Às vezes pergunto-me quantas cartas de recusa recebeu a Margarida Rebelo Pinto. Uma, ao menos? Não deve ter recebido nenhuma, a julgar pela forma como reagiu a uma crítica. A mulher pôs o homem em TRIBUNAL. Não, ela nunca deve ter recebido cartas de recusa, nunca deve ter passado anos e anos a tentar publicar, sendo olimpicamente ignorada - às vezes nem recebendo cartas de recusa. Penso que, acabou o livro, deu-o a ler a algum conhecimento e TA-RAAAHHH - publicou. Só assim se explica a sua pele tão fina. É voz corrente em Hollywood que, se se quer ser actor, tem de se ter pele de hipopótamo para suportar tudo. Com os escritores, seja onde for, acontece o mesmo - temos de ter um exterior muito forte para continuar, para persistir sempre. O ego vai receber uns belos abanões - mas não podemos quebrar, desistir do que queremos. Quem escreve a sério sabe do que falo: tem uma bela colecção de cartas de recusa aí em casa - quase todas uniformes. Contei as minhas há pouco tempo - eram 37 (as recebidas). Queimei-as porque a salamandra custa a acender. Sei que tenho mais, algures no sótão. E sei que ainda vou receber uma quantidade delas.
A gente vai sempre receber porrada - os escritores vão sempre receber porrada.
Críticas a sério, para dizer a verdade, nunca tive. Daquelas criticas a doer - tipo a do João Pedro George.
Mas se e quando as tiver - eu não vou por o crítico em TRIBUNAL porque é a coisa mais idiota que se pode fazer.
O que me leva, pela 2ª vez, a perguntar: será que a MRP é uma escritora a sério?
Deduzo que nunca recebeu cartas de recusa, que deve ter tido um percurso relativamente "fácil" da escrita à publicação (não está habituada a golpes no ego); e, se fosse mesmo escritora perceberia que não se podem fazer omoletas sem ovos.
Eu clarifico: não se pode escrever sem liberdade de expressão.
Se ela retira, com perfeito à-vontade, a possibilidade de um crítico se Expressar, também está a retirar a liberdade de expressão a si própria. Isto é Evidente - ou não é?
Pelo menos para mim é. Como é que eu posso escrever num país em que a malta é processada por exprimir uma Opinião?! Em que são os próprios escritores que fazem isto?! Então da maneira que eu escrevo! Escrevo de forma completamente bizarra e estou sempre a chatear uma amiga advogada, a perguntar-lhe: eu posso dizer isto? Posso ser processada? Tenho medo, percebem. Também sou paranóica, é verdade, mas às vezes os paranóicos estão melhor preparados.
Pensará a MRP que por escrever romances cor-de-rosa está imune à censura? É melhor que pense de novo porque o Impulso de censurar acaba por ser transversal às profissões, às classes, a todos quantos se deseja controlar.
É como aquele poema: 1º vieram pelos judeus, mas eu não disse nada porque não era judeu... no fim vieram por mim e... já não havia mais ninguém para dizer coisa nenhuma.
Será que a MRP Percebe isto? Não tenho nada contra ela, não tenho nada contra os seus livros - nem os li, e não, não por preconceito, simplesmente não calhou até agora. Detesto consensos - detesto que se Estabeleça que os livros deste ou daquele autor são uma m*rda ou uma obra-prima. Quando muita gente começa a concordar numa coisa, epá, fico com formigueiro e desconfio.
Não gostei é das suas ultimas acções - por amor de deus, é dar um tiro no pé - não a curto prazo, mas a longo-prazo - pôr um crítico em tribunal, dar um tiro no pé, não na carreira, mas no ofício. Como é que se pode escrever sem liberdade de expressão? Não perceberá que um dia a podem pôr no tribunal a ELA?
É que esta merda espalha-se: um dia é um cronista o processado por "crimes de difamação", depois um crítico, um jornalista. Depois já começa a ser normal.
Vêm sempre por nós, por aqueles que Precisam da Liberdade de expressão para exercer o ofício: jornalistas, escritores. Somos sempre os primeiros a quem lixam.
Epá - podia ter ficado lixada, mas vingar-se de outro modo.
Criativo.
Eu faria a coisa de outra maneira.
Enviaria o Enraba-Passarinhos visitar o JPG a meio da noite e tal.
Pá, "inventava" um crítico, assim um bocado parecido com ele (mas não muito senão o tipo processava-me) e deixava que o Sr. Bentley, o Enraba-Passarinhos, se divertisse, hehe.
A mim a raiva aguça-me o engenho. Escrevo melhor. Fico tão f*dida do juízo que encho cadernos a escrever, de dentes cerrados, a mão a apertar a caneta como se apertasse o pescoço de alguém, a furar o papel. No fim nem consigo levantar o braço.
Porque é que a MRP não fez isto? Não se podia ter vingado Criativamente? Não poderia ter "inventado" assim, um crítico, pô-lo no livro e fazê-lo sofrer mais do que Job? É assim que os escritores se vingam a sério.
Porque, é só lixarem-nos o suficiente, a nossa vingança pode ser eterna. Daqui a cem anos o tal crítico "inventado" poderia despertar ainda risos de troça e desprezo.
