos a crise energética resolvida! Foder cadáveres!)
Mas não é a mítica Máquina do Movimento Perpétuo, peno informar.
“Ó...”, desconsola-se.
Holofotes iluminam os glóbulos alvos e as figuras de Estado.
Ficam ali a noite toda. No dia seguinte fazem manchete nos grandes jornais nacionais. A TVI manda uma equipa televisiva. É a única com colhões para mostrar a imagem.
Bem tentam despregá-los, quebrar a paralisia. Nada feito. Parecem feitos de pedra. Um ou outro mija-se e emporcalha a roupa. O Fornicador do Movimento Perpétuo, bom, a ele, cortam-lhe o instrumento e resolve-se o assunto (afinal é um gajo qualquer, não uma Figura de Estado. Ao Narigão Primeiral mostram maior respeito). Remetem-no às urgências do São José e depois à prisão.
O senhor Bentley safa-se (pulha). Vai em peregrinação a Fátima para lhe perdoarem os pecados (os por fazer, não os antigos).
Antes, porém, a noite caía e lentamente a rigidez abandonava o corpo das figuras, passa pelo cemitério, agarra no cadáver fodido (tinham posto um oleado por cima) e obriga a que todos lhe beijem a boca apodrecida.
- Foi bonito.
Ele só quer que os tipos compreendam o que ele compreendeu há muito: a morte toca a todos. Também os senhores terão a boca pútrida e, quem sabe, com sorte, o seu cadáver será desenterrado para lhes irem ao cu.

Artigos sobre escrita

http://www.magespages.com/articles/hamer_sarahgreene2.htm
http://www.steampunk.com/sfch/writing/ckilian/#foreword (long article)
http://www.skotos.net/articles/Backstory.html

sábado, junho 17, 2006

Bola

- O cabrão do Ricardo tinha de defender aquela...
(Diz o senhor Bentley enquanto enfia outra agulha nos olhinhos do gajo.)

- NÃÃÃÃÃÃÃOOOOOOOOOOOO!
(Vocifera o senhor Bentley quando vê o marcador: dois zero a favor de Portugal.)

- SEUS COXOS! PEÇAM A AJUDA DO PROFETA!
(Grita ele.)

Err, eu vou masé lavar a loiça e deixar o senhor Bentley entretido com as bonecas de voodoo. Há alturas (como esta) em que é melhor a gente não se meter com ele...

Só...

... me lembrei que era Aquele Dia quando houve uma explosão de entusiasmo no meu bairro.

- É melhor ligar a tv e ver o replay...

Merdinha. Podia ter ido ao cinema :(

Vibes

Não é que o sacana do Bentley está a enviar "positive vibes" para a equipa do Irão...?


o_0

E o mantra é: MarquemMarquemMarquemSacanasMarquem.

TrêsBoladasTrêsBoladasPonhamOFigoAChorar.

Pulhazinho, o gajo.

Memória

Merda.

Esqueci-me que hoje podia ter ido ao cinema >:(

Bom, se Portugal ganhar ainda devo poder ir para a semana (ou lá quando o outro jogo for).


Ah: o Sr. Bentley fez uma voodoo doll. Quer que Portugal PercaPercaPercaPerca.
Mas ele é mau e pouco pa-tri-ó-ti-co.

Artigos sobre escrita

http://www.sfwriter.com/ow05.htm
http://www.sfwriter.com/ow04.htm (Show, don't tell)
http://users.wirefire.com/tritt/tip3.html (keep it active)
http://www.theromanceclub.com/writers/articles/art0029.htm


In other news: hoje sonhei que o meu editor me dava um livro do Pepetela.
E que eu fazia um bolo Enorme e comia duas fatias Enormes. Fiquei enjoada (no sonho).
O bolo sabia a pêra...
0_o

Tipo...
(Vocês sabem há quanto tempo é que eu não como bolos? De vez em quando tenho sonhos destes: ou como bolos, gelados, chocolate. No outro dia foi massa.)

sexta-feira, junho 16, 2006

BENTLEY BALNEAR

Aparentemente hoje é um grande dia!, exclama o Sr. Bentley. Os pretinhos vão dançar com os lusinhos, hop-hop, lari-lariii, hop-di-dup-hop!!
Eu gosto de pretinhos, diz o senhor Bentley com a voz cavernosa que se aloja no cérebro, voz radialista, gótica.
E de proto-pretinhos, continua a voz.
É gajo racista, já se vê, mas ele pensa que não. Está seguríssimo que não.
- Um preto é um preto é um preto - assegura. - Deixará de ser preto por lhe chamarmos... Africano? Europeu? Lisboeta? NEGRO?!
Ele acha que não.
Estabelecemos que o PNR já quis o Sr. Bentley para porta-voz, mas não deu em nada. O Enraba-Passarinhos roubou pedras da calçada e fez pontaria às carecas luzentes dos wannabe luso-nazis e foi giro. Foi bonito de ver. Muita cabeça partida, o vermelho sanguíneo a colorir o passeio, a roupa, as cabeças de bolas de bilhar.
- Quiiiinhentas e seteceeenntas e nove! - diz, do alto, ao escarrar na criancinha que faz uma fita nos braços da mãe: queria levar o escorrega para casa e recusava descolar a garra infantil da borda.
- Ó! - disse a mamã e fugiu a toda a brida para o carro (a gasolina, reparou ele. Negro, pequenote, com uma cadeirinha no espaço traseiro exíguo).
A quantidade de escarros que ele desperdiçou em criancinhas. Anda com vontade de gastá-los nas cabeças luzentes luso-nazis, colori-las de verde e amarelo, material biológico tóxico. Fazia uma instalação, um happening artístico - luso-nazis escarrados, braços ao alto, alinhados, autor: Sr. Bentley, o Sodomizador-Mor de Pássaros. Ah, e as mamãs, as putinhas das mães dos nazis, também elas! Sim. As... “vertically challenged mummies”. A chorar. Ou não.
Mas cada vez que vê a puta de uma criancinha lá vem o arranco do fundo da garganta, impossível contê-lo e PAF - aterra na bochecha do crianço. Ou nariz. Ou olhinhos. Às vezes orelhas. Uma vez errou e foi na garganta.
O Sr. Bentley envergonhou-se com a falta de pontaria. Regressou cabisbaixo a casa. A ratazana vizinha perguntou:
- Então, orelha murcha?
- Preciso de cirurgia laser - choramingou Bentley. - A vista não é o que era antigamente.
Mas hoje, dia fabuloso!
Vai à praia.
E, bandeirolas em riste, (só lhe falta o touro, uma boa cornada não lhe fazia mal nenhum), vê um GNR ao fundo. Sozinhito.
- Hihihi.


Rapta o desgraçado do GNR.
Transporta-o nos ares, cabo do chapéu acoplado à gola do sobretudo, e os dois braços a segurar o GNR gorducho pelos sovacos.
- Dieta não te fazia mal, pá.
- AAAAHHH! LARGA-MEEEEE!
- Continua a barafustar que é o que eu faço.
Na praia larga-o aos trambolhões e em seguida põe-se a arrastar malta para a água.
- Agora MULTA! - exige Bentley ao gorducho, segurando-o pela cintura das calças.
- Vá lá, meu cabrão: MULTA. Multamultamultamultamulta.
E ele multa. Mas há um senhor doutor político deputado fiscal-de-linha engenheiro que mostra a declaração passada pela Junta de Freguesia e assinada pelo médico de família do Centro de Saúde que o isenta de multas balneares.
Tem de ir ao banho a qualquer hora, com ou sem bandeira hasteada, por razões de saúde. Quais, não especifica o dito atestado.
- Eh lá, eh lá! - gritam os colegas do GNR gorducho que acorrem em auxílio.
O Sr. Bentley plana para cima e assiste à razia de multas passadas pelos colegas (o gorducho entretanto sentou-se no areal e chorou, olhando as calças molhadas e os ombros encolhem-se cada vez que se atreve a mirar o céu).
- Eu tenho um atestado, um atestado - diz o estrelicadinho senhor doutor deputado. Deixam-no em paz. A este nem exigem documentos: BI, carta de condução, número de contribuinte. Seguro do carro. Atestado de virgindade da avozinha. Impressão digital do nariz, orelha e queixo. Aos outros banhistas, Que-Não-Eram-Deputados, obrigam a apresentação de documentos, alguns têm de caminhar até ao carro.
- Ah... - diz o senhor Bentley inspirando a maresia. As ondas ribombam anímicas, desfazendo a escassa espuma branca no areal.
- Caralhinho... - diz porque há muito não profere palavrões e a malta esquece-se, pá.
A malta esquece-se.

ARMADURA

 

 

Tenho uma grande armadura dentro do meu coração; feita de fios entrelaçados, às vezes de oiro, outras prata, hoje de cordel esgaçado.

 

Uma armadura que ecoa como sapatos de salto alto nas ruas de madrugada.

 

É negra negra negra - hoje cinzenta. E é tão bonita.

 

É uma bela armadura cujo frágil caule verde, tenro, se espraia até ao chão e busca alimento na terra. Desde que a tirei do vaso rego-a para não morrer.

 

Tenho um pequenino coração dentro da minha grande armadura. E às vezes o sol brilha nele. Como entrou desconheço porque o material é antigo, herdado de cavaleiros medievais, e passa sempre na inspecção. Nenhum raio solar lá devia entrar. Talvez as formigas, que descobrem buraquinhos minúsculos, tenham descoberto passagem.

 

De resto o meu coração por vezes sorri e eu talvez deva deixar as formigas em paz.

 

13 Junho’06

 

 
 

quinta-feira, junho 15, 2006

Mais artigos sobre escrita

Em inglês, naturalmente :

http://www.writersstore.com/article.php?articles_id=467
http://www.writesville.com/writesville/2005/11/learn_to_write_.html
http://www.hodrw.com/cop1.htm

Este último infelizmente é sobre o calão policial... americano.

Bolas, devia ter amigos polícias para saber estas coisas.

Nota: estão abertas inscrições para amizades policiais! Remeta o seu CV para o e-mail ou deixe um comentário. Obrigada.

quarta-feira, junho 14, 2006

Astrologia

http://blog.thirdage.com/?cat=40

http://www.astrofuturetrends.com/id27.html

Entrevista - Manuel Henriques

Herman tinha fonte de dentro na instrução do processo Casa Pia

BENTLEY DAS IDEIAS BRILHANTES

- Mas há pessoas com ideias mais Brilhantes do que as minhas!
(Ai há?)
- Veja-se o caso dos senhores doutores políticos!
(Ah sim?)
- A Fulgurante noção de multar a malta que vai ao banho! O génio distinto de pensar no dia do cão!
(Do cão...?)
- Não te aparvalhes, rapariga. Sim: do CÃO. Ora eu também sou de engenhocas mentais!
(Ora não...)
- Mentais, dizia! Proponho o dia dos três pastorinhos!
(Peraí, essa tem copyright! Já outra pessoa pensou nela primeiro!)
- Ai sim? Indica-me a dama: já encontrei noiva.
(Este cab... levas um murro nos queixos não tarda nada, explica lá mas é o resto.)
- Tanta ciumeira. Eu chego para todas!
(...)
- Cada vez que um feriado calhar a uma Terça, enfia-se um pastorinho na Segunda-Feira! E pronto: quatro dias de fim-de-semana alongado.
(Brilhante ideia, sim senhor. Por acaso é a mesma da G.)
- Mentes brilhantes pensam de modo similar. Tu não percebes, claro. Tst-tst, 'tadinha.
(Tira lá a mãozinha do meu cabelo, estupor! Olha-me este gajo! Quer-me parecer é que Roubaste despudoradamente a ideia à G.!)
- Eu só roubo a máquina de hemodiálise às criancinhas e aos velhinhos, coitadinho-inhos-inhos.
(Mentiroso.)
- Ó, mas a mentira serve a verdade! Ora se houverem dois feriados não consecutivos na mesma semana, enfiam-se os três pastorinhos nos dias úteis sobejantes e ala para o Algarve uma semana de férias!
(Eu vou dizer à G. que lhe roubaste a ideia.)
- E informa-a da minha morada. Sinto-me só...
(Sacana do velho.)
- Só me sabes insultar.
(Tu és um estupor! Não tenho culpa: digo a verdade.)
- Faço queixa de ti aos Serviços Sociais, hihihi. Põem-te na prisão por maltratares um idoso. Apareço lá de bibe encardido, a fralda suja, a arrastar-me no lajedo, cheio de nódoas negras e crostas nos braços e pernas. Acabas na PRISÃO. Hihihi.
(*Avermelha*)
(*AVERMELHA*)
(Tu acalma-te, mulher. Respira fundo.)
- Ó, mamã, hihihi...
(EstuporCabrãoBiltrePõe-teAAndarDaquiParaFora. Vai chamar mãe a outra!)
O gajo sai pela janela. Tu ACALMA-TE, mulher. Bebe um chá de tília.
(RaivaRaivaRaiva)

segunda-feira, junho 12, 2006

Saturn-Neptune opposition

http://www.stariq.com/Main/Articles/P0007170.HTM

Mais artigos

http://www.sff.net/people/alicia/10prob.htm
http://www.stellacameron.com/contrib/plot.html
[Texto escrito para este desafio do Escreva! Participem também!]

Sons

O cd de música clássica barroca, sem vozes; o cata-vento a encimar o tubo exterior da salamandra, range, range, pára, recomeça, numa dança aleatória - dança a quebrar a simetria das flautas (serão flautas?) do Telemann; o som, este som, das teclas do Alphasmart; o roçar da minha pele no tecido da toalha quando vou pegar na caneca de chá (verde); o som da palma da mão na caneca azul-marinha (a outra, branca, de forma idêntica, quebrei-a, nem sei como, uma estúpida distracção. Prefiro esta, azul); o som metálico ao rearranjar os óculos no rosto; o som da minha respiração e o coçar da testa.
O avião plana acima, estou perto do aeroporto, de início incomodava, já não. Todos se habituam.
A periquita a chilrear, a espaço. O chilreio lembra-me um iiiiiii retorcido. Alongado. Um I travestido de érre.
O silêncio na rua, esperam as vinte horas para o início do jogo Angola-Portugal. Ninguém fala, ninguém anda lá fora. O som das minhas unhas a raspar no pescoço.
O omnipresente ruído do cata-vento, que ruge a andar de um lado para o outro.
Um solitário carro desloca-se, ao longe. Devagar.
E os estores estão muito “calados”. Sem movimento. Uma criança grita algo a alguém.
O silêncio. A expectativa. A rua inteira à espera.
Só o cata-vento e a minha periquita e o Telemann não se calam, formam um trio. Mas duvido que de jazz.

CataUniversity

http://www.catauniversity.com/html/index.php

sexta-feira, junho 09, 2006

Blog de António Manuel Venda

Floresta do Sul

Que também costumava participar no DN Jovem - como eu.
Há por aqui (nisto dos blogs) montes de malta que participava no DNJ. Ou ainda participa. Penso que a Olinda Gil ainda o faz.

Quem mais?

CENSURA EM PORTUGAL II

Porque é que não temos uma Primeira Emenda em Portugal?
Que dê o direito de parodiar figuras públicas, mesmo quando isso lhes causa dano emocional?

The First Amendment also protects the right to parody public figures, even when such parodies are "outrageous," and even when they cause their targets severe emotional distress.


[Fonte: http://usinfo.state.gov/journals/itdhr/0297/ijde/goodale.htm]

Eu queria poder usar o Nome Completo da pessoa que desejasse satirizar, poder Claramente Identificar a Pessoa. Queria poder Expressar Claramente a minha Opinião e chamar Estafermo a alguém – sem ser processada. Tu és um estafermo porque, na minha óptica, te comportas como tal.
Neste país não tenho liberdade para o fazer.
Mesmo iludindo a pessoa, evocando-a, tenho de me certificar que ela pode ser uma quantidade de outras pessoas – para evitar processos.
Tipo, é como no tempo do Estado Novo em que as coisas se diziam por meias-palavras. Uma palavrinha mal dita, mal colocada – e lixam-nos.

“if it is the speaker's opinion that gives offense, that consequence is a reason for according it constitutional protection. For it is a central tenet of the First Amendment that the government must remain neutral in the marketplace of ideas."

[Fonte: http://usinfo.state.gov/journals/itdhr/0297/ijde/goodale.htm]

O Governo neutro no mercado no mercado das ideias. Então não... Era logo. Mas devia ser.

Nós, portugueses, somos como um rio estagnado.
Pior: um lago, porque os rios ainda têm ligação a outras fontes de água, podem regenerar-se. Os americanos são como um imenso oceano, com correntes e contracorrentes, possuem um imenso “mercado de ideias” que se opõe e conecta. O oceano está sempre em movimento e cria Vida. Nós no nosso lago estagnado vamos morrendo pouco a pouco. Porque é esse o legado do Poder Absoluto, do Controlo Absoluto: A Morte Absoluta. A nossa morte enquanto povo, o nosso inexorável Afundamento.

Ou melhor: a nossa seca e aridez. O lago morre e depois enxuga e por fim haverá uma cova a testemunhar a antiga existência de um povo.
O próprio Governo, Estado, Poder (whatever – a meu ver confundem-se) não percebe que está a contribuir para o seu aniquilamento.
O Poder, concluo, é como um cancro que matará o corpo porque não quer morrer – busca a imortalidade, o perpetuamento, e para isso recusa-se à auto-limitação. Expande-se corpo afora – até o consumir. Porque o cancro recusa a mortalidade e acaba por matar o hospedeiro que o alimenta.
Eu quero – exijo – a liberdade de expressão que existe nos EUA. Como cidadã tenho direito a ela. Não é justo que apenas aos ricos se dê acesso a coisas a que todos deviam ter acesso.
Será que António Sancho já foi preso?
Gostaria de saber.
E gostaria de contribuir com algum - pouco, infelizmente - dinheiro para que ele possa pagar a puta da indemnização e evitar a cadeia.


Alguém tem informações?

CENSURA EM PORTUGAL

No Correio da Manhã de 14 de Abril’06 vi uma coisa Giríssima. “Director da ‘Mais Alentejo’ admite ser preso”.

Cheguei à conclusão que a censura é o maior obstáculo à livre expressão do escritor. Muitas vezes antes de publicar o que quer que seja no blog pergunto a uma amiga advogada se sou passível ou não de ser processada por difamação. Há que ter muito cuidadinho, meus lindos. Julgava eu que a censura em Portugal fora morta e enterrada com o 25 de Abril, mas é mentira. Uma mentira que nos faz a nós, cidadão, acreditar vivermos em democracia. Não vivemos. A censura faz-se por outros meios. Pela porta do cavalo, digamos. A minha amiga diz-me: desde que não especifiques quem é...
Mas eu tenho medo e sou propensa à paranóia e infelizmente não possuo recursos para pagar honorários a advogados e muito menos indemnizações, caso seja considerada culpada de difamação. Eu tenho de me preocupar com isto, percebem?, porque desejo escrever livremente. Pensava eu que o único “sítio” onde podia ser inteiramente livre era na escrita – mas não é. Não há lugar nenhum, físico ou abstracto, em que se seja inteiramente livre.

Eu posso chamar filhos-da-puta ao Governo, por exemplo, desde que não especifique um ministro em concreto. E se o fizer tenho de provar em tribunal, caso me processe, que de facto a mãe trabalhava como prostituta. Se a mãe não trabalhou como meretriz então é difamação.
Outro exemplo. Eu não posso chamar pedófilo a ninguém que não tenha sido condenado por crime de pedofilia.
Desde que não especifique...
Até o próprio “tom” da escrita pode ser considerado ofensivo, sabiam? Tenho de voltar a perguntar isto à minha amiga e aproveitar e confirmar com outra, que também é advogada. Amigos advogados dão jeito. Aconselho-vos a ter um.
Dizer: Senhor Doutor Engenheiro Arquitecto Juiz Magistrado Fiscal-de-Linha Fulano de Tal pode ser considerado ofensivo.
O sarcasmo – ofensivo.

Houve um caso giro na América. Viram o filme “People vs Larry Flynt”? Bom, o gajo teve uma grande vitória jurídica. Conseguiu que a sátira, a paródia, a uma figura pública não fosse considerada como difamação, mas um direito da liberdade de expressão. o tipo pôs um evangélico famoso a ter relações com a mãezinha. Isto nos anos 70. (Confiram este link: http://usinfo.state.gov/journals/itdhr/0297/ijde/goodale.htm )
O direito à sátira.
Imaginam o mesmo por cá? Posso por acaso fazer um determinado e certo cronista, economista, de barbas e católico fundamentalista, ter sexo com a mãezinha com propósitos satíricos? Imaginam isto em Portugal?
Mas porque é que eu não posso? Porquê? Não é justo. Não é certo. É secar-se a tinta – não: é tirarem-me a tinta da caneta quando eu quero escrever.
Podia, por acaso, fazer uma escultura dos dois em actos obscenos? Ou um quadro? Ou uma instalação? Ou um bailado.

Não se pode especificar a pessoa, nem em actos claramente criativos e artísticos. Porque se parte do princípio que o espectador não tem neurónios e vai achar que é verdade. (Ou porque os neurónios já estão demasiado ocupados com Fado, Futebol e Fátima e não têm energia para o resto.) Pior: porque, proibindo, se quer fazer passar a mensagem de que o espectador é intrinsecamente burro e aquilo que vê precisa de ser controlado, limitado. É um mecanismo de controlo do Poder que assim garante que ele, o Poder, jamais será posto em causa através do riso obsceno e satírico que não respeita nada nem ninguém.
Liberdade de expressão em Portugal?
Not really.
Mas vai-se mais longe. A pessoa, mesmo não nomeada, Apenas Iludida, se se reconhecer e sentir ofendida na sua dignidade pode processar à mesma por difamação. E ganhar! O que o seguinte caso ilustra:

“O director da revista Mais Alentejo, António Sancho, corre o risco de se tornar o primeiro jornalista a cumprir pena de prisão efectiva em Portugal, após o 25 de Abril, por um crime de liberdade de imprensa.”
(...)
“Uma peça humorística, inserida na irreverente rubrica "Então vá..." e publicada a 2 de Outubro de 1998, acendeu a polémica. António Sancho escreveu-a sem nunca mencionar nomes, brincou. Maria Gabriela Silva, então delegada do IEFP para o Alentejo, sentiu-se visada e recorreu à justiça. Venceu.”
“"Continuo a defender que se tratou de uma peça jornalística de humor e sátira, de resto incluída numa rubrica onde todos os assuntos abordados são objecto de um tratamento irreverente e humorístico. Não tinha a intenção de atingir alguém", reitera o director da Mais Alentejo (revista criada em 2000, após a extinção do jornal com o mesmo nome).

Em Setembro de 1998, no decorrer de um almoço, Maria Gabriela manifestou publicamente a sua opinião sobre o jornal Mais Alentejo, na sua opinião de mau gosto e pouco sério. No mês seguinte, sob o título A História Secreta da Senhora D. Pureza, António Sancho alegadamente fez várias alusões à delegada, comentando o seu aspecto físico e psicológico, a sua vida. E terminou o artigo referindo a opinião, manifestada dias antes pela ofendida, sobre "um jornal que teimava em incomodar a paz de alma santificada de senhora D. Pureza". Se a liberdade de expressão foi aqui posta em causa?”
(...)
[Fonte: http://dn.sapo.pt/2006/04/12/media/jornalista_incorre_pena_prisao.html]

E vejam isto também:

“O jornalista, que recorreu da sentença – o pagamento de cerca de 15 mil euros a Maria Gabriela Silva ou a pena de prisão – não conseguiu mudar o veredicto, tendo apenas obtido uma prorrogação do prazo, de um ano para dois, para pagar a verba à ofendida.

Como o prazo está em vias de acabar e António Sancho diz não ter possibilidades de proceder ao pagamento, resta-lhe enfrentar a prisão efectiva.”

[Fonte: http://www.jornalistas.online.pt/noticia.asp?id=4545&idselect=87&idCanal=87&p=0]



O que o lixou foi isto: “E terminou o artigo referindo a opinião, manifestada dias antes pela ofendida, sobre ‘um jornal que teimava em incomodar a paz de alma santificada de senhora D. Pureza’.”

Ela reconheceu-se. E não havia nenhuma outra pessoa que também pudesse ter feito o mesmo, expresso a mesma opinião. Ele ter-se-ia safado, penso eu, não fosse pela última ideia. Mesmo assim... é demais.

Conclusão: o homem pode ir parar à prisão por ter escrito uma “peça de ficção, com base em personagens inventadas e [que] não visava em ninguém em concreto.” (in: Correio da Manhã)
Vivem-se tempos curiosos em que discurso e prática são incoerentes e diversos. O nosso mal é por vezes confiarmos em demasia no discurso demagógico e não atentarmos na prática corrente.
Sim: pode ser-se processado por ter escrito um texto de ficção humorística.
E sim, pode-se ir parar à cadeia por causa disso. Tal como no regime do Salazar. (Esse coirão de merda de ditador. Agora, com ele morto, posso dizê-lo. E que algum filho da puta se atreva a processar-me.)
A liberdade de expressão em Portugal é inexistente.

Quando ela é necessária, quando começa a picar “the powers that be” esse mesmo poder escuda-se na lei da difamação que dá para tudo – com a benevolência e o acordo dos tribunais.

E ainda se espantam pelo estado de Portugal... nós nem pudemos falar!

quinta-feira, junho 08, 2006

Artigos sobre Escrita

http://www.bronwynjameson.com/article1.html
http://www.writing-world.com/romance/characters.shtml
http://www.romantictimes.com/authors_tip.php?tip=494

Ainda...

... tenho mais textos para pôr no blog sobre a liberdade de expressão e a censura em Portugal.

Ainda não disse tudo.
E eu era para mandar o último livro que escrevi para a Oficina do Livro...

Se calhar é estar a gastar dinheiro sem necessidade... 0_o

Considerações Sobre a Liberdade de Expressão Em Portugal

Às vezes pergunto-me quantas cartas de recusa recebeu a Margarida Rebelo Pinto. Uma, ao menos? Não deve ter recebido nenhuma, a julgar pela forma como reagiu a uma crítica. A mulher pôs o homem em TRIBUNAL. Não, ela nunca deve ter recebido cartas de recusa, nunca deve ter passado anos e anos a tentar publicar, sendo olimpicamente ignorada - às vezes nem recebendo cartas de recusa. Penso que, acabou o livro, deu-o a ler a algum conhecimento e TA-RAAAHHH - publicou. Só assim se explica a sua pele tão fina. É voz corrente em Hollywood que, se se quer ser actor, tem de se ter pele de hipopótamo para suportar tudo. Com os escritores, seja onde for, acontece o mesmo - temos de ter um exterior muito forte para continuar, para persistir sempre. O ego vai receber uns belos abanões - mas não podemos quebrar, desistir do que queremos. Quem escreve a sério sabe do que falo: tem uma bela colecção de cartas de recusa aí em casa - quase todas uniformes. Contei as minhas há pouco tempo - eram 37 (as recebidas). Queimei-as porque a salamandra custa a acender. Sei que tenho mais, algures no sótão. E sei que ainda vou receber uma quantidade delas.

A gente vai sempre receber porrada - os escritores vão sempre receber porrada.
Críticas a sério, para dizer a verdade, nunca tive. Daquelas criticas a doer - tipo a do João Pedro George.
Mas se e quando as tiver - eu não vou por o crítico em TRIBUNAL porque é a coisa mais idiota que se pode fazer.
O que me leva, pela 2ª vez, a perguntar: será que a MRP é uma escritora a sério?
Deduzo que nunca recebeu cartas de recusa, que deve ter tido um percurso relativamente "fácil" da escrita à publicação (não está habituada a golpes no ego); e, se fosse mesmo escritora perceberia que não se podem fazer omoletas sem ovos.
Eu clarifico: não se pode escrever sem liberdade de expressão.
Se ela retira, com perfeito à-vontade, a possibilidade de um crítico se Expressar, também está a retirar a liberdade de expressão a si própria. Isto é Evidente - ou não é?

Pelo menos para mim é. Como é que eu posso escrever num país em que a malta é processada por exprimir uma Opinião?! Em que são os próprios escritores que fazem isto?! Então da maneira que eu escrevo! Escrevo de forma completamente bizarra e estou sempre a chatear uma amiga advogada, a perguntar-lhe: eu posso dizer isto? Posso ser processada? Tenho medo, percebem. Também sou paranóica, é verdade, mas às vezes os paranóicos estão melhor preparados.
Pensará a MRP que por escrever romances cor-de-rosa está imune à censura? É melhor que pense de novo porque o Impulso de censurar acaba por ser transversal às profissões, às classes, a todos quantos se deseja controlar.
É como aquele poema: 1º vieram pelos judeus, mas eu não disse nada porque não era judeu... no fim vieram por mim e... já não havia mais ninguém para dizer coisa nenhuma.

Será que a MRP Percebe isto? Não tenho nada contra ela, não tenho nada contra os seus livros - nem os li, e não, não por preconceito, simplesmente não calhou até agora. Detesto consensos - detesto que se Estabeleça que os livros deste ou daquele autor são uma m*rda ou uma obra-prima. Quando muita gente começa a concordar numa coisa, epá, fico com formigueiro e desconfio.
Não gostei é das suas ultimas acções - por amor de deus, é dar um tiro no pé - não a curto prazo, mas a longo-prazo - pôr um crítico em tribunal, dar um tiro no pé, não na carreira, mas no ofício. Como é que se pode escrever sem liberdade de expressão? Não perceberá que um dia a podem pôr no tribunal a ELA?
É que esta merda espalha-se: um dia é um cronista o processado por "crimes de difamação", depois um crítico, um jornalista. Depois já começa a ser normal.
Vêm sempre por nós, por aqueles que Precisam da Liberdade de expressão para exercer o ofício: jornalistas, escritores. Somos sempre os primeiros a quem lixam.
Epá - podia ter ficado lixada, mas vingar-se de outro modo.
Criativo.

Eu faria a coisa de outra maneira.
Enviaria o Enraba-Passarinhos visitar o JPG a meio da noite e tal.
Pá, "inventava" um crítico, assim um bocado parecido com ele (mas não muito senão o tipo processava-me) e deixava que o Sr. Bentley, o Enraba-Passarinhos, se divertisse, hehe.
A mim a raiva aguça-me o engenho. Escrevo melhor. Fico tão f*dida do juízo que encho cadernos a escrever, de dentes cerrados, a mão a apertar a caneta como se apertasse o pescoço de alguém, a furar o papel. No fim nem consigo levantar o braço.
Porque é que a MRP não fez isto? Não se podia ter vingado Criativamente? Não poderia ter "inventado" assim, um crítico, pô-lo no livro e fazê-lo sofrer mais do que Job? É assim que os escritores se vingam a sério.
Porque, é só lixarem-nos o suficiente, a nossa vingança pode ser eterna. Daqui a cem anos o tal crítico "inventado" poderia despertar ainda risos de troça e desprezo.

Mas assim?
Assim ninguém se ri - assim ficamos de cara fechada a pensar:
- Qu'é esta merda, pá? Já não se pode dizer nada, pá? Que merda é esta, pá? Tempo da outra senhora? O Gajo ‘tá na puta da cadeira outra vez, foda-se?
A malta fica um bocado com medo.

Eu detesto, abomino críticas - mas sei porquê - tenho o ego frágil, não as suporto. Magoam-me o orgulho.
No entanto já aprendi, pelo menos racionalmente, que as criticas têm o seu lugar e são necessárias. (Compreendi isto Racionalmente, o que não significa que as aceite - ainda - Emocionalmente.)
Porque, às vezes, as críticas podem ser lixadas - mas podem acertar na mouche. E podem fazer com que o escritor, depois de fazer a tal "voodoo doll" e de extravasar a ira toda, as tome em atenção - e melhore a sua escrita.
São úteis. (Racionalmente já as aceito - emocionalmente é que não, o meu ego ainda não está preparado para levar porrada - deixem passar mais uns anos.)

Este último livro da MRP, terá sido escrito Durante a publicação do célebre artigo do JPG que correu a blogosfera como fogo? Se sim, estou curiosa: será que a MRP alterou de algum modo a sua escrita para calar futuros reparos de idêntico calibre? Gostaria de saber - oh, se ao menos houvesse um critico que lesse o novo livro dela e nos dissesse! João, Joãozinho, cu-cu? Hum?
Mas já ninguém toca nela - medo de processo em cima, para não falar de...
Epá, uma espécie de snobismo.
Qual é o critico que se vai Rebaixar a criticar alguém que reage desta maneira desproporcionada?
Nenhum - adivinho.

Quase que fico com vontade de comprar o livro e eu própria fazer a critica! Bem, crítica não, porque nem sei fazer, digamos mais uma "leitura" e uma opinião dessa leitura.
Se é que ainda tenho direito a ela.
Há montes de tempo que ando a pensar em escrever um post sobre este tema, a liberdade de expressão. Sem ela eu, ou uma parte fundamental de mim, que é a parte criativa, não existe. Tenho Obrigatoriamente de pensar nestas coisas. Tenho Obrigatoriamente de sentir medo quando processos de co-ro-có-có são aceites. Não percebo - a juíza não podia simplesmente dizer: está a perder o tempo valioso do tribunal, esta acção não é aceite?
Não podia dizer isso?
E como é que o JPG a "ofendeu"? Ele não pôs em causa a verticalidade da sua mãezinha, nem a verticalidade de MRP. Não lhe chamou nomes feios, mesmo feios. Quer dizer que agora ninguém tem direito à sua Opinião? Quer dizer que agora as Opiniões não podem ser expressas porque se corre o risco de ir parar a tribunal?
E o que acontece a pessoas que perdem o processo porque se deu como provado que houve "difamação"?
Indemnização.
E se a pessoa que expressou a Opinião não tiver $$ para pagá-la?

PRISÃO.

Sim, parece que ainda é possível nestes dias ir parar à prisão por se ter o atrevimento de expressar uma Opinião.

É por isso que coloco em dúvida o facto da Margarida Rebelo Pinto ser uma escritora a sério. Ela não devia já Saber Isto Tudo?
Penso que podia ter usado esta oportunidade - a crítica feroz do JPG - para melhorar a sua escrita, mas em vez disso escolheu outro caminho.


Apesar de ter perdido a acção em tribunal “porque seria maior a violação da liberdade de expressão do que o direito ao bom-nome” (in: Correio da Manhã, 19 de Maio’06), o próprio editor da Oficina do Livro diz isto: (...) queríamos e conseguimos ver reconhecido o atentado ao bom-nome através da utilização de expressões ofensivas... E, isso sim, abre espaço para uma acção principal e que nós vamos ponderar.

As expressões ofensivas:
- “mau gosto anedótico”
- “sub literatura”
- “caso mental”
(Correio da Manhã, mesma edição)

Mas a própria juíza diz, apesar de serem “incorrectas e indelicadas”, a “pretensão dos requerentes é ostensivamente desadequada e desproporcionada”.
Ou seja, o João Pedro George ainda não está safo. Ele pode mais uma vez ser processado por Expressar Uma Opinião. Com a treta do Atentado ao Bom-Nome ainda o podem lixar.
Não há liberdade de expressão plena em Portugal. Os processos de difamação fazem o papel do antigo lápis azul. O coitado do homem não tem direito à sua própria opinião. Aquela é a opinião dele em relação ao trabalho da MRP. E ele Fundamenta-a. E mesmo que não fundamentasse continuaria a ter direito a ela E A Expressá-la. Mas neste país é preciso dinheiro para ter direito a opinar. Que merda de país é este?
Espero que a MRP não enverede por um processo de difamação contra o JPG. Espero bem que não.

Enfim. Ver se escrevo um bocadinho. Se calhar eu devia era aprender uma segunda língua se acaso um dia tiver de ir me expressar criativamente para outras paragens...

segunda-feira, junho 05, 2006

Resposta

Pois é, é da Miffy que o David Soares gosta. E eu tenho Provas Fotográficas Inquestionáveis!

(É só clicar...)

Blog interessante

http://astrosolution.blogspot.com/

Mais artigos sobre escrita

http://www.katemorgenroth.com/for_writers/on_getting_started.html

http://www.romantictimes.com/authors_tip.php?tip=42

"Am I sounding too, too elementary? Are you waiting for the magic key? Are
you convinced that there is a secret to good writing? Sorry! Not so. Writing a
book is very simple. Begin at the beginning. Thrash through the middle. Go on
until the end. Then stop. The best advice for a budding novelist echoes a
popular ad: Just Do It!"




HOW TO HOOK THE READER FROM PAGE ONE

http://www.susangable.com/i_snooze.htm

http://www.romantictimes.com/authors_tip.php?tip=100

http://www.writerswrite.com/journal/dec02/keegan23.htm

The Braganzzzzza Mothers: Derivações pela noite adentro

The Braganzzzzza Mothers: Derivações pela noite adentro

Um belíssimo retrato de Portugal :/

A quem...

... me visitou a partir do Ministério do Ambiente e Recursos Naturais um grande - OLÁ!


(Em vez de estar a trabalhar, meu malandro, hehe... ai ai, se t'apanham :p )
EM RELAÇÃO AO SENHOR BENTLEY


Não sei como hei-de disciplinar, domesticar o senhor Bentley: isto é, colocá-lo numa história com cabeça, tronco e membros, dentro de um género específico em vez do género a que eu costumava (e costumo chamar) o "género esquisito" ou o género bizarro ou “what the fuck” género. Agradeço ao João Seixas, que fez a apresentação do meu livro e do “Ossos do Arco-Íris” do David Soares em Fevereiro, na Bertrand, agradeço-lhe ter dado nome àquilo que eu escrevo: sátira!
Ah-ah! Então é isso! É isso o que eu faço! Sátira! Fiquei tão contente, como se tivesse comprado um casaco novo, super-caro, que me vai durar anos e anos. É tão bom poder Dar Nome às coisas. Acho que só a partir daí é que elas nos passam a pertencer de verdade. Ou a existir para nós, a sair do abstracto e a materializarem-se à nossa frente.
Às vezes o olhar dos outros é importante porque nos explicam facetas sobre nós mesmos que desconhecemos - ou que não sabemos nomear.
Agora já posso dizer a toda a gente, toda lampeira: eu escrevo Sátira!
Normalmente quando acabo de escrever um livro já estou mais do que farta daquele universo, daquelas personagens, não quero nunca mais olhar para aquilo - mas isso não me aconteceu com o senhor Bentley. Eu quero continuar a explorar o universo bizarro do senhor Bentley, que é uma espécie de Portugal em que há algumas coisas bizarras, mas não muitas. Não sei se posso afirmar que é um Portugal alternativo. Não sei se é. Tem é de ser Portugal porque, enfim, é o que eu conheço - e dentro do país têm de ser as zonas que eu conheço - é mais simples escrever sobre o que se sabe.
Entretanto inventei outras personagens e fico a pensar se elas e o senhor Bentley não se podem cruzar dentro do mesmo universo.
Ora eu estar a ter considerações destas, voltar sempre a uma personagem, não era habitual - normalmente queria era avançar para outro livro, criar outras pessoas, esquecer o anterior porque já estava feito.
Às vezes penso: posso fazer do senhor Bentley uma série, mesmo que nunca mais publique nada na vida. Escrever para meu próprio prazer - que é a maneira como se deve escrever. E já várias pessoas me perguntaram: então, quando é que sai o próximo (senhor Bentley)?
Há mais de seis meses terminei outro livro, que está em dois cadernos, por passar a computador, nem sequer o reli. Cada vez que me chateava, o que é que eu fazia?, escrevia sobre o senhor Bentley. As horas passavam num instante. Ele é tão mauzinho. Eu sei o que tenho de fazer em relação a esse livro - cortar a suposta "história principal" e reescrevê-lo com o senhor Bentley como personagem principal. Avancei outras coisas, em relação à história dele, mas não quero divulgar porque pode haver pessoas que não leram o Enraba-Passarinhos.
Estou sempre a voltar a ele - e isso é uma coisa inédita, pelo menos na minha escrita.

O impacto que eu gostaria que este livro tivesse era que a alcunha, Enraba-Passarinhos, entrasse no dicionário. Tanto para definir senhores menos abonados como pessoas com um carácter semelhante ao dele.
Também gostava que, quando abrisse a primeira livraria em Marte, o meu livro fosse um dos que estivesse à venda.
Se calhar estou a querer demais - mas que se lixe. Às vezes é preciso sonhar alto. Os portugueses, parece-me, sonham baixinho.
Gostava também que daqui a cem anos este livro ainda fosse lido. Epá, leitura obrigatória para criancinhas!!!
Ok, não - estava a ser mazinha outra vez.
Mas, tipo, no 12º ano - porque não?
Eu sou um bocado contra as leituras obrigatórias porque matam o entusiasmo, sobretudo se há um teste depois a fazer. Ler o senhor Bentley podia ser obrigatório - mas sem exames. Sem testes, sem "avaliações".
Imortalidade não é uma coisa que eu nem ninguém terá - porque daqui a dez mil anos quem é que se vai lembrar sequer do nosso nome? E 10 mil anos não é nada - 1 milhão de anos não é nada - nem 100 milhões. Há criaturas nesta terra que existem há milhões de anos - e vão continuar a existir depois da nossa extinção. Por isso a preocupação pela "imortalidade" é uma falsa preocupação - porque ela é impossível, não existe. Portanto cem anos, ou mesmo quinhentos (mas isso já é pedir demais), é o que eu desejo, não para mim, mas para o senhor Bentley - que ele continue a ser lido quando eu já for pó debaixo da terra, quando o meu cadáver já tiver sido todo consumido pelos vermes.
Enquanto escritora (vá lá, acho que já posso usar essa palavra) penso que a minha obrigação é escrever em alegria, com alegria, e seguir-me a mim própria. Seguir o meu instinto. E claro tentar melhorar sempre a escrita.

Aquilo que eu fiz neste livro nem é remotamente aproximado com aquilo que eu estou pensar - e já fiz - em outros. O senhor Bentley pode ser pior do que isto, mas muito pior. Mas como ainda não escrevi o que ando a pensar o melhor é não adiantar muito. Eu só gosto de dizer as coisas, ser mais clara - quando o livro já está feito.


O que me agrada muito é quando as pessoas passam pelo livro, deitam um olhar e depois voltam atrás para ver se é mesmo aquele título.
Tipo, um livro com aquele título e uma capa cor-de-rosa choque - a minha cor preferida, a propósito, exactamente aquele tom, nem sei como o Luís adivinhou - duas coisas tão dissonantes, chama a atenção.



Continuo a achar que este é um livro de gajos. Se calhar foi a minha alma masculina que o escreveu. O Luís Corte Real, na apresentação, disse ao João Seixas:
- Esta é a actriz que eu contratei para se fazer passar pela autora.
Penso que a minha imagem choca um pouco com o livro - tipo, foi mesmo Ela que escreveu aquilo?! Não acredito!
Fico toda contente quando oiço isso! Quer dizer que fiz Bem o meu trabalho!
Quer dizer que o meu livro é independente daquilo que eu sou - e que o leitor é confrontado com duas coisas distintas: o autor e a obra. Tem de aceitar que autor e obra são diferentes. Normalmente como leitores nós temos a mania de que estamos a ler quase o diário privado do autor: ah-ah! Apanhei-te! É o que eu chamo do “Síndroma do Espreitador”. Ok, em inglês soa melhor: peeking syndrome. Oh, to peek the private life of someone else! Na génese somos todos uns coscuvilheiros.
Às vezes é difícil ao leitor separar as duas coisas, quem escreveu e o que foi escrito. Acho que esse problema, para o leitor, está menos presente no senhor Bentley.
Não é bom Não corresponder aos estereótipos? Eu acho que sim porque obriga as pessoas a ver além das aparências.
Como dizia, é um livro de gaijos, quem o lê primeiro é sempre o namorado, o marido, o pai. Emprestei o livro a uma senhora lá do meu bairro e vou perguntar-lhe: quem é o quem leu primeiro? A senhora ou o seu marido?
(Perguntei: é ela que o anda a ler, mas ele vai ler depois!)


Aparentemente os livreiros não expõem o “Sr. Bentley, o Enraba-Passarinhos” porque temem que o título choque a “sensibilidade” dos clientes. Que parvoíce. Há esta mania nacional de tratar os outros como doentes terminais, criancinhas de cinco anos ou como gente incapaz de pensar pela sua cabecinha. O que eu vejo é exactamente o contrário: vejo malta que acha graça ao título, se diverte e se ri. Nós, clientes, indivíduos, não somos assim tão frágeis, senhores livreiros. Não somos feitos de cristal. A malta não se parte! Arrisquem um bocadinho, porra. O riso é necessário nesta vida. Porra, cada vez que eu vou meter combustível penso: Olha que giro! Aumentou Outra Vez! E depois assomam-me à mente imagens brutais do Sr. Bentley a sodomizar os cabrões da gasolineiras, dos governantes, enfim, os sacanas que nos lixam >:(


Leiam muito, meus meninos. Que o senhor Bentley vos acompanhe nos sonhos, hehe.

domingo, junho 04, 2006

23

D'"Os 100 blogs portugueses mais antigos ainda em actividade" o Escrita é o número 23!

Fonte: Apdeites.

O Senhor Bentley das Bandeirolas

O senhor Bentley (que é um asno) viu a criancinha. Um menino gordo, irrequieto, de oito anos com a camisola da Selecção Portuguesa, a dar invisíveis toques na invisível bola.
- Pára lá sossegado - diz a mãe.
- Portugal! Portugal! - diz o miúdo sem parar, pés para um lado, sou o Ronaldo! O Ronaldo!
- Ó, uma criaturinha! - o senhor Bentley avistou-o a partir de cima com o seu olho de águia esfomeada.
Joga-se em voo picado na direcção da criança feliz a jogar à bola com o invisível Ronaldo e o Beckham.
A dois metros estaca, como uma seta oblíqua, a cabeça virada para baixo, a mão segurando o guarda-chuva, parece um míssil, o raio do homem, e - escarra.
Mas não à criancinha.
- Ó mãe! Ó mãe!
- Seu sacana! Seu estupor! - a progenitura agita o punho.
- He, he, he - sorri o senhor Bentley, enquanto retoma devagar a posição vertical e plana para cima. A mãezinha limpa o material biológico da camisola do filho, debulhado em lágrimas.
- Cabrão! Cabrão - grita o puto, olhando o céu.
- Ah, Portugal, Portugal... VamosGanhar!
O Sentido Patriótico inflama-o.
- Onde estão as bandeirolas! Quero prestar saudações às bandeirolas! Ena tanta bandeirola a adornar janelas e varandas, varandins e montras de pas-te-la-ri-as. Portugal Patriótico, sim senhor... sim senhor...
E depois é a razia.
Arrebanha uma que marinhava calmamente ao pé do edredão que a dona pôs cá fora a arejar, e acessorizou a gabardina. Bandeirola à cintura atada como um cinto.
- Hoje cinto-me... very Vivian Wastewood
Esteve vai-não-vai para fazer uma bandelete de outra, menor, esgaçada nas pontas, a coitada devia ter servido para pano do pó, mas o chapéu de coco, todo fornicoques, cheio de nove-horas, não-me-toques-que-eu-hoje-tomei-banho, arrepiou-se (os pelinhos subatómicos levantaram-se como se saudassem a realeza) e o senhor Bentley teve um ataque de comiseração.
- Realmente está sujita... - disse de ar compadecido.
- O que é que este quer, o que é que este quer!
A dona da bandeira, dama gorda de braços flácidos e de permanente recente, esbraceja. Sai por momentos do pé da janela e regressa com a vassoura.
- Vai-te embora, cabrão! Foge daqui!
- Hi, hi, hi - ri ele.
Bandeirolas em riste, o nosso coração está em Deus, Ámen! Carneirinhos, mééé, mééééé! Carneirinhos, a carne tenra (pensa o biltre) a-nes-te-si-a-da por um mês. Portugal e Cascos-de-Rolha de Cima! Portugal e A-Dos-Cunhados! Portugal e o Senhor Roubado! Alto dos Moinhos! Ameixoeira! Catujal! Avenida dos Estados Unidos da América! Quem vai ganhar? Mistério.
- Tanta bandarilha - choraminga o Enraba-Passarinhos - e tanta criancinha nojenta em África sem roupa para vestir (ou tourear, hi, hi, hi). Se há direito. Os pretinhos, por Deus, os pretinhos sem nada para cobrir as partes PUDIBUNDAS.
E suspira. Teatral. Porque é bonito suspirar pelos pretinhos e suas partes PUDIBUNDAS.
Voa pelos céus de guarda-chuva aberto, gabardina desabotoada (está calor), deixando ver o colete. Voa a dançar como o Gene Kelly, mas sem músculo. O Enraba-Passarinhos não tem o poder másculo que Gene Kelly exsuda (então em collants nem se fala).
Nem as coxas.
As coxas do senhor Bentley são minguadas, branquelas, e no entanto dança como um atleta romeno, o gajo.
Vai arrebanhando em fúria, os dentes cerrados e lábios a descobri-los, parecem muralhas incas, os dentes do senhor Bentley, perfeitamente postos uns sobre os outros, bandeiras, bandeirolas, bandolins, bandeiretes, bandarilhas e bandeletes! Enfim, a nossa bandeira das quinas, verde e vermelha, com a esfera armilar ao meio.
Assoa-se a uma (saem macacos, nojo) e escarra na esfera (ao meio). Agora o centro é um escarro verde rodeado por burriés. Uma ilha! O senhor Bentley acha que, ah, assim sim. Assim fica mais bonita! E pendura-a num poste em frente a um hipermercado para toda a gente A-Pre-Ci-Ar a sua obra-prima.
Ele reinventou a bandeira das quinas.
Talvez assim se reinvente a alma portuguesa...
A um vagabundo (perdão: sem-abrigo, sem-abrigo, sem-abrigo), a um vagabundo de merda, não quer é trabalhar, só no bem-bom, deve receber o rendimento mínimo e se calhar vai para o Metro pedir. Deve ter prédios a render em Odivelas!
- Olha-me este porcalhão, com prédios a render em Odivelas e a cagar no meio da rua!
O senhor Bentley teve uma quase pena, um género de pena homeopática (vende-se em ervanárias) e deu ao homem barbudo, velho e malcheiroso outra das bandeirolas para limpar o rabo. O vagabundo encolheu-se. Pensou que lhe ia bater.
- É para limpares o cu! - grita o senhor Bentley a afastar-se, para o cimo, com um molho de bandeiras alojadas no sovaco.
Eram tantas que se pôs a trocá-las pela bandeira azul das praias.
- Ah, melhorou. Temos de ser patrióticos, canudo! Daqui deste mar saímos para encontrar outros mundos! - disse ele a fingir exaltação.
Os veraneantes viam aquilo e diziam-se:
- Mas... meia vermelha e meia verde? Posso ir ao banho ou não, foda-se?!
Ó, que bela ideia!, saltou o senhor Bentley, o gajo era de ideias brilhantes. Ou pelo menos ele pensava que sim. Eu cá não sei.



4 Junho’06

Artigos

Como é que se publica um livro Lá Fora (o processo)

Criatividade

Amanhã...

Amanhã tenho que começar à procura de emprego...

o_0

Vontaaaaaaaaaaaaaaaaaade.

Tenho uma vontade Tão Grande de voltar a trabalhar, epá, vocês Nem Imaginam!

Tenho dois problemas, porém, ou melhor, dois medos:
- Começo à procura e arranjo logo (ou seja - começo a trabalhar já neste mês, Pior, no início deste mês - o que não queria porque ainda tenho o mês de Junho como "folga", seriam 4 meses no total);
- Começo à procura e... não encontro nada, ninguém me contrata, vou viver para debaixo da ponte 0_0

Temo mais arranjar logo :/

Logo se vê. Há-de ser o que for, diz uma amiga minha advogada que percebe destas coisas.

Gostos


De qual destas é que o David Soares gosta?


Desta mifi?





Desta mifi:



Ou desta mifi?



Também eu fiquei parva com a resposta 0_o

sexta-feira, junho 02, 2006

Conto

 
Feito para participar neste desafio do Escreva!
 
"Neste desafio vamos viajar por Portugal na personagem que vos narro mais abaixo.
A vossa missão, caso decidam aceitá-la, será criar um novo capítulo para esta história. Nesse capítulo o nosso personagem passará por um lugar específico de Portugal o qual terão de incluir no episódio / capítulo. O final do vosso episódio / capítulo deverá ficar em aberto dando de qualquer modo a indicação que o personagem continuou a sua viagem."
 
=====================
 

Camarate

 

 

Um dia decidiu que iria partir. Não tinha pão, mas preferiu ser mendigo no seu país de nascimento. Num cantinho escondido do seu coração levava a esperança de um dia voltar ao lugar de onde partira. E nesse dia seria feliz.

 

 

Andou um bom bocado, é difícil quantificar quanto, estava no estado em que já nem tempo ou espaço têm sentido.

Estreitou os olhos. Aproximou-se para ler a tabuleta.

“Camarate.”

Não devia ter deixado os óculos em casa.

Ah, os pés, quase nem tinha sapatos, mas projectos de sapatos, esboços apenas. Fez de conta que era um carro e contornou a rotunda direitinho. Os condutores apitaram:

- Sai do meio da estrada, ó palhaço!

- O homem não regula!

Regulo.

Meditou.

Se calhar era melhor fazê-los crer que esta peregrinação nasce de um desgosto amoroso.

Decidiu que era demasiado vitoriano. Ultrapassado. Quem é que no seu juízo perfeito vai correr mundo para esquecer um desgosto do coração? Ele ia porque os pés o levavam.

Desceu o passeio, passou pelo edifício dos Bombeiros, passou a estrada e caminhou até ao fundo onde, reparou, existia um cemitério.

Curioso.

À porta estava um homem podre. Podre porque morto, mas a Morte esquecera-se de ir buscar a alma, de modo que o corpo animado apodrecia e ele pacientemente aguardava.

- Boa-tarde – cumprimentou.

- Boas - disse o morto.

- Vende-me os sapatos?

- Os sapatos?

- Os meus, veja, já estão no fio e não me lembro de ter andado assim tanto. O senhor precisa dos seus?

O morto pensou. Compreendeu que podia muito bem esperar descalço pela Morte. Defuntos não precisam de cobrir os pés.

Deu-lhos porque também não tinha necessidade de dinheiro.

Ele teve pena do morto e trocou o seu velho calçado pelo dele, novo e brilhante.

- Então adeus.

- Adeus. E boa viagem.

- Para si também.

Seguiu o nariz. Hum. Franguinho. Que fome.

Ao pé da Igreja, a churrasqueira. No bolso sobrava algum dinheiro. Comprou um frango assado e foi para a praça em frente à Igreja sentar-se no muro a comer. No fim lambeu os beiços e os dedos.

Depois levantou-se para prosseguir viagem. Um périplo sem intenção a não ser a de não ter intenção nenhuma – porque delas, boas e más, está o inferno cheio.

E ele, ao contrário, caminhava sobre a terra.

 

 

 

 

 
 
 
 

The Write Calling

The Write Calling

Artigos sobre escrita

Em inglês, pois claro :/

http://www.writingcorner.com/motivation/skj-juggling.htm

http://www.sabrinajeffries.com/writing-through-hard-times.php

http://www.hauntedcomputer.com/scottst9.htm

http://www.writing-world.com/basics/time.shtml

The Write Habit:
How to Strengthen Your Writing Muscle