A vossa missão, caso decidam aceitá-la, será criar um novo capítulo para esta história. Nesse capítulo o nosso personagem passará por um lugar específico de Portugal o qual terão de incluir no episódio / capítulo. O final do vosso episódio / capítulo deverá ficar em aberto dando de qualquer modo a indicação que o personagem continuou a sua viagem."
Camarate
Um dia decidiu que iria partir. Não tinha pão, mas preferiu ser mendigo no seu país de nascimento. Num cantinho escondido do seu coração levava a esperança de um dia voltar ao lugar de onde partira. E nesse dia seria feliz.
Andou um bom bocado, é difícil quantificar quanto, estava no estado em que já nem tempo ou espaço têm sentido.
Estreitou os olhos. Aproximou-se para ler a tabuleta.
Camarate.
Não devia ter deixado os óculos em casa.
Ah, os pés, quase nem tinha sapatos, mas projectos de sapatos, esboços apenas. Fez de conta que era um carro e contornou a rotunda direitinho. Os condutores apitaram:
- Sai do meio da estrada, ó palhaço!
- O homem não regula!
Regulo.
Meditou.
Se calhar era melhor fazê-los crer que esta peregrinação nasce de um desgosto amoroso.
Decidiu que era demasiado vitoriano. Ultrapassado. Quem é que no seu juízo perfeito vai correr mundo para esquecer um desgosto do coração? Ele ia porque os pés o levavam.
Desceu o passeio, passou pelo edifício dos Bombeiros, passou a estrada e caminhou até ao fundo onde, reparou, existia um cemitério.
Curioso.
À porta estava um homem podre. Podre porque morto, mas a Morte esquecera-se de ir buscar a alma, de modo que o corpo animado apodrecia e ele pacientemente aguardava.
- Boa-tarde cumprimentou.
- Boas - disse o morto.
- Vende-me os sapatos?
- Os sapatos?
- Os meus, veja, já estão no fio e não me lembro de ter andado assim tanto. O senhor precisa dos seus?
O morto pensou. Compreendeu que podia muito bem esperar descalço pela Morte. Defuntos não precisam de cobrir os pés.
Deu-lhos porque também não tinha necessidade de dinheiro.
Ele teve pena do morto e trocou o seu velho calçado pelo dele, novo e brilhante.
- Então adeus.
- Adeus. E boa viagem.
- Para si também.
Seguiu o nariz. Hum. Franguinho. Que fome.
Ao pé da Igreja, a churrasqueira. No bolso sobrava algum dinheiro. Comprou um frango assado e foi para a praça em frente à Igreja sentar-se no muro a comer. No fim lambeu os beiços e os dedos.
Depois levantou-se para prosseguir viagem. Um périplo sem intenção a não ser a de não ter intenção nenhuma porque delas, boas e más, está o inferno cheio.
E ele, ao contrário, caminhava sobre a terra.
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