Mas assim?
Assim ninguém se ri - assim ficamos de cara fechada a pensar:
- Qu'é esta merda, pá? Já não se pode dizer nada, pá? Que merda é esta, pá? Tempo da outra senhora? O Gajo ‘tá na puta da cadeira outra vez, foda-se?
A malta fica um bocado com medo.
Eu detesto, abomino críticas - mas sei porquê - tenho o ego frágil, não as suporto. Magoam-me o orgulho.
No entanto já aprendi, pelo menos racionalmente, que as criticas têm o seu lugar e são necessárias. (Compreendi isto Racionalmente, o que não significa que as aceite - ainda - Emocionalmente.)
Porque, às vezes, as críticas podem ser lixadas - mas podem acertar na mouche. E podem fazer com que o escritor, depois de fazer a tal "voodoo doll" e de extravasar a ira toda, as tome em atenção - e melhore a sua escrita.
São úteis. (Racionalmente já as aceito - emocionalmente é que não, o meu ego ainda não está preparado para levar porrada - deixem passar mais uns anos.)
Este último livro da MRP, terá sido escrito Durante a publicação do célebre artigo do JPG que correu a blogosfera como fogo? Se sim, estou curiosa: será que a MRP alterou de algum modo a sua escrita para calar futuros reparos de idêntico calibre? Gostaria de saber - oh, se ao menos houvesse um critico que lesse o novo livro dela e nos dissesse! João, Joãozinho, cu-cu? Hum?
Mas já ninguém toca nela - medo de processo em cima, para não falar de...
Epá, uma espécie de snobismo.
Qual é o critico que se vai Rebaixar a criticar alguém que reage desta maneira desproporcionada?
Nenhum - adivinho.
Quase que fico com vontade de comprar o livro e eu própria fazer a critica! Bem, crítica não, porque nem sei fazer, digamos mais uma "leitura" e uma opinião dessa leitura.
Se é que ainda tenho direito a ela.
Há montes de tempo que ando a pensar em escrever um post sobre este tema, a liberdade de expressão. Sem ela eu, ou uma parte fundamental de mim, que é a parte criativa, não existe. Tenho Obrigatoriamente de pensar nestas coisas. Tenho Obrigatoriamente de sentir medo quando processos de co-ro-có-có são aceites. Não percebo - a juíza não podia simplesmente dizer: está a perder o tempo valioso do tribunal, esta acção não é aceite?
Não podia dizer isso?
E como é que o JPG a "ofendeu"? Ele não pôs em causa a verticalidade da sua mãezinha, nem a verticalidade de MRP. Não lhe chamou nomes feios, mesmo feios. Quer dizer que agora ninguém tem direito à sua Opinião? Quer dizer que agora as Opiniões não podem ser expressas porque se corre o risco de ir parar a tribunal?
E o que acontece a pessoas que perdem o processo porque se deu como provado que houve "difamação"?
Indemnização.
E se a pessoa que expressou a Opinião não tiver $$ para pagá-la?
PRISÃO.
Sim, parece que ainda é possível nestes dias ir parar à prisão por se ter o atrevimento de expressar uma Opinião.
É por isso que coloco em dúvida o facto da Margarida Rebelo Pinto ser uma escritora a sério. Ela não devia já Saber Isto Tudo?
Penso que podia ter usado esta oportunidade - a crítica feroz do JPG - para melhorar a sua escrita, mas em vez disso escolheu outro caminho.
Apesar de ter perdido a acção em tribunal “porque seria maior a violação da liberdade de expressão do que o direito ao bom-nome” (in: Correio da Manhã, 19 de Maio’06), o próprio editor da Oficina do Livro diz isto: (...) queríamos e conseguimos ver reconhecido o atentado ao bom-nome através da utilização de expressões ofensivas... E, isso sim, abre espaço para uma acção principal e que nós vamos ponderar.
As expressões ofensivas:
- “mau gosto anedótico”
- “sub literatura”
- “caso mental”
(Correio da Manhã, mesma edição)
Mas a própria juíza diz, apesar de serem “incorrectas e indelicadas”, a “pretensão dos requerentes é ostensivamente desadequada e desproporcionada”.
Ou seja, o João Pedro George ainda não está safo. Ele pode mais uma vez ser processado por Expressar Uma Opinião. Com a treta do Atentado ao Bom-Nome ainda o podem lixar.
Não há liberdade de expressão plena em Portugal. Os processos de difamação fazem o papel do antigo lápis azul. O coitado do homem não tem direito à sua própria opinião. Aquela é a opinião dele em relação ao trabalho da MRP. E ele Fundamenta-a. E mesmo que não fundamentasse continuaria a ter direito a ela E A Expressá-la. Mas neste país é preciso dinheiro para ter direito a opinar. Que merda de país é este?
Espero que a MRP não enverede por um processo de difamação contra o JPG. Espero bem que não.
Enfim. Ver se escrevo um bocadinho. Se calhar eu devia era aprender uma segunda língua se acaso um dia tiver de ir me expressar criativamente para outras paragens...
